Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 39
Fire meet gasoline.


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a Gaby Galdinno por ter sido tão M.A.R.A.V.I.L.H.O.S.A na sua recomendação ♥ Espero que você não fique muito triste quando a fic acabar :( Mas nem gosto de pensar nisso ainda hahaha
E (choquem) outro muito obrigada para Gi Ramos por ser tão incrível na insistência e não ter desistido quando o nyah te deu uma pegadinha (ele gosta de fazer isso comigo também), obrigada por refazer a recomendação e enviar novamente, tenho certeza que ela ficou melhor que a primeira :)
O capítulo é dedicado a vocês meninas, fizeram-me um bocado feliz!



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"It’s dangerous to fall in love
But I wanna burn with you tonight
Hurt me
There’s two of us

(...)

We’re a perfect match, perfect somehow

We were meant for one another

Come a little closer

Flame that came from me

Fire meet gasoline"

(É perigoso se apaixonar, mas eu quero queimar com você essa noite. Machuque-me. Há dois de nós (...) Somos uma combinação perfeita, perfeita de alguma maneira. Fomos feitos para o outro. Venha um pouco mais perto. Chama que veio de mim. Fogo conheça gasolina)

p.s.: Obrigada a Lucy pela sugestão indireta :)

p.s.²: Se alguém quiser ouvir a primeira parte do capítulo com a essa música, é uma boa Fire meet gasoline - SIA

Boa leitura!

********************

Eu olhei em seus olhos. Eu poderia desenhá-los, se fosse boa nisso, a forma como os pontos castanhos surgiam ao redor da sua íris, mesclando-se ao verde. Eu amava a forma como eles poderiam ser calorosos e ainda assim penosos, como eles estavam sendo naquele momento.

Meu corpo queimou quando meu cérebro projetou a imagem de nós dois embolados na minha cama. Fato que aconteceu pouco tempo depois. A porta do meu quarto bateu contra a parede quando nós entramos a passos trôpegos, as cortinas estavam enroscadas no canto da janela, deixando o quarto iluminado pela luz da manhã. E então, dos seus olhos eu estava mirando a sua boca, imaginando o quão boa ela deveria ser nos locais certos.

–Jeff... – Deixei escapar por entre os lábios. Era um aviso? Um pedido? Uma lamentação? Não sei.

Mas ele entendeu como um chamamento.

Seu corpo duro chocou-se ao meu, seus braços firmaram-me contra ele, sua boca cobrindo a minha.

Com o movimento certo ele já tinha me derrubado em minha cama embrulhada com um lençol retorcido e com o pé fechado a porta. Jeff estava por cima de mim em seguida, suas mãos em cada lado do meu corpo, seus lábios percorreram meu pescoço com carinho e uma quantidade exata de luxúria.

Meu corpo não demorou a entrar em sincronia com o seu. Minhas mãos afundaram em seus cabelos bagunçados e maiores, explorando cada pedaço dele, passando por debaixo da blusa, para suas costas, cravando as unhas nestas, conseguindo um rosnado masculino.

Bêbada em minha própria necessidade, eu sussurrei para Jeff que eu precisava de mais, eu precisava de seu corpo contra o meu sem nada nos impedindo, eu precisava nua e cruamente dele.

Ele desceu até a beirada da cama. Havia isso em Jeff, esse erotismo que nenhum homem era capaz de ter em tamanha proporção ao desabotoar os botões da minha calça jeans. A sua barba rala roçando em minhas coxas até a panturrilha e em seguida suas mãos segurando, firmes, minha cintura. Retirou minha blusa como quem desembrulha um presente de natal, mas gostou demais do papel para rasgá-lo inteiramente.

Senti-me em desvantagem ali. Ele ainda estava perfeitamente vestido enquanto eu estava com minhas peças de baixo que não combinavam.

–Jeff... – Voltei a murmurar, transbordando falta de sobriedade.

–O que você quer, Vida?

–Você. – Admiti baixinho, era vergonhoso admitir até mesmo na minha falta de decência.

–O quê? – Repetiu uma oitava mais alto, seu rosto novamente próximo ao meu, sua barba roçando carinhosamente a lateral do meu rosto. – Eu não a ouvi.

–Eu quero você, Jeremy. – Não esperei por uma reação sua, com uma perna minha em cada lado do seu abdômen eu o rolei na cama, até suas costas baterem no colchão.

Eu não havia cometido o mesmo erro duas vezes. Assim que pude assistir uma reprise das Panteras, eu analisei a forma como elas poderiam levar o sexo masculino a loucura.

Puxei a barra da sua camisa, rápido, e com uma ajuda dele, ela já estava no chão. As pontas dos meus dedos trabalharam pelo seu tronco, fascinada com tamanha obra de arte. Deus, eu poderia babar apenas vendo-o.

–Gostando do que vê?

–Apenas apreciando a vista.

Ainda ansiosa e um pouco nervosa me esforcei para desabotoar os botões da sua calça, mas me atrapalhei tempo o suficiente para que Jeff risse de leve e me ajudasse nessa árdua missão. Logo que sua calça se juntou a pilha de roupas no chão, suas mãos voltaram a se empertigar por mim até que encontrou o fecho do meu sutiã. Uma sobrancelha erguida em forma de pergunta. Com as bochechas coradas eu assenti de leve. Jeff exibiu um meio sorriso e jogou fora isso também. Meu corpo nunca foi considerado uma obra de arte para ninguém e eu sabia que Jeff já tinha se relacionado com pessoas bem mais bonitas que eu, talvez até modelos nessa lista. A vergonha foi tardia, mas pareceu vir para ficar.

–Hey... – Suas mãos agarraram meus ombros e nos inverteu de lugar. – Olha para mim, Alma.

Olhei.

Ele não disse nada. Nem precisou, na verdade. Seus olhos estavam dilatados, observaram-me sem pudor algum. Seus lábios desceram até mim, movendo-se com destreza até parar no meu pescoço. Arfei. Gastou seu tempo ali. Sussurrou algo contra a curvatura do meu pescoço e o repetiu, várias vezes.

–Você é linda, Vida.

Derreti por completo depois disso. Sua boca desceu até meu colo e me enlouqueceu mais um pouco. Puxei seus cabelos, meu corpo guiando dali por diante.

–Pare de brincar, Je-eff.

Sorriu. Maldito sorriso cafajeste. Sua mão foi até o cós da minha calcinha, ainda olhando para meus olhos. Malditas mãos espertas. Puxou rápido a última peça e então não tinha mais volta (como se tivesse naquele dia que nós nos batemos por erro na escola das crianças).

Tremendo de ansiedade eu corri minhas mãos pelo seu abdômen, fazendo questão de passar com minhas unhas, até chegar sua cintura. Notavelmente ele já estava animado e eu sorri para ele. Eu tinha um efeito sobre aquele homem, mocinho de filme barato, e estava disposta a me aproveitar disso. Brinquei com o elástico da sua boxer, provocando-o, ele grunhiu rouco.

–Quem está brincando agora?

Retirei sem hesitar no segundo seguinte.

Hã... Certo, eu devo ter jurado em algum momento dessa história que não iria mais fazer comparações entre Brian e Jeff, mas... Digamos que um avião de acrobacia e um Airbus falem por si só.

*~*~*

Estava tendo um sonho bom. Lembro que estava a passos de alcançar algo maravilhoso. Estique as mãos, as pontas dos dedos, avancei um passo. Agarrei.

–Vida, você pode parar de me apalpar?

Demorei alguns segundos para processar aquela voz e o que ela queria dizer. Acordei com os olhos arregalados, erguendo o tronco e sentando na cama, levando o lençol comigo para que nada fosse mostrado na parte da frente.

–Hey, volte aqui. – Sua mão segurou meu cotovelo e puxou-me para baixo. Resisti. Um dos seus olhos abriu e logo em seguida o outro. – Qual é o problema?

Devem ter sido minhas bochechas coradas, com certeza. Jeff olhou para minhas mãos firmes no lençol, como se aquilo fosse meu escudo e novamente para mim.

–Eu já te vi nua antes, Vida. – Sua voz ainda estava rouca de sono e isso me causou calafrios. – Você está com frio? Eu posso ajudar, venha aqui. – Puxou-me com mais determinação para o seu lado e eu caí de novo na cama como um saco de batatas.

Ainda rígida, ele me embalou em seus braços e se antes eu estava com as bochechas quentes, agora meu corpo inteiro estava fervendo. Ouvi seu suspiro antes que ele dissesse algo.

–Você é sempre estranha assim no dia seguinte?

–Teoricamente o dia ainda não acabou. Está de noite agora.

Suas mãos se firmaram nos meus ombros e ele me virou o suficiente para manter um contato visual comigo.

–Qual é o problema, Alma? – Ele estava sério. Malditamente sério.

Engoli em seco.

–Você se arrependeu? – Perguntou baixo.

Rapidamente neguei com a cabeça.

–Foi o melhor sexo que eu já tive, Jeff. O melhor! Claro que eu teria feito de novo e novamente.

Tenho certeza que, pelo seu olhar, seu ego inflou como um balão de hélio.

–Então o que é?

Desenhando coisas aleatórias com a ponta do dedo em seu peito, mordi os lábios e me forcei a falar.

–Eu só... – Tomei fôlego. – Estou tentando me proteger, entende?

Franziu o cenho, abriu a boca para responder, mas nada saiu. Esperei impacientemente até que ele respondeu:

–Eu prometi que dessa vez iria ser diferente. Isso não é o suficiente para você?

A necessidade de manter um espaço entre nós venceu, saí da cama aos tropeços, enrolada no lençol, deixei Jeff na cama enquanto vestia uma camisola perdida no fundo da gaveta. Respire fundo, Alma. Vamos lá. Ele vai entender.

–Eu amo estar com você. – Tratei de esclarecer e agora que saiu, foi bem mais fácil cuspir tudo de vez, fitei o sujinho na parede com admiração. – Eu amaria dormir com você todas as noites e acordar assim, juntos. Ok, talvez você não queira tão junto porque você sabe agora que eu me remexo muito no sono, mas imagina com o Pequeno Newton subindo de mansinho na cama e ficando entre nós dois? Seria um sonho, não é?

–Vá direto ao ponto, Alma. – Quando olhei novamente para ele, não pareceu nem um pouco incomodado em estar claramente nu na minha cama. Apesar da tentação dos infernos, desviei o olhar para me concentrar.

–Hã... – Engoli em seco, tentando ganhar tempo para colocar os pensamentos em ordem. Se eles não faziam muito sentido na minha cabeça imagina para alguém de fora? – Eu não consigo mais acreditar em algo durável. P-primeiro com meus pais, então com B-brian e até mesmo você, Jeff. Eu amo tanto isso... Nós dois, que é inevitável p-pensar em como vai doer quando acabar. Você não confia em mim totalmente e, definitivamente, é recíproco. Eu-eu não sei se conheço mesmo você, há tantas lacunas vazias para se ter algo concreto entre a gente.

Ele não falou nada quando procurou sua calça jeans pelo quarto e a vestiu lentamente. Pânico borbulhou em minhas veias. Ele estava indo embora, decidiu que era muita loucura para assimilar ficando comigo.

–Está parecendo loucura, né? Já estou falando de juntar as pastas de dente quando nós só transamos uma vez. Você provavelmente está pensando em me dar o fora nesse momento e sair correndo. – Uma onda de desespero me golpeou. Meu rosto estava vermelho, minha respiração falha, caminhei até a cozinha, precisando por mais distância entre nós, entretanto, nem mesmo cheguei ao fim do corredor. Jeff me encurralou na parede, cada braço em um lado da minha cabeça.

Fiquei quieta naquele momento, muito quieta. Com um medo horrível de falar mais alguma coisa e ele querer cair fora. Exatamente como meu pai fazia nos dias que minha mãe decidia se rebelar, nem que fosse por um brevíssimo momento, mesmo que fosse uma rebeldia ridícula como não fazer ovos do jeito que ele quisesse. Ou ele caía fora e não voltava por dias ou ele ficava e dizia coisas horríveis, por vezes fazendo coisas terríveis.

–Vida. – Uma única palavra e eu transpirei horrores.

–Eu sinto muito ser tão quebrada assim. Vou tentar juntar todos os pedacinhos. Juro. Vou ficar melhor.

Seu rosto se aproximou do meu, colando sua testa na minha, ele tinha os olhos sérios. Mortalmente sérios.

–Não é estranho você ter medo de relacionamentos. Não é estranho você achar que está quebrada. – Antes que eu pudesse interrompê-lo, ele colocou o dedo indicador nos meus lábios, pedindo silêncio. – E se você estiver, Vida, eu faço questão de colar cada pedaço e prometo nem olhar para as rachaduras.

Envolvi seu pulso nas minhas mãos e puxei seu dedo intrometido da minha boca.

–E não somos só nós dois, Jeff. Já pensou nisso? Temos Samuel nessa mistura. Uma criança exige uma segurança nisso, um relacionamento estável.

Preferi deixar de lado a conversa que tive com sua mãe antes das coisas explodirem para os quatro cantos. Pareceu algo entre só nós duas, pessoal demais.

–Nós vamos construir isso.

–Com você nem ao mesmo confiando em mim para contar seus problemas?

Meu olhar cético o chateou. Recuou, deixando-me com o sentimento frio da perda do seu contato.

–Você quer confiança, Alma? Quer as barreiras derrubadas? Então vamos lá... A mãe de meu filho me quer morto e está disposta a se juntar com o maldito clube e levar também quem estiver por perto. Isso significa você, Vida. Durmo com apenas um olho fechado e tem uma arma dentro do seu criado-mudo para nos defender se alguém aparecer.

Minha boca estava escancarada antes que ele terminasse.

–Sim, eu provavelmente fiz essa cara ao me deparar com ela na porra da minha frente depois de terem detonado meu carro logo que saí do seu apartamento.

–Porque ela está atrás de você?

–Arrependimento, acho. – Deu de ombros. – Ela quer Samuel de volta, disse que eu a convenci a fazer um trato, mas isso não faz sentindo algum porque ela não quis nem olhar para cara dele depois do parto.

Mordi o canto do lábio, processando tudo.

–Como ela te encontrou tão fácil?

Seus olhos nadaram em raiva.

–Sheila e Raul.

Tremi involuntariamente. Jeff passou pela sala e foi direto para a cozinha, peregrinando como um leão enjaulado, batucando as mãos ao lado do corpo como um tique nervoso parecendo um tanto quanto com um garotinho que conhecia. Abriu a porta da geladeira e agarrou uma caixinha de suco de laranja. Tremi nas bases quando ele transbordou o líquido garganta adentro. Deus, meu corpo não podia se controlar nem em momentos de crise? A noite passada não tinha sido uma facilidade completa para que me adequasse tão rápido.

Bateu a caixa de laranja no balcão e se pôs a procurar mais coisas em seguida.

–Estou apostando todas as minhas fichas que eles dois procuraram Samanta primeiro. Ela sempre foi muito maleável, fácil demais de ser enganada.

Pisquei, confusa. Perdi-me no meio do caminho.

–Explique-se.

Respirou fundo e surpreendeu-me quando se moveu até o meu lado. Suas mãos calejadas caíram em minhas mãos perdidas na superfície do balcão. Apertaram-me, como se me preparasse para uma história ruim.

–Você lembra que Marco falou ontem...

–Hoje. – Corrigi-lo.

–Isso, hoje. – Mais uma tomada de fôlego e eu já suava. – Ele falou hoje que estava fazendo por ela e não por mim? Será que você prestou atenção nisso?

Balancei a cabeça porque isso, definitivamente, não tinha passado em branco.

–Marco e eu já gostamos das mesmas garotas antes.

Soltei o ar que prendia, aliviada.

–Eu lembro disso também. – Sorri com seus ciúmes. Olha só que bonitinho esse Jeff que encontrava tempo para se sentir assim comigo. – Lembro de vocês conversando que dividiam as garotinhas quando eram crianças, né? – Soltei um riso estabanado, frouxo e feio, mas que fez os cantos da boca dele se erguerem e foi o suficiente para me sentir a pessoa mais incrível de todas. – Jeff, você sabe que o Marco é um deus grego, mas não faz muito meu estilo.

Porque o meu tipo é você, completei mentalmente.

–Nunca é ruim ouvir isso. – Suas mãos apertaram mais nas minhas como se estivesse com medo que eu corresse. Suavizei meus olhos e o fitei com o carinho que ele me observava às vezes.

–Vamos lá, Jeff. Eu acho que já aguentei muita coisa até hoje, sou quase como uma muralha, né?

De repente ele ficou sério, seus ombros caíram e droga, isso iria ser ruim.

–Você matou alguém, é isso? – Tremi só de imaginar. – Alguém que eu conheça?

–Não! – Então mais baixo em seguida: – …Que você conheça.

Arregalei os olhos.

–Certo, Vida, preste atenção. – Mas eu já estava hiperventilando.

Ele me serviu suco de laranja em um copo, mas eu desejei que fosse igualmente da caixa. Ergueu o copo e me entregou numa das mãos.

–Beba.

Fiz no automático. Não esperou nem que eu retirasse a arma feita de vidro das mãos para jogar um avião nas minhas torres.

–Marco era apaixonado por Samanta, a mãe de Samuel.

Não, se isso conforta vocês, eu não agi como mocinha de novela e não derrubei o copo no chão, mas se pudesse, teria desmaiado bem naquele momento.

–Você está brincando comigo.

–Não. – Levou as mãos ao cabelo e bagunçou o que já estava um caos. – Porra, eu gostaria de estar brincando. Marco não sabia no primeiro momento que Samanta estava comigo, ele foi até a loja de publicidade de modo profissional, procurando algo para um site – seu rosto se contraiu ainda mais, raiva e mágoa agravaram suas características – Aparentemente é difícil se render aos charmes do homem. Ele já estava ligado quando descobriu que ela tinha algo comigo, mas prometeu cair fora quando eu disse que Samanta estava grávida de um filho meu.

Mordi os cantos da unha, apoiando o quadril no balcão da cozinha para enquanto ele cuspia toda a história de mau agrado. Aos poucos cada lacuna foi se encaixando, como um jogo de tetris.

Após um longo minuto de silêncio da parte dele, que parecia no atual momento mais interessado em fritar ovos, decidi dar uma de escavadora e ir mais a fundo nos detalhes. Vocês sabem, eu sempre estive vidrada nos detalhes.

–Como foi que você descobriu que eles estavam juntos?

Suspirou, ombros tensos, sinal claro de “PARE AGORA!”. Esperei.

–Ninguém esconde nada de mim.

Ergui uma sobrancelha para suas costas.

–Soou um pouco arrogante, não acha?

–Não me importo. – Com as mãos grossas e calejadas ele tratou de remexer a frigideira.

Será que ele tomaria coragem de falar comigo, olhando nos meus olhos, ainda hoje?

–Você não pode culpar Marco, Jeff. Ele não fez nada de errado aqui, ao contrário de...

Girou nos calcanhares. Borbulhando em sua própria lembrança raivosa.

–Você está de que lado, porra?

Arregalei os olhos e ergui as mãos.

–Por favor, sr. policial não me bata! – Sarcasmo não foi a melhor resposta, eu sei, mas foi o que escapuliu na hora.

Aproximei-me dele como quem faz a captura de um animal assustado, fui medindo sua reação em cada passo. Minhas mãos foram para seu rosto e aos poucos ele relaxou.

–Estou do seu lado, você sabe disso. Até quando não deveria estar, eu continuo do seu lado.

–Eu sei. – Pegou uma das minhas e carinhosamente beijou as costas dos meus dedos. – Desculpe por isso. É estúpido dizer que eu fiquei fora de mim quando soube que Samanta estava com mais alguém?

–Se você amava ela, não. – Tratei de esconder minha nota de ciúmes ridícula na frase.

–Não, eu não amava Samanta. Nunca amei. Só pensei que poderia quando ela disse que estava grávida. – Desviou os olhos dos meus. – Pensei que ela só tivesse cogitado aborto porque estivesse assustada, não sei... Quem está preparado para ser pai, certo? Eu pensei que nós poderíamos construir uma família. – Ele se perdeu por um momento, mas respirou fundo e seguiu adiante. – Mas ela não pode amar ninguém que não seja ela mesma e agora eu sei disso.

A amargura da sua voz me fez mudar de assunto.

–Como vamos escapar de uma mulher raivosa e uma gangue de criminosos?

–Não vamos. – Puxei minha cabeça até a sua, depositou um beijo na testa e foi até o fogão. – Vou terminar os ovos. Porque não vai sentando?

Não o obedeci.

–Como assim não vamos? Estamos embarcando em uma missão suicida?

–Não. – Desligou o fogo. – Não existe um estamos para assuntos meus. Você queria a verdade, aqui está, mas em momento nenhum disse que você participaria disso.

–Jeff...

–Não. – Cortou-me rápido, jogou um pedaço de carvão em um prato e colocou-o no balcão com tanta força que me impressionei do objeto não partir ao meio. – Você vai ficar onde é seguro. Você é inteligente e vai se manter distante.

Um sorriso involuntário repuxou nos meus lábios.

–Você está tão enganado, querido. – Sussurrei, baixinho, cá com meus botões.

–Pelo amor de Deus, Vida, tire esse olhar do rosto. Eu disse não e definitivamente vai continuar sendo um não.

Assenti, tentando soar a mulher mais submissa da Terra inteira. Colei a lateral do meu corpo com a sua.

–Porque eu não faço uma comida de verdade para a gente e então voltamos a falar coisas sérias depois?

–Comida de verdade é a sua panqueca? – Zombou.

Dei um soquinho em seu ombro que doeu como o pretendido.

–Porque você não vai na padaria e compra mais alguns ovos para que gente grande faça o trabalho?

–Suas panquecas não valem essa ida.

–Bento adora... – Meu sorriso se dissolveu na hora. – Ele adorava minhas panquecas.

Fitei o canto da cozinha onde ficava seus potes de água e comida. Estava vazio agora. Meus olhos arderam e eu desviei.

–Hey, vamos lá, Vida. – Puxou-me para ele. – Eu vou comprar os malditos ovos. O que mais você quer?

Abracei Jeff mais forte, adorando seu cheiro masculino e reconfortante.

–Que tal um bolo? Chocolate quente? Qualquer coisa, só dizer.

Os dedos calejados de Jeff passavam pelos meus cabelos em um cafuné carinhoso.

–Sinto muito. – Murmurou ele no pé do meu ouvido. – Muito, Vida.

–Eu também. – Tracei desenhos abstratos na sua pele. – Ele não merecia isso. – Inspiradas fundas e expiradas lentas, forcei um meio sorriso, mostrando para ele que estava tudo bem ou ao menos ficaria. – O bolo de chocolate ainda está de pé?

Jeff me abraçou tão apertando que quase ouvi os ossos das minhas costelas quebrando. Algumas batidinhas em seu braço foi o suficiente para que ele se afastasse e me desse um beijo de tirar o fôlego.

–Posso pedir bolos de chocolate para o resto da vida assim.

Aquela risada tinha feito falta, encheu um pedaço oco dentro de mim.

–Não se aproveita de um homem apavorado, Alma.

Murmurou um xingamento, mas seus olhos estavam divertidos. Ergui uma sobrancelha, uma sugestão para provar o contrário.

–Desisto. – Mãos para cima. – Você ganhou, sua manipuladora.

–Ganhei, hun? Qual é meu prêmio então?

Jeff estreitou o olhar, malícia queimando nele.

Alguns muitos minutos depois eu estava limpando o balcão da cozinha com vigor e cantarolava o tempo inteiro que Jeff tomava um banho, calçava os sapatos e vestia uma blusa. Quando ele se despediu mais uma vez e eu enviei beijos no ar, fiquei convencida que finalmente tinha virado uma daquelas pobres garotas apaixonadas no facebook. Vergonhoso e gostoso assim.

Permiti-me um sorriso lento no meu rosto que durou ainda algum tempo depois da saída de Jeff, não querendo que a solidão e silêncio me engolissem. Tomei um banho longo, lavei os pratos e varri a casa, que não necessariamente precisava de uma limpeza.

No meio de uma leitura de uma receita de brownies, esparramada no sofá com a TV ligada em um episódio de Greys Anatomy, o interfone tocou. Meu coração acelerou loucamente só ao ouvir o barulho e com as pernas bambas fui até a cozinha atendê-lo.

–Alô-ô?

–Bom dia, sra. Alma. Tem um homem aqui chamado...

–Brian. – Completou aquela voz do fundo.

Gelatina se tornou minha nova composição química. Onde está São Longuinho nesses momentos?


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Notas finais do capítulo

Quase coloquei o nome desse capítulo com uma música do Jeff Buckley chamada Hallelujah, vocês sabem o por quê.
Esse capítulo me deu um trabalho que Deus benza. Foi como escrever um quebra cabeça, começando pelo final. Mas tá aí, espero que vocês tenham gostado.



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