Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 34
Em caso de urgência.


Notas iniciais do capítulo

Caro Nyah, porque você não permite que eu faça minha nota inicial gigante?



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Antes de mais nada eu gostaria de agradecer Cupcake Assassino (amei o nome, aliás) pela linda e engraçada recomendação. Fiquei muito feliz em saber que OVS não vale a pena, mas sim a galinha inteira (gargalhei muito disso e então compartilhei com meia dúzia de gente).

Esse capítulo é dedicado a você :)

Querido Jeremy, espero que aprove. Esforcei-me um bocado para transcrever os seus gritos na minha cabeça. Lembro que esse tipo de linguajar não é bonito. E mãe, caso algum dia você leia isso, eu não falo assim.

"*But you only need the light when its burning low
Only miss the sun, when its starts to snow
Only know you love her when youve let her go" Let her go - Passenger

(*Mas você só precisa da luz quando está escurecendo. Só sente falta do sol quando começa a nevar. Só sabe que a ama quando a deixa ir.)

~*~*~*~

Ele sabia que eu não estava brincando quando disse que poderia enfiar uma bala na cabeça dele ou talvez no peito e observá-lo morrer agonizando. Aquele filho da puta sabia que eu era capaz disso. Ele tinha fodido com quem não deveria. Filho da puta traidor.

Raul estava se cagando de medo quando me viu na sua frente. Ele estava inaugurando a delegacia da cidade. Na verdade eu acho que o delegado, um pequeno homem cheio de si, mas que a esposa adorava trair com o padeiro, estava até feliz por poder inaugurá-la.

–Sabe com quem porra você mexeu, seu imbecil? - Gritei. - Assustou duas crianças e bateu na minha mulher. Na. Minha. Mulher! Pelo amor de Deus Raul, eu pensei que você era mais inteligente que isso.

O lugar ficou em pleno silêncio. Ele estava morrendo de medo de levar um tiro a qualquer minuto, estava todo encolhido na cama de ferro que rangia a cada respiração. Como um rato de laboratório assustado.

–Marcela disse que você não estava seguindo o plano. - Falou tão baixo que eu quase não ouvi. Para o azar dele eu ouvi e muito bem.

Segurei as barras de metal, a única coisa que separava nós dois, com toda a força que eu tinha. As veias dos meus braços saltaram e os nós dos meus dedos ficaram brancos. Eu queria matá-lo, eu ia matá-lo e mataria qualquer um que se aproximasse da minha família novamente. Mataria muito dolorosamente. Devagar, aproveitando cada segundo.

–Tire a porra da sua cabeça do seu rabo, homem. A Marcela está aqui com você? Ela vai tirar você daqui? Eu acho que não.

Os olhos de rato apontaram para mim. Medo. Ele estava com tanto medo que eu achei graça.

–O Clube vai me tirar daqui então.

Apertei meu rosto entre as frestas das barras de metal. Não pisquei. Não desviei. Nem sequer respirei duas vezes.

–Eu acho bom você ficar. Caso contrário, tenha o caralho de cuidado dobrado quando pisar na rua novamente. - Seus olhos se arregalaram. - Avise a Marcela ou eu mesmo irei: o plano acabou. Eu me entendo com o clube e vocês que se fodam.

***

Assim que Alma e a amiga dela entraram no ônibus, eu não perdi tempo em procurar nomes confiáveis na minha lista de contatos. Apague isso. Confiável não é a palavra certa. Diria útil. Muitas pessoas não iriam querer nem imaginar estar na mira de alguns contatos meus. Mas é como o ditado dizia: situações extremas, pedem que as medidas cautelosas vão para a puta que pariu.

Eu sabia em quem eu poderia confiar. Havia algumas dívidas que homens como Fernando me deviam, eram malditamente enormes e eu poderia me dar ao luxo de pedir (ordenar) o que bem quisesse.

–Preciso de vigia para uma mulher chamada Alma Manfredini. 24 horas. Porta do apartamento dela, no trabalho e pra onde ela for.

–Quando minha equipe começa?

–Hoje.

–Algum motivo especial para a perseguição ou é apenas a nova cadela em sua mira?

–Que tal o motivo não-te-interessa-porra?

–Ok. Peguei o tom. - E ele poderia se por no lugar quando necessário.

–É por isso que eu liguei pra você, Fernando. Algumas pessoas do Clube podem ir atrás dela. Eles não vão encontrá-la desprotegida. Posso ter isso?

–Claro, chefinho.

–Estou falando sério.

–Você me salvou do inferno uma vez. Eu sei retribuir em pequenos favores. Se acontecer algo com ela, está liberado para fazer o dobro comigo.

–Não apostaria em apenas nisso, se fosse você.

Desliguei o telefone e enfiei no bolso da calça. Sam estava saindo do sebo dos Oliveiras segurando a mão de Maia.

–Algo errado? - Minha irmã tinha aquele tom preocupado dela.

–Tratei de encher os lábios com um sorriso falso.

–Está tudo bem. Encontraram algo bom?

Sam ergueu o livro para cima, todo orgulhoso de si mesmo. Parecia ser mais um livro de geografia. Era sua mais nova obsessão e parecia que iria durar um bom tempo.

–Podemos comer alguma coisa agora? - Maia sugeriu.

Eu sabia do plano dela e da minha mãe. Elas pretendiam distrair nós dois o suficiente para que não sentíssemos falta da Alma. Eu também sabia que não estava funcionando. A cada assunto dito, Sam encontrava uma brecha para que ela fosse citada. E da minha parte eu estava ficando completamente maluco.

Mas saber que ela já estava bem suficiente para pensar nos outros, me deixa mais aliviado. Eu não queria ver nunca mais minha irmã em um casulo, e saber que o filho da puta passará o tempo certo preso para que eu consiga que alguém suma com ele lá dentro em apenas alguns anos, deixa-me mais feliz ainda.

Assim que entrei no café velho da dona Mica eu quase poderia ver Alma em seu avental e cabelos bagunçados caminhando até nossa mesa. Ela estaria exibindo um sorriso acidental e seu olhar curioso nunca a abandonaria. Eu estaria pagando uma pequena fortuna apenas para sentar e conversar com ela. E isso não é nem um terço do quão estúpido eu poderia ser.

Mas ao invés disso, na minha frente estava a própria dona Mica perguntando-me se eu iria querer os biscoitos de aveia de sempre.

Eu gostaria que os olhos curiosos na minha lembrança continuassem assim, entretanto, agora eles estavam tão cheios de mágoa e rancor que nem o velho biscoito de aveia parecia passar pela garganta naquele momento.

–Só um café forte.

–Tia Al ama café forte. - Acrescentou Sam como quem coloca no topo uma cereja para o maldito bolo.

***

–Eu posso ligar para a tia Al agora? - Foi a primeira coisa que Sam me perguntou quando chegamos em casa.

Olhei para o meu filho. Eu não sabia como amava tanto aquele projeto de gente que estava muito certo que ganharia um Nobel. Os olhos castanhos sempre me faziam lembrar da mãe dele e de tudo que ela perdeu por não estar ao seu lado.
Eu ainda espero que ela se arrependa pelo o que fez comigo. Não sei se espera que eu corra atrás da sua bunda, mas espero que ela tenha a fodida certeza que eu não vou. Eu não sou um cara de implorar e não seria por ela que eu o faria. Talvez eu tenha pensado que ela valeria a pena, mas ela definitivamente não vale.

Mas se arrependa principalmente por não tê-lo conhecido. Samuel é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. E nada me faria desistir dele.

–Pai. - Puxou a barra da minha camisa para chamar minha atenção.

–É claro que você pode. Quer meu celular?

–Não.

–Então como você vai ligar?

–Pelo telefone de casa.

–Ela te passou o número?

–Sim.

Observei enquanto ele teclava no número e o repetia baixinho. Grudou o telefone residencial no ouvido e aguardou. Eu sabia o quanto era difícil para ele se expressar assim. Ele amava Alma de um modo bem dele e nem todo mundo era capaz de entender isso, mas eu acredito que ela entende. Fingi que enchia um copo de água enquanto prestava atenção no que ocorria na sala. Samuel nunca foi de falar muito, no telefone ou em qualquer lugar, mas ele queria conversar com ela. Ansiosamente a palma da sua mão batia no móvel do telefone. Estava acompanhando o som da chamada na linha. A cada chamada, batia na madeira. Uma, duas, três... Respira. Quatro, cinco, seis... Respira. Sete...

–Olá, tia Al. - Sorriu.

Simples assim.

Quando ele era pequeno eu tinha que repassar as escalas de litro, metro e quilo (com direito a como transformar de kg para mm ) inteiras para ganhar um sorriso assim. Ela só precisava de um alô do outro lado.

–Nós chegamos bem.

Estreitei os olhos.

–Física e perfeitamente bem. - Sorriu mais. - Eu sei que posso ligar. - Pausa. - Mas tia Al, não se pode sentir falta tão rápido. Só se passou pouco tempo.

Eu sabia que deveria ter enchido o armário mais alto da cozinha com uísque. Mesmo depois de ter concordado com minha mãe que bebida alcólica nunca entraria nessa casa.

–Meu pai tá aqui, você quer falar com ele? - Sam piscou na minha direção, cheio de ansiedade, que logo morreu. - Tudo bem.

Porra, isso dói. Fechei a garrafa de água e bati a porta da geladeira tão forte que ela rangeu nas bases.

Mais algumas palavras baixas e então ele desligou.

–Você não se despediu?

–Ela disse que tinha que fazer algo. Não queria atrapalhar.

Balancei a cabeça em entendimento. Sabia que era só uma desculpa muito ruim da Alma para não falar comigo, mas meu filho nunca teria notado a diferença de um tom sério para um falso. Ela ainda pensava que poderia fugir de mim, mal sabendo que eu era tão bom em esconde-esconde quanto Bob Marley era em enrolar papéis pequenos (se é que vocês me entendem).

Será que entregam Johnnie Walker em casa?

***

Empurrei o carrinho para a seção de biscoitos e Sam me seguiu nos calcanhares.

–Podemos levar três biscoitos recheados hoje?

–Esperei um momento, deixando ele pensar que estava refletindo sobre o assunto. Quando autorizei, sorri quando virou correndo atrás dos seus biscoitos favoritos. Jogou no carrinho os três pacotes e pareceu bastante satisfeito consigo mesmo.

–Qual é o próximo da lista, pai?

Conferi a lista escrita com meus rascunhos. Deus, eu tinha sido uma droga nas aulas de caligrafia, ainda bem que não fui médico, mataria ao menos metade dos meus pacientes.

–Brócolis.

–Podemos pular brócolis hoje? - Fez uma cara de desgosto que me fez gargalhar no meio do supermercado.

–Não, garoto. Definitivamente não podemos.

–Mas levando outras verduras podemos suprir as necessidades do brócolis. - Argumentou.

–Isso foi um não, Sam. Não vai me convencer do contrário.

–Essa não foi uma discussão justa.

Seus olhos castanhos espremeram. Não gostou do resultado fracassado, mas deixou passar. Levamos dois sacos congelados do brócolis e um de batata frita. Estávamos no meio da lista e ele já estava andando mais lentamente e bocejando a cada cinco passadas. Dobrei a lista e enfiei no bolso da calça. Terminando por hoje.

Estava colocando os sacos de compra no porta malas quando Sam capotou no banco de trás com os pés ainda do lado de fora. Sono aos 5 anos é algo difícil enfrentar. Escorregando no banco do motorista, meu celular apita uma chamada.

–Relatório de Alma Manfredini. - Grunhi para o telefone.

–Rischio, homem, você está precisando de uma mulher para descontar toda essa frustração junta. Como está sua mão direita?

Rosnei. Como um cachorro. Não foi bonito ouvir.

–Fernando. Quero relatórios. Agora.

–Hey. Só estou brincando. - Barulhos de papeis do outro lado e então o sujeito limpou a garganta. - Essa mulher, Alma, tem uma vida bastante desinteressante.

–Tirando as reuniões com seu tio, que devo dizer foi algo engraçado de ver quando se perdeu na universidade, ela não muda sua rotina de passear com o cachorro, trabalho, casa e algumas vezes buscar a sobrinha na creche. Ao menos parece ser bem humorada.

–Uma qualidade que eu não tenho.

–Eu sei disso, camarada. O ponto é: não tem ninguém na sua cola, mas não acho seguro parar de mantermos um olho nela. Essa Alma é totalmente desligada, meus homens nem precisaram se esforçar, ela simplesmente não nota. Parece que vive mergulhada em seu próprio aquário.

–Não me diga...

–Eu estou curioso, Rischio, vamos, me responda... Como ela entrou na mira de pessoas como a gente?

–Se metendo com quem não devia. É um talento que ela tem.

–Quem diria que eu estaria vivo para ver você caído por um par de boas pernas?

–Ela é muito mais que duas pernas.

–Jesus. - Silêncio do outro lado da linha. - Lembre de me convidar para a cerimônia de amarrar as algemas.

–Para terem sua cabeça caçada de novo?

–Ao menos me mande alguns bem-casados.

Ri da sua ousadia. Fernando era um homem petulante, não era atoa que tive que salvar sua cabeça sumindo com algumas informações no clube.

–Mais alguma coisa útil?

–Há um dos meus homens perguntando sobre a amiga da sua mulher, uma tal loira.

–Hm.

–Seria um problema se envolver com ela?

Lembrei vagamente que Ellie tinha um namorado, eles moravam juntos ou algo assim, em seguida lembrei que Alma sabia coisas sobre mim mais do que estavam ao seu alcançe e que na época eu tive que saciar minha curiosidade de como ela sabia. Um tal de Collin era um monstro em caçar virtualmente a vida de alguém e foi fácil associar os fatos.

Mas eu não era uma das suas presas de caçada. Não gostei dele vasculhando sobre mim.

–Isso depende dela. Mas acho que estaria interessada.

–Ótimo.

Desliguei.

Pelo espelho retrovisor dei uma olhada em Sam no banco de trás. Odiei-me em ser tão ruim em escolher decisões certas. Alma em nossas vidas parecia certo, como uma peça de quebra cabeça que esteve escondida debaixo do sofá durante todo esse tempo e finalmente havia sido descoberta. E eu não estava disposto a deixá-la escorregar tão fácil.

***

Entrar no apartamento dela foi fácil. Tão fácil que se não fosse pela vigia constante dos homens de Fernando eu estaria alarmado. O porteiro ainda se lembrava de mim e nada que uma conversa animada de futebol não resolvesse.

A prática em abrir portas com um grampo de cabelo foi outra boa jogada [N/A: gente, isso realmente funciona, não comigo quando fiquei trancada do lado de fora de casa, mas para quem precisar (nunca se sabe) http://www.fatosdesconhecidos.com.br/tutorial-como-abrir-uma-fechadura-usando-apenas-grampos-ou-clips-de-papel/]. Subornar o cachorro não foi tão igualmente fácil. Bento estava bem decidido a arrancar alguns pedaços da minha pele antes que eu conseguisse concluir com o meu plano.

Minha teoria é que Alma tenha enchido os ouvidos do cachorro sobre mim. Ele me tinha como inimigo antes mesmo de me reconhecer. Só parou de rosnar e mostrar os dentes quando o ofereci algumas batatas fritas em troca de silêncio.

Espero que ela nunca saiba que eu subornei seu cachorro com fritura. Tenho certeza que ela não ficou contente com o osso canino, quiçá com batatas fritas que vinham com um litro de óleo grátis.

Jesus. Tenho certeza que ela correria atrás de mim com um machado.

A cozinha foi o lugar mais óbvio, aos meus olhos, para colocar seus presentes. Estava contando que ela não devolvesse a maldita câmara. Foi um inferno para achá-la de última hora e seria totalmente inútil para mim. Meu plano era colocar o envelope na porta da sua geladeira cheia de recados, quando ouvi a porta de um carro batendo pela janela da cozinha. Esgueirei-me no balcão e vi um táxi partindo assim que deixou duas mulheres paradas na calçada.

Porra!

Não acredito nisso. Não era para estar em casa tão cedo. Fernando tinha me garantido que ela havia saído para uma festa de formatura ou merda assim.

Saí em disparada do apartamento, o grampo na minha mão estava contorcido e não ajudou-me a trancar a maldita porta. Assim que terminei, gargalhadas altas e bêbadas estavam muito próximas. Corri para o próximo lance de escadas, partindo para o andar de cima e fiquei escorado na parede, agradecendo ao apartamento caindo aos pedaços pela má iluminação.

Os sapatos altos clicaram cambaleantes no chão.

–Foi tão engraçado quando aquele homem perguntou a gente se queríamos abrir um BO, você entendeu que ele estava falando sobre OB e disse que não usava absorventes internos.

Ellie riu tão alto do que disse que deve ter acordado o apartamento inteiro.

–Nem me lembre disso! - Alma não parecia tanto aos tropeços, mas demorou mais que o devido para enfiar a chave na fechadura.

Ela ficava fodidamente adorável bêbada. Seu cabelo estava uma confusão, o mesmo modo de quando eu a conheci e aquela maldita saia estava justa no quadril. Jeremy, olhos para cima. Seus risos cessaram, porém, assim que entrou no apartamento. Porra. Maldito sexto sentido do diabo que as mulheres tinham. A loira se bateu nas costas de Alma tão forte que por pouco ambas não caíram no chão.

–Ellie, algo está errado. - Exasperou alto. Graças a Deus essa mulher tinha escolta constante. Morreria em dois minutos por ser tão discreta.

–O quê?! - Tentou sussurrar de volta a amiga. Jesus, que dupla de corpos assassinados dava essas duas. - Ai meu Deus, um ladrão entrou na sua casa?

–Shhh! - Gritou Alma. Provavelmente querendo cobrir a boca da loira, mas acabando grudando as palmas das mãos na bochecha da amiga. Mirou o apartamento, avaliando a situação e então berrou: - Bento?!

E saiu correndo para o apartamento.

Eu juro que assim que Alma voltar para mim, nós faremos um treinamento para situações de possíveis perigos.

A loira ficou do lado de fora gritando para que ela voltasse enquanto Alma entrava no apartamento armada do seu estojo de mãos (as mulheres chamam aquilo de bolsa por algum motivo, eu ainda não sei o qual). Espero que no mínimo ela tenha uma faca lá dentro. Uma com cerras e pontiaguda.

Foi um verdadeiro stand up de 10 minutos. Por muito pouco não sentei no lance de escadas para rir das duas. Muito pouco. Ao menos notei que Alma tinha adorado o presente quando ouvi seus gritos e pulos lá de dentro. Estava sorrindo antes mesmo de notar. Minha viagem para a entrada da cidade atrás do objeto tinha valido a pena, no final das contas. Adicione a conta flertes de uma senhora idosa também.

Assim que Ellie entrou no apartamento eu me senti obrigado a ir embora. Espionar duas mulheres bêbadas parecia divertido, talvez quem sabe me juntar a elas no final ainda mais. Na verdade, colocando assim, poderia soar como se o limite tivesse sido quebrado e apesar de ser bom nisso, eu tinha algumas regras sólidas em mente.

Bati-me com uma senhora de meia idade no caminho enquanto ela espiava pela janela do apartamento no térreo, seus olhos azuis claros espremeram em minha direção com desconfiança. Sorri, quase tenso.

–Boa noite. - Acenei.

Acenou de volta com a cabeça. Afundando seu rosto no xale de tecido remendado como uma coruja contorce o pescoço, sem deixar de me acompanhar com os olhos até a portaria. Parecia a bruxa do 71 numa versão mais colorida.

Estou começando a entender porque Alma possui uma estranheza singular.

***

–Pai, porque você tá se comportando assim?

Congelei no lugar, prestes a beber mais um gole do café.

–Assim como?

–Estranho.

Empurrei mais uma torrada na boca.

–Não estou agindo estranho.

–Você está. - Falou mais alto.

–Não, Samuel, não estou. - Rebati mais alto ainda. Duas crianças de cinco anos na cozinha.

Olhou para a sua caneca meio vazia, pensativo, só para falar baixinho depois:

–Está sim.

Tombei os ombros, impotente. Hoje era sábado. O dia que ele, Mel e Alma iriam sair para uma sorveteria para comemorar o aniversário dela. Eu estava parecendo uma garotinha em seu primeiro encontro. Despejei o resto do café na pia e passei as mãos no rosto.

As coisas pioraram nessa semana. Ao passo que Alma estava segura e agora com a possibilidade concreta de voltar a faculdade, eu podia sentir que Marcela já estava conspirando contra mim. Tinha certeza que pessoas que antes poderiam estar comigo, estariam contra mim em breve. Marcela estava subornando, atraindo, persuadindo, como a maldita sabe fazer muito bem.

Eu tinha uma corrida marcada para amanhã e estava suando frio com isso. Tinha certeza que não era uma ocasional, algo soava errado nos telefonemas de Afonso, o cara carrancudo, bigodudo e com os dentes danificados pelo fumo, que sempre marcava os rachas.

Estava feliz por Samuel estar fora nessa tarde, tinha algumas coisas para fazer hoje que não podiam esperar.

Apoiei as duas mãos no móvel da cozinha, com os pensamentos a mil por hora, sem saber pelo qual dar prioridade primeiro.

Algo estava errado. Tremendamente errado. Não poderia arrastar mais ninguém comigo no que quer que fosse. Talvez só uma pessoa. Era justo levá-la comigo, certo?

–Nós podemos ir agora, pai?

Abri os olhos e girei nos calcanhares até Sam. Ele ainda estava sentado na mesa da cozinha, ainda encarando sua caneca de achocolatado meio vazia. Pisquei algumas vezes na sua direção. Perguntando-me, mas não querendo, se esses serão nossos últimos momentos juntos. Quase ri da linha dos meus pensamentos. Era claro que eu voltaria.

–Só mais uma coisa e então vamos.

Empurrei na mochila de Hora de Aventura, que Sam tinha ganhado no aniversário passado de Maia, roupas, escova de dente, sabonete e shampoo. Só por via das dúvidas, repeti comigo mesmo.

E então, no final da mochila, por debaixo de todas as camadas de coisas, coloquei o papel rabiscado.

Nada iria acontecer. Nada.

Quando voltei para a sala, Sam já estava pronto e batendo as palmas das mãos na calça jeans. Uma, duas, três vezes.

–Para quê a mochila?

–Para um caso de urgência. Nunca se sabe o que vai acontecer quando sai com a Alma.

–E a Mel. - Acrescentou. Sorri.

–Sim.

–Urgência tipo a casa pegando fogo?

–Quase isso.

–Então não acha melhor colocar um extintor aí dentro?

Meus amores,

Vou explicar a micro-novela.

Comecei a faculdade de veterinária. Quase um mês depois, já me adaptando a vida de caloura, as nomenclaturas dos ossos (santo seja) e as amizades, fui chamada na UFS (federal de Serrrgipe, minha cidade do ♥).

Foi um tal de correr pra trancar, correr pra matricular, correr pra comprar band-aid, correr porque correr é gostoso...

Mas depois desse tempo todo de demora, surgiram várias ideias para a fic que me deixaram hiper animada!

E, enquanto o próximo capítulo não chega, que tal dar uma conferida no blog de resenhas de livros, filmes, séries e mais o que vier? Meu e de mais duas amigas divas. Tá lindo demais ♥ http://curiosametamorfose.blogspot.com.br/

Espero que tenham gostado do POV/PDV, mas chamo POV pq o mcfly tem uma música assim haha

Beijo e queijo!


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Notas finais do capítulo

Nyah, você não pode combater minhas rebeldiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas



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