Merida

A próxima aula seria Poções, com a Sonserina e o que tivesse de alunos com tempo livre na Corvinal. Merida sentiu-se aliviada ao saber que Rapunzel tinha um tempo livre naquele dia e que poderia fazer dupla com ela.

Sim, Merida havia prometido a Jack que faria dupla com ele. Mas depois do que os dois passaram – e da estranha conversa que escutaram no armário de vassouras – a ruiva não tinha certeza se queria falar com ele.

Ela já sabia como seria uma conversa dos dois. Jack lembraria a ela tudo o que aconteceu, numa tentativa de compreender os fatos, ou faria brincadeiras de mal gosto, numa tentativa de esquecer os fatos.

Merida não precisava disso.

Quando voltou a Sala Comunal da Grifinória, todos dormiam. Ela só teve tempo de sentar no sofá e fechar os olhos antes da Monitora chegar, anunciando que todos deveriam acordar para o café da manhã. Merida reclamou consigo mesma e levantou do sofá.

- Merida! – ela ouviu Violet exclamar, quando saiu do dormitório – onde diabos você estava?

- Fui para Hogsmeade – ela respondeu baixo quando a amiga se aproximou.

- Hogsmeade? E só voltou hoje?

Merida arregalou os olhos de surpresa.

- Você não soube o que aconteceu?

Violet franziu o cenho.

- O que aconteceu?

- Um massacre. Bruxos das Trevas saíram lançando Avadas por todo o canto.

Violet levou a mão ao peito, e suspirou dramaticamente.

- Por Merlin. Como você escapou?

- Me escondi na Dedos de Mel. Por pouco não nos mataram.

A amiga ergueu uma sobrancelha.

- Nos? – perguntou.

- Eu, Soluço, Rapunzel e... Jack Frost.

- Esse garoto de novo, Merida? – Violet estava quase gritando.

- Calma, Violet. Eu só fui pelo Soluço e pela Punz...

- Merida, esse Jack é problema. A família dele, toda ela, é Sonserina. O pai foi para Azkaban e a mãe para um manicômio trouxa. Ele vive naquela mansão gigante com o tio e acredite quando digo que ele é problema!

Merida piscou os dois olhos. Nunca soube muito da vida de Jack, exceto pelo seu medo surreal de Dementadores. Ela abaixou o tom de voz e procurou saber o que mais Violet tinha de informação.

- Mas por que ele seria problema? Nunca vi nada que o mostrasse como má pessoa.

Violet bateu os pés, impaciente.

- Ai, Mer. Esse garoto tem relação sanguínea com Salazar Sonserina! Pronto falei!

O coração de Merida parou de bater.

- Salazar Sonserina?

- Minha mãe me disse que Frost era o sobrenome da amante do Sonserina. Junte os pontos, Mer!

O sangue de Merida parecia ter congelado. Ela não ouvia mais nada do que Violet dizia. Salazar Sonserina. O bruxo mais perverso da história do mundo mágico... E Jack era parente dele!

Por que me importo tanto com isso? Nunca gostei do Frost e não deveria estar surpresa...

Mas estava. De algum modo, Jack estava quase a ponto de ser seu amigo. Ele havia confortado ela quando estavam naquele armário na Dedos de Mel, disse que ficaria tudo bem e prometeu explicações sobre o que sabia.

Ele não pode ser mau.

- Violet... ele é Herdeiro de Sonserina... ele é... o Herdeiro...

Ele não é mau, Merida!

- Sim, Mer. Por isso que estou dizendo para ficar longe desse cara!

E ela. A família dela tinha sangue puramente Grifinório, nada além de uma linhagem cheia de Grifinórios. O que pensariam se soubessem que estava fazendo amizade com... ele.

- Vamos tomar café, Violet – ela disse, vazia.

. . .

Rapunzel

Louis não calava a boca.

Era “foi muito perigoso ter ido para Hogsmeade”, e “fiquei preocupado”, e “você não faz ideia de como ficou encrencada”. Sem falar no “perdemos cinco pontos para a Corvinal”.

Ela definitivamente não deveria ter contado a história para ele. Nem que havia lutado contra um dragão da aula de Trato das Criaturas Mágicas, ele ficou perplexo com isso.

O pior é que seu bolo de chocolate e seu suco de abóbora agora estavam abandonados na frente dela. A matraca de Louis fez com que Rapunzel perdesse totalmente o apetite.

- Esses caras são má influência para você, Rapunzel – disse o amigo – a Dunbronch, aquele mestiço da Lufa-Lufa e, principalmente, o Frost!

Rapunzel revirou os olhos.

- Eles não são má influência, Louis – disse – são meus amigos.

- Muito boa sua escolha de amigos, hein!

- QUER SABER, CALA A BOCA!

Toda a mesa da Corvinal ficou em silêncio.

Os olhos recaíram por Rapunzel e ela fechou os olhos, envergonhada. Ela respirou fundo e tentou se acalmar, antes que voasse em cima de Louis por tê-la feito ter esse ataque.

- Vou continuar meu ataque com você depois, Louis – ela sussurrou.

- Tudo bem – Louis sussurrou de volta, amedrontado.

. . .

Merida

As masmorras estavam vazias quando a Grifinória entrou, e um suspiro de alívio escapou dos lábios de Merida.

Ela começara a pensar sobre o sangue de Jack, e sua ansiedade passou para preocupação. Aquelas vozes na Dedos de Mel procuravam os Herdeiros das Casas, e Jack era um! Provavelmente foi por isso que ele ficou tão alarmado...

Quer dizer que podem caçar o Jack. E se estão em Hogsmeade não vai demorar muito para chegarem em Hogwarts e fazerem sabe-Deus-o-que com ele. Merida não pode deixar isso acontecer com um amigo seu (sim, amigo!), mesmo sendo ele da Sonserina.

Ela se sentou em sua mesa e esperou. Quando os poucos alunos da Corvinal entraram ela avisou a Punz que queria falar com o Frost, sobre um assunto muito sério.

Rapunzel franziu o cenho, e uma centelha de preocupação passou por seus olhos.

- Tudo bem – disse – acho que vou fazer dupla com o Wilbur, então.

A loira sentou-se ao lado de Wilbur Robinson, o sonserino com o topete esquisito, e os dois começaram a conversar como se estivessem saindo juntos.

Depois de um tempo, Jack Frost entrou na sala.

Foi o último a entrar e suas olheiras debaixo dos olhos entregavam que ele não tivera uma noite muito boa, assim como ela. Porém, Jack parecia mais perturbado do que nunca! Os olhos cinzentos estavam inquietos e assustados, como os de um rato encurralado.

Ele a viu e expirou de alívio. Não sorriu com escárnio nem com sarcasmo, apenas sentou-se ao lado dela em silêncio.

- Jack – ela disse – precisamos conversar.