Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 8
Corredor das lembranças




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Eu despejei as poucas coisas que sabia sobre Jeff para Collin em uma mensagem de texto do tamanho da bíblia digitada pela loira em tempo recorde.

O que o medo pelo chefe não fazia...

-Ai Jesus! – Já estávamos próximo do fim do expediente quando Ellie pulou na cadeira com o celular nas mãos. Tá legal que ela tinha feito a mesma coisa quando viu um dos primos do Jeremy no Facebook, mas agora seus olhos estavam realmente arregalados e só saiu do transe quando eu a sacudi pelos ombros.

-Meu Deus! Não me diga que ele é um serial killer, Ellie! O filho dele vai para minha casa hoje e...

Então virou o aparelho na minha direção e eu me desequilibrei do outro lado do balcão. Agarrando a madeira para que não caísse.

-Esse...?

-Esse...

-Não... Não... – Eu gaguejava, babava e ainda estremecia. – Esse é o Jeff?!

A loira exibiu um sorriso pervertido, cheio de segundas intenções.

-Amiga... Com certeza uma lingerie só não vai satisfazer isso aqui.

E apontou novamente o celular na minha direção. Eu estava toda bamba e ela me fazia olhá-lo novamente.

-Acho que eu Deus Grego fez um bico e tanto de modelo antes de firmar no sei-lá-o-que-esteja-trabalhando.

Santa das cuecas boxers pretas, aquilo não era de Deus.  Ellie passava rapidamente uma sequência de fotos, todas de um ensaio fotográfico. Jeremy estava apenas com uma calça jeans. Uma maldita calça jeans azul e a maior cara de safado que um homem de Deus não tinha. Mas tanto faz, eu também não fazia questão de ir para o céu se eu pudesse ter um daqueles ao meu lado.

O inferno era mesmo quente.

-Uma forma de ganhar dinheiro bem... Interessante.

-Isso pode ser montagem, não é? – Perguntei num fio de esperança.

-Não acho que o Collin nos mandaria algo fake. – Mordeu os lábios enquanto via mais fotos. – O Collin é quase um profissional. Me preparo todos os dias com a chegada da polícia lá em casa.

-Porque Jeff não me conta esse tipo de coisa? – Resmunguei.

-Você não contaria.

-Não estamos falando de mim.

Ellie olhou para mim de relance, balançou a cabeça em concordância e voltou a se deliciar.

-Como é que eu vou encarar ele agora? – Gemi.

-Com os olhos, amiga.

Soltei um muxoxo de desagrado.

-Você se incomoda de compartilhar? – Ela perguntou mordendo o lábio inferior.

-Você está falando sério?

-Aposto que você nem vai aguentar tudo isso aí, Alma.

-E o Collin?

-Eu o chamo também. – Deu de ombros.

-Ellie! Pensei que tinha tomado jeito.

-E eu tomei amiga. Juro que tomei. Depois tomei alguns whiskys também.  

Peguei o celular da sua mão e mandei uma mensagem pro Collin, seu último link havia sido desse site da loja online masculina.

Vamos parar por aqui, Collin, antes que a Ellie tente se satisfazer com os palitinhos do restaurante japonês da esquina. P.s.: obrigada pela ajuda, lembre-me que estou te devendo uma ;) / Alma.

A boca da loira se abriu num formato de ‘O’ assim que viu a mensagem que eu tinha mandado. Não pensava que ela iria ficar irritada, mas até gostei da sua irritação.

-Sabe qual é seu problema, Al? – Ela enfiou o celular de qualquer jeito no bolso do avental e se debruçou na minha direção. – Você não se dá o direito de experimentar algo novo. Está tão modelada no ‘certinho’ que não consegue aproveitar o errado quando ele bate na sua porta. Quer uma dica? Pare de procurar um podre do cara, quem procura acha. – Tomou fôlego. – Diga a porra de um sim logo e vê se compra umas calcinhas comestíveis e me deixa em paz.

Eu nem consegui balbuciar uma resposta. Apenas balancei a cabeça e ela murmurou um ‘acho bom’ antes de o nosso chefe voltar.

***

-Não gosto de mudanças. – Falou tão baixo que eu quase não o ouvi.

-Bem... – Olhei-o pelo retrovisor. Estava todo encolhido no banco de trás, tão desconfortável quanto eu. – É legal fazer algo diferente de vez em quando.

-Minha psicóloga diz isso todas as sextas.

Uma criança de 5 anos frequentando um psicólogo não parecia uma coisa tão boa assim.

-Mas aposto que ela não diz isso enquanto faz panquecas.

Um olhar curioso parecia que seria o máximo que eu iria conseguir hoje de Sam. Mas eu o consegui naquele momento.

Nós percorremos o resto do caminho em um silêncio preenchido pelo CD do John Mayer.

Incrivelmente, Sam se deu muito bem com o Bento, meu cachorro vira-lata com o coração de ouro. Sentada no sofá, perdi as contas de quantas vezes a bolinha do cachorro foi lançada pelo corredor.

Mas teve um momento que ela foi e não voltou na boca do cachorro segundos depois. Então Sam se levantou, ainda em silêncio e foi atrás dele.

Acho que eles se davam tão bem pelo fato que Bento não exigia lá muitas respostas e Sam se sentia bem assim, não se sentia desconfortável ou pressionado.

Passaram-se alguns minutos enquanto eu pensava em tudo e ao mesmo tempo em nada, para notar que o apartamento estava silencioso demais.

Peguei-os observando o corredor repleto de fotos coladas. Sam analisava cada uma, enquanto Bento estava concentrado na bola em suas mãos.

-É o corredor da lembrança. Eu gosto de fotografar.

Os olhos castanhos me olharam rapidamente.

-Tem muitas fotos da Mel.

-É minha modelo favorita. – Confessei.

Mais alguns passos adiante e ele pôs-se a observar cada uma delas. Sempre com a expressão neutra.

-É a mãe da Mel? – Ele apontou para uma das fotos. A loirinha estalava um beijo na bochecha da minha irmã.

-É sim.

-Ela é bonita. – Comentou, ruborizando em seguida. Alguém me segura ou iria arrancar as bochechas desse garoto.

-Parece muito com a Mel. Tirando os cabelos. – Dei de ombros. Apontei para outra foto que tinha os três juntos, dormindo na cama de casal do quarto de hóspedes da casa da nossa mãe, estavam todos encolhidos. – O pai e a mãe da Mel. Foi no Natal do ano passado. Nós passamos o Natal com minha mãe.

-Tia Al? – Ele estava sussurrando. Sabia que assim que procurasse seu olhar, ele iria fugir, então ainda observando as fotos respondi um ‘hm?’. – É legal...?

-O quê?

-Ter uma mãe?

E meu coração se encolheu para o tamanho de uma ervilha.

Não sabia como começar a respondê-lo. Limpei a garganta e passei as mãos nos cabelos. Agachei-me até sua altura, mas ainda sem olhá-lo nos olhos. Segurei suas mãos nas minhas.

-Minha mãe não me quis. Papai não me disse isso, mas eu sei. A gente sabe desse tipo de coisa, né?

É. E como sabemos. 

Quando eu olhei em seus olhos ele não desviou. Fui eu que tive a necessidade de fazê-lo tamanha era a sua intensidade.

-Não pense que há algo errado em você por isso. Eu seria a mulher mais feliz do mundo se Deus tivesse me presenteado com você.

-Sério? – Ele reprimiu um sorriso, mas nem precisava, seus olhos brilharam.

-Com toda certeza. – Ele me abraçou.

Um abraço desajeitado e longo demais, mas com toda a sinceridade que uma criança tem.

-Tia Al? – Chamou-me depois que se afastou.

-Hm?

-Nós podemos fazer panquecas?

Então fizemos panquecas para o almoço.

Uma pena que quando eu fui rapidamente ao banheiro e voltei, os ‘aliens’ tinham abduzido toda a comida e que o focinho do cachorro estivesse todo amarelado.

Sam perguntou um pouco mais sobre as pessoas do meu corredor, tirei rapidamente uma foto minha e do Brian que tinha esquecido, antes que ele pudesse me perguntar quem era e enfiei na gaveta da cômoda na sala.

-Porque tem alguns espaços em branco?

-Estou a espera por pessoas importantes na minha vida.

Ficou calado por algum tempo e por fim se virou pra mim.

-Eu já posso fazer parte do seu corredor? 


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Notas finais do capítulo

Não tá rolando nosso relacionamento, leitores. Tô sentindo que falta reciprocidade por parte de vocês. Sério.
O que é uma pena, porque eu estava disposta a tornar esse capítulo gigante e mais interessante.
Então faremos assim: postarei o próximo capítulo o mais rápido possível se vocês me derem uma forcinha.
Justo?