Coração Gelado escrita por Jane Viesseli


Capítulo 14
Entre Cores e Flores, o Despertar de Alec




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Alec sempre admirou Jane.

Apesar de serem gêmeos, foi Jane que entrou para a segunda vida dotada de um controle que ele nunca conseguiu atingir. Mesmo que seus poderes fossem equivalentes em força e periculosidade, ele sabia que a irmã era melhor em todas as outras áreas. Jane era forte, controlada e leal, o tipo de vampira que o clã gostava de ter e que confiava cegamente. Enquanto sua gêmea sentia ódio, ele não sentia nada; enquanto ela era feroz, ele era brando; enquanto ela era forte em se desfazer da humanidade, ele não conseguia reprimi-la totalmente; enquanto ela ignorava tudo e todos, ele sentia dificuldade em não criar laços; e enquanto ela estava firme em não se lembrar do passado, ele via coisas o tempo todo, mesmo que nada fizesse sentido.

Ele dependia da irmã para ser o vampiro que era e nunca negou tal fato. Jane era mais do que sua gêmea, era também o seu suporte, a metade forte, controladora e destemida de sua alma, e por isso eles nunca conseguiam ficar separados por muito tempo. Ela o colocou como colíder da Guarda para que estivessem sempre juntos, sempre lhe deu comandos específicos de ataque para que ele pudesse mostrar do que era capaz e para que os outros o temessem também, e, às vezes, o feria com seu dom para que ele não retrocedesse em se tornar aquilo que o clã esperava que ele fosse.

Apesar de Maximilian tê-lo ensinado a lutar e o tornado fisicamente capacitado para o combate, era Jane quem o fazia ser realmente forte e temido. Da sua maneira, ela estava sempre o protegendo e ele reconhecia isso, correspondendo-lhe com obediência e lealdade, e um amor que agora ele se dava conta de que sentia por ela.

Amor. Ele não sabia bem o que pensar sobre aquilo. Durante muitos anos, Alec pensou que era errado senti-lo por ser “coisa de humano”, entretanto, tudo mudou naquele chocante momento, quando sua gêmea disse que o amava…

Os Cullens diziam que se amavam. Edward não provou do sangue de Bella, que era la tua cantate, porque dizia que a amava; Carlisle dizia amar Esme; e toda a família ficava junta porque diziam que se amavam. Tudo aquilo era tão confuso… Alec não entendia como tantos vampiros conseguiam ficar juntos, numa mesma casa, sem tentarem se matar. Eles próprios – os Volturis – brigavam entre si e se odiavam, não se matando apenas porque eram proibidos de fazê-lo.

A diferença entre eles era gritante e o vampiro se perguntava se aquelas quatro míseras letrinhas tinham mesmo todo aquele poder sobre um imortal. Se os Cullens fossem colocados como um parâmetro de amor, então estava mais do que claro que os Volturis não amavam ninguém.

Alec para de caminhar assim que a porta de madeira certa aparece diante de seus olhos, batendo duas vezes na grossa madeira e ouvindo um farfalhar de tecidos do lado de dentro. Ela deveria estar deitada… Depois veio o som de passos se aproximando da porta. Ferrolhos começam a ser abertos do lado de dentro, fazendo o vampiro franzir a testa em confusão, já que nenhuma porta daquele castelo deveria possuir trancas.

A porta se abre lentamente, apenas uma fresta que deixou o rosto de Renata exposto. Ela arregala os olhos ao ver Alec Volturi a sua porta, uma visão extremamente incomum e que lhe causava certo pânico.

— Preciso lhe perguntar uma coisa – começa ele, pois, se tinha alguém que poderia lhe falar mais sobre o amor, esse alguém era Renata.

— Pergunte – incentiva ela, ainda incomodada por tê-lo ali e não fazendo menção de deixá-lo entrar, fazendo o vampiro olhar para os dois lados do corredor e ficar inquieto.

— Não aqui… Posso entrar? – pede, baixando o tom de voz para deixar claro que estava fazendo algo que deveria ser “secreto”.

Renata aperta os lábios nitidamente incomodada, fazendo Alec repensar sua ideia de falar com ela. Contudo, quando ela abriu a porta e lhe deu passagem, o vampiro seguiu em frente e entrou no quarto, deparando-se com um cômodo totalmente diferente do seu, como se a vampira tivesse criado uma realidade alternativa dentro do castelo e, ao cruzar o batente, ele tivesse sido sugado para um universo paralelo.

A primeira coisa que os olhos de Alec puderam processar, era que, apesar das paredes de pedra darem um ar rústico para o aposento, o quarto de Renata era cheio de cores e parecia ainda mais “vivo” quanto o aposento de Maximilian. A vampira não fugia aos padrões Volturi ao se vestir, estando sempre de preto ou vinho, com o brasão do clã pendurado em seu pescoço, mas o seu quarto deixava claro que aquele não era o verdadeiro gosto dela.

Sobre sua velha escrivaninha repousava um abajur branco de porcelana, ao lado de alguns livros de romance e um vaso também de porcelana repleto de flores coloridas. Nenhuma daquelas flores eram reais, mas pareciam, e suas cores variavam entre amarelo, vermelho e laranja, organizadas em um arranjo muito bonito.

As janelas tinham cortinas e, bem abaixo delas, repousava um divã feito de vime com estofado estampado. Abaixo de seus pés o vampiro se deu conta de que havia um grande tapete felpudo. O guarda-roupa foi redecorado com algum tipo de adesivo, cujas cores e estampa combinam tanto com o divã, quanto com as cortinas e as flores. E as paredes… Alec nem sabia o que dizer das paredes, repleta de quadros com pôsteres de filmes cujas histórias ela havia gostado e que se enquadravam no gênero romance.

— Alec? – chama Renata, interrompendo a fascinante avaliação do vampiro e chamando a atenção dele para si. Ele parecia embasbacado demais para se lembrar do porque estava ali, e a vampira não conteve um sorriso tímido.

— Seu quarto é… Diferente...

— Eu sei. – Dá de ombros. – Só não fique espalhando, são poucos os que sabem sobre isso… Para a maioria do clã, minha decoração não seria considerada boa para a reputação dos Volturis – cutuca suavemente, sentando-se na beirada da cama de lençóis amarelos com desenhos florais e batendo no local ao seu lado, convidando-o a fazer o mesmo.

Alec hesita, achando a vampira bastante diferente do que costumava ver na sala dos três tronos. Lá ela era calada e ali falava descontraidamente; lá era preto e ali era cores; lá era a sombra protetora de Aro e ali tinha a própria personalidade. Diante de todo o clã Renata era como ele, séria e de postura vil, mas ali, no refúgio de seu quarto, parecia ser o seu total oposto.

— Você disse que tinha algo para perguntar – recomeça a vampira, finalmente fazendo Alec aceitar o seu convite mudo para se acomodar ao seu lado.

O vampiro ainda parecia perplexo e deslocado quando se sentou, com bons centímetros de distância, deixando bastante claro para Renata o abismo que existia entre eles. Aparentemente, ela era três anos mais velha do que Alec, contudo, tendo ingressado no clã muito depois dele, a vampira sabia que o gêmeo Volturi era muito mais forte e experiente do que ela jamais seria.

— O que sabe sobre o amor? – pergunta logo de cara, fazendo o corpo de Renata estremecer.

— Isso é alguma pegadinha? Jane sabe que está me perguntando sobre isso?

— Não e não.

— E desde quando os gêmeos Volturis se interessam por algo desse tipo? Todo mundo sabe que vocês não gostam de sentimentos humanos! Eu sei que todo o clã me considera inferior, que só veem utilidade em meu poder, mas não vou deixar você vir até aqui, no meu quarto, somente para me ridicularizar!!!— desabafa, tensionando os músculos instintivamente para assumir uma posição mais defensiva.

— Será que você pode simplesmente responder a pergunta? – esbraveja ele, fechando o semblante em uma carranca e a deixando ainda mais desconfiada. Alec encara o outro lado do aposento, contrariado, observando o pôster do filme “Titanic” e sentindo os seus músculos relaxarem ao cogitar se, alguma vez, ele já tinha amado alguém que não fosse sua família ou amigo, um amor como daquele pôster, e como o Carlisle e Esme, e como o de Edward e Bella. – Maximilian disse que, quando humano, eu era capaz de amar… Eu não me lembro como é isso… – admite com voz mais branda, voltando a encarar Renata, que ainda o analisava como se ele não fosse uma pessoa confiável.

— O amor é uma forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais. Pensadores, poetas e artistas sempre tentam expressar os diferentes aspectos desse sentimento, alguns positivos e outros negativos… É um sentimento difícil de descrever, sendo de mais fácil entendimento quando é sentido, porque ele possui múltiplas faces. Você pode amar um parente, um amigo, um companheiro e até um bichinho de estimação, mas a sua forma de amá-los não será igual.

Renata se ajeita na cama, virando-se em direção a Alec e analisando suas feições joviais enquanto ele processava o pouco que ela sabia sobre o amor. A vampira não era uma expert naquele sentimento, mas desejava ser, por isso deliciava-se com as histórias românticas que lia e secretamente ansiava sentir o que todos aqueles personagens sentiam. Tudo naquele sentimento era bonito e atraente, e ela sequer conseguia colocar tudo aquilo em palavras…

Automaticamente Alec pensa em Jane e Maximilian. Ele amava a irmã e gostava bastante da companhia do camaleão, arriscaria a sua vida por ela e lutaria ao lado dele sem hesitar. Eles eram família e amigo, respectivamente, e o vampiro conseguia reconhecer a diferença no amor que sentia por ambos, porque ele não machucaria Jane por causa de Maximilian, mas faria o oposto com toda a certeza. Contudo, Alec nunca teve uma “companheira”, jamais cogitou encontrar uma, e aquele tipo de amor ainda era desconhecido para ele.

— Como você sabe que está amando alguém? – pergunta Alec confuso.

— Você diz, como nas histórias que leio? – questiona, vendo-o confirmar com a cabeça. – Não sei, Alec. Os livros descrevem coisas, mas eu não sei se são reais.

— E o que eles dizem?

— Dizem que, quando você ama, quer estar com a pessoa a todo momento, que o coração dispara ao vê-la e sente um formigamento no estômago, como se dezenas de borboletas estivessem voando nele. Em alguns casos há ansiedade, noutros existe a ânsia por ser notado. O amor gera interesse, admiração e uma parcela de ciúmes pelo alvo de sua afeição. Sintomas físicos são claramente identificáveis: mãos suadas, perda de apetite, suspiros constantes, face enrubescida e batimento cardíaco acelerado.

— Isso parece mais uma doença! E que papo esse de borboletas? Eu odeio insetos — comenta Alec torcendo a boca, fazendo a vampira rir e apanhar o livro que estava escondido sob o travesseiro, um exemplar bastante lido de “Para Todos os Garotos que já Amei”.

— O amor é bonito. Pelo menos, é isso que mostram os livros. A história sempre tem seus altos e baixos, mas o amor sempre vence no final e tudo termina bem— comenta Renata, alisando a capa do romance e sorrindo involuntariamente.

— O amor não pareceu ter sido muito bom para o mestre Marcus.

— O que aconteceu a ele não foi justo e não foi culpa do amor. – Pausa, pensando se deveria revelar a Alec o que sabia. Ninguém se interessava por histórias de amor como ela, e, ter finalmente alguém interessado em conversar sobre aquilo a deixava feliz, e com uma vontade insana de falar cada vez mais:— Mestre Aro teme o amor! – segreda com um sussurro, fazendo o vampiro arregalar os olhos e prestar total atenção às suas palavras. – O mestre Marcus pretendia deixar o clã e partir com Didyme, porque eles se amavam e os interesses dos Volturis não eram mais tão importantes para eles. Contudo, o mestre Aro não queria que o equilíbrio da liderança fosse alterado e matou Didyme, que era sua própria irmã, para impedi-lo de partir… Não foi o amor que o prejudicou, foi mestre Aro. Ele teme o amor porque teve uma pequena amostra do seu poder e sabe que é a única força do mundo capaz de romper a lealdade de um vampiro com o clã e fazê-lo partir.

— Como eu nunca soube disso?

— Ninguém sabe disso, Alec. O clã sabe apenas o que o mestre quer que saiba, que é a história superficial de mestre Marcus e Didyme. Eu descobri isso apenas porque sou a principal defesa do mestre e ele me quer sempre por perto. Tive tempo suficiente para observá-lo e descobrir que ele só teme duas coisas no mundo todo: a morte final e o amor…

Alec a encara, embasbacado, não conseguindo acreditar que seu mestre, que sempre se mostrara controlado e ambicioso, pudesse ter medo de algo como o amor. Ele encara Renata por alguns minutos, reparando em seu rosto relaxado e em como os seus olhos cintilavam por falar sobre aquele assunto. Ela gostava do amor, do romance, e era bonita. Será que ela já tinha amado alguém?

O vampiro não sabia muito sobre ela, afinal, eram de núcleos diferentes. Renata pertencia a Guarda Defensiva dos mestres, junto com Santiago, Corin e Afton, enquanto ele era da Guarda Ofensiva. Tudo o que Alec sabia sobre ela, era que a vampira podia criar um escudo muito poderoso, que protegia principalmente o mestre Aro, e que frequentemente era usada como “a garota dos recados” dentro do castelo.

— Você já amou alguém?

— Não que eu me lembre – confessa, referindo-se a sua vida mortal.

— E em sua segunda vida?

— Também não. – Sorri. – Apesar de já ter me envolvido com alguns homens do clã, sei que foi apenas algo carnal, não foi amor. Ninguém aqui sabe amar, Alec. – O encara, mostrando o quanto acreditava no que estava dizendo. – Se você deseja encontrar o amor, recomendo que deixe o clã o quanto antes e fuja para o mais longe que puder. Esse castelo é amaldiçoado, nada floresce aqui. Se resolvermos sentir algo como o amor, aqui dentro, estas paredes sugarão tudo o que há de bom em nós até que terminemos tão apáticos quanto mestre Marcus. – conclui, fazendo Alec automaticamente pensar em Maximilian e no amor que ele dizia sentir por sua irmã.

— Você já pensou em fugir? – questiona num sussurro, envolvido demais com aquele assunto para se dar conta que a ideia de fugir podia ser considerada uma traição ao clã. Ele se ajeita sobre a cama involuntariamente, ficando de frente para a vampira e permitindo que seus rostos ficassem mais próximos.

— Já – confessa no mesmo tom –, mas não tive coragem. Se fugisse eu conseguiria me proteger de Demetri ou Felix, mas não dos gêmeos Volturis. Vocês me matariam, certamente, e eu jamais teria a chance de amar alguém…

Alec podia ver a sinceridade nos olhos dela. Renata queria amar alguém, sentir na pele o sentimento que tanto admirava nos livros, ela sabia que jamais conseguiria experimentá-lo enquanto estivesse dentro daquele clã e daquele castelo, contudo, também tinha ciência que, se partisse, seria caçada e morta.

O vampiro se perde em pensamentos de repente, quando uma nova certeza o atinge. Os Volturis nunca incentivaram qualquer tipo de afeição entre seus membros, deixando até mesmo que eles se desentendessem de vez em quando, para que nenhum laço fosse estabelecido entre eles. Ele sempre acreditou que aquilo fosse feito para evitar que os sentimentos humanos aflorassem e isso não resultasse em misericórdia, porém, agora Alec sentia que a estratégia não era conter a misericórdia, mas o amor.

Os mestres – principalmente Aro – não queriam que os seus leais vampiros tivessem chances de amar…

Renata o observa novamente, percebendo o quanto ele estava imerso em seus pensamentos, remoendo tudo o que estava sendo dito ali. Aquele era mesmo o temido Alec Volturi que sempre vira no grande salão? A vampira ainda não sabia se ele era confiável, mas estivera tão envolvida ao falar sobre o amor, que temia ter falado demais para uma pessoa que poderia facilmente condená-la.

Ela tinha medo dele. O gêmeo Volturi sabia lutar, e machucar, e torturar. Ele já tinha matado centenas de outros vampiros, enquanto ela nada mais fazia do que proteger Aro e a própria pele. Se tudo aquilo não passasse de uma armadilha, Renata sabia que o seu escudo não teria a menor chance contra os poderes dele, e, uma vez que seus sentidos fossem neutralizados, a morte final a alcançaria facilmente…

— Contudo, ele é bonito... – pensa ela, enquanto encarava os olhos pensativos de Alec. Eles estavam tão perto um do outro, devido a troca de confidências, que Renata não conseguiu evitar analisá-lo. – Teria algo de poético morrer pelas mãos de alguém tão bonito, não teria? – cogita ainda em pensamento, correndo os olhos pela pele branca e seus cabelos castanhos.

A vampira balança a cabeça levemente ao pensar na possibilidade de tocar nele, somente para saber se os seus cabelos eram tão macios quanto pareciam, achando aquela a ideia mais bizarra que já tivera nos últimos meses. Ela fecha os olhos com força, sequer se dando conta que Alec abandonara seus próprios devaneios e encarava as reações dela com extensa curiosidade.

Ela era muito diferente dele. Possuíam praticamente a mesma altura e o mesmo tom de pele e cabelo, mas Renata era esguia e muito mais expressiva. Como ela conseguia aquilo? Como ela podia viver tanto quanto ele naquele clã, e se portar tão seriamente na frente de todos, mas, ainda assim, preservar tanto de sua humanidade?

Renata abre os olhos de repente, pegando-o em flagrante a encará-la. Ela abre a boca para pronunciar alguma coisa, porém, nada sai, e ali, Alec se deu conta de que gostava dos lábios dela. A vampira sentiu o olhar dele queimando em seu rosto e se prendendo a sua boca, mas nada fez para afastá-lo ou repeli-lo.

Diferente da semana anterior, quando um dos vampiros de menor escalão tentou beijá-la de surpresa e ela lhe acertou um soco no meio da fuça, Renata não apresentou resistência quando Alec se aproximou e a beijou, cobrindo os lábios dela com um toque lento e cuidadoso, que se aprofundou no segundo seguinte como uma centelha que acerta um montante de palha e a tudo incendeia.

A mão direita de Alec se afunda nos cabelos longos e castanhos de Renata, e a dela toca gentilmente a lateral de seu rosto, como se o gesto pudesse impedi-lo de parar. E o beijo durou um segundo, e outro, e outro, e outro, e os envolvia, e os consumia por completo. Contudo, quando um tremor atravessou o corpo masculino, sacudindo suas estruturas e comprimindo o seu peito, o vampiro cessou o beijo e se levantou subitamente da cama, afastando-se dela o máximo que conseguiu.

Alec encara os pôsteres na parede – pois estava bem de frente para eles –, lambendo o lábio inferior e franzindo a testa ao se dar conta do que fizera, e de ter gostado do que fizera. A vampira tinha os lábios macios e quentes, e beijá-los havia lhe proporcionado uma forte sensação de prazer, algo que só perdia para o prazer de saciar a sua sede, mas que superava todos os outros prazeres que já tivera em sua segunda vida.

Ele queria perguntar se ela havia sentido o mesmo que ele, a mesma satisfação, o mesmo estremecimento em seu corpo e o mesmo aperto no peito, mas, quando se virou, percebeu que Renata estava tão perplexa quanto ele. O beijo tinha sido uma surpresa para ambos, algo que evidentemente não deveria ter acontecido e nenhum deles sabia o que dizer a respeito.

Renata não ousava encará-lo e Alec tampouco queria estabelecer um contato visual. O vampiro corre os olhos pelo quarto uma última vez, encarando as flores artificiais e pensando na possibilidade de ir embora. O que ele tinha vindo fazer ali mesmo? Ah, sim, a porcaria da pergunta sobre amor, porque Jane dissera que o amava e ele queria aprender um pouco mais sobre o assunto… Que droga, como uma simples pergunta tinha chegado naquele ponto?

Constrangido, Alec caminha em direção a porta sem dizer nada. Será que deveria se desculpar? Será que deveria ficar? Ou partir? Estava tudo tão confuso e turbulento em seu interior, que o vampiro sentia-se perdido.

— Partir! – decide em pensamento, referindo-se apenas ao ato de deixar o quarto, mas rapidamente se lembrando da ideia de Renata de partir definitivamente do clã, para conseguir encontrar o amor dos livros.

Ele também queria saber como era aquele amor.

Depois de tudo o que ouviu e das conclusões que chegou a respeito dos Volturis, a ideia de ir embora lhe pareceu bastante convidativa. Subitamente, Alec percebeu que machucar outros vampiros e os manter na linha não fazia mais parte de seus interesses, que as atividades de seu clã não lhe eram mais atrativas. Isso sempre lhe bastou, sempre o satisfez, entretanto, ele agora desejava viver uma coisa diferente, correr atrás de um objetivo próprio, algo que estava além do território Volturi.

As amarras de seu clã pesaram sobre os seus pulsos de repente, era como se o vampiro pudesse vê-las ali, o prendendo somente aos interesses de Aro e o limitando de sentir ou vivenciar qualquer outra coisa. Alec sentiu-se como um cão acorrentado. Será que Jane enxergava aquelas amarras? Será que ela se sentia da mesma forma? Será que ela fugiria com ele, se lhe propusesse tal ideia? Ele jamais conseguiria partir se sua gêmea não fosse junto…

— Renata! – chama ele, com a mão segurando fortemente o ferrolho da porta, atraindo a atenção da vampira, mesmo que ele não ousasse olhar para ela novamente. – Se um dia você realmente decidir partir, tem a minha palavra de que não irei caçá-la… – explica, fazendo a vampira arregalar os olhos e apertar o livro em suas mão inconscientemente.

Renata endireita a coluna diante da possibilidade, mas temia que aquilo não passasse de um teste. Os gêmeos Volturis não eram como ela, nunca foram expressivos ou dados a demonstrações de afeto; eles eram cruéis, frios, e, de certa forma, sádicos; sendo reconhecidos principalmente por terem os corações congelados e serem incapazes de sentir qualquer sentimento bom. Alec poderia a estar testando naquele exato momento, pressionando-a para saber se ela escolheria o amor ou clã, e a vampira sentiu seus instintos de sobrevivência reagirem à suposta ameaça.

— Porém... – continua Alec depois de um breve silêncio, como se ele estivesse organizando as palavras em sua mente e as pronunciando ao mesmo tempo em que as pensava. – Se eu fugir primeiro, você pode vir em seguida que eu a protegerei…

A vampira solta um resfolegar surpreso. Alec Volturi estava mesmo pensando na possibilidade de deixar o clã para buscar “amor”? Aquilo ia contra tudo o que ela já tinha ouvido sobre ele, quebrando em seu interior o pré-julgamento que havia feito sobre sua capacidade de sentir ou sua extrema crueldade.

Alec deixa o quarto no segundo seguinte, sentindo-se mais constrangido por falar aquelas coisas em voz alta do que sentia-se por pensá-las. Nada daquilo tinha sido planejado, mas, devido ao lado aberto e sincero que Renata lhe mostrara ter, os fatos que descobrira sobre o clã e seu mestre, e o beijo, as palavras simplesmente saíram de seus lábios naturalmente...


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Notas finais do capítulo

Este foi um capítulo extra sugerido por uma leitora do Social Spirit (@CorvoMalkaviano). Ela tinha me pedido um capítulo voltado mais para o Alec e eu apreciei a ideia. Bem, foi isso o que minha inspiração me levou a escrever, hahaha, espero que tenham gostado...
Como esse é um "cap. extra", amanhã voltaremos a nossa programação normal com Jane e Maximilian. ^-^



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