The Big Four Guardians-The Flower Of The Blizzard escrita por BellatrixOrion


Capítulo 2
Capítulo I - Um dia antes do Caos Parte I




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Capitulo Um

Um dia antes do Caos

Part I

Mais uma aurora nebulosa e sombria acabava de se iniciar no antigo, e já tão improvável, Reino do Norte.

Poucas pessoas arriscavam se aventurar para fora de suas casas, e grande parte possuía bons motivos para não fazê-lo, algumas, por exemplo, não tinham forças para se manter de pé pela falta de proteínas e vitaminas no organismo, outras eram atormentadas pelo medo de sair e acabar encontrando mais um camponês morto e largado no chão ou simplesmente encostado em algum canto úmido e sujo, mas a maioria, infelizmente, tinha que arriscar. Conseguir comida era uma prioridade, jamais uma opção.

Os corajosos mineiros rastejam dirigindo-se para o turno da manhã. Homens e mulheres com os ombros curvados e juntas inchadas, pessoas que há muito tempo deixaram de tentar esfregar o pó do carvão de suas unhas quebradas e suavizar as linhas de suas faces afundadas.

 A miséria espreitava a cada esquina. O mal se multiplicava dentro dos esgotos. E as ruas eram tomadas por corpos.

Um garotinho de aproximadamente nove anos segurava a mão de seu avô enquanto caminhavam juntos para a escola. O pequeno trajava um conjunto de lã, que apesar de surrado, parecia ser quente e acolhedor. Principalmente por causa daquele frio desprezível que nunca acabava. O menino usava seu cabelo repartido de lado, deixando que pequenos fios caíssem insistentemente por sobre seus olhos castanhos. Tinha a pele rosada, cabelos escuros e algumas sardas espalhadas por suas bochechas.

—Pronto Jamie, chegamos – Disse o mais velho se abaixando de frente para o neto – Aprenda bastante e faça muitos amigos, certo?

Estavam em pleno mês de Janeiro, inicio de ano, inicio das aulas, o primeiro dia do pequeno na escola.

—Sim vovô! – Respondeu o menino alegre.

Jamie Suliwan, neto de Orbon Suliwan, filho de um ex- mineiro (vulgo caçador) com uma médica. O pequeno estava em estase com o seu tão sonhado primeiro dia de aula. Ao menos algo para distraí-lo dos últimos acontecimentos que o pobre rapazinho teve que encarar.

Seus pais foram mortos na ultima rebelião. Ela estava fadada ao fracasso desde o inicio, é verdade, os rebeldes não conseguiram si quer adentrar o interior da Fortaleza Branca antes de serem cruelmente executados. Infelizmente, os pais de Jamie nada tinham a ver com a situação, mas também foram mortos junto com os outros por "ajudar os inimigos do reino". Agora, apenas restava ao pequeno garotinho o seu velho avô, alguém para ele chamar de família, para ele chamar de lar.

Os dois eram mais uma entre outras milhares de famílias humildes existentes no Distrito Norte. Mesmo com o trabalho nas minas de carvão, as coisas sempre foram mais problemáticas ali do que em qualquer outro lugar, principalmente pelo fato de ser absurdamente frio e o quesito ‘sustentar a família’, ser o mesmo que nada. Pelo menos não com a miséria que os intelectuais da Fortaleza Branca denominava de Salário.

—Não se esqueça...

—‘Seja sempre inesquecível’ – Completou o pequeno enquanto corria na direção da pacata, e humilde, entrada da escola.

—Eu amo você... – Sussurrou o homem depois de vê-lo sumir no meio das outras crianças. Ele precisaria ser forte para aguentar mais um dia nas minas escuras e sombrias. Ser forte não por ele, não para se manter vivo, mas sim, por causa de Jamie.

Exclusivamente por causa de Jamie.

...|..*..|...

—Quem conhece a canção do vale? – Perguntou a Senhorita Tolke num sussurro gentil para as pequenas criaturinhas – Vamos lá, crianças. Ninguém conhece?

O dia havia sido cansativo, as crianças estudaram rigorosamente os assuntos obrigatórios determinados pelos superiores, agora, faltava apenas uma aula para que eles pudessem finalmente ir embora e descansar. Mas, não se tratava de qualquer aula, e sim da aula de música. A primeira que eles teriam na vida. E, apesar do cansaço, todos estavam animados para saber como era.

Jamie levantou a mão quase que imediatamente depois das palavras da professora, o menino conhecia aquela canção de trás para frente e de frente pra trás, mas os vários olhinhos curiosos que foram direcionados inteiramente para a sua figura não colaboraram para que sua vergonha diminuísse.

—Por favor, cante baixinho para nós, senhor Suliwan – Disse a mulher lhe abrindo um sorriso.

O pequeno assentiu, mesmo que inseguro, respirou fundo e começou a cantar.

"Bem longe do campo, por baixo da Figueira.

Em uma cama de grama, em um brando travesseiro.

Assente a cabeça e feche os brotos cansados.

E quando se abrirem, o Sol já terá voltado.

Aqui é seguro, aqui é abrigo.

Aqui as margaridas lhe protegem de todo o perigo.

Aqui seus sonhos são doces e amanhã serão lei.

Aqui é o local onde sempre lhe amarei."

As persianas da única janela que existia na sala de aula estavam abertas, permitindo que alguns raios de sol inundassem o cômodo. Do lado de fora, os poucos pássaros que haviam se arriscado a sair de seus ninhos e que cantavam suas melodias costumeiras se calaram, totalmente atentos a voz de um certo garoto portador de olhos acastanhados.

Os alunos o encaravam estático, a voz de Jamie poderia ser facilmente comparada a de um ser celeste de tão apaziguadora e melodiosa que era. Assim que terminou, os passarinhos recomeçaram sua cantoria, mas, agora, eles não cantavam uma mera melodia ou algum som estranho, eles cantavam a musica de Jaime.

—Meus parabéns, senhor Suliwan – Aplaudiu minimamente a professora tão maravilhada quanto os alunos – Sua voz é mesmo muito bonita.

—O-obrigada – Gaguejou ele absurdamente corado, se utilizando de um fio de voz, quase que em um sussurro, para responder a mulher.

—Para a próxima aula, vou requerer que cada um tenha essa música na ponta da língua – Disse ela depois de anotar algumas coisas em uma folha – E vai valer nota, mas não deixem que ninguém a escute, certo? Principalmente os guardas da Imperatriz. Será nosso segredo – Completa sorrindo.

O período termina e todos vão para as suas casas, todos menos Jaime. Que fica encarando a professora com um ponto de interrogação sobre sua cabeça.

—Senhorita Tole?

—Sim, senhor Suliwan? – Responde ela enquanto pegava algumas partituras de uma prateleira.

—Por que não podemos deixar os guardas ouvirem a musica do Vale? 

Ela estacou no próprio lugar. Virou-se para o pequeno e cobriu-lhe os lábios com uma das mãos, enquanto averiguava se ninguém do outro lado da janela os havia escutado.

—Não podemos dizer isso em voz alta, Jamie – ela sussurrou enquanto o encarava docemente e retirava sua mão dos lábios do garoto – Se algum guarda ouvir, as coisas ficarão muito ruins, você entende?

Ele assentiu, mas sua curiosidade ainda era gritante – Mas, por que eles não podem ouvir?

—Bem... – Hesitou – É algo muito complicado para que você entenda. Quem sabe um outro dia eu te explique?

—Tudo bem – suspirou derrotado.

—Agora vá para casa - Apertou o obro do garoto carinhosamente antes de se por novamente de pé - Nos veremos amanhã!

—Até senhorita Tolke!

Silenciosamente ele saiu da sala e foi em direção a saída da escola. Observou pelo trajeto alguns pais ainda buscando seus amigos de classe, e se permitiu divagar em como seria bom se as coisas fossem diferentes e seus pais ainda estivessem com ele. Bem, aquilo só ficaria em sua imaginação de qualquer forma.

Afinal, eles eram apenas humanos.

E seres humanos não revivem.

Jaime foi tirado de seus devaneios assim que constatou que seu avô havia chegado para lhe buscar, o pequeno abriu um grande sorriso e correu para os braços do velho mineiro, pouco se importando com o fato dele estar coberto de fuligem dos pés à cabeça. Era reconfortante estar em seus braços, ele constatou. Ele sentia-se verdadeiramente seguro.

Algo um tanto irônico de pensar, infelizmente. Principalmente vivendo no Reino do Norte.

...|..*..|...

Uma jovem mulher de cabelos negros e pele cor de oliva desceu correndo as escadas da pequena pensão naquela manhã. Carregava consigo uma cesta de palha em uma das mãos e seu casaco na outra. Aquela era mais uma das suas caminhadas matinais, o mínimo que poderia fazer para manter sua mente ocupada dos tormentos da ultima revolta, da ultima e fracassada revolta. Viver escondida, asilada e fugitiva era, de fato, desgastante, principalmente no caso dela e de seu marido. O fato deles serem os antigos governantes do Reino da Primavera não era lá algo muito útil no quesito “se manter fora do centro das atenções”, e muito menos quando se tratando em se esconder.

Foi no Reino do Norte que eles conseguiram, realmente, se estabelecer por mais tempo. Apesar da pobreza e da miséria, eles puderam se adequar bem ao lugar e permanecer longe dos olhos curiosos e obstinados dos guardas e da Imperatriz.

O dia estava pacato como sempre, mas a jovem ex-rainha já tinha programado tudo que faria: Primeiro encontraria um lugar calmo e afastado do centro, faria uma pequena caminhada e depois voltaria para casa; Simples, fácil e relaxante.

Mesmo tendo o cargo que tinha, Lucía não passa de uma mulher que recentemente entrará na vida adulta. Tinha apenas vinte anos. Ela sempre viveu de uma única e simples forma a vida toda, como uma camponesa, trabalhando na fazenda dos pais, dando seu melhor para poder ajudá-los a arcar com todas as despesas e vivendo sua pacífica vida da forma mais honrosa a qual lhe era permitido.

Mas, durante um passeio pela Capital de Corona, tudo mudou!

Ela foi escolhida.

A partir daquele momento, Lucía não era mais a insignificante camponesa do Reino do Sul, não era a pobre e medíocre adolescente que ajudava os pais e era conhecida por todos...

Ela tinha se tornado a Rainha.

Uma Rainha amada pelo seu povo e bondosa para com todos. Uma verdadeira rainha. Tudo estava acontecendo como deveria, mas, então...

Ela apareceu.

E acabou com tudo.

Destruiu o Reino. Trouxe a guerra. Trouxe o desespero.

Já fazia algum tempo que Lucía estava percorrendo aquela trilha. O soar de seus sapatos contra o chão era quase que imperceptível graças à neve espessa e fofa que amortecia o impacto de seus pés. Ao seu derredor o canto longínquo dos pássaros e o sopro do vento eram os únicos sons que seus ouvidos conseguiam ser capazes de captar.

Continuou seu percurso sem interrupções. À medida que se aproximava de sua última parada antes de voltar para a pousada, o tempo parecia sofrer leves, mas perceptíveis, mudanças. O clima estava ainda mais frio e as rajadas de vento continuavam a se intensificar.

Sem mais nem menos, ela parou.

Encarava fixamente a paisagem a sua frente.

Para uma pessoa qualquer, aquilo não se tratava de absolutamente nada de importante. Tudo parecia como sempre foi. Olhando a olho nu seria só mais uma das tantas imagens esbranquiçadas pertencentes ao Distrito... Mas não era bem isso.

Lucía sabia que algo estava fora dos padrões, mesmo já tendo feito aquele caminho várias vezes, nunca tinha tido esse pressentimento antes. Retirando o casaco extra que havia trazido dentro da cesta, rapidamente o vestiu. Colocou o objeto de palha escondido por entre as raízes de uma árvore que ficava próxima a um rio congelado e, não medindo tempo, a jovem ex-rainha contornou a escassa vegetação, afim de averiguar melhor aquele fenômeno curioso.

Assim que tocou no tronco da árvore que estava a sua frente, de forma simples e rápida, a mulher transpassou a madeira, sendo sugada para dentro da mesma.

E então ela desapareceu.

E acabou encontrando algo que lhe perturbou a mente. Uma flor dourada desafiava a nevasca descomunal que começou a cair sem explicação alguma. Lucía não sabia como esclarecer esse fenômeno um tanto quanto bizarro, afinal, como poderia uma flor nascer em meio a neve e permanecer firme mesmo contra aquele tempo tão desastroso?

 Curiosa como sempre foi, ela se aproximou mais do pequeno ponto brilhante perdido no meio daquela imensidão branca, seu cheiro era algo que ela nunca antes sentirá ou já ouvira alguém falar. Irradiava um brilho único e extraordinário. Algo extremamente acolhedor.

—“ Como eu gostaria de ter uma filha com a pele branca como essa neve – Pensou – cabelos dourados, olhos verdes como as folhas do campo e principalmente com a força e determinação dessa pequena flor.”

Acomodou-se ao lado da flor e permaneceu ali, sem se preocupar com as horas ou a nevasca que insistia em cair por sobre sua cabeça, ela simplesmente não sentia frio, não perto do ponto de luz.

A paisagem que pintava-se diante de seus olhos era apaziguadora, apenas existindo ali, diante daquela flor em meio a tempestade.

Quando se deu conta já tinha escurecido.

Notou que um pouco mais a frente existia um lago cercado por varias árvores. Talvez o mesmo que havia visto outrora.  Era possível ver o reflexo da noite sobre a sua superfície congelada, o céu estava sombrio e escuro, a lua não estava presente e a única coisa que iluminava o céu era uma estrela. Uma bela e solitária estrela.

 No entanto, algo estranho aconteceu.

No centro do lago, o gelo começou a se rachar e de lá surgiu nada mais nada menos que um menino.

Sim, um menino.

Seus cabelos eram tão brancos quanto a neve. Sua pele era clara e parecia ter leves tons prateados. Ele levitava no ar como se o próprio vento estivesse o sustentando. Então ele parou, e aos poucos foi descendo novamente. Assim que suas costas tocaram o gelo que estava quebrado, os pedaços se juntaram ao mesmo tempo, num tipo de tentativa de amortecer sua queda. Lucía não hesitou em correr até ele, pasmada e boquiaberta com o que tinha acabado de ver, mas mesmo quase caindo em alguns pontos, a mulher continuou avançando até alcançar a criança. E somente quando o mesmo abriu os olhos ela pode constatar.

Eles eram azuis.

Pareciam duas grandes safiras se destacando em sua pele pálida.

—O que aconteceu? – Perguntou assim que conseguiu se sentar.

—Você está bem? – Ele se virou assustado. Encontrou a ex-rainha sentada próximo a si. Os cabelos negros da mulher ricochetavam contra o vento e sua pele escura tinha vários pontos de neve espalhados sobre ela. Observando suas roupas, muito finas para o clima do lugar, fez com que o menino se perguntasse o que ela fazia ali.

—A-acho que sim – Gaguejou.

—Deve estar com frio, venha o levarei para um lugar mais confortável. – Sugeriu enquanto lhe estendia a mão.

—Ma-mas ne-nem nos conhecemos – Retrucou o pequeno desconfiado.

—Que não seja por isso – Respondeu-lhe a mulher enquanto sorria amavelmente – Chamo- me Lucía e você?

—E- eu não sei... – Desviou enfim seu olhar e se pôs a encarar os pés, como se estivesse envergonhado.

—Ao menos, você sabe como foi parar embaixo do gelo?

—A última coisa que me lembro – Começou hesitante, buscando puxar do mais profundo da sua memória suas últimas lembranças - é que estava escuro e frio... E eu estava com medo. Mas ai eu vi aquela estrela – Respondeu apontando para o céu – Tão grande, tão brilhante. Parecia que ela espantava toda a escuridão. Com a sua luz eu não tive mais medo.

—Entendo... – Na realidade ela não compreendia absolutamente nada, mas estava disposta a ajudar aquela criança, mesmo que as circunstancias parecessem terrivelmente assustadoras – Mesmo assim não quer vir comigo para se aquecer?

Ele pensou um pouco e respondeu tímido – S-sim, obrigado.

—Não tem de que – Retrucou ela com um sorriso

Eles saíram do meio do lago abraçados. Lucía repousava seu braço sobre os ombros a criança enquanto o puxava para mais perto de si afim de espantar o frio. Quando passaram pela flor o menino se fascinou com ela da mesma forma que Lucía e ficou a encarando maravilhado.

—É muito bonita não é?

—Sim, muito bonita.

—Agora vamos, não queremos pegar um resfriado – Ela lhe sorriu e o abraçou mais forte.

Caminharam lentamente de volta para a árvore que a tinha levado para aquele lugar. Assim que atravessaram a fronteira, a tempestade cessou e o clima pacato do Distrito Norte voltou a prevalecer deixando o lago e a misteriosa flor para trás. Como uma lembrança de uma época distante.

Nenhum dos guardas da Rainha questionou a presença do pequeno junto a Lucía quando transpassaram os portões da cidade principal, algo um tanto estranho já que o garoto fugia completamente dos padrões normais dos civis, mas a mulher decidiu não reclamar, quanto menos atenção, melhor seria para eles.

...|..*..|...

Pedro andava de um lado para o outro dentro da pensão como um animal enjaulado. Dividido entre pedir ajuda dos guardas Imperiais e correr o risco de ser descoberto ou continuar naquela angustia de não saber onde sua esposa tinha ido parar.

—Acalme-se Pedro, ela voltará em breve – Senhora Spokes tentava acalmá-lo de todas as formas que podia. A pobre velha, Dona da Pensão, tinha lhe oferecido chá, ervas calmantes e todo tipo de coisas que poderia distrai-lo, mas foram tentativas falhas, infelizmente. Spokes era uma senhora que havia crescido naquele lugar, o clima frio era seu amigo, mesmo com as marcas da idade que ele também contribuíra em criar, sua pele branca quase unia-se aos cabelos igualmente platinados e seus olhos castanhos e felinos pareciam sempre estar atentos a tudo. Ela era a única que sabia sobre o passado do casal, e mesmo correndo todos os riscos se prontificou em ajudá-los no que fosse necessário, pois era da sua natureza assim o fazer, principalmente depois de saber que Lucía estava grávida.

Foi então que a porta do estabelecimento se abriu, revelando a morena coberta de neve. Assim que ela entrou, Pedro correu ao encontro da mulher e abraçou-a o mais forte que podia.

—Estou de volta, querido – Suspirou envolvendo os braços ao redor do pescoço do marido enquanto lhe fazia um breve cafuné nos cabelos perto de sua nuca.

—Onde você se meteu Lucía?! – Afastou-se por fim e a questionou realmente irritadiço depois que a comoção por vê-la finalmente se esvaiu - Estava quase enlouquecendo aqui!

—Desculpe por preocupá-lo, eu acabei me afastando da trilha – Respondeu levantando o rosto para o marido - E quando me dei por mim já havia escurecido.

—Nunca mais faça isso! – Repreendeu-a duramente – Você sabe que não é bom para você e nem para o bebê ficar exposto ao frio por tanto tempo.

Ela repousou a mão esquerda sobre o ventre e suspirou. Ainda não tinha se acostumado com a ideia de ter um pequeno ser crescendo dentro de si.

—Não irá se repetir. É uma promessa.

O ex-rei nada disse, apenas a abraçou novamente.

—Bem-vinda de volta minha menina! – Spokes finalmente se pronunciou - Não suma mais assim!

—Estou de volta, Senhora Spokes – Lucía sorriu para a anciã – Não sumirei. Ah! Eu trouxe um novo hospede para ficar conosco, você se importa?

—Não, de forma alguma minha menina, mas quem seria?

—Este menino – Respondeu a dama se referindo ao garotinho que permaneceu encolhido um pouco mais atrás deles, observando envergonhado o reencontro do casal.

—Mas... eu não vejo ninguém – Spokes enrugou suas sobrancelhas enquanto procurava em derredor a presença de quem quer que lucia estava se referindo.

—Pedro, Senhora Spokes, ele está bem aqui!

—Lucía, você está bem? – O Homem perguntou estranhando a atitude da mulher.

—Não estou louca, se é o que quis dizer – Refutou já irritando-se com toda aquela situação – Ele está aqui! – Disse enquanto apontava para a criança que estava assustada.

—Querida, não acha que está velha de mais para ficar imaginando essas coisas?

—Mas eu não estou fantasiando! Ele é real.

—Então qual o nome dele?

Ela imediatamente se calou.

Não sabia.

Mas, antes mesmo que tivesse a chance de dizer mais alguma coisa, ela foi interrompida pela voizinha manhosa e infantil do pequeno albino.

—Eu não sei – Seu sussurro espalhou-se pelo hall de entrada da pensão. Ele estava de cabeça baixa e olhos lacrimejantes.

—De onde isso veio? – Questionou Pedro se soltando de Lucía e vasculhando o hall com os olhos – Quem está ai?

—E-eu não sei qual é o meu nome e m-muito menos como eu vim parar aqui... Ta-também não sei como vocês não podem me ver – Olhou triste para eles – Ma-mas acredite, eu sou real.

—E-eu... – Pedro estava embasbacado, não sabia como reagir. Uma voz estava sussurrando em seu ouvido, e aquilo lhe causava terríveis calafrios.

— Eu Acredito – Spokes disse subitamente, surpreendendo os ex-governantes, mas no momento em que a velha senhora proferiu tais palavras passou a ver o garotinho de cabelos brancos olhando tristemente para eles – Eu posso vê-lo.

O albino arregalou os olhos e abriu um sorriso singelo.

— Certo, eu... bem... – Pedro não estava tão certo disso, mas preferiu dar o beneficio da duvida e tentar – Eu acredito!

E o ex-rei finalmente conseguiu ver o menino.

—Peço que o permita ficar conosco até que o mesmo possa restaurar a memória – Pediu Lucía entrando na conversa com um sorriso radiante no rosto.

Pedro ainda estava desnorteado com o que aconteceu, então simplesmente meneou a cabeça afirmando.

—Obrigada – Retribuiu com um sorriso – Até mais tarde Senhora Spokes, depois conversamos – Virou-se para o pequeno e lhe estendeu a mão – Venha querido, lhe mostrarei o seu quarto.

O pequeno, igualmente ao rei, acenou que sim com a cabeça e seguiu a dama encolhido junto as suas pernas. Caminharam por entre os corredores da pensão em silencio até que chegaram na parte mais afastada, ela tinha uma única porta de madeira que levava até o que seria o novo aposento do garoto.

—Você ficará aqui – disse assim que abriu a porta – Sei que é um pouco afastado, mas não saberia o que fazer quando as pessoas começassem a pressentir uma presença da qual não pudessem ver. Imagine o caos! Todos achando que a pensão é mal assombrada – Os dois riram – Se precisar de algo é só me pedir.

—Obrigado senhorita.

—Por favor – Abaixou-se a fim de ficar a altura do garoto – Chame-me de Lucía.

—Certo – Ele sorriu – Lucía.

Ela lhe sorriu e o abraçou. Assim que se separaram, a rainha levantou-se e saiu do quarto fechando a porta. O lugar era espaçoso e muito confortável. Possuía uma cama de casal, um armário de madeira muito bem adornado, uma prateleira cheia de livros e uma janela bem grande para lhe permitir apreciar a paisagem. A estrela, e agora, juntamente com a Lua, eram capazes de iluminar todo o ambiente.

Ele estava sem sono e preferiu se sentar no parapeito da janela para pensar em tudo que havia acontecido. Afinal, quantos anos ele tinha? Oito? Talvez dez? Como uma criança poderia passar por isso?

Enquanto ele observava as coisas pelo vidro da janela, um floco de neve acaba indo de encontro a ele, e por impulso tentou pega-lo, mas ao tocar na superfície transparente uma fina camada de gelo apareceu e assim se repetiu quando ele fez a mesma coisa na parede.

Sim era algo impossível, mas sair vivo de dentro do gelo também era. Ao abrir a janela sentiu um vento frio soprar sobre sua face e encontrou no parapeito um pedaço de madeira que lembrava vagamente um cajado.

 Olhou institivamente a estrela buscando respostas e a única coisa que sentiu foi um estalar em sua mente.

— Jack Frost... – Sussurrou para si – Meu nome é Jack Frost...

Como ele sabia disso?

A estrela lhe contou, foi a única coisa que ela contou.

E isso foi há muito, muito tempo.

...|..*..|...

 

 


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Notas finais do capítulo

(Revisado e atualizado 03/09/2019)

~BellatrixPrincess