Capitulo Seis - Rapunzel

Treze anos depois...

–Um, dois, três, quatro, cinco... Dezessete, dezoito, dezenove e vinte! Pronto ou não ai vou eu!

Comecei a procura-lo por todos os lugares possíveis para se esconder na torre. Embaixo da cama: nada, dentro do armário: nada, na cozinha: nada... Onde será que ele se escondeu?

– Há! – Disse quando abri a janela – É acho que o Pascal não tá escondido aqui fora, onde ele se meteu? Hun... – Fingi não telo visto se camuflando atrás do vaso.

Coloquei um pouco do meu cabelo no gancho preso ao teto da torre e peguei uma de suas patas.

–Te peguei! – Falei e ele deu um pequeno grito – Agora tá vinte e dois para mim, quem chegar primeiro ao quarenta e cinco ganha.

Ele me lançou aquele olhar de quem não concordou nem um pouco com a ideia.

–Tá bem, qual é a sua sugestão?

Meu bichinho apontou para a saída do pátio da torre com sua calda e deu um largo sorriso esperançoso.

–Ah! Ai não tem jeito. Daqui eu não saio e nem o senhor – Respondi e de imediato ele voltou a fechar a cara – Para com isso Pascal, aqui não é tão horrível assim.

Voltei para dentro a fim de começar minha pequena rotina diária sendo seguida pelo camaleão.

–Certo, onde está minha lista? – Me perguntei. Pascal pegou um papel encima da mesa e me entregou – Obrigada! Vamos ver...Que comece mais um dia de afazeres.

Iniciei meu trabalho como sempre bem animada. Minha rotina todos os dias se baseava em:

As sete em ponto devo varrer o chão, tudo encerar e polir pra ficar brilhando e quando termino sete e quinze já são. Então começo a ler um livro... dois ou três, depois a minha galeria eu pinto outra vez, ai vem violão e tricô.

Depois do almoço jogos e usar o forno, atividades de papel manche, balé e jogar xadrez. Ai vem vasos, ventríloquo e fazer adornos... Retocar meus desenhos, alongar e escalar até o teto da torre.

Volto a ler, claro que somente se tempo me sobrar, pinto um pouco mais sem nunca terminar e depois o meu cabelo de quase vinte metros de comprimento inteiro escovar, mas sem sair deste mesmo lugar.

E as vezes fico imaginando quando a minha vida realmente irá começar...

Amanhã de noite irão aparecer, as mesmas luzes me convidando a descer. Como será? Preciso descobrir. Minha mãe agora bem podia deixar eu ir.

–Bom dia Rapunzel!

–Ah! – Cai para trás quando vi Jack na minha frente, detesto quando ele faz isso – Que susto!

–Desculpa. – Não sei por que, mas não senti tanta firmeza na sua vós e também pude perceber que ele estava se segurando para não ter um dos seus ataques de risos.

– As vezes me pergunto se você realmente tem vinte e sete anos Jack, de aparência talvez mas a sua mentalidade é igual a de um garotinho com dez... Háháhá – Falei enquanto me levantava, e vi que ele logo fechou a cara – Não fica sangadinho bebê!

–Ah... – Ele voltou a sorrir só que agora de uma forma travessa – Já que eu sou uma criança, acho que você não irá se importar em brincar...

Me derrubou no chão de novo e começou a fazer cocegas.

–Para Jack... Háhá... Você sabe... Háhá... Que isso... Háhá... Não tem graça!

Ele parou e eu estava ofegante. Percebi que ele me observava e da mesma forma retribui o olhar, senti meu coração falhar uma batida. O que estava acontecendo? Notei que ele ainda estava encima de mim e logo ele também, ambos ficamos com os rostos vermelhos e logo nos afastamos.

–Eh, por que demorou hoje? Tive que fazer as coisas sozinha. – Falei pra tentar quebrar o leve constrangimento que vivemos a pouco tempo.

–Perdi a hora... De novo. – Respondeu enquanto coçava a nuca

–Bem a sua cara.

–Então, o que deseja fazer agora?

–Não sei... – Coloquei a mão no queixo e comecei a pensar – Que tal você me ajudar a termina uma pintura?

–Você conseguiu um lugar que ainda não estivesse ocupado?

–Por incrível que pareça sim! Quer ver?

– Por que não? – Peguei sua mão e o conduzi até a área da lareira, estiquei a cortina vermelha e mostrei o meu desenho quase pronto. Era eu, pintada encima de uma arvore com o Jack ao meu lado e no céu estavam as luzes flutuantes que apareciam todos os anos no meu aniversario.

–Ela não tá finalizada? Pra mim parece perfeita! – Falou meu amigo – Você realmente possui um dom maravilhoso!

–Obrigada, fico feliz que gostou. – Me aproximei dele novamente – E eu já decidi! Hoje eu finalmente vou falar, falar com ela!

–Tem certeza?

–Absoluta!

– Então lhe desejo sorte. Ficarei na janela torcendo por você!

– Obrigada. Realmente você é um amigo maravilhoso.

–Claro, sou o único!

–E isso te faz ainda mais especial – Fui até ele e o abracei e de imediato Jack correspondeu. É muito bom você poder se sentir importante em alguns momentos, se não fosse ele nem imaginaria como seria minha vida... Claro eu tenho o Pascal, mas Jack é diferente! Ele é especial, mesmo que fique me importunando o dia inteiro, ele é o único que realmente deseja o meu bem e sempre que preciso ele está com seu ombro disponível para mim.

–Rapunzel! – Ouvi meu nome ser chamado e me soltei de Jack.

–É agora! – Comecei a me desesperar.

–Se acalme. É só sua mãe, não um dragão!

–Eu sei, eu sei. Vai para fora que se você ficar aqui dentro vai me dar vontade de rir. – Disse enquanto o empurrava.

–A culpa não é minha se meu rosto é maravilhosamente lindo.

–Já pensou que eu ache engraçado por que é justamente ao contrário?

–HÁHÁHÁ! Muito engraçado! – Respondeu-me sarcástico.

–Vai logo – O empurrei para fora

–Rapunzel, já estou velha de tanto esperar! – Gritou Gothel novamente.

–Já estou indo mamãe! – Respondi. Peguei uma parte do meu cabelo joguei sobre o gancho e permiti que ela subisse.

Mamãe agarrou em meus cabelos e eu a puxei para cima, chegando no parapeito da janela os soltou e entrou na torre.

–Bem vinda mamãe.

–Oh Rapunzel! Como é que você consegue fazer isso todo dia sem falta? Deve ser muito exaustivo querida. – Disse enquanto acariciava meu cabelo.

– Na verdade não é nada – Respondi

– Então não sei por que demora tanto. Háhá Querida, brincadeirinha ! – Ela se afastou e colocou a cesta que carregava na mesinha de madeira.

–Hehe... Tá bem. Então mamãe como a senhora sabe...

–Rapunzel olhe no espelho – Disse enquanto apontava para o objeto – Sabe oque eu vejo? Vejo uma jovem forte, segura e de uma beleza extraordinária... E olhe você está comigo! Háháhá brincadeira, não leve tudo tão a sério.

–Tá... Mamãe como eu dizia... – Fui novamente interrompida, isso já estava ficando chato.

–Rapunzel, a mamãe está sentindo um grande cansaço. Cante para mim querida, falamos depois.

–É pra já mamãe – Corri para pegar um banquinho de madeira para mim enquanto ela se sentava em sua poltrona. Coloquei meu assento rapidamente e comecei a cantar.

–“Flor de Luz reluz... Brilhe o que é teu. Retroceda já e resplandeça o que é meu...”

–Mais devagar, calma! Espera, espera! – Começou a escovar meu cabelo mais rápido.

–“Cura o que se feriu. Salva o que se perdeu. E traz de volta já o que uma vez foi meu”

–Rapunzel!

–Então mamãe como eu dizia, amanhã é um dia especial e como você não disse nada eu vou te falar: Amanhã é meu aniversario!

–Não, não! Não pode ser, eu me lembro muito bem... Foi ano passado querida.

–Essa é a graça dos aniversários, são um evento anual – Confesso que a esse ponto já estava ficando difícil me manter comportada – Mamãe, eu vou fazer dezessete agora e eu queria perguntar... O que eu realmente queria, na verdade o que eu queria a vários anos...

– Por favor Rapunzel, pare de tagarelar... Você sabe que detesto que tagarela e... – Dessa vez fui eu que a interrompi.

–Eu quero ver as luzes flutuantes!

– O que?

–Olha – Subi encima da lareira e mostrei o meu desenho – Eu queria que você me levasse para ver as luzes flutuantes.

–Você quis dizer as estrelas? – Perguntou se virando e nem dando importância para o desenho. Realmente aquilo já estava me tirando do sério, olhei rapidamente para a janela e vi Jack fazer gestos que deduzi serem para que eu me acalmasse e prosseguisse. Assim o fiz, e continuei insistindo com Gothel.

–Ai que tá! Eu mapiei as estelas e elas são sempre as mesmas, mas essas aparecem todos os anos no meu aniversário, só no meu aniversário mamãe... E ai eu fico pensando que elas aparecem por mim! Eu preciso vê-las, não da janela que é pouco, pessoalmente! Eu preciso saber o que elas são... – Esse foi meu último argumento.

–Você quer ir lá fora? Ora Rapunzel! Você é frágil como as flores, ainda uma mudinha e muito nova! Sabe por que estamos nesta torre?

–Eu sei, mas...

–Para mantê-la sã e salva. Eu já sabia que este dia chegaria... Ver que o lar já não satisfaz. Mas ainda não!

–Mas...

–Confie meu coração. Sua mãe sabe mais...

–Sim, mamãe... Mas, por que você não quer me levar? Se me desse só uma chance...

–Chega de perguntas Rapunzel!

–Eu só quero...

–Não.

–Mas por que?!

–Você não vai sair desta torre NUNCA!

Aquilo me assustou e realmente senti uma grande decepção aflorar dentro de mim, e a vontade de chorar era maior que tudo...

–Ótimo! Agora eu sou a vilã.

–Se é assim, eu tenho uma outra ideia pro meu presente.

–E o que você quer – Ela já estava com a paciência no limite.

–Tinta nova, aquela feita das conchinhas que você me trouce outra vez.

–Só que é uma viagem muito longa, quase três dias de viagem.

–Apenas achei que seria uma ideia melhor que as estrelas...

–Tem certeza que ficará bem sozinha?

–Desde que eu não saia...

–Eu te amo muito minha flor. – Disse enquanto me abraçava e eu lhe dava uma cesta com suprimentos.

–Eu te amo mais... – Respondi

–Te amo muito, mais muito mais.

Antes de entrar na gruta me acenou um adeus e logo em seguida desapareceu. De imediato Jack entrou novamente.

–Parece que nem tudo saiu como esperávamos.

–É melhor eu aceitar logo, nunca terei o meu felizes para sempre que vejo em minhas histórias. Tudo não passa de uma ilusão... – O abracei forte e deixei que finalmente as lágrimas tomassem seu rumo ao deixarem meus olhos.

– Infeliz mente tenho que descordar – Disse ele enquanto afagava meus cabelos – Toda história tem um final feliz, se não está feliz é por que a história ainda não terminou.

–E como você tem tanta certeza disso?

–Por que eu tenho fé.

–O que é fé?

– Fé é a certeza das coisas que você espera e a prova das que não se pode ver. Pela fé entendemos que os mundos foram criados, de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê.

–Palavras profundas para alguém como você Jack...

–Eu sou uma caixinha de surpresas.

Começamos a rir e cheguei até a esquecer da tristeza de antes, por isso que quando falo que ele é especial, não estou mentindo em nenhuma palavra. Parei subitamente ao ver um brilho dentro da cesta que mamãe trouce hoje mais cedo. Fui até ela e de lá retirei uma coroa, era a coroa mais linda que já vi em toda minha vida. Ela era de ouro, toda adornada com o que pareciam ser diamantes e três cristais maiores na ponta.

–Onde ela conseguiu isso?

–Isso o que? – Questionou Jack que chegou mais perto para ver o que eu segurava.

–Essa coroa! – Mostrei a ele – Me pergunto onde minha mãe a conseguiu...

–Não pode ser!

–O que houve?

–N-nada, n-não é n-nada.

–Jack, você está mentindo! Sempre que gagueja é por que está me escondendo algo. Você sabe de onde isso veio?

–... – Ele se manteve em silêncio enquanto ficava olhando para o chão.

–Jack?

–Infelizmente, sim. E eu já deveria ter te contado...

–Contado o que?

– Rapunzel, você...