Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 6
Sorrisos falsos


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, vocês me fazem muito feliz! Sério, a cada comentário que eu leio eu amo mais e mais postar um novo capítulo para vocês.
E já que vocês são tão legais, eu já preparei outro capítulo.
Percebi que vocês ficaram com muita raiva da Hayley! E eu pensando que vocês odiassem o Marcel... =)

Aproveitem a leitura!



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"Por que você não disse que viria? Logo agora que eu tinha me curado das feridas que você abriu quando se foi. Por que chegou sem avisar? Eu queria tempo pra me preparar. Com a roupa limpa, a casa em ordem e um sorriso falso pra enganar."

Eu não entendo, de Nenhum de nós. Música de 2001, do álbum Histórias reais, seres imaginários.

 

O táxi estacionou em frente à minha casa. O motorista gentilmente me ajudou a colocar as malas na varanda, e então eu o paguei e fiquei ali, parada, observando-o se afastar. Olhei para a porta e sorri. Era estranho estar de volta. Mystic Falls não mudara absolutamente nada, nem mesmo uma nova árvore. Tudo continuava exatamente como estava quando fui para New Orleans. Por um momento, senti como se eu nunca tivesse ido embora.

Revirei minha bolsa até encontrar a minha cópia da chave. Franzi a testa, pensativa, enquanto observava a chave. Tinha sido algo em que eu pensara de última hora, a última coisa que eu peguei antes de partir. Será que, lá no fundo, eu sabia que acabaria voltando?

Abri a porta e coloquei as malas no meu quarto. Minha mãe não estava em casa, então eu me sentei na sala. Depois de checar rapidamente todos os cômodos, concluiu que minha casa também não havia mudado, exceto pelas rosas que agora ocupavam a mesa de centro, algo que eu estranhei, pois minha mãe não gosta muito de arranjos de flores tão grandes quanto aquele. Ignorando isso, a casa ainda era mesma, e me recebia de braços abertos.

Eu estava me sentindo segura, acolhida. Eu quase conseguia ver a antiga Caroline sentada no sofá, ao meu lado. Acho que ela não se perdera, afinal de contas. Talvez ela nunca tenha abandonado Mystic Falls, e tenha esperado por mim este tempo todo. E mesmo me sentindo diferente, era difícil não querer abraçá-la, e voltar para aquele tempo em que as coisas eram um pouco mais fáceis. Porém, lá no fundo, eu sentia um pouco de pena da antiga eu. Ela não possuía o sorriso que se tornara tão frequente em meu rosto no último mês. A antiga eu continuava com medo do que estava além destas paredes, e isso ainda a mantinha acorrentada e afastada de uma felicidade que poucas pessoas tem a chance de experimentar.

Ao lado das rosas na mesa de centro, havia alguns panfletos de universidades. Sim, eu deveria estar na faculdade agora. Mas isso não importava muito agora. Eu tenho a eternidade inteira para ir para faculdade desde que isso deixara de ser uma prioridade há muito tempo atrás.

Ouvi minha mãe chegar. Permaneci no sofá, prestando atenção aos seus movimentos. Ouvi-a hesitando à porta. Percebi que eu havia me esquecido de trancar a porta, e isso explicava o porquê de ela ter sacado a arma. Com certeza ela concluiu que alguém havia invadido a casa. Ela seguiu, pé ante pé, até que chegou à sala.

— Oi, mãe!

— Caroline. – ela suspirou pesadamente, baixando a arma. – Você me assustou.

— Desculpe, não tive a intenção. – levantei e a abracei. – Senti saudades.

— Eu também, filha. Você não faz ideia. – ela me olhou, preocupada. – Estou surpresa em vê-la aqui...

— É... Eu precisava de um tempo. – eu não encontrei melhor maneira de explicar o porquê de minha visita repentina. Minha mãe considerou minha resposta evasiva por alguns segundos e depois decidiu.

— Vamos almoçar em algum lugar, que tal? – ela sorriu de maneira resplandecente.

— Eu adoraria. – suspirei aliviada por não ter levado o assunto adiante.

Esta tinha sido uma das razões pelas quais meu relacionamento com minha mãe havia melhorado tanto. Ela aprendera a perceber quando eu não queria conversar sobre alguma coisa, e então não insistia mais no assunto. Agora eu falava com ela quando me sentia à vontade para tal, e ela respeitava isso.

Ah, como eu senti saudades de casa.

***

O Grill continuava exatamente igual. Sinceramente, não sei por que isso ainda me surpreende. Estamos falando de Mystic Falls...

Enquanto almoçávamos, contei tudo à minha mãe. Pela maneira como ela engasgou-se com a salada posso dizer que ela não ficou muito feliz ao saber que estava envolvida com o Klaus. Fisicamente, eu digo. Então, poupei-a de qualquer detalhe sórdido. Não que planejasse contá-los, de qualquer forma. Nossas conversas tinham melhorado muito, mas isso já era um pouco demais. Talvez não por causa dela, mas sim por mim. Eu guardava as memórias daquela noite em um lugar especial de meu coração, como se dividi-las com alguém fosse desbotá-las. Não havia ninguém no mundo que daria o mesmo valor que eu dou àquelas memórias, ao toque do Klaus, à maneira como ele me amou.

E então eu contei tudo sobre a Hayley. Ela teve a mesma reação que eu tivera quando Hayley chegou à casa de Klaus.

— Klaus e Hayley? Quem diria... – ela falou baixinho.

— Pois é, quem diria? Mas aconteceu. E agora, lá está ela, grávida, com todos ao redor dela como se ela fosse uma deusa grega. – apoiei a cabeça em minha mão direita, e suspirei.

— E você está com ciúmes.

Fiquei muda.

— Ora, vamos Caroline. Não precisa esconder este tipo de coisa de mim. Eu sei muito bem que você só fica assim quando está incomodada com alguma coisa. – ela riu.

— Assim como?

— Como esta falsa expressão de “eu não dou a mínima para isso”.

­ — Bem, não é como se eu tivesse algum tipo de direito sobre ele. Klaus pode sair com quem quiser, é só que... É só que... – suspirei.

— É só que você achava que ele só tinha olhos para você e mais ninguém, e o fato de ele ter estado com a Hayley prova que você estava errada. E isso só aumenta todas as dúvidas que você tem em relação ao Klaus. – ela jogara essa bomba em meu colo e ainda assim sorria calmamente, como se acabasse de explicar o sentido da vida e ele fosse tão fácil quanto um mais um.

— Quando foi que você aprendeu a ler pensamento? – minha voz estava muito baixa.

— Os seus? Desde o dia em que você nasceu... Ou até mesmo antes. – talvez mãe seja um ser sobrenatural também.

— E o que eu vou fazer? – eu quase desejava que elas fosse. Eu poderia aproveitar um pouco de clarividência agora, mesmo que viesse de uma bola de cristal. No momento meu futuro era algo totalmente nebuloso.

— Caroline, admitindo ou não, você ainda espera um romance épico, digno de um conto de fadas. – ela falava com mais seriedade agora. – Você tem dúvidas sobre os sentimentos do Klaus, e eu me arrisco a dizer que você sempre terá. Algo me diz que você está esperando que ele venha lhe salvar em um cavalo branco, deixando bem claro que ama você e mais ninguém. Talvez você devesse dizer isso para ele...

— Não, mãe! Eu não posso! Não é como se eu esperasse que ele me peça em casamento... – falei.

—Você espera? – ela pareceu alarmada.

— Não! – eu acho.

—Então, tudo bem. Apenas espere, Caroline. Talvez as coisas se resolvam, agora que você pode olhá-las através de uma nova perspectiva. Talvez, longe dele, algumas coisas comecem a fazer sentido. – ela voltou a comer.

— É, quem sabe... – comecei a tamborilar os dedos na mesa. – Mãe, posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Você tem visto o Damon, Elena e o Stefan?

— O Stefan ainda está por aqui, mas sempre muito ocupado, sempre de um lado para o outro. – ela disse. – Damon e Elena foram viajar há alguns dias.

— E o Tyler? – tentei parecer casual, como se estivesse perguntando sobre a previsão meteorológica.

— Na verdade, não o tenho visto. Ele sai muito pouco de casa. Até onde sei, Jeremy o visita regularmente, mas não o tenho visto muito ultimamente. Por que?

— Acha que devo visitá-lo? – eu não sabia se visitá-lo seria uma boa ideia. Nós terminamos de uma maneira muito conturbada, e não nos falamos mais desde então.

— Acho que você veio até aqui principalmente para fazer isso. – ela estendeu a sua mão direita e a colocou sobre a minha. Percebi o anel novo que ela estava usando. – Não a julgo por querer ter certeza do que quer fazer, antes de realmente fazer algo definitivo. Escolher também significa perder. Não pode ganhar alguma coisa sem perder outras. Mas tome cuidado, Caroline. Eu tenho certeza de que você não quer magoar ninguém, então pense bem antes de fazer qualquer coisa.

Realmente, eu não queria magoar ninguém, e isso incluía a mim também. Será que minha visita magoaria o Tyler? Eu não queria parecer uma nômade, alguém que vem e vai e espera que tudo continue como sempre foi.

A verdade é que eu temia que ele me odiasse, e isso fazia com que eu me sentisse culpada. Eu queria encontrá-lo e perceber que ele estava bem, seguindo em frente. Queria saber se ele estava feliz. E eu precisava ver isso com meus próprios olhos.

***

Eu caminhei até a casa de Tyler. Quando cheguei lá, não pude evitar lembrar a noite em que fui embora. Se naquele dia a casa me pareceu tão viva, hoje ela me pareceu um mausoléu. Mesmo à luz do dia, o aspecto de abandono era gritante. A grama parecia não ser cortada há décadas, a água da fonte estava suja, as flores estavam mortas e as árvores acumulavam suas folhas secas pelo chão. Não vi nenhuma janela aberta, nenhum sinal de vida na casa, o que me fez duvidar que Tyler estivesse lá.

Subi a escada e tentei tocar a campainha, mas ela não funcionou. Bati na porta. Nada, nenhum movimento dentro da casa. Bati mais uma vez. Ouvi um suspiro pesado. Franzi a testa. Como eu poderia tê-lo acordado? É meio-dia. Ouvi os passos pesados de Tyler em direção à porta, e também o ouvi se confundindo com as chaves. Ele abriu a porta, seus olhos quase fechados, incomodados com a luz repentina. Quando ele finalmente conseguiu focalizar quem estava à sua frente, seu rosto me confundiu.

— Car. – primeiro ele ficou muito surpreso, o que era muito compreensível, afinal eu era a última pessoa que ele esperava encontrar ao abrir a porta. Depois ele ficou confuso, reconheci uma pontada de raiva, e então o medo.

—Oi, Tyler. – eu falei, baixinho. Eu não sabia como ele iria reagir à minha visita, eu precisava ir devagar.

— O que você está fazendo aqui? – ele parecia agitado. Ele saiu, deixando a porta praticamente fechada atrás de si.

Eu dei um passo para trás. Ele não queria que eu entrasse. Eu conseguia sentir o cheiro de todo o álcool que ele bebera, e que por sinal, não fora pouco. Achei que ele tivesse parado de beber há muito tempo...

— Como você está, Tyler? – perguntei.

— Como eu estou? – ele riu. – Que tipo de pergunta estúpida é esta, Caroline? Como você acha que eu estou?

Eu não respondi, afinal de contas toda aquela hostilidade me fez perceber o quão desnecessário fora aquele questionamento. Eu pude sentir desaparecer lentamente a esperança de encontrá-lo bem...

— Olha, Tyler... Será que a gente não pode conversar sobre isso? – eu falei olhando para o chão, evitando seus olhos.

— Conversar? Você quer conversar? – Tyler deu dois passos em minha direção. Acho que eu recuei o dobro disso. – Primeiro eu tenho que assistir a minha namorada tendo um encontro com o homem que destruiu a nossa vida e de nossos amigos. Depois ele mata minha mãe e então eu tenho que fugir e me esconder porque este cara quer me matar. Como se isso não bastasse, minha namorada me deixou para fugir com esse maldito!

Eu nunca o vira gritar tanto, ele estava completamente descontrolado. E eu não podia culpá-lo. Sim, tudo fora assim mesmo. Eu subverti a ordem natural dos contos de fadas e fiquei com o vilão. Mas isso era perfeitamente plausível, visto que eu não sou nenhuma donzela indefesa. Eu sou o monstro que o caçador tem que matar.

Depois de alguns segundos eu reparei em outra coisa: ele se referiu a mim como namorada.

— Tyler, eu não sei o que... – eu não fazia ideia do que dizer para ele. Na verdade, eu nem estava pensando, eu apenas sentia que precisava dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Eu estava confiando cegamente na capacidade de meu cérebro formular uma frase coerente sem precisar de minha ajuda. Mas eu nem mesmo tive a chance de continuar, pois fui interrompida por uma voz que disse:

— Ty, com quem você está gritando?

A voz veio de dentro da casa. Era uma voz sonolenta, típica de quem acabou de acordar. Quando ela abriu a porta, pude ver a dona da voz.

— Quem é essa? – ela perguntou, tirando as palavras da minha boca. Eu nunca vira aquela garota antes, então posso deduzir que não era uma amiga do Tyler. Isso somado ao fato de ela estar usando apenas uma calcinha me fez concluir que minha dedução estava correta. Ela era muito mais do que uma amiga.

— Marie, volte pra dentro. – e aí estava. Aquele medo que ele mostrou quando cheguei havia voltado aos seus olhos. Provavelmente porque o motivo deste medo estava materializado em sua frente, usando uma imitação de Victoria’s Secrets.

— Claro. – ela obedeceu prontamente. Talvez a voz sonolenta não seja necessariamente consequência do sono, mas sim da bebida. A festa deve ter sido bem animada.

—Por que você não me disse que viria? – ele perguntou, de maneira séria. Eu fiquei chocada com esta mudança de direção, como se o fato de ele estar com outra garota fosse culpa da minha falta de aviso prévio.

— Eu não planejei nada, Tyler. Mas tudo bem, eu vou embora. Você parece estar bastante ocupado... – falei, já recuando.

— Caroline. – ele segurou meu braço. – Eu te disse que não esperaria para sempre. O que eu deveria fazer? Sentar e chorar esperando que você voltasse?

— Não, Tyler. Eu esperava que você seguisse em frente, que fosse feliz. – Eu só não esperava que doesse tanto.— E parece que foi exatamente o que aconteceu.

— Não se engane, Car. Se eu soubesse que você viria eu teria me preparado para parecer menos patético. Eu teria arrumado a casa, estaria sorrindo. Eu não estaria tão digno de pena... Mas você parece muito bem. Mesmo estando com aquele crápula.

Eu fiquei olhando para ele, sem entender aquela afirmação. Eu não falara sobre Klaus em momento algum, e minha mãe teria me contado caso tivesse dito alguma coisa para ele.

— Como é?

— A Hayley me contou. – ele explicou. Claro que aquela vadia contou. Ela não perderia a chance.

— Tyler, me desculpe. Nunca foi minha intenção te magoar desse jeito. Eu só queria entender. Entender-me. – eu estava ficando muito sentimental.

— As pessoas magoam as outras mesmo sem intenção.

Tyler voltou para dentro de casa e fechou a porta, sem me dar a chance de responder. Mas, mesmo que ele me desse uma oportunidade, o que eu poderia dizer?

***

Passei um dia inteiro evitando o Tyler depois de nosso incômodo reencontro. Eu não sabia se conseguiria falar com ele. Não sabia nem mesmo se tinha tomado a decisão correta ao ir visitá-lo. Uma parte de mim esperava que ele seguisse em frente, mas a outra parte... A outra parte não conseguia se decidir. Por alguma razão, vê-lo com outra me entristeceu um pouco. A relação que tivemos foi muito importante para ambos, acho que é normal isso me afetar, não é? Talvez eu quisesse vê-lo seguindo em frente para me eximir de qualquer culpa que eu possa vir a sentir. Eu não queria seguir em frente se o Tyler continuasse preso ao passado.

Olhei para o meu celular. Nenhum sinal do Klaus, também. Nenhuma ligação, mensagem ou sinal de fumaça. Nada. Pensei em ligar e falar com ele, mas eu não tinha nada para falar. Eu só queria ouvir a voz dele, ouvi-lo chamando-me de “sweetheart”. Eu só queria saber se tudo estava bem entre nós.

Rolei minha lista de contatos até encontrar o número do Klaus. Fiquei olhando para aqueles números, tentando decidir o que fazer, como se a resposta estivesse na numerologia e o universo pudesse decidir por mim. Antes que perdesse a coragem, apertei “discar”. Esperei... Esperei... Até que a ligação caiu na caixa postal. Ele não me atendera.

Quando desliguei o celular, a campainha tocou. Não sei por que, mas eu senti que abriria a porta e o Klaus estaria ali, sorrindo, explicando que não atendeu porque já estava aqui. Eu senti aquela sensação reconfortante de ter a certeza de que ele faria qualquer coisa por mim, que não suportou a saudade e veio até mim. Talvez minha mãe estivesse certa e eu realmente esperasse que ele aparecesse à minha porta como a mais clichê das comédias românticas e dissesse que me ama.

Mas quando cheguei ao corredor e pude ver através do vidro na porta, vi que eu estava errada. Tyler olhava para mim, esperando que eu o deixasse entrar.

— Car, a gente precisa conversar. – ele percebeu minha hesitação. Pensei por alguns segundos, sabendo que eu não poderia simplesmente correr e fingir que eu não estava em casa. Destranquei a porta e dei um passo para o lado, para que ele pudesse entrar.

— Entre. – eu falei.

Ele foi até a sala e sentou-se no sofá. Eu o segui e sentei ao seu lado. Tyler respirava pesadamente, como se estivesse fazendo um grande esforço em vir falar comigo. E talvez estivesse mesmo.

— Desculpe por ter sido tão idiota com você, Car... – ele falou.

— Tudo bem. – eu não o culpava por aquilo.

— O que aconteceu com a gente, Caroline? – ele não olhou para mim quando perguntou.

— Eu não sei... – falei francamente. Porque, honestamente, como poderíamos saber? Quando seus sentimentos por alguém mudam? Eu não acredito que isso aconteça de uma hora para outra, este tipo de mudança é algo gradativo. Num belo dia, você acorda, se olha no espelho e percebe que alguma coisa mudou, que você está diferente. Mas a jornada é tão longa, são tantos passos, tantas curvas, que é quase impossível saber em qual ponto do caminho algo ficou para trás. Pois não é algo que você sinta, você só... Segue em frente.

— Você não faz ideia do que eu passei, Car. De quantas eu vezes eu fugi acreditando que o Klaus tinha me encontrado. De quantas vezes...

— Não faça isso, Tyler. – eu o interrompi. – Não tente fazer com que isso seja culpa minha.

— Então quem é o culpado disso tudo? – ele parecia exausto.

— Por que é preciso culpar alguém, Ty? Talvez tudo tenha convergido para isso. – eu estava tentando amenizar a situação, mas eu não acredito que tenha funcionado.

— É tudo culpa dele, Caroline! Por que você não vê? – ele se levantou, exaltado. – Tudo começou a dar errado quando o Klaus entrou em nossas vidas!

Eu fiquei em silêncio. Como eu poderia dizer que ele estava errado? Klaus faz o que quer, não importam as consequências. Ele é imprudente, sim... Mas ele não é mau. É altamente utópico querer separar as pessoas entre boas e ruins. As pessoas “boas” também são más, e vice-versa. Afinal de contas, não se pode ter luz sem a escuridão. Todos nós temos nossos segredinhos escondidos por aí.

— Tyler, eu sei que ele fez coisas horríveis, mas...

— Não existe “mas”, Car! Você não pode ignorar as coisas que ele já fez. – ele ajoelhou-se em minha frente. – Você não pode ignorar o fato de que ele é o responsável por ter nos separado e transformado nossas vidas em um verdadeiro inferno.

— Você precisa dar uma chance às pessoas, Tyler. – eu disse. – Quando eu me transformei, eu matei uma pessoa. Damon não queria me dar uma chance, e eu tinha feito uma coisa horrível também. Mas se o Stefan e a Elena não tivessem interferido, e tivessem me dado uma chance, eu não estaria aqui agora.

— Então você vai dar uma chance para ele, mas não para mim, é isso? – ele pareceu incrédulo.

— Não foi isso que eu...

— Mas o que você está fazendo. Você está desistindo de mim... Por ele. – ele colocou a mão em meu rosto, me fazendo olhar para ele. – Você não vê que está indo em direção sem volta?

Sim, eu sabia. Por mais que agora eu sentisse como se estivesse tentando atravessar um labirinto, eu sabia que quando chegasse ao final, nunca mais encontraria meu caminho de volta. Eu só não sabia como lidar com algo tão definitivo.

—Tyler, ele é uma pessoa completamente diferente comigo. Você não acreditaria se o visse... – tentei argumentar.

— E você acha que isso tudo é por sua causa? – ele estava ficando irritado. – Que o seu amor vai redimi-lo e transformá-lo em uma pessoa melhor?

— Ele é uma pessoa melhor comigo. Por mim. – por mais que eu nunca tivesse admitido isso antes, era verdade. Eu não sabia o quanto dessas mudanças eram por minha causa, mas era algo inegável.

— Não seja ingênua, Caroline. – ele tocou meu rosto suavemente. ― Eu te amo, Caroline Forbes. Eu atravessei o inferno por você, e faria tudo novamente, apenas para ter mais um momento com você. Para olhar para você e não ver um olhar de desprezo. Para ver no seu olhar o brilho que eu costumava ver. Eu faria qualquer coisa por você.

E lá estava ela. Aquela parte de mim que não consegue deixar para lá, que não consegue esquecer todo o sofrimento pelo qual Tyler passou. Até porque, eu estava ao lado dele em boa parte deste sofrimento. Então o que mudara? Eu ainda me importava, e muito. Foi para ajudá-lo a passar por todo aquele sofrimento que nos aproximamos, e agora ele estava aqui, sofrendo na minha frente e eu não conseguia mover um dedo para ajudá-lo, pois eu sabia que aquela dor era por minha causa.

Ele se aproximou e encostou seus lábios nos meus. E por alguma razão, eu não me afastei. Talvez eu só quisesse confortá-lo, talvez eu também precise de conforto. Ou talvez eu também sentisse falta dele e de tudo o que vivemos juntos. Ou talvez eu apenas não fizesse a menor ideia do que estava fazendo.

Entre beijos e carícias, encontramos o caminho até o meu quarto. De alguma maneira, eu parei todas as engrenagens de meu cérebro que faziam com que eu pensasse claramente como se elas nunca tivessem funcionado. Eu não conseguia pensar em mais nada.

Talvez esta seja uma verdade universal, e eu não possa fugir disso. Existe certo mistério no primeiro amor de alguém. Seja ele correspondido ou não. Alguma coisa que, mesmo depois de muito tempo, nos mantêm ligados, que nos faz sorrir quando vemos aquela pessoa, ou quando ouvimos falar dela. Talvez não seja amor. Talvez seja carinho, cuidado. É algo forte, que não se pode explicar. Apenas sentir.

***

— Car... – Tyler começou.

— Agora não, Tyler. Vá para casa, nós conversaremos amanhã. – eu estava sentada em minha cama, evitando olhá-lo nos olhos. Quando as engrenagens do meu cérebro voltaram a funcionar, elas estavam mais barulhentas do que costume, rugindo como um leão faminto. Minha mente estava fervilhando com todos os argumentos e motivos que ela não conseguira produzir antes, como se estivesse tentando compensar o trabalho atrasado.

Tyler não me contestou, apenas levantou da cama e vestiu-se rapidamente. Eu não pude deixar de notar o enorme sorriso que estampado em seu rosto.

— Você não pode negar o que acabou de acontecer, Car. E nem o que isso significa. – ele disse, enquanto vestia o casaco.

— Eu saberei o que significa amanhã. – “quando eu estiver me sentindo mais racional.”

Levantei e o guiei até a porta. Antes de sair ele tentou me dar um beijo de despedida. Desviei. Não parecia certo. Talvez eu estivesse começando a me sentir culpada.

—Até amanhã, Car.

— Boa noite, Tyler. – fechei a porta.

Fui para a sala e escondi meu rosto e minhas mãos. O que eu fiz? Eu não deveria ter permitido isso. Eu voltei para Mystic Falls para resolver a situação, não para complicá-la ainda mais.

Olhei para o meu celular. Eu sabia exatamente o porquê de eu estar me sentindo culpada. Numa decisão repentina, disquei o número do Klaus. Novamente, ele não atendera. Tentei imaginar diversas possibilidades para isso, mas a verdade é que eu não conseguia pensar em nenhuma. Klaus sempre atendera minhas ligações, mesmo se fosse apenas para dizer que não podia falar comigo no momento. Disquei outro número.

— Filha? Está tudo bem? – minha mãe estava respirando rapidamente, como se tivesse corrido para me atender.

— Sim, está. Você vai demorar a voltar para casa? – eu sabia que ela só deveria sair da delegacia em vinte minutos, mas eu precisava lidar com assuntos fáceis agora, com coisas rotineiras.

— Não, já estou encerrando. Quer que eu compre algo para o jantar?

— Não, não precisa. Eu vou cozinhar. – disse simplesmente.

— Ok. – ela entendera. – Tranque a porta e me espere. Até logo, filha.

— Até logo mãe.

Fui para o corredor, pegando a chave na mesa de canto. Foi quando vi uma sombra passar do lado de fora. Havia alguém ali. Eu podia ouvir alguém respirando na varanda. Pé ante pé fui até a porta, preparada para me defender de quem fosse.

Abri a porta e saí rapidamente, colocando-me em guarda. Mas logo fiquei paralisada.

— Foi por isso que voltou, Caroline?

Ali, bem em minha frente, sentado numa das velhas cadeiras de minha mãe, Klaus observava o céu, como se aquilo fosse muito natural. Eu estava sem palavras devido à surpresa por vê-lo aqui. E por um segundo não pude deixar de procurar por um cavalo branco, uma espada ou uma armadura reluzente. Talvez este fosse o momento que eu tanto esperei. O momento em que ele diria que atravessou o mundo por mim e que me amava mais do que tudo.

— Voltou para vê-lo, não é? – não respondi.

Eu ansiei vê-lo mais cedo, desejei que ele estivesse aqui. Mas essa não era uma cena de um conto de fadas, e eu me repreendi por esperar aquilo. Eu não era uma donzela indefesa, e eu sabia. Por que eu mereceria uma jornada heroica protagonizada pelo príncipe? Ao invés de procurar por um cavalo branco eu deveria estar procurando minha cesta de maças envenenadas.

Por que naquele momento eu sentia muito mais empatia pela bruxa má do que pela donzela em perigo. Eu era como as vilãs que torturam e machucam pessoas ao seu bel prazer. E toda aquela maldade me paralisou. Eu não conseguia dizer ou fazer coisa alguma. Apenas fiquei ali, contemplando o motivo pelo qual eu sentia meu coração ressecar.

Klaus estava chorando.

 


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo para deixa-los com o coração na mão até que eu poste a continuação!

Não deixem de comentar, favoritar e tudo o mais!!
E não esqueçam de apreciar o look feito pela Eduardaaa: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=92237259&.locale=pt-br

Até o próximo capítulo!