Seu último amor - Klaroline escrita por Jeniffer


Capítulo 2
Alguns quilômetros adiante


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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"Acho que, às vezes, coisas que parecem muio importantes tomam outro aspecto quando a gente se vira e olha de novo alguns quilômetros adiante."

Minha metade silenciosa, por Andrew Smith. Citação da página 230, na edição de 2014, da editora Gutenberg

 

Olhei para o relógio. Em algumas horas minha mãe voltaria para almoçar, então decidi cozinhar alguma coisa para nós duas. Eu não costumava cozinhar, mas eu precisava refletir. Algo naqueles movimentos quase que ensaiados, o preparo da comida que já era quase automático, me permitia estar em movimento sem precisar pensar muito no que eu estava fazendo. Isso deixava minha mente livre para vagar pelos acontecimentos de mais cedo.

Ouvi minha mãe estacionar o carro e depois entrar em casa.

— Olá, Caroline! – ela parou para sentir o cheiro que permeava a cozinha. – Que cheiro bom!

— Oi, mãe! – eu disse, virando-me para abraçá-la rapidamente, antes de voltar a direcionar minha atenção para a comida. – Eu pensei em fazer algo para o almoço, ao invés de requentar alguma coisa...

— Eu acho ótimo. Você sabe que sou um desastre na cozinha. – isso era compreensível, já que esta função sempre fora de meu pai.

Comemos em silêncio. Eu continuava pensativa, e minha mãe estava aproveitando a comida. Levantei-me e deixei meu prato na pia. De repente, senti como se precisasse desesperadamente conversar com minha mãe.

— Mãe, podemos conversar? – eu estava apoiada na pia, braços cruzados, olhando para o chão, como uma criança perdida.

— Claro, filha. Eu ainda tenho um tempinho antes de precisar voltar para a delegacia.

Sentei-me de frente para ela, espalmei as mãos sobre a mesa, inconscientemente dizendo que não tinha nada a esconder, mas ciente de que meus olhos pediam ajuda.

— Eu suspeitei que algo estivesse errado... – ela disse. – Você só cozinha quando precisa pensar.

Nos últimos tempos, meu relacionamento com minha mãe havia melhorado consideravelmente, então conversei com ela. E naquele momento falei sem medos, sem reservas, apenas com total honestidade. Terminado meu longo discurso, senti certo alívio por finalmente externar meus conflitos internos. Ao final de tudo, ela parecia um tanto confusa sobre como se sentir a respeito.

— Caroline, eu não posso dizer que me agrada pensar em você e o Klaus juntos, mas se as coisas não estão indo bem entre você e Tyler, não há motivo para continuar. Você é jovem, e tem muito mais tempo à sua frente do que qualquer outra pessoa. Não se prenda, apenas viva. Tente, se não der certo, tente novamente. Faça alguma coisa, apenas não passe toda a sua vida imaginando como poderia ter sido.

Ela se levantou, depositou o prato na pia e foi até o balcão, onde pegou suas coisas. Antes de sair, apoiou a mão em meu ombro e disse:

— Você sempre teve algum dinheiro guardado para emergências, não é?! – eu assenti. – Eu acho que esta é uma emergência.

***

À noite, quando cheguei à casa do Tyler, estagnei. A casa estava tão diferente! Ele havia colocado luzes no jardim e o ambiente perdera aquele aspecto abandonado que tinha antes. A senhora Lockwood era a única que sabia manter a sua casa imponente e, mesmo que Matt tivesse morado lá por um tempo, não era a mesma coisa. Ele vivia sozinho em uma mansão. Matt não iria, e nem teria condições, de se preocupar com o jardim ou com a limpeza daquele imenso espaço. Ele ficara satisfeito em trancar alguns quartos e utilizar apenas o espaço necessário. Isso reduzia seus custos de tempo e de dinheiro, já que ele ficava fora quase o dia inteiro, e agora estava viajando. Por mais que eu o apoiasse em utilizar a casa da maneira que mais lhe aprouvesse, me entristecia ver que a casa estava a um passo de se tornar um lugar abandonado, um lugar que perdera seu brilho desde que a senhora Lockwood mor... desde que Klaus a matou.

Senti uma pontada de dor no coração. Era isso que mais me intrigava, mais me corroía... Ele já havia feito tanto mal para as pessoas ao meu redor, e também a mim, e mesmo assim, lá estava eu, pensando nele o tempo todo. Mas, por outro lado, ele sempre nos ajudou quando nós precisávamos dele...

Subi as escadas pausadamente, quase como se quisesse contar meus passos ou minha respiração, qualquer coisa que me atrasasse um pouco mais. Mas Tyler abriu a porta antes que eu tivesse a chance de começar a contar os meus fios de cabelo.

— Oi, Car... Não vai entrar? – ele fez uma pequena reverência para que eu entrasse, mas seus olhos não deixaram os meus. Ele avaliava minhas reações, e quando olhei para a sala, entendi o porquê. A mesa estava posta de maneira elegante, e a comida já estava pronta.

— Achei que eu ia cozinhar... – comentei.

— Não. Hoje você é minha convidada. – ele segura meu rosto delicadamente e me beija, e depois me observa. Eu sei o que ele está vendo, mas não tive tempo de esconder minha falta de reação. Tyler puxa a cadeira, convidando-me a sentar.

—Tyler, nós precisamos conversar. – eu demorei alguns segundos para encontrar a minha voz, escondida atrás de minha covardia.

— Depois do jantar, Car. Agora vamos aproveitar o momento.

E foi deste jeito que a noite seguiu. Toda vez que eu tentava conversar sobre nós dois, ele encontrava alguma outra coisa para conversar, uma nova música para tocar ou “você quer mais vinho, Car?” E eu comecei a me sentir covarde. Ali estava ele, o homem que teve de fugir por tanto tempo, que sofreu tanto para romper a ligação com o Klaus, tentando arduamente salvar nosso relacionamento, enquanto eu queria desistir de tudo e fugir.

— ... e pensei que aqui poderia ser uma sala para visitas mais reservada, o que você acha?

— O quê? – voltei ao mundo real e percebi que não estava prestando atenção nas coisas que ele dizia.

— Eu estava falando das mudanças que podemos fazer na casa... – ele me olhou, desconfiado. Não havia mais ninguém ali para me distrair, e mesmo assim eu não estava prestando atenção nele.

— Porque você quer reformar a casa? Ela é perfeita... – de repente eu estava muito alerta.

— Estou tentando ser prático para quando você vier morar comigo.

E então eu pude sentir. Eu senti correntes se arrastando e se enrolando em meus pés, prendendo-me ao chão, impedindo-me de avançar. Eu nunca havia saído de Mystic Falls, e agora, mesmo tendo a eternidade à minha frente, consegui sentir a cidade tentando me prender.

Morar juntos? Eu queria ver o mundo, não queria ficar aqui para sempre. Não era a hora de começar a construir algo em lugar algum. Era a hora de explorar, conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes. Respirar ares diferentes.

— Eu não vou morar aqui, Tyler. – eu disse, antes que perdesse a coragem de falar e as correntes alcançassem meus tornozelos.

— O que você disse?

— Você tem uma audição sobrenatural, Tyler. Não acho que eu precise repetir. – eu não consigo controlar meu sarcasmo quando fico nervosa.

Ele ficou completamente imóvel, seus olhos arregalados por alguns segundos, e então sua expressão mudou e eu vi a raiva tomar conta dele.

—Isso é por causa do Klaus, não é?! Eu sabia! Sabia que você estava com ele, enquanto eu me escondia para que ele não me matasse! Como você pôde, Car?! Eu confiei em você! – ele levantou tão rápido que derrubou a cadeira, esbarrou na mesa, e por pouco não derrubou a garrafa de vinho. Mas eu também estava com raiva, como se de repente tudo viesse à tona. Ambos tínhamos certeza de que aquele era o momento da prova final.

— Eu não fiquei com o Klaus! – gritei. E era verdade. Meus pensamentos não contavam.

— Não?! Então porque você não quer mais ficar comigo? Diga! – fiquei grata pela mesa continuar entre nós dois. – Eu estou te oferecendo minha casa e você está negando!

— Eu não quero ficar aqui Tyler! Eu quero sair, quero conhecer o mundo, quero mudar...

— E porque você não pode fazer tudo isso comigo? Ao meu lado?

— Tyler, eu apenas disse que não quero morar aqui...

— Você sabe que isso é apenas uma desculpa, Caroline! É tão óbvio...

— Você sabe tão bem quanto eu que as coisas entre nós não são mais como eram antes. A gente precisa de um tempo...

— Tempo? Caroline, nós somos imortais... Você sabe que “tempo”, para nós, pode ser muito tempo mesmo. – ele parou e suspirou pesadamente. – Você vai encontrar o Klaus, não vai?

Ele baixou o tom da voz, como se a dor tivesse ficado pesada demais e ele já estivesse cansado de carregá-la. Mas eu não respondi a pergunta, porque não havia resposta.

— Eu não sei o que vou fazer, Tyler. Mas eu preciso de tempo. Preciso de tempo para descobrir o que fazer... E essas discussões não ajudam em nada. Nós estamos andando em círculos.

Peguei minha bolsa e meu casaco e fui até a porta. Quando eu coloquei a mão sobre a maçaneta, ele disse:

— Caroline, você não pode querer que eu a espere para sempre, sabe disso, não sabe?

Fiquei parada, e me lembrei do que Klaus me disse. “Ele é o seu primeiro amor. Eu pretendo ser o seu último, levando o tempo que for”.

— Eu nunca pediria isso a você.

Saí sem olhar para trás, porque eu podia ouvir... Eu ouvi as correntes se desprendendo de mim, ouvi-as caindo ao chão. Ouvi o ar entrando em meus pulmões, e senti como se nunca tivesse respirado um ar tão puro. Era um ar de liberdade soprando por um caminho cheio de possibilidades. Pela primeira vez em muito tempo eu não tinha responsabilidades a cumprir, amigos para ajudar ou pessoas para salvar. Senti que podia seguir em frente sem pensar no que estava deixando para trás.

Eu gostei daquela sensação.

***

Voltei para casa dirigindo o mais rápido que pude, enquanto fazia algumas ligações. Não, não era seguro, mas eu não me importei com aquilo. Quando cheguei em casa, minha mãe já estava lá. Corri para o meu quarto.

— Caroline? Por que a pressa? – perguntou minha mãe, abrindo a porta do meu quarto. Eu estava preparando minhas malas em velocidade sobrenatural, pois eu realmente estava com pressa.

— Preciso ir. – respondi.

Ela deu uma olhada rápida para as malas e então percebeu.

­— Então você se decidiu, não é... – ela cruzou os braços, mas sorriu.

Parei de me movimentar e a abracei.

— Sim. Obrigada pela ajuda, mãe. Mas eu preciso ir antes que mais alguém saiba o que vou fazer. Não quero ter de lidar com o julgamento dos outros agora. E você sabe que eles vão me julgar...

— Eu sei. Só... se cuide. Pense bem no que vai fazer. Mas, principalmente, não se iluda.

— Não estou criando expectativas, mãe. Eu só quero colocar ordem nos meus sentimentos. Eu preciso ir. – meu sorriso parecia cansado, mas era apenas contido. Eu estava tentando não criar expectativas, mas isso é um tanto difícil. Já tentei imaginar todos os possíveis cenários que posso encontrar lá, e eu não sabia como me preparar para nenhum deles.

— Caroline, eu só quero que você seja feliz. Eu vou sempre apoiá-la, mesmo se a sua felicidade estiver aqui, ou em qualquer outro lugar do mundo.

— Obrigada, mãe. Eu te amo. E desculpe por sair assim tão rápido.

— A felicidade é apressada, não acha? – ela disse.

— Com certeza. – eu a abracei demoradamente e voltei a fazer minhas malas.

Cheguei ao aeroporto e olhei para o relógio. Quase meia-noite. Meu voo sairia só a 01h30min, então, paguei o táxi e fui calmamente até o guichê. Enquanto esperava sentada pela chamada do voo, parei para pensar no que estava fazendo. Mas quanto mais pensava, mais insano tudo aquilo parecia. Eu não gostava da ideia de sair escondida de todos, mas eu me sentia tão covarde. Meus planos tinham grandes chances de falhar, e não tinham qualquer base racional. Apenas o meu irracional desejo de ir embora e de rever Klaus. O sentimento era tão forte que nublava meus pensamentos. Em certo ponto desisti de confiar em minha racionalidade e passei a me guiar pelo meu coração. Se eu estivesse errada, seria ele mesmo quem arcaria com as consequências, então eu podia responsabilizá-lo desde o começo.

Quando meu voo foi chamado percebi que eu estava tremendo. Sentei-me ao lado da janela, e sorria cada vez mais enquanto tudo ia ficando menor, menor, até desaparecer ou ser encoberto por nuvens. Porque aquelas luzes não eram apenas luzes, elas eram meus receios, minhas dúvidas, que diminuíram até se tornarem insignificantes. Porque a cada segundo que passava, minha confiança aumentava. Minha tristeza das últimas semanas sumiu como se nunca tivesse estado ali, e eu finalmente pude respirar sem preocupações. O monstro da tristeza ficara para trás. E, de certo modo, eu sabia o que me proporcionava este alívio. A cada segundo que passava eu estava mais próxima.

Acho que aquele foi o mais longo voo para New Orleans da história da humanidade.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo!
No próximo, vocês já encontrarão nosso querido Klaus!