Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 7
Manchas do passado


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês!

Aproveitem a leitura!



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"Sabe, (...) todos nós nos sentimos envergonhados, de um jeito ou de outro. Quem, dentre nós, não tem uma mancha no passado?"

Aqueles que nos salvaram, por Jenna Blum. Citação da página 301, na edição de 2011, da editora Casa da Palavra.

 

O sol havia se posto há algumas horas, e o dia que havia sido bastante quente até então, transformou-se em uma noite agradavelmente amena. Havia uma brisa soprando, e por alguns minutos tudo o que eu ouvia era o leve agito das folhas no jardim. Klaus continuava sentado, olhando para o céu com tamanha determinação que parecia estar tentando contar as estrelas e guardar cada uma delas em sua memória.

Eu não sabia o que fazer. Klaus chorava silenciosamente, quase discretamente. Sua respiração se entrecortava rapidamente, algo que eu só percebia se prestasse muita atenção. Mas as lágrimas rolavam incessantes pelo seu rosto, e isso ele não conseguia disfarçar.

— Foi por isso que você voltou, Caroline? Por ele? – ele não olhava para mim.

— Klaus... – eu tentei encontrar minha voz, formular frases coerentes, mas de repente eu senti como se precisasse de um dicionário. – É complicado...

— Complicado? – ele finalmente olhou para mim. Porém, depois de ver a dor em seus olhos, eu preferia que ele não o tivesse feito. – Como isso pode ser complicado? Você não gostou de ver a Hayley em minha casa, esperando um filho meu, e voltou correndo para o Tyler. Parece uma equação bem simples para mim.

— Klaus, uma coisa não tem nada a ver com a outra. – eu fui até ele. Pensei em abraçá-lo, mas acho que isso seria demais para o momento. Então, peguei a cadeira que estava ao lado dele e a coloquei frente a frente com ele. Sentei-me e esperei que ele olhasse para mim. - Eu voltei para Mystic Falls para pensar, tentar entender tudo o que estava acontecendo, ver a situação através de uma nova perspectiva. O que acabou de acontecer foi... um imprevisto.

Klaus deu uma risada curta. Tudo bem, talvez “imprevisto” não fosse a melhor maneira de descrever a situação, mas eu não planejara aquilo. Apenas aconteceu. E não havia nada que eu pudesse fazer para mudar este fato.

— Você ainda o ama? – Klaus não sabia se olhava para mim ou para o chão. Eu vi o quão difícil foi para ele articular aquela simples pergunta e o quanto a resposta o assustava.

— Eu me importo com ele... – eu não podia negar isso. Tyler é importante para mim. Eu não posso simplesmente esquecer tudo o que vivemos juntos e apagar a existência dele de minhas memórias.

— Não perguntei se você se importa com ele. Perguntei se você o ama.— Klaus olhou fixamente em meus olhos.

Eu o amava? Eu não sei se o que eu sentia podia ser definido como amor. Essa era uma pergunta sem resposta. Fiquei em silêncio, enquanto Klaus buscava uma resposta no fundo dos meus olhos. E então sacudiu a cabeça levemente, assentindo, e levantou-se.

— Entendo. – ele se levantou. – As coisas ficaram difíceis e você fugiu.

— É claro que não. – eu disse.

A verdade é que minha relação com Klaus era complicada, difícil de entender. Ele é uma pessoa difícil de entender. E isso é o oposto do que minha relação com Tyler era. Com ele, tudo era mais fácil, previsível. Talvez seja isso que eu tenha buscado neste meu deslize. Apenas alguns momentos de óbvia previsibilidade.

— Você gosta dela, Klaus? – eu também me levantei. Já que o momento ia ser propício às confissões, eu julguei ser a hora certa de perguntar.

— Hayley? – ele virou-se para poder me olhar nos olhos. – Não seja ridícula. Você sabe que não.

— Não, eu não sei. – eu respondi. ― Como você espera que eu me sinta? Eu não gosto da Hayley. No final das contas, foi ela que nos ferrou. E quando eu acho que tudo está ficando bem, ela entra na sua casa, esperando um filho seu!

— Você realmente acha que eu planejei isso, sweetheart? – respirei aliviada. Pelo menos ele voltara a me chamar de sweetheart. – Acha mesmo que eu quis isso? Hayley foi apenas um caso, e nada mais...

— Isso é exatamente o que eu disse. Por que este argumento é válido para você, mas não o é para mim?

— O quê? – Klaus não gostava de ser contestado, mas essa era a verdade.

— Eu não planejei ficar o Tyler nesta viagem, assim como você não planejou ter um filho com a Hayley. – eu me aproximei dele, enquanto ele me olhava, surpreso. – Fizemos o mesmo e ainda assim não conseguimos nos perdoar mutuamente.

— Não fale como se, para mim, você e Hayley estivessem no mesmo nível. – ele ficou chateado. – Você não faz ideia do que está dizendo.

— Não creio que estejamos... Mas afinal, o que você espera? Que Hayley desapareça depois de ter o bebê, e nós possamos viver como uma família feliz? ― eu fiquei agitada. Um filho era algo para a vida inteira, e para seres imortais isso era bastante tempo. Hayley estaria sempre presente. E mesmo que não estivesse, eu não gostava da perspectiva de cuidar do filho dela. Eu nunca tivera jeito para ser mãe. Mas pelo olhar do Klaus eu pude ver que sim, era exatamente isso que ele esperava.

— Eu não quero que você cuide do meu filho, se é isso que está pensando. – ele disse, assustando-me. Eu sempre achei que Klaus fosse capaz de ler pensamentos. – Você não é tão difícil de ler, Love.

— Klaus, essa é uma situação que está se desenvolvendo baseada em hipóteses. Nós não sabemos nada com certeza. – o carro de minha mãe apareceu no final da estrada, iluminando a estrada, um pouco mais cedo do que de costume. Klaus também a vira. Ele se aproximou e tomou minha mão entre as suas.

— Eu não espero que você cuide do meu filho, Caroline. – ele beijou minha mão. ― Eu espero que você cuide mim e me deixe cuidar de você.

Antes que minha mãe tivesse a chance de estacionar, Klaus já se fora.

***

Minha mãe estacionou e saiu do carro, sorrindo.

— Oi, filha. Está tudo bem com você? – o sorriso desapareceu quando ela viu minha expressão.

— Eu não sei. – falei, baixinho.

— O que houve? – ela estava genuinamente preocupada.

— Klaus está aqui.

— Vocês não estavam juntos, querida? – assenti – Então, qual é o problema de ele estar aqui?

— Tyler também está aqui. – não acho que minha voz poderia ficar mais baixa do que estava.

— Oh. Esse é o problema.

Minha mãe me levou para dentro de casa, e me preparou uma xícara de chá. Eu não acreditava que aquilo fosse ter algum efeito milagroso sobre mim, mas foi bom ter algo em que me segurar.

— O que aconteceu, Caroline? – ela perguntou, sentando-se ao meu lado.

― Klaus esteve aqui. Logo depois de Tyler ter saído.

— Tyler estava aqui? – ela perguntou. – E vocês...

— Sim. – respondi, rapidamente. – Por favor, mãe, não me pergunte o porquê.

— Existe um porquê?

— Eu não sei. Talvez sim, talvez não... O mundo não faz sentido.

— Aí está algo que não pode ser contestado. – ela riu, e checou o relógio.

— Está tudo bem, mãe?

— Sim, está.

—Então por que está tão agitada? – era nítido que ela estava escondendo alguma coisa. Ela levantou-se.

— Bem, eu ia sair, mas posso ficar aqui com você, se você quiser. – eu percebi que ela estava indo para a cozinha apenas para não precisar olhar para mim.

— Ainda tem trabalho para fazer na delegacia? ― perguntei. Isso não fazia sentido. Ela dissera antes que já estava encerrando tudo.

—Não, eu ia sair. – ela se apoiou o ombro no batente da porta, braços cruzados, avaliando-me.

— Aonde você vai?

— A um encontro. – ela disse, um pouco envergonhada em ter que formular tais palavras.

— Um encontro? – e então tudo fez sentido. As flores na mesa de centro, exageradas e numerosas, o total oposto do que ela gosta. O anel novo. Ela chegando mais cedo hoje...

— Isso, um encontro. Está tudo bem?

— Claro. – gaguejei. – Com quem? Se você não se importar em me dizer.

— Não, não me importo. – ela rira. – O nome dele é Benjamim. Ele é novo na cidade e trabalha na delegacia há quase um mês.

Uau. Minha mãe vai a um encontro. Eu não esperava por essa. Ela nunca fora muito romântica e nunca ia a muitos encontros.

— Caroline, eu posso ficar aqui com você...

— Não. – eu a interrompi. – Vá, vá se divertir um pouco. Não se preocupe. Eu vou ficar bem.

— Você tem certeza? – ela estava preocupada, mas era visível que ela gostaria de sair. Eu não queria atrapalhar a diversão dela.

— Tenho. Pode ir. Eu também pretendo sair. Preciso resolver umas coisas... – muitas coisas. Coisas difíceis.

— Ok. Eu vou me arrumar.

Eu sorri, encorajando-a. Quando eu a ouvi começar o banho, fui até a cozinha e deixei a xícara na pia.

Minha mãe ia a um encontro! É claro que eu estava muito feliz por ela, mas ao mesmo tempo causava-me uma sensação estranha. Eu estivera fora, e minha mãe finalmente estava dando continuidade à sua vida. Eu não a vira se envolver com ninguém desde que meu pai fora embora. E agora, lá estava ela, cantarolando no chuveiro, animada com um encontro. Eu nem mesmo conhecia esse tal de Benjamim, mas eu gostava de ver minha mãe feliz. Ela merecia isso depois de tudo pelo que ela já passou. Ela precisava seguir em frente, continuar com a sua vida.

— Qual destes você sugere? – ela estava alternando dois vestidos sobre o corpo, para que eu pudesse vê-los. Eu nem mesmo tinha notado que ela saíra do banho, de tão concentrada que eu estava em meus pensamentos. Olhei para o relógio e percebi que se passaram quinze minutos.

— O preto. É clássico. – disse, sem pensar.

— Clássico de escolha certa, ou clássico de velho? – ela perguntou.

— Clássico de escolha certa.

— Obrigada.

Eu nunca a vira se preocupar em vestir uma roupa elegante. E aqueles vestidos com certeza eram novos, pois eu nunca os vira. Vinte minutos depois ela saiu do quarto e veio até a cozinha, onde eu permanecia na mesma posição. Eu parecia incapaz de me mover.

— Como estou?

E mesmo se passando tão pouco tempo, ela sofrera uma mudança completa. Seus cabelos estavam perfeitamente escovados, sem nenhum fio fora do lugar. O vestido caíra como uma luva, e seus sapatos novos me causavam inveja. Ela até estava usando maquiagem!

— Eu não sei quem esse Benjamim é, mas ele deve ser muito especial. – falei. – Do contrário, não mereceria essa mega produção.

— Achou exagerado? ― ela parecia preocupada.

— É claro que não! Pelo contrário. Você está linda.

— Obrigada, Caroline. – ela me abraçou, e por alguma razão, eu quis chorar.

— Agora vá, antes que você se atrase.

— Tem razão. Nos vemos mais tarde? – não gostei do fato de esta afirmação rotineira ter se transformado em uma pergunta.

— É claro, mãe. Nos vemos mais tarde. – eu não sabia o que iria acontecer daqui para frente, mas eu esperava estar em casa quando ela voltasse.

Despedimos-nos rapidamente, e ela saiu. Eu deveria desconfiar que o romantismo dela estivesse no limite, e que ela dirigiria até o lugar marcado. Mas eu não tive muito tempo para pensar sobre isso, nem sobre quem era esse tal Benjamim. Eu precisava encontrar o Klaus.

E precisava fazer isso já, antes que eu o perdesse para sempre.

******

Levei dois segundos para me decidir. Eu poderia sair procurando o Klaus por toda Mystic Falls, mas isso me pareceu apenas uma desculpa para ganhar tempo. Eu sabia onde ele estaria.

Segui para a casa onde ele ficava quando estava em Mystic Falls. Quando cheguei lá, por um momento, achei ter me enganado, já que a casa estava submersa na escuridão. Mas quando me aproximei um pouco mais, notei as luzes acessas na cozinha. A sala é do outro lado da casa, então eu não veria as luzes à distância mesmo se tentasse.

E então parei para pensar. O que fazer? Bater na porta e sair correndo? Essa com certeza é uma opção. Dizer: “Oi, tudo bem? Como vai?”. Eu não sabia o que dizer. Mas eu tinha que dizer alguma coisa.

Cheguei à porta e bati duas batidas hesitantes. Vi quando a luz da sala foi acessa. Não demorou muito para que Klaus abrisse a porta.

— Caroline. – ele ficou surpreso.

— Posso entrar? – perguntei, já que ele não fez nenhuma menção de convidar-me.

— Se quiser. – ele deu passo para trás. ― Como me encontrou aqui?

— Eu só precisei pensar um pouco. Eu sei o quanto você gosta desta casa, e ela sempre está pronta para te receber. Não haveria razão para procurar um hotel, não é?

­ Ele apenas assentiu, sem sorrir, e me guiou até a sala. A casa estava exatamente como eu me lembrava. Com certeza Klaus tinha alguém que cuidava da casa enquanto ele estava fora. Tudo estava limpo e no lugar, como se ele nunca tivesse partido. Isso me rendeu um sorriso.

— Você veio até aqui para admirar a mobília? ― Klaus tirou-me de meus devaneios.

— Eu só estava pensando... Você tem alguém que cuida da manutenção da casa enquanto você está fora? – perguntei, genuinamente curiosa.

—Sim. – ele ficou confuso, não entendendo a razão da minha pergunta. – Por que pergunta?

— Você planejava voltar, este tempo todo, não é? Do contrário, por que você manteria esta casa? – eu achei minha conclusão brilhante, apesar de isso ter me feito pensar nos significados que esta afirmação carregava. Eu jogara tudo para o alto para ir até New Orleans, quando eu poderia ter ficado e esperado que ele voltasse. Mas até então eu nem mesmo prestara atenção nesta casa.

— Não, eu não planejava voltar. Pelo menos, não em um futuro próximo. – ele falou. Se eu não me enganei, a expressão dele era de decepção. Ele realmente me pareceu decepcionado com o que eu havia falado.

— Então, por que manter a casa? - eu nunca me arrependera da oportunidade de conhecer New Orleans. Acho que meu pensamento estava totalmente errado. Se eu tivesse ficado aqui, esperando por ele, talvez eu nunca mais o visse.

— Foi uma decisão que tomei depois de te conhecer. – ele sentou-se numa poltrona. – Eu esperava que, um dia, você iria deixar Mystic Falls e partir comigo para New Orleans. Mas eu também sabia que isso poderia levar muito tempo. Eu só achei que era melhor manter um lugar perto de você, um lugar para o qual eu pudesse voltar de tempos em tempos, com uma desculpa qualquer.

Ou talvez ele voltasse, mais cedo ou mais tarde. Percebi, com certa tristeza, que eu conhecia muito pouco sobre ele.

— Olha, a gente precisa conversar sobre o que aconteceu. – eu tentei começar a falar, afinal, de nada adiantava dar voltas e voltas e não ir direto ao ponto.

— Sobre o que você gostaria de conversar, Caroline? Por que eu acredito que não há nada a ser dito depois do que eu mesmo vi. – eu via o enorme esforço que ele estava fazendo para controlar a raiva que estava sentindo.

— E o que você viu, Klaus? – perguntei. Eu precisava saber se estávamos debatendo as mesmas coisas.

— Eu vi você enfrentar uma situação inesperada, se desesperar e fugir. Eu vi você me abandonar e voltar correndo para o Tyler. – ele veio até mim. – Eu vi você me dando esperanças só para depois arrancá-las de mim.

— Como você pode acreditar que eu agi com tamanha maldade? – sem perceber, eu estava gritando. – Porque eu iria querer algo assim, Klaus?

— Porque você é fraca, Caroline! Você é impulsiva! – ele respondeu no mesmo tom de voz.

— Você também é impulsivo! Como você pode apontar o dedo para mim e ignorar o que você mesmo já fez? – essa não era ideia de conversa racional que eu tinha em mente. Acho que eu não sou boa com improvisações. ― Você quase me matou por impulso!

Klaus parou, como se eu o tivesse esbofeteado. Imediatamente me arrependi de minhas palavras.

— Eu posso ser impulsivo, Caroline. – agora ele falava baixo. – Mas eu lido com as consequências de minhas atitudes. Eu não fujo na primeira oportunidade que tenho.

Eu não respondi, por que talvez esta fosse a resposta que eu tanto procurava: eu estava com medo. Eu fugira por medo do que poderia, ou não acontecer. Mesmo depois de tudo, eu continuava temerosa sobre aquela relação.

— Doeu, Caroline? – ele se aproximou de mim. – Doeu ver como ele seguiu em frente tão rápido? Como ele estava bem sem você?

Eu recuei. Klaus vira a garota? Desde quando ele estava em Mystic Falls?

— Eu estava aqui o tempo todo. Eu vim atrás de você no dia seguinte à sua partida. – ele sentou-se pesadamente de volta à poltrona. – Eu sempre pensei que se o Tyler continuasse ligado a mim, ele jamais a magoaria, pois eu estaria vigiando. Mas agora eu acho que isso não faria diferença alguma. Você é um perigo para você mesma, Caroline. Eu não posso protegê-la de si mesma.

—Klaus, por favor...

—Você tem ideia do que você fez comigo? De como me fez sentir? – por um momento achei que ele fosse se partir com o peso daquelas perguntas.

Não. Eu não sabia o que fizera com ele. Permanecemos em silêncio, até que o celular dele tocou.

—Elijah. – ele atendeu. – Entendo. Ok. Até logo.

Ele falou, pausadamente, ouvindo o que estava sendo dito. Eu achei mais educado ignorar o máximo possível, já que aquilo não me dizia respeito. Klaus levantou-se e pegou seu casaco.

— Você está indo embora? – perguntei, com uma ponta de desespero.

— Hayley precisa de mim. O bebê irá nascer logo. – ele nem mesmo olhava para mim, enquanto vestia seu casaco.

Eu quase disse: “Eu preciso de você!” , mas as palavras ficaram presas em minha garganta. Acho que, neste momento, eu não poderia me dar ao luxo de precisar dele.

— Você pode não admitir, mas você fez coisas terríveis, Caroline. Você está brincando com todos ao seu redor. – calmamente, ele virou-se para mim.

— Klaus, eu sei, mas você tem que entender que essa nunca foi...

— Eu me lembro de você dizendo algo sobre isso. – ele me interrompeu. – Quais foram as suas palavras exatas? Ah, sim. “Acontece que algumas pessoas não podem ser consertadas. Pessoas que fazem coisas terríveis são somente pessoas terríveis.”

“Porque você não encontra alguém menos terrível para conversar?” foi o que ele me dissera. Eu lembrava muito bem das palavras dele, assim como eu também lembrava as minhas.

Não existe coisa pior do que alguém utilizar as suas próprias palavras contra você.

— Eu vou voltar para New Orleans. – ele disse.

— Eu acho que vou ficar um pouco mais com minha mãe. – este com certeza não era o momento para deixá-la, eu sabia. Mas eu falei isso principalmente porque a frase dele não soou como um convite.

— Fique, Caroline. – ele foi em direção à porta e quando ele alcançou a maçaneta, ele virou-se em minha direção. – Fique, e não se preocupe em voltar.

Klaus saiu e fechou a porta calmamente. Eu sentei-me, pois pude sentir que minhas pernas não iriam conseguir me manter de pé por muito mais tempo.

Klaus não queria que eu voltasse.

***

Voltei para minha casa, que continuava às escuras. Chequei a hora no celular. Eu não me lembrava de algum dia minha mãe ter ficado fora por tanto tempo.

Coloquei uma música em volume baixo e fui para o chuveiro. Apesar de eu sempre achar que pensava melhor no banho, não consegui me concentrar em muita coisa. Machucava-me pensar em Klaus. Eu nunca o vira tão magoado. Normalmente, ele externava isso com raiva, mas hoje isso não aconteceu. Eu poderia lidar com seus gritos, sua ironia e seu sarcasmo. Mas eu nunca saberia lidar com suas lágrimas.

Saí do banho e fui para o meu quarto, decidida a tentar dormir. Depois de quase duas horas percebi que eu fora bem sucedida. Tentei dormir, mas não consegui. Quando desisti de tentar, sentei na cama, sem me preocupar em acender as luzes.

Eu estava preocupada com o Klaus. Por mais que ele não tivesse demonstrado, ele estava fervendo de raiva, e isso nunca acabava bem. Olhei para meu celular, apesar de saber que não haveria nenhuma ligação. Deixei o celular no criado-mudo e estava prestes a me enrolar nos cobertores, quando os faróis de um carro iluminaram momentaneamente o corredor. Eu estava tão absorta que nem mesmo o ouvira chegando.

— Não, Benjamim. Minha filha está em casa. – ouvi minha mãe sussurrar.

— Tudo bem, Liz. Eu entendo. Nós nos vemos amanhã? – eu não reconheci a voz, afinal, eu nunca vira Benjamim antes.

— É claro. E obrigada pelo jantar. Eu me diverti muito. – eu quase podia ver o sorriso dela.

— Eu também. Até amanhã, Liz. – ele disse. Eu preferia não ter ouvido a despedida, mas a audição dos vampiros é muito boa.

Fiquei prestando atenção aos movimentos dela. Minha mãe trancou a porta, tirou os sapatos, jogou a bolsa na mesa do corredor e foi ao banheiro. Depois ela veio até o meu quarto, andando silenciosamente.

— Divertiu-se mãe? – perguntei, assim que ela abriu a porta.

— Caroline! – ela acendeu as luzes. – Nossa, você me assustou... O que ainda faz acordada? É tarde...

— Eu estava pensando...

— E para qual direção seus pensamentos estão indo? – ela sentou-se ao meu lado. Por um momento, lembrei-me do dia que o Klaus fez isso, e senti meu coração se apertar.

— Cada um deles está indo em uma direção diferente.

—Isso é confuso. – ela disse.

— Você nem imagina...

Fiquei olhando para ela. Estava corada, levemente bêbada. Feliz. Leve. Fazia muito tempo que eu não a via assim. Eu até me perguntou se algum dia eu a vi assim.

—Como foi o jantar? – eu tentei quebrar o silêncio.

— Foi ótimo. Mas eu vou te contar amanhã. Agora eu preciso dormir. E você deveria tentar também. – ela levantou-se e foi em direção à porta.

—Mãe? – chamei, antes que ela saísse.

—Sim, Caroline?

— Você estava bem enquanto eu estava fora?

Ela inclinou a cabeça para o lado, como se não tivesse entendido a pergunta.

— O que você quer dizer?

— Você está seguindo com a sua vida. Foi isso que você fez enquanto eu estive fora?

Ela voltou a se sentar ao meu lado, mas agora pegou minha mão esquerda.

— Caroline, eu sei que você não vai ficar comigo para sempre. E eu não me importo, pois você tem que viver a sua vida, e não deve ficar presa aqui para sempre. – uma lágrima escorreu dos olhos dela. – É claro que eu senti sua falta. E muito. Mas se você não gostar do Benjamim, eu posso...

— Não! Não é isso. – eu a interrompi, antes que ela pensasse algo errado. – Eu fico muito feliz em ver que você está se apaixonando novamente, que encontrou alguém que a corresponde. Quero que você siga em frente. Não quero que viva em função de mim. Você também tem uma vida para viver.

— Caroline, escute-me com atenção. Não importa o que você decida, eu sempre vou te apoiar. Se decidir ficar, eu ficarei muito feliz. Se decidir partir, eu vou sentir sua falta, é claro, mas vou entender. – agora ela chorava abertamente, e eu comprovara que o choro é algo altamente contagioso, pois não levou muito tempo para eu também estar chorando.

— É muito bom ouvir isso, mãe. Obrigada. – eu disse, entre soluços.

— Mas, se você decidir partir, tem que prometer que vai me visitar sempre. – ela riu rapidamente. – Eu sempre estarei aqui se precisar de mim, Caroline. Esta sempre será a sua casa, e eu não vou a lugar algum. Lembre-se disso.

Ela me abraçou, e eu demorei um pouco para soltá-la. Esta talvez tenha sido a melhor conversa que eu já tivera com minha mãe.

— Boa noite, Caroline.

— Boa noite, mãe.

Em meio às lágrimas, soluços e sorrisos aliviados, finalmente adormeci.

***

— Bom dia, mãe!

— Não grite, Caroline... – minha mãe sentou-se pesadamente na cadeira. Coloquei uma caneca de café à sua frente, e ao lado, duas aspirinas.

— Obrigada. – disse ela, agradecida. – Era tudo o que eu precisava.

— Achei que precisaria. – não é como se ela bebesse todos os dias.

Deixei que ela tomasse seu café, observando exercer cada movimento um pouco mais lentamente do o normal. E então eu disse:

— Mãe, eu tomei uma decisão.

— Sim, eu percebi. – ela ergueu os olhos para mim.

— Como? – eu perguntei, baixinho.

— Eu vi suas malas no corredor.

— E está tudo bem?

— Bem, eu gostaria que você ficasse mais um pouco comigo. Acho que se tiver que comer mais uma vez a comida do Grill, eu vou ter de comprar alguns livros de receitas culinárias. – ela riu. – Mas eu te entendo, filha.

— Você me entende? – eu sorria. – Então, por favor, me explique, pois eu mesma não me entendo.

Ela riu e levantou-se para me abraçar. Eu sentiria muita saudade dela.

— Faça uma boa viagem, Caroline. Ligue-me sempre que possível e se cuide.

— Obrigada, mãe.

Eu fiquei ao lado dela enquanto ela ligava para delegacia avisando que chegaria um pouco mais tarde. A bebida tinha feito um estrago e tanto.

Eu não queria uma despedida melancólica, mas depois de toda a emoção do dia anterior eu acordara muito emotiva. Quando o táxi chegou, acomodei as malas no carro. Abracei minha mãe, fiz promessas de cartas e ligações, e não parei de chorar em nenhum momento.

— Para o aeroporto? – perguntou o motorista, quando finalmente sentei no banco traseiro.

— Depois. Eu preciso ir até outro lugar antes.

***

— Bom dia, Caroline! – Samantha trabalhava na recepção da delegacia, e me conhecia há anos.

— Bom dia Samantha. Posso falar com o Benjamim?

— Claro. Espere na sala de interrogatório, eu vou chamá-lo.

Sala de interrogatório? Muito apropriado.

Esperei até que um homem entrou na sala. Moreno, um pouco velho, com olhos castanhos e um nariz torto, do tipo que já fora quebrado várias vezes.

— Bom dia, Caroline. Que prazer em conhecê-la. – ele apertou minha mão.

— Olá Benjamim. – aproveitei que apertava a mão dele e o puxei para perto. Olhando nos olhos, eu o hipnotizei. – Agora conte até três e sente-se.

— Um. Dois. Três. – e sentou-se. Ele não tomava verbena. Eu estava com sorte. Porém também estava surpresa por minha mãe não ter pensado nisso ainda.

—Então, Benjamim. – eu ainda o estava hipnotizando. – Eu vou lhe fazer algumas perguntas e você vai responder com total sinceridade.

Durante vinte e cinco minutos eu o interroguei, e no final, eu não poderia estar mais aliviada. Ele não era nenhuma criatura sobrenatural, apenas um cara que fora transferido de uma cidade distante, e que realmente gostava de minha mãe. Inclusive pensava em pedi-la em casamento, mas achava que era muito cedo e isso poderia assustá-la. Ele era um bom homem.

— Levante-se. – eu o olhei fixamente nos olhos. - Você não vai se lembrar da nossa conversa. Vai lembrar apenas que eu passei aqui para me apresentar, e nada mais. Eu estava com muita pressa e fui embora logo. Mas principalmente, você vai cuidar de minha mãe. Vai ser carinhoso, atencioso, durante todo o tempo que vocês permanecerem juntos. Você vai amá-la ainda mais do que já ama.

Peguei minha bolsa e já estava saindo, mas lembrei de algo e voltei.

— E você vai pedi-la em casamento logo. Ela é a policial mais durona desta delegacia. Vai precisar de muito mais do que isso para assustá-la.

Sai pelos fundos para evitar Samantha e voltei para o táxi.

— Agora sim. Para o aeroporto.

***

Eu cheguei ao aeroporto com todas as decisões tomadas. Mesmo que conturbada, esta viagem fora bastante esclarecedora. Eu já sabia o que fazer, e por isso eu precisava viajar. Eu precisava falar com o Klaus, pessoalmente. Minhas decisões não poderiam e nem deveriam ser informadas por telefone.

O voo atrasou um pouco, o que me deixou ainda mais ansiosa. Eu sabia que estava arriscando muita coisa. Klaus deixara bem claro que não queria que eu voltasse para New Orleans. Ele poderia simplesmente fechar as portas na minha cara e não ouvir o que eu tinha a dizer.

Eu não me despedira de Tyler. Eu sentia que eu precisava resolver as coisas com Klaus primeiro. A conversa com Tyler teria que esperar.

Quando o avião decolou foi impossível não lembrar-me de meu primeiro voo para New Orleans. Também não consegui evitar compará-los. Eu não estava nervosa e incerta como no primeiro voo. Eu estava decidida, e isso fazia toda a diferença.

A primeira diferença que notei foi o tempo. Este voo me pareceu mais rápido do que o primeiro. Desci do avião com um sorriso. New Orleans me recebia de braços abertos. Esperei pela minha bagagem e fui procurar um táxi.

Eu estava tão animada. New Orleans tinha se tornado minha segunda casa, e agora toda aquela agitação já me era muito familiar. E daqui há pouco tempo, eu iria me encontrar com o Klaus, e nós poderíamos conversar tranquilamente.

Vi um homem descer de um táxi e começar a descarregar as malas. Fui em direção a ele, assim poderia pegar o táxi logo depois que ele saísse. Então eu ouvi alguém dizer atrás de mim:

— Ora, ora. Vejam só que resolveu voltar. E o melhor de tudo: sozinha.

Eu não precisei olhar para saber quem estava falando. Aquela voz arrepiou minha pele, assustando-me. Eu sabia exatamente quem estava falando.

— Marcel.

Ele sorria de um jeito diabólico, enquanto dois outros vampiros ficam imóveis atrás dele, olhando-me fixamente. Klaus havia me falado sobre eles. O Quarter, a gangue de Marcel. O círculo interno, seus capangas mais próximos, usando anéis para poder sair à luz do sol.

Lembro-me de ter pensado em entrar no táxi e gritar para o motorista dirigir o mais rápido possível. Lembro-me de ter considerado jogar o motorista no chão e eu mesma dirigir o mais rápido possível. Lembro-me da verbena que foi injetada em meu pescoço por um cara que saiu não sei de onde. Mas principalmente, lembro-me também de algo que nunca mais irei me esquecer. A risada de Marcel quando ele disse, segundos antes de eu perder a consciência:

— Show time.

 


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Notas finais do capítulo

Confiram o look feito pela Eduardaaa!! http://www.polyvore.com/cgi/set?id=92294901&.locale=pt-br

Até o próximo capítulo!



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