Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 7
Ponto final. Melhor dizendo, ponto e vírgula.


Notas iniciais do capítulo

"Mas tudo que acontece na vida tem um momento e um destino. Viver é uma arte, é um ofício só que precisa cuidado."
Nando Reis.



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Suas mãos apertaram minha cintura enquanto as minhas afundavam em seus cabelos e puxavam seus fios.

Eu nunca tinha sentido aquilo, não daquela forma. Como se mais nada existisse ao redor.

Éramos eu e Jeff. Eram somente suas mãos apertando minha cintura, as minhas brincando com seus cabelos e seus lábios nos meus.

E nós só nos separamos quando o ar nos faltou. Ofegantes, nos olhamos.

Minhas bochechas deveriam estar de uma tonalidade avermelhada chamativa.

Ele sorriu meia boca. Aquele sorriso que eu não conseguia ficar chateada ao olhá-lo.

-Agora você conseguiu me surpreender, Vida.

Eu nem tive tempo de respondê-lo. Teria sido bom se eu tivesse, mas não tive. Um barulho baixo e conhecido se fez presente bem atrás de Jeff.

Soltei-me da armadilha de seus braços e ele se virou, ainda ao meu lado.

-Alma. – Soou seco.

-Brian. – Acenei com a cabeça, as minhas pernas tremiam tanto que eu não sei ao certo se o que me manteve em pé foi a mão de Jeff apoiada a minha cintura ou o olhar fuzilante do meu ex-namorado em mim, deixando-me imóvel.

Breves segundos de desconforto se seguiram. Ele me olhava fundo, como se tentasse entender o que tinha acontecido com nós.

-Lembra-se de Sofia? – Apresentou-a a contra gosto. A garota de cabelo Chanel finalmente nos cumprimentou, um breve sorriso medido nos moldes da educação. – Filha do novo sócio de meu pai. Sofia Deutch.

-Deutch. – Repeti. – Filha de Wagner Deutch. – E voltei a balançar a cabeça. – Claro que eu lembro. Imagino que seu pai deve estar mais tranquilo agora. Com a parceria e tudo mais.

-E está. – Ele suspirou fundo, seus olhos caíram para o cara um pouco atrás de mim. Não estava interessado em falar de negócios no momento.

-Jeremy Ferraro. – O próprio se apresentou, estendendo a outra mão ‘não ocupada’ e tudo mais. Que Brian fez questão de não corresponder.

O clima até esfriou depois dessa.

Não passavam nem das 16 horas e já estávamos assim.

Brian não olhou nos olhos gélidos verdes acastanhados, muito pelo contrário, olhou para minha camisa melecada e sorriu.

-Você não muda tanto assim, não é?

Se eu não soubesse o que ele tinha feito comigo... Se eu não tivesse sentido na pele o que era ser traída e carregar um par de chifres a lá Bambi... Eu até teria caído naquela carinha que ele fazia. Todo arrependido.

Por algum motivo, que eu finjo não saber o qual, Jeff puxou-me ainda mais para perto. Colando a lateral do seu corpo a minha.

-Temos que ir. – Murmurou no pé do meu ouvido. – O Sam está nos esperando.

Olhei rapidamente para seu carro. O garoto ainda brincava no celular.

-Nós já estávamos indo, só viemos deixar a Mel. – Eu nem sabia porque estava me explicando para ele, não o devia nada mesmo.

-Alma, eu...

-Já estamos atrasados para abertura da comemoração, Brian. – A garota resmungou.

-Nós podemos conversar... Outro dia? – Soava quase desesperado. E eu gostei disso. Adorei seu desespero.

-Você está um pouco atrasado, Brian. – E Jeff me puxou para longe, mais uma vez pelo punho. – Adeus.

Deixei-o com a boca aberta e o olhar vazio.

E um sentimento de orgulho próprio vibrando dentro de mim.

Entrei no carro (no banco do passageiro dessa vez) com um sentimento de quem poderia finalmente passar a vida adiante.

Eu tinha dado um ponto final naquilo.

Primeiro amor não significava único. Primeiro namorado não significava último.

E agora eu estava impregnada de perfume masculino e levemente de cigarro. Caramba. A partir de agora, esse era meu cheiro favorito.

Isso não muda o fato que minhas bochechas teimavam não abandonar o tom rosado, de vergonha pura.

Jeff já sabia o caminho até meu apartamento e eu fiquei grata por em nenhum momento precisar abrir a boca.

Eu quase pulei para fora do carro quando chegamos, ou tentei, sua mão novamente me puxou pelo punho.

-Alma...

-Amanhã, Jeff. Amanhã nós conversamos. – Abri a porta do carro. – Tchau Sam! –O garoto nem me olhou.

-Seja educado, Samuel. – O pai repreendeu.

-Tchau, tia Al. – Seus olhos não se ergueram na minha direção, mas já era um bom começo.

Sorri cansada.

-Até amanhã.

Não esperei pela sua resposta. Fechei a porta atrás de mim e corri para a proteção do meu velho apartamento no centro da cidade.

Bento, meu cachorro sem raça de olhos caramelos, nem sabia, mas naquele final de tarde, enquanto passeava com ele, eu tinha conseguido passar para uma nova fase da minha vida. Do meu jeito atrapalhado. Mas uma nova fase.

***

Acordei cedo. Nem precisei do despertador. Suava enrolada entre os lençóis, cansada de rolar de um lado para o outro na cama, me levantei.

Liguei para minha mãe enquanto testava uma nova receita de panquecas. Porque ela era a única pessoa que eu conhecia que acordava cedo por prazer, e além do que, eu precisava mesmo saber como ela ia. Passamos um pouco mais de uma hora no telefone. Ela estava realmente muito chateada pelo novo sofá que sua vizinha tinha conseguido comprar na cidade vizinha.

-Parece um sofá de presidiário, todo preto e branco. Aposto que mataram uma pobre zebrinha para fazer aquilo, filha. Estou falando sério. – Resmungava.

Colocamos o assunto em dia.

Mais cedo ou mais tarde ela saberia sobre meu término com o Brian, e seria um desastre se ela soubesse pela vizinha do que por mim. Então tomei fôlego e tentei abordar o assunto da melhor maneira possível.

-Mãe... – Engoli em seco, pegando o celular que antes apoiava com o ombro.

Eu tive que chamá-la mais algumas vezes até que notasse que eu tinha algo para falar.

-Porque Clotilde vive mudando a mobília a cada semana. Aposto que ela tem algum parente político. Ôh povinho ladrão...

-Mãe...

-E tem uma filha também, quase da sua idade e da sua irmã, aquela menina só pode estar vomitando a comida toda. Tá quase um palito, Al. Você precisa vê. Cabe três dela em você. Qual é o nome dessas doenças de rico...?

-Eu terminei com o Brian. – Cortei-a.

E se fez silêncio na outra linha.

-O quê?

-Nós terminamos. Uma longa história.

-Tenho tempo. – Poderia ver seu corpo miúdo inclinando-se no balcão da cozinha e bebendo seu chá, um perfeito local para ver a janela da vizinha entreaberta.

-Mãe... Nós podemos falar isso depois? Tenho que ir para o trabalho, já estou atrasada.

-Alma...

-Depois nós falamos, mãe.

-Não pense que acabamos essa conversa, mocinha. Estou distante, mas não o suficiente para não reconhecer quando minha filha está pisando em ovos. – Soltou um suspiro baixinho. – Eu quero alguém que goste de você, alguém que se preocupe com você e que só te queira bem, Alma. Pode parecer piegas para as garotas de hoje em dia, mas eu quero tudo aquilo que eu não consegui com seu pai.

-Eu sei, nós falaremos sobre isso. Mas não agora, tudo bem?

Suspirou alto.

-Eu te amo, nunca se esqueça disso.

-Eu também Alma, você não imagina o quanto.

-Mais do que gosta de atazanar a Clotilde?

-Talvez um pouco menos. – Ela soltou uma risada nasalada e desligou o telefone. Instantes depois ela estaria levantando-se e andando até a fresta da janela com a xícara de melhor vovó do mundo nas mãos que a Mel tinha dado na sua última visita, franziria os lábios e murmuraria algo como ‘sofá horrível’.

Apoiei o telefone no balcão, suspirei. Porque eu sempre deixava as coisas para mais tarde? Eu e essa minha mania de deixar para depois de amanhã o que eu poderia fazer agora.

Na minha lista mental de coisas para resolver, com certeza, a proposta de Jeremy estava em primeiro lugar.

Eu estava um tanto quanto inclinada para aceitá-la. Só precisa de uma coisa. Uma conferida básica. Com uma ajudinha da Ellie, e eu poderia dizer sim a sua quase proposta de casamento.

Dois minutos foi o tempo suficiente para notar que eu estava atrasada.

Tinha acordado cedo numa sexta-feira e continuava atrasada.

Enchi a tigela de água e comida do Bento e acariciei suas orelhas antes de sair aos pulos.

Sr. Lewis estava de TPM hoje. Eu quase amassei um cupcake nas mãos depois que seu grito ecoou em meus ouvidos pela terceira vez.

-Próxima vez e eu descontarei no seu salário, garota! Do seu salário! – Ele estava do meu lado, eu estava retocando o estoque de cupcakes da vitrine do balcão, mas ele parecia decidido a não me deixar em paz hoje.

Então o som da porta rangendo anunciou a chegada de um cliente. Suspirei baixinho, esperando que ele fosse me deixar em paz. De cabeça baixa continuei fazendo meu trabalho em ordenar os cupcakes coloridos e rezando para que o projeto do capeta fosse embora. 

-Seu trabalho é no balcão. Não quero te ver novamente na cozinha, gastando os ingredientes com suas loucuras. Ouviu bem?

Balancei a cabeça. Deu-se a bronca por encerrada e foi perseguir a coitada da Ellie que ainda estava meio grogue de sono.

Estava tão concentrada no que fazia que quase tive um ataque cardíaco quando aquela voz rouca me cumprimentou com um bom dia.

-Droga, Jeremy. Droga! – Ralhei com o cupcake amassado nas mãos. – Estou ferrada, Sr. Lewis me manda para rua agora mesmo depois disso. Ai meu Deus! Eu tenho uma boca canina pra alimentar.

Jeff pegou o cupcake das minhas mãos e se ajeitou num dos bancos altos e desconfortáveis que ficavam próximo ao balcão.

-Acho que finalmente vou ganhar desconto por aqui depois disso.

 Ele estava assustadoramente lindo hoje. Usava uma camisa preta de botões que iam até os cotovelos, deixando-a com alguns botões abertos só para me levar ao delírio, a calça jeans folgada era azul e era segurada por um cinto grosso bege. E os cabelos... Ah, aqueles cabelos mais bagunçados que nunca. O único problema é que ele não estava com uma de suas melhores caras.

Mordiscou o cupcake. Fiquei indecisa se ele estava mesmo saboreando o doce ou apenas absorto.

-Chegou cedo hoje. – Comentei.

Seus olhos pouco a pouco tomaram foco, ele estava tão distante que só notou que eu falava com ele quando o chamei algumas vezes mais.

-Posso te pedir um favor? – Deixou o bolinho pra lá e ajeitou-se no banco pequeno demais para ele. Pensei em responder ‘depende’, mas sua fisionomia não parecia disposto a gracinhas.

-Claro. – Ergui os óculos que escorregavam pelo nariz.

-Pode levar o Sam para sua casa hoje? – Jeff pareceu cinco anos mais velho ao dizer isso. As linhas de expressão de seu rosto estavam mais profundas, era a primeira vez que ele falou tão sério assim comigo. – Estou com uns problemas para resolver. Não vou conseguir pegá-lo na escola.

-Está tudo bem, Jeff? – Perguntei, não conseguindo conter o tom preocupado.

-Pode fazer isso? – Insistiu.

-Claro.

Levantou-se.

-Vou tentar pegá-lo antes das 23. – Sacudiu os cabelos, mas não pareceu despreocupado como antes. – Só tenho que resolver algumas coisas.

E essas coisas duravam até as 23?

-E acho que você está me devendo essa depois de ontem. – Ai, como um soco no estômago. Tirou do bolso uma nota de 10 e deixou no balcão antes de ir embora. Mal tive tempo de dizer que o bolinho custava 5.

Meu chefe olhou da porta para mim.

-Nem pense em ficar com o troco. – Rosnou.

Revirei os olhos.

***

-Psiu! Ellie! – Puxei-a pelo avental. Seus olhos esbugalharam de susto, mas suavizaram quando me viram. – Vem cá! – Sussurrei.

-O filho do capeta pode voltar a qualquer momento. – Falou no mesmo tom.

-Ele foi ao banheiro.

-Porque estamos sussurrando? – Sussurrou de volta.

-Não sei. – Ajeitei os óculos e limpei a garganta. Ellie arqueou o cenho. - Como vão as coisas com o Collin?

 Então sorriu.

-Eu te conheço, amiga. Desembucha aí. – Debruçou-se no balcão. – O que você quer?

Soltei a respiração que não sabia que prendia.

-Preciso saber de algumas coisas... – Minhas bochechas esquentaram. O sorriso da loira alargou ainda mais. – O Collin ainda faz aqueles serviços?

-Acha até filho de prostitua pra comemorar o dia dos pais.

-Não é esse o caso. – Tratei de esclarecer, encabulada.

-Claro que não. Você quer saber sobre o Deus Grego. – Arqueou as sobrancelhas duas vezes.

-E com detalhes.

Sorriu ainda mais, se possível, com empolgação.

-Adoro caça ao tesouro.

-Não temos um tesouro, Ellie.

-Ah, meu bem... – Sacou o celular do bolso do avental. – Temos sim. E você vai descobri-lo usando a lingerie de oncinha rendada que eu comprei pra você. 


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Notas finais do capítulo

Seria legal se vocês lessem essa nota até o final.
Estou pensando em mudar o nome da fic, mas eu queria a opinião de vocês e também para que vocês não fiquem perdidos se caso eu faça a mudança.
Pensei em 'Uma quase proposta de casamento'. Não sou muito boa para nomes de fanfics, mas pá.
Eu manteria a capa para vocês não ficarem perdidos, mas mudaria só o nome (por enquanto, pq tenho um plano legal pra capa se mudar o nome).
Vocês podem ajudar essa pessoa indecisa que sou eu?
Deem-me suas opiniões minhas paçocas :3