Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 9
Como atrair um homem.


Notas iniciais do capítulo

Acontece que às vezes você tem que fazer a coisa errada. Às vezes você tem que fazer um grande erro para descobrir como fazer as coisas direito. Os erros são dolorosos, mas eles são a única maneira de descobrir quem você realmente é.Greys Anatomy



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Senti algo molhado passar pelo meu rosto. Uma sensação engraçada. Tão engraçada...

Então Bento latiu. E eu caí do sofá.

A campainha tocou e meu cachorro escandaloso começou a latir. Cocei os olhos e procurei pelo meu celular no chão do meu apartamento. Jesus Cristo, um trator tinha passado por cima de mim?

Eram 2 horas da manhã! Pelo amor de Deus! Dona Maria do 102 ia ter mais um enfarte com tanto barulho.

A campainha tocou novamente. Bento já estava em seu último nível de alerta, mordendo a barra da minha calça de moletom com estampa de carneirinho.

“Vamos lá, humana! Tire a sua bunda daí e vá abrir a maldita porta.” Seus olhos me ordenavam.

–Droga Ben! Shhiu! – E abri a porta para os latidos não virassem uivos.

E o cachorro pulou na direção do visitante. Abanando o rabo e tudo. Arrgh!

–Até meu cachorro...

Calei-me no meio da frase.

Aquele não era o Jeremy.

Bem, era. Mas um Jeremy totalmente diferente. Passei as mãos trêmulas pelos cabelos, amarrando os indomáveis com um elástico de dinheiro que sempre estava em punho.

–O que aconteceu? Você passou por uma guerra ou algo assim? – Sua blusa amassada era a única coisa que salvava. Ele estava com uma cara péssima.

–Você pode me dar um copo d’água?

Balancei a cabeça e deixei que ele entrasse. Esperou ser conduzido até a cozinha enquanto Ben nos seguia com o rabo abanando e olhares curiosos.

Enchi um copo do Bob Esponja para ele, esperando que ele fizesse alguma grancinha, mas não fez. Bebeu quase num gole só e repetiu esse processo 3 vezes até estar satisfeito.

Foi quando eu notei o sangue seco próximo a região das têmporas. Aproximei-me dois passos inconscientes, perigosamente próximo dele. Segurei seu rosto em minhas mãos. Os olhos verdes acastanhados se arregalaram minimamente.

–João de Santo Cristo! O que aconteceu, Jeff? – Suas mãos, o mais gentilmente que conseguiam, me afastaram.

–Problemas com carros.

–Carros. – Soltei um suspiro cansado, liguei o micro-ondas e o programei, saindo logo em seguida.

Ele ficou paralisado no mesmo lugar.

Peguei do armário do banheiro minha maleta de primeiros socorros e voltei à cozinha.

Puxei seu punho para mais próximo e sentei no balcão americano para alcançá-lo. Enxaguei um punhado de algodões no soro. Havia sido uma pancada e tanto. Também havia uma mancha ficando roxa no maxilar. Sem contar com suas mãos calejadas e inchadas.

Isso não parecia um problema com carros. Talvez com os donos deles.

–Você não precisa fazer isso. – Não me olhava nos olhos quando disse isso.

–Nem você. – Peguei uma pomada para pancadas.

Seus olhos percorriam cada movimento meu. Eu sabia disso, mas não parei. Estranhamente, eu queria saber até onde isso ia parar.

Desempenhei mais atenção a esse ferimento, mas ele era um tanto quanto superficial. Minha outra mão estava apoiada a lateral do seu rosto, espalmando-o.

–Você não deveria estar fazendo isso. – Fechou os olhos e respirou fundo, como quem se controla.

Sua mão segurou meu punho, impedindo-me de prosseguir. Mas não me afastou.

Cristo, o que eu estava fazendo?

Eu estava há um par de horas vasculhando sua vida e agora eu estava aqui, a sua frente desejando que ele me beijasse ou eu iria fazê-lo primeiro.

–Você não quer isso, Vida. – Seus olhos ofuscavam. Eu sabia que ele queria isso.

–Não sabia que além de modelo, você era profeta. – Rebati prontamente.

Ele franziu o cenho.

Ai.

Minha.

Boca.

Ela que deveria ser tratada.

Porque eu não conseguia ficar calada?

–Como você sabe...? – Balançou a cabeça em descrença. – Você não pesquisou sobre mim, não é?

Senti-me corar.

–Eu precisava fazer isso antes de dizer sim. – Argumentei.

Franziu o cenho mais uma vez, mas seus lábios erguiam-se nas extremidades suavemente.

–Então você está me dizendo sim? – E se afastou um pouco. Resmunguei baixinho. – Isso é um sim a minha proposta?

Graças a Deus eu fui salva pelo gongo. Quis dizer... Pelo micro-ondas.

Saí de cima do balcão com um pulo. Eu não queria olhá-lo nos olhos enquanto dizia no segundo seguinte:

–Eu sei que vou me arrepender profundamente disso. Mas eu aceito.

Ele se afastou mais alguns passos, somente para me olhar nos olhos, como quem averigua.

–O quê?

–Eu aceito casar com você. Digo... Ser sua noiva. – Limpei a garganta. – De mentira. Lógico.

Ele sorriu, mas desarmou-o rapidamente.

–Isso tem a ver com seu ex e o fato que ele já seguiu em frente com uma morena gostosa?

Revirei os olhos e cruzei os braços.

–Não faça me arrepender da minha decisão, Jeff.

Ele ergueu as mãos em sinal de inocência.

–Então você realmente está firme com sua resposta?

–Eu disse que sim, é sim! – Dei de ombros. Era quase impossível não sorrir com aquele riso contagiante que saía de sua boca.

–Você não tem ideia de como vai salvar minha pele. Serei eternamente grato, Vida. – Seus braços me apertaram contra seu corpo sarado. Erguendo-me e rodopiando-me em seguida.

Estranhamente, eu estava feliz porque ele parecia feliz.

Bati contra o seu peito para que ele me colocasse no chão novamente, mas morrendo de vontade que ele não me soltasse jamais. Ofeguei.

–Vou fazer o que tiver no meu alcance para te agradecer. – Eu ainda estava sem ação enquanto seus braços me sufocavam. Mas eu tinha algumas sugestões do que ele poderia fazer para... – Não estou esquecido do nosso acordo. Você vai sair dessa vida de garçonete se depender de mim.

Garçonete.

Só minha irmã caçula usava esse termo comigo. Era o que eu era, certo? Mas porque ao soar da boca dos outros tinha um tom pejorativo?

Eu não tinha vergonha em ser garçonete, longe disso. Mas algo em meu interior (ou talvez apenas meu orgulho) gritava, berrava e acenava: você pode ser muito mais.

E eu podia.

Só que pegar algumas cartas azaradas na vida tinha me levado aonde estou agora.

–O acordo. Lógico. – Balancei a cabeça. Balbuciando qualquer coisa. – Faculdade. Enfermagem.

Ainda estava meio zonza pela sua mudança de humor e pela sua aproximação.

Recomponha-se Alma! Você uma menina de Deus. Muito bem educada e guiada para ser uma serva do Senhor e...

Esquece, eu devo ter brincado de estilingue com a cruz.

Ou Jeremy estava de zoação com a minha cara. Ele estava nesse momento agachado no chão e acariciando a barriga de um cachorro totalmente esparramado na minha cozinha em plena madrugada.

–Ele é um pouco carente. – O que não era verdade. Mas eu não iria admitir que meu cachorro e ele tinham se dado super bem. Se bem que... A pata traseira balançando rápida e constantemente já era um sinal bem claro disso. – O Ben se rende fácil.

E eu não, quase completei. É, sou difícil, mas pra você também balanço a perna, se você quiser.

É.

Quer dizer... Não, não. NÃO!

Eu só ficaria de barriga pra cima. Balançar a perninha não. Vai contra os meus princípios.

–Eu gosto de cachorros. – Justificou-se assim que estava novamente mais alto que eu.

–Deu pra notar. – Cruzei os braços contra o tronco.

–Bem, acho que já incomodei demais para uma sexta feira. – Essa era sua deixa para me deixar para trás.

–Sábado.

–O quê?

–Hoje é sábado. – Corrigi-o.

Balançou a cabeça, entre cansado e divertido.

–Você não está em condições de dirigir e eu não deixaria você levar o Sam para lugar algum nesse estado. Você pode ir se quiser, mas sozinho. – Isso tinha soado um pouco rude quando eu analisei no final. Por isso rapidamente eu acrescentei. – Experimente as panquecas que nós fizemos. – Pedi. – Substituímos requeijão por Nutella e acho que ficou bom. Você nem vai querer voltar pra casa.

Ergueu os olhos até mim. Mas olhá-lo nos olhos exigia um esforço sobrenatural de mim, e ele estava em falta no estoque no momento.

Eu sabia que eu estava mais atrapalhada que o costume, até Bento abaixou as orelhas e saiu de fininho quando uma colher de sopa desmoronou ao seu lado segundos antes.

–Tudo bem. Tudo bem. – Ele pegou o prato das minhas mãos e o colocou no balcão. Você está uma pilha, Vida. Posso colocar o Sam no sofá e eu dormirei no chão. Sua cama estará livre, prometo.

–Nem pensar. – Esfreguei os olhos e bocejei. – Nem estou tão cansada assim. Minha cama é de casal, cabem vocês dois. Eu tinha que ter uma cama de casal. Sonho antigo, sabe como é que é...

–Hã... Acho que sei.

–Você quer alguma coisa emprestada pra dormir? Ainda tenho um short do Brian aqui, vai ficar bom em você .

–Seria bom. – Ele estava ocupado demais enchendo seu estômago naquele momento.

Eu sumi corredor a dentro e acabei fazendo um kit sobrevivência para o cara que estava na minha cozinha. Uma toalha, sabonete, short e uma blusa dos Beatles (eu havia roubado essa do Brian e amava usá-la nos finais de semana).

Entreguei ao cara que iria dormir aqui e que eu mal conhecia direito. Um cara que bateu na porta da minha casa depois de uma briga em algum lugar, que escondia tantas coisas de mim quanto o possível, que tinha um filho incrível e que estava comendo panquecas na minha cozinha.

Acabei me acomodando no sofá, dessa vez sozinha, meu cachorro optara acompanhar Jeff.

–Tem certeza que não quer esfregar minhas costas no banho? – Perguntou zombateiro.

–No dia que isso acontecer, eu estarei dando entrada no manicômio.

Eu já estava a um passo daquele lugar, mas dane-se. Nunca iria dar essa inflada no ego de Jeff. Assumir isso seria vergonhoso e desnecessário.

Eu pretendia só assistir alguma coisa na TV enquanto ele terminava de esvaziar o prato, mas Jeff pareceu demorar muito tempo. Eu já estava cansada demais e sem notar acabei fechando os olhos em algum momento.

A única coisa que lembro é que a TV já estava desligada quando senti meu corpo sendo coberto. E uma voz rouca sussurrava:

–Você não tem ideia o quão atraente fica nessa calça de carneirinhos, Vida. - Suas mãos, o mais gentilmente que conseguiram, retiraram os fios de cabelo do meu rosto. - Obrigada pelas panquecas e por ser você.

Agradeci mentalmente ao fabricante da calça de carneirinhos e mandei muitas energias positivas e maiores produções antes de finalmente ser levada pelo sono.


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Notas finais do capítulo

Foi um sim desajeitado, mas foi!Acho que o membro do sexo masculino mais adorado dessa fic não é o Jeff e sim o Sam, então desculpe meninas, mas não tivemos o Sam nesse capítulo. Só no próximo. Uma leitora sugeriu que eu colocasse uma foto dos personagens, só para ter uma ideia. Então... Eu tenho realmente um ator como inspiração no Jeff (DANILA,MEBEIJA). Ele é russo (DANILA,MEBEIJA). Esse homem não é de Deus U.uhttp://31.media.tumblr.com/5278ae11d856bc07af16e06279b3dc03/tumblr_mqats2wh221qjxkmto5_500.jpge http://25.media.tumblr.com/fb7b83d801d4250739e63a47fead5ad0/tumblr_mqats2wh221qjxkmto9_500.jpgPróximo capítulo eu coloco mais alguém.