Capitulo dezenove

Merida tinha certeza de que estava morta. A queda no oceano devia tê-los matado porque, onde quer que esteja nunca se sentiu tão relaxada. Parecia estar em um estado glorioso entre o sono e a vigília. De olhos fechados era como se estivesse deitada na superfície mais macia do mundo.

O ar era fresco e ameno. Havia um leve cheiro de maresia, mas Merida tinha certeza de que só estava imaginando isso porque a última coisa que vira em vida foi o mar. Um sobressalto passou pelo seu corpo, a imagem de Soluço mergulhando nas trevas da mina voltou a atormenta-la, abriu os olhos. Sua visão estava um pouco embaçada, mas ela pode ver objetos coloridos que se movimentavam em todas as direções. Jack estava deitado no a seu lado, ele parecia sereno. À medida que sua visão se ajustava, os objetos ganhavam formas humanas.

–Devem ser anjos – pensou enquanto fechava os olhos novamente, porém um arrepio passou por seu corpo, podendo assim ouvir uma voz ecoar em sua mente.

–“Abra os olhos. Veja novamente onde está”

Abrindo novamente os olhos tomou um susto.

Ela e o albino estavam no fundo do mar, deitados em uma imensa concha de mexilhão. Encontravam-se em uma caverna submarina e conseguiam respirar por que envolta de suas cabeças havia uma bolha de ar. A caverna possuía colunas de corais, com escuras pedras rochosas atrás. Sob seus pés, um chão de areia; á sua frente, o azul infinito do oceano.

Um pouco mais longe, perto da superfície, nadava um cardume de sereias. Eram lindas e bem coloridas. Todas tinham a pele pálida e cabelos longos da mesma cor vibrante que as caudas: azuis, verdes, vermelhos, roxos e cor-de-rosa. Elas acenaram para Merida assim que perceberam que a mesma tinha acordado.

–Jack! – ela chamou – Jack, acorde!

Cutucou lhe o ombro, despertando o garoto.

–Hum? – disse ele abrindo os olhos lentamente.

–Sereias!

Essa fala despertou o menino, que levantou os olhos para onde a ruiva apontava. Levou algum tempo para assimilar que aquilo realmente estava acontecendo.

Jack olhou para o braço ferido e notou que um curativo de algas protegia o arranhão. Uma das sereias devia tê-lo feito.

–A última coisa que eu lembro foi ser perseguido pelos lobos, e então Rudá... – Recordava-se lentamente dos acontecimentos – Essa não! O que aconteceu com ele?!

–Não faço a menor ideia – respondeu a ruiva triste – Ele ganhou tempo para que pudéssemos ter uma chance de fugir.

–Era só o que me faltava, ter que ficar perdido e sozinho com uma tocha esquentadinha...

–Tudo que nos resta fazer é... – Merida finalmente se deu conta do que ele falou – Seu idiota!

A princesa começou a estapeá-lo sem parar.

–Ei, ei, ei, pare! Só queria quebrar esse clima ruim mal gradecida! – disso Frost.

Merida respirou fundo, estava perdida se tivesse que aguenta-lo por mais do que já estava aguentando.

–De qualquer forma – continuou ela – como chegamos até aqui?

–Fomos nós que os trouxemos – disse uma seria que vinha de encontro a eles, seus cabelos eram logos, macios e de cor púrpura, a mesma tonalidade das escamas de sua calda – Nossa princesa deseja falar com vocês.

–Princesa? – questionou Jack.

–Nos sigam – anunciou outra com as escamas cor-de-rosa.

Eles deslocavam-se nas profundezas do mar tentando acompanhar o ritmo das sereias que os ajudaram. Nadaram assim por cerca de alguns minutos, até se depararem com uma imensa construção de corais e conchas de todas as formas e tamanhos. Era um verdadeiro turbilhão de cores e vida.

Puseram-se de ante a uma grande porta adornada a ouro, entreolharam-se e entraram seguindo as sereias um receosos.

–Olá meus jovens – disse a voz aerada que vinha de uma bela sereia que se sentava no trono.

–Majestade – prestaram reverencia todos no recinto.

A princesa sereia tinha cores distintas em sua calda e cabelos, ambos pareciam um verdadeiro arco-íris, sua pele era bronzeada e seus olhos verdes, realmente uma bela princesa, mas nenhuma na opinião de Jack comparava-se a princesa da primavera, sua princesa Rapunzel.

–Fico feliz que tenham se recuperado – disse.

Ela era etérea, e a espuma de bolhas que a rodeava se renovava constantemente.

–Instruí as minhas sereias a tomarem conta de vocês da melhor maneira possível. Surpreendi-me por não terem se afogado quando caíram no oceano – Analisava os jovens a sua frente, eles eram bem peculiares, mas o que chamou ainda mais sua atenção foi o jovem de cabelos brancos e olhos azuis. Ele sim era alguém diferente.

–Obrigado por sua ajuda, mas realmente precisamos volta para a superfície princesa...

–Corine – completou a frase do albino – Ainda não sei quais são vossos nomes.

–Perdão majestade, chamo-me Merida, Merida Dumbrokh – falou a ruiva

–Jack Frost

–Por que precisam tanto voltar para a superfície?

Ambos enrijeceram sua postura, não queriam falar os motivos pela qual o levaram ali para uma sereia, mesmo ela sendo uma princesa.

–Três de nossos companheiros ficaram para trás... – respondeu Merida com pesar.

–E precisamos encontra-los novamente – continuou Frost.

–Entendo, entendo. Bem, mesmo assim creio que ainda tenha algo que preciso fazer por vocês, seus companheiros não são pessoas comuns, um lobo da alcateia da feiticeira, o príncipe do outono e a princesa da primavera... Mais a princesa do verão e o príncipe do inverno formam uma ótima combinação.

Os olhos de Jack e Merida pareciam querer saltar das orbitas por tamanho espanto.

–Acho que ouve um engano da sua parte princesa Corine, não sou príncipe – disse o albino.

–E como você sabe quem o resto de nós é? – perguntou Merida desconfiada.

–Tem certeza deste fato? Eu sei de várias coisas que os seres da superfície não sabem... – respondeu misteriosa.

–Sinto muito, mas a meu respeito você está errada, sou apenas um órfão sem passado que tem a missão de proteger Rapunzel.

–Isso é o que você sabe, mas como tem certeza de quem era antes de encontrar a rainha Lucía?

Jack ficou mudo, não tinha resposta para aquilo.

–Enfim, afirmo a vocês que sei onde cada um deles estão e para que eu os ajude, será preciso escolher, a quem desejam encontrar novamente? Soluço, Rudá ou Rapunzel?

O silencio se instalou na sala do trono, eles não sabiam o que responder. Não sabiam quem escolher.