Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 26
Se fosse bom venderia.




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Virou uma espécie de hábito.

Todas as vezes que meus olhos batiam nos dele, ele desviava.

Todas as vezes que eu me aproximava, ele se afastava.

Chegou ao ponto de em pleno jantar em família, Marco preferir sentar ao lado da tia Lucy que ao meu lado.

Vasculhei por toda minha mente algo que havia deixado passar. Algo grave que havia feito para que Marco, o primo sexy do meu suposto noivo, tivesse ficado chateado comigo. Não achei.

Contudo, enquanto Marco se distanciava, Jeff e eu interpretávamos nossos papéis com 98% de perfeição, tão bem que até eu mesma estava começando a acreditar. E isso era o que mais temia.

Eu não tinha conhecido o Jeff carinhoso, mas ele existia. E isso o tornava quase irresistível. Mas aparentemente um Jeff só vinha com o outro de brinde, e o prêmio grátis que tinha recebido era o Jeff totalmente respeitoso e no seu limite. Sem investidas de algo mais a não ser inocentes beijos ao lado da família. Nada. Só nossas mãos sempre juntas, nossos corpos lado a lado e nada mais.

Minha Alma necessitada simplesmente rugia toda vez que o tinha perto, mas não perto o suficiente. Era frustrante. Extremamente frustrante deitar ao lado de um homem que não a queria do modo como você o quer.

Mas aquela manhã era um tanto quanto atípica. Começou logo cedo. Para ser mais sensata, a partir do momento que eu abri os olhos.

A cama estava vazia. Nem sequer no quarto Jeff estava. O cheiro de seu perfume ainda pairava no cômodo, no entanto. Era a primeira vez que eu acordava sozinha. Ele sempre estava ou dormindo ou já despertado, mas se arrumando.

Dei de ombros, deixando esse pequeno detalhe de lado. Meus pés bêbados me levaram para o pequeno armário de roupas que eu havia organizado com minhas coisas e com as de Jeff (uma fungada em suas camisas a cada dobrada), e em seguida para o banheiro.

Depois de um banho frio, eu já estava completamente acordada.

Acordada o suficiente para notar que a casa estava silenciosa demais.

Descer as escadas fez um barulho gigantesco.

Ninguém estava na sala, os burburinhos vinham da cozinha, tão baixos que era quase inaudíveis. Bárbara e a Murta que Geme estavam numa conversa aos cochichos lado a lado da mesa.

Passei direto, tentando não chamar atenção.

Estava um pouco mais frio que os outros dias do lado de fora. Encolhi-me imediatamente, maldiçoando minha falta de atenção para a vista da janela.

Encontrei a silhueta familiar um pouco distante dali. Ele estava recostado a uma árvore de grande porte, que remexia seus longos galhos com a ventania. Meio hesitante, caminhei em sua direção, afundando as mãos na calça jeans enquanto fazia meu caminho.

Seus olhos fixaram nos meus duramente antes de desviá-los. O cabelo loiro bagunçado o deixava ainda mais semelhante a um famoso, enquanto o meu estava semelhante a um ninho com recentes filhotes de passarinhos famintos.

Bem, eu já me sentia um pouco menos corajosa para ter essa conversa.

–Marco...

–Você não parece confortável aqui fora, querida. – Seus lábios esticaram em um pequeno sorriso, mas seus olhos, opacos, não fixaram-se nos meus.

–Estou bem. – Menti.

Parei ao seu lado, ambos estávamos debaixo da árvore.

–Eu sei que não é o momento apropriado, mas...

Então aqueles olhos bonitos voaram para mim. Meu rosto esquentou. Óh céus, que essa conversa não caminho por aí.

–Não é, Alma.

–Eu sei que não. Mas acho que você merece saber que estar debaixo de uma árvore prestes a um temporal, é o pior lugar possível.

Seu cenho franziu.

–Do que diabos você está falando?

–Da lei das pontas. – Esclareci, como se fosse óbvio iniciar uma conversa falando sobre isso. – Bem, você não estudou muito física e tudo aquilo sobre como evitar morrer com um raio?

–Deveria? – Soou irônico.

–Não. – Dei um sorriso encabulado. – Desculpe, eu só...

–Não deveria estar aqui.

–É sobre isso que eu estava falando! Eu aprendi algumas coisas realmente legais conversando com o Sam, é o poder de atração provocado pelas...

–Não, Alma, o que eu estou dizendo... – Fechou os olhos, respirou fundo e então suas mãos seguraram meus ombros. Ele não precisava disso para ter minha atenção, ele já a tinha. – Você não deveria estar aqui. Nessa casa.

–Não entendo sobre o que você está falando.

–Meu primo... Ele não se envolve com pessoas como você.

Oh droga, ele tinha sacado nosso teatro. Meu coração pulsou três vezes mais rápido. O medo de ser pega em flagrante me consumindo por completo.

–Eu sei disso. Mas todos nós temos direito a segundas chances, certo? - Eu já fui uma melhor mentirosa.

–Não é assim que as coisas funcionam, Alma.

–É exatamente assim.

–Não. Não quando isso é Jeremy.

Recuei tímidos passos, olhando em seus olhos azuis por um segundo antes de olhar para meus sapatos sujos de terra.

–Jeremy não se envolve com mulheres como você. – Eu sabia disso, mas ouvir era um pouco mais doloroso. Ele viu em meus olhos a mudança. – Olhe, querida... – Suas mãos buscaram as minhas, mas eu recuei mais ainda. – Eu sei que você é uma garota inteligente, a soma de todas as garotas que meu primo já teve e é por isso que eu estou lhe dando um toque.

Consideraria isso como um elogio.

–Muito obrigada pela sua... Hã... Atenção, Marco. - Afastei-me, desajeitada. - Mas eu sei cuidar de mim sozinha.

Um sorriso de escárnio espichou em seus lábios. Dois passos e eu já estava presa entre seus braços.

–Você está começando a me assustar, Marco... - Puxei uma lufada de ar para meus pulmões, meu coração a, no mínimo, 50 por hora.

Prendeu seus olhos azuis nos meus castanhos.

–Tente me escutar, querida.

Porque a parte masculina daquela família adorava apelidos bregas?

–Você não conhece Jeff. Ele não é o lobo mau que você acha que ele é.

O divertimento tinha sumido de Marco antes que eu pudesse completar a frase.

–Alma, eu sempre fui muito perceptivo desde criança. E adoraria que você acreditasse em mim quando lhe digo, querida, Jeff sempre foi assim, é assim e sempre será assim.

–E para alguém que estava me evitando, você parece-me bastante tagarela agora. - Cuspi de volta. Ok, já bastava minha própria família querendo tomar conta de cada passo meu, eu não precisava que um loiro, de olhos azuis, capa da Vogue o fizesse também.

Fechou os olhos, como quem toma uma dose de paciência.

–Tudo bem, querida. Você tem razão. Faça o que quiser. - Eu tinha conseguido passar minha mensagem, só não entendia porque me sentia mal agora. - Só fique esperta.

Então se afastou.

–Marco, espera! - Toquei seu ombro bem no momento que a torneira foi ligada lá de cima.

Inicialmente tímido, os pingos da chuva jorraram potencialmente em seguida.

–Vamos entrar. - O loiro (que Santo Antônio me abençoe, estava ligeiramente molhado, com os cabelos pingando e a blusa colada, o que só me fez pensar quanto tempo na academia ele deveria gastar) conduziu-me para dentro com a palma da mão em minhas costas.

Esqueci instantaneamente o que deveria falar e o segui, em silêncio.

Era algo como a caminhada da vergonha entrar em casa nesse momento.

Quando entramos na sala, o silêncio se fez presente. Será que Marta iria me expulsar de sua casa se eu ensopasse o chão de madeira polido dela?

Deixei Marco ir à frente por puro egoísmo e medo. Assim que chegamos a sala, todas as cabeças viraram-se na nossa direção. Sérias.

Eu nem tive a oportunidade de adentrar totalmente na família e já seria jogada para fora. Escondi-me, como uma criança, atrás de Marco (que graças aos deuses, era alguns bons centímetros mais alto que eu) e aguardei.

–Está acontecendo alguma coisa? - A voz de Marco preencheu a sala.

Jeff, que estava sentado entre sua irmã e sua mãe, se levantou. Será que minha tremedeira era normal ou era algum tipo de pré-convulsão? Lentamente, e da maneira mais dolorosa, Jeff se posicionou na frente de Marco.

–Nós podemos conversar em particular?

E quando meu escudo de defesa saiu do meu caminho, meus olhos bateram com os verdes acastanhados.

–Eu vou falar com você em seguida, Vida.

Sabe aquela sensação de ansiedade mesclada a pavor que você sente quando se é criança e apronta alguma coisa, falando algo errado no momento errado com as pessoas erradas, e sua mãe fica sabendo? Justamente quando ela lança aquele olhar... Bem aquele olhar e então você sabe. Pronto, ferrou. Nas melhores das opções, você vai receber um bom esporro quando chegar em casa.

Foi mais ou menos assim como eu me senti. De volta aos meus 8 anos.

–Ah, meu bem... Olhe só para você. - Marta veio em seguida, suas mãos calejadas segurando meu rosto. - Você pode pegar um resfriado toda molhada assim.

Bárbara fez algum comentário sarcástico de sua poltrona, mas todos pareciam muito absortos para notarem ela ou meu estado.

–Suba e coloque roupas quentes. Colocaremos essas roupas para lavar em seguida.

Ela não precisou falar duas vezes, em poucos minutos eu estava enterrada nas minhas calças leggin preta e com uma blusa confortável.

Marta estava acariciando os cabelos castanhos de sua filha quando eu voltei. Jeff e Marco ainda não tinham retornado. Com um breve aceno, eu soube que Marta pedia para que eu a acompanhasse até a área de serviço.

Era agora. Ela finalmente deixaria claro que eu não deveria fazer parte daquela família (duas pessoas em menos de 12 horas, eu deveria ir para o Guinnes).

–Meus meninos adoravam brincar na chuva quando eram pequenos. - Divagou, cutucando nos botões da máquina de lavar. - Meu Jeremy sempre foi tão cuidadoso com a irmã desde pequeno. Ele sempre a trazia para casa quando a brincadeira extrapolava um pouco dos limites.

Seus olhos ficaram nublados com nostalgia.

–Você tem uma irmã, não é Alma? - Pegou a muda de roupas das minhas mãos.

–Agatha, um pouco mais nova. Eu também... - Nunca deixava nada de ruim acontecer com ela, pensei em dizer. Mas isso era totalmente verdade? Dei tudo de mim para que nada ocorresse a minha irmã caçula, mas eu não consegui evitar que todo o mal fosse bloqueado através da minha manta de proteção.

–Você...? - Pisquei algumas vezes até encontrar o olhar de Marta em mim. Ela sabia, de alguma forma, não sei como. Mas aquela mulher tinha o talento de me fazer sentir diante de uma máquina de raio-X. Acho que se eu bobeasse, ela sabia meu CPF de cor.

–Sempre fui super-protetora. É algo que os irmãos mais novos devem fazer aos mais velhos, eles têm esse talento de precisar de proteção.

Marta sorriu.

–Eu entendo.

–Você faria qualquer coisa para proteger sua irmã, Alma. - Não era propriamente uma pergunta, mas eu assenti mesmo assim. - Jeff também. Qualquer coisa. E mesmo que isso me faça grata, isso me assusta. - Encostou-se a máquina de lavar. - Minha família já passou por muita coisa até chegarmos aqui.

Foi uma tarefa difícil permanecer com o rosto neutro quando vi seus olhos marejados.

–Eu só... Eu só queria dizer que eu estou feliz de Jeff ter você. - Fungou baixinho.

Acho que eu escorreguei, bati minha cabeça na pia e estou em um coma. Só pode.

–Meu filho esteve tão próximo do inferno que eu pensei que ele jamais iria sair de lá, entretanto você apareceu e... - Fungou novamente.

Precipitadamente, envolvi meus longos braços na pequena mulher de cabelos, em boa parte, grisalhos. Foi impossível não fazer um pequeno paralelo com a mãe de Jeff e a minha própria mãe. Corajosas, era um eufemismo para simbolizar o que elas eram. Após algum tempo, seu corpo afastou-se do meu.

–Eu tenho que te falar uma coisa, Alma. - Tomou uma longa respiração. - Eu conheço o filho que tenho. Ele não é uma pessoa fácil de lidar, mas ele tem um bom coração. E acredite em mim, você está a um passo de tê-lo em mãos.

–Marta...

–Meu pai costumava dizer que é amor quando viver com a pessoa é muito melhor que viver sem ela. Quando a gente reconhece os defeitos, mas aprende a conviver com eles. Não me olhe assim, meu pai era um homem inegavelmente romântico.

Senti minhas bochechas corarem. Ninguém poderia me culpar por não acreditar naquele tipo de sentimento arduamente. Eu só tinha presenciado relações amorosas frustradas, inclusive a minha. Parecia utópico demais.

Mas saber que talvez, somente talvez, para Jeff tudo aquilo estava seguindo um rumo bem diferente do planejado, me fez gritar de alegria. Eu deveria estar seguindo o conselho de Ellie “pegue e não se apegue”, mas isso era praticamente impossível quando se tratava dele (e bem... de mim).

–Coisas ruins vão acontecer, Alma. Fugir de algo assim é como fugir de uma tempestade em céu aberto. É meu papel, porém, lembrá-la que não existem somente vocês dois nessa relação.

–O quê? – Só me faltava ser corna novamente nessa altura do campeonato.

–Tudo que vocês fizerem vai atingir diretamente alguém, é o que mais me preocupa. – Seus olhos não me largaram quando tomou uma respiração falha. – Eu não posso deixar que isso interfira no Sam, Alma, não posso, não vou. Então eu quero que você seja sincera comigo, com ele, consigo. Dá mesma forma que lhe recebi de braços abertos, estou disposta a deixá-la ir se não estiver disposta a levar essa relação a sério.

Quando entrei no apartamento do meu ex-namorado naquela tarde do seu aniversário, pensei que a partir daquilo nada poderia me surpreender mais. Bem, Leitor, eu estava estupidamente enganada. Agora, minha suposta sogra, estava me lançando seu olhar questionador na minha direção esperando minha resposta verdadeira.

Eu nem sei como eu parava nessas encruzilhadas, de qualquer modo.

–Eu nunca o machucaria, Marta. Nem Jeff e acredite em mim, muito muito menos Samuel. Eu só quero... Que eles sejam felizes. Comigo ou não.

Ponto para mim. Marta sorriu e me deu tapinhas gentis no ombro e quando voltamos à sala, ela me perguntou quando seria o casamento.

Tinha acabado de mentir para uma mãe/avó desesperadamente preocupada com sua família. Eu me senti como se um caminhão de lixo tivesse passado por mim, dado ré para verificar que tinha sido atingida e, só para conferir, depositasse seu conteúdo no meu corpo, para esconder vestígios.

E as coisas pioraram quando nem ao menos tive oportunidade de fugir para a chuva, Jeff aguardava-me pacientemente, com as mãos enterradas nos bolsos da sua calça jeans. A mais nova de todas. Provavelmente alguém estava de saída.

De maxilar tenso, Jeff me puxou pelo cotovelo para uma cozinha vazia.

–Estamos de saída? – Averiguei.

–Eu tenho que resolver algumas coisas pendentes. – Estava de fora do plano, ok, saquei. – Mas antes de ir...

Nem notei quando seu corpo ficou perigosamente perto, mais perto dele que o ministério da saúde aconselhava. Sua mão tomou a minha, brincando com o anel de família até que seus olhos (malditos olhos) ergueram-se dele até mim.

–Eu não quero você perto do Marco, Alma. – Soando autoritário demais para meu gosto. – Para seu próprio bem...

Revirei os olhos.

–Deve ter escrito alguma coisa na minha testa hoje. Todos decidiram me pagar com conselhos ou sermões.

–Não é um conselho, Vida. Eu estou te dizendo para não andar mais com Marco.

–Vamos recapitular algumas coisas, Jeremy, porque talvez eu tenha me perdido no meio da história. Primeiro, - Levantei o dedo indicador. – Seu primo me vem com um papo super estranho de “Jeff não é quem você pensa que é” e... – Ergui outro dedo. – Então, achando pouco minha sorte, sua mãe decide ter uma conversa comigo. E me responda agora, Jeff, você prefere rosas ou lírios para o nosso casamento? Porque isso está me consumindo, Camarada. Nós ainda nem chegamos na cor do guardanapo e...

Em um movimento rápido ele tinha coberto meus lábios com os seus. Suas mãos (malditas mãos) percorreram da minha cintura até minha nuca, puxando-me mais contra ele. Jeff tinha dito algo que eu não havia aprovado, no entanto nem me lembrava no momento. Concentrada demais em explorar avidamente suas costas largas (malditas costas), seu cabelo bagunçado (maldito cabelo) e todo o Jeff, deliciosamente.

Senti-o sorrir enquanto se afastava para recuperarmos o fôlego.

–Cretino. – Cuspi. – Você está tentando mudar de assunto.

–Estou fazendo um favor a nós dois, Vida. – Sorrindo como um menino que havia ganhado doce, deixou que a barba por fazer roçasse na minha bochecha até chegar ao meu ouvido.

–Você vai fazer um bem por nós dois e irá se afastar do Marco. Ele não irá mais atrás de você, eu lhe garanto. Em contrapartida, você manterá distância. – Sussurrou no pé do meu ouvido. Eu não sabia o que aquele homem fazia com meu corpo, mas eu estava inteiramente mole em seus braços. Mordendo levemente o lóbulo da minha orelha, voltou a sussurrar com aquela voz rouca de propósito: - Estamos entendidos, Vida?

Balancei a cabeça em consentimento, totalmente embriagada pelo momento, e seu sorriso se alargou. Já se distanciando, eu o puxei pela gola da camisa.

–Espera... – Deixei minha cabeça cair na curvatura de seu ombro, minha respiração quase totalmente normalizada. – Sua mãe...

–Você não está fazendo nada de errado, Vida. – Sussurrou, mas sem o tom sexy (ainda bem, porque eu provavelmente afastaria a garrafa térmica e os potinhos de biscoito da mesa, só para tê-lo bem ali, na mesa). – Entenda isso. Não será surpresa nenhuma quando eu anunciar daqui a algum tempo que nós terminamos.

Quando. Não se nós terminarmos. A data de validade do nosso romance paraguaio estava chegando ao fim.

–Nós estaremos quites logo. Eu sei que você não irá me dever nada, mas... – Ele esperou. – Estava pensando se talvez eu pudesse continuar vendo o Sam.

Jeff, estranhamente, me apertou mais contra ele num abraço sufocante. Coitado, como se eu pudesse, ou quisesse, fugir para algum lugar naquele momento...

–Ele iria perguntar por você todos os dias. – Confessou-me.

–Isso é um sim?

As pontas dos seus indicadores desenharam algo invisível nas minhas costas, seu queixo apoiado na ponta da minha cabeça.

–Você sempre vai fazer parte da vida dele.

–E da sua? – Perguntei baixinho, quase para mim mesma.

Não me respondeu, ao invés disso, afastou-me pelos ombros e olhou nos meus olhos. Verdes, os dele pareceram-me mais sinceros que nunca.

–Eu só vou sair do seu caminho quando você me pedir, Vida.

Sorri, tentando quebrar o gelo que suas palavras produziram no ambiente e dei um empurrão nele de fraco. Jeff nem sequer movimentou-se um centímetro.

–Não conte com isso, Camarada. Eu não me rendo muito fácil.

–Vamos ver. – Soou irônico, mas um tanto quanto sério também.

Iria revidar com uma resposta engraçadinha quando a Bárbara, no seu pior estilo de ser, chegou praguejando. Imediatamente Jeff se afastou de mim, como se meu contato queimasse.

–Todos estão te esperando, Jerry. – Ele acenou e depois de me lançar um olhar desaprovador, Bárbara foi embora.

–Eu tenho que ir.

–Todos estão de saída? – Eu estava ficando para trás e sozinha?

Sua mão prendeu uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e sorriu meia boca, um sorriso totalmente forçado.

–Hoje é o dia.

Congelei. Um click se fez em meu cérebro. Por isso todos estavam tão estranhos hoje. Calados, quietos, invisíveis.

–Do julgamento?

Balançou a cabeça, colando, em seguida, sua testa na minha, seu nariz roçando no meu em um infantil beijo de esquimó.

–Não é justo te pedir isso, mas você poderia ficar com o Sam?

–Você sabe que eu amo aquele garoto...

Um fantasma de seu verdadeiro sorriso apareceu.

–... E com a Joana, a filha da Murta. Nós não queremos levar as crianças. Tia Lucy já nos dará trabalho o suficiente.

O azar da garotinha foi ter os pais que tem.

–Tudo bem.

–Sabia que poderia contar com você, Vida.

–JEREMY!

–Eu nunca fui com a cara dessa mulher. – Resmunguei entre sussurros. Jeff riu.

A Murta me passou sua filha sem grandes cerimônias, estava vestida como se estivesse indo desfilar no meio do tapete vermelho do Oscar e não queria estragar seu vestido com uma criança pendurada a ela. Estranhei quando não vi mais sinal de Marco, mas fiquei na minha.

Sam estava mudo no canto da sala. Só falou quando falaram com ele. Respostas curtas, objetivas. Despediu-se com um aceno quando todos partiram. Coitadinho, deveria estar nervoso com toda aquela situação.

Jeff se despediu de mim com um rotineiro beijo na testa. E dei-me a abertura de dar um meio abraço apertado em Megan. Essa estava com seus olhos nebulosos de volta, num estado de hibernação assustador.

Um calafrio passou por meu corpo, tratei de ignorá-lo.

Quando todos partiram, eu e Jô fomos atrás de Sam. Pequeno Newton estava sentado no sofá, abraçando o atlas do seu avô com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos.

–Sam, qual é o problema? – Perguntei, alarmada.

–O problema é que ele é um garotinho muito atencioso. – Girei nos calcanhares, meus joelhos vacilando. Atrás de mim estava um homem com um gorro preto na cabeça, três buracos no rosto para os olhos e boca. Olhos negros e vermelhos. Portando uma arma nas mãos trêmulas. – Mas um garotinho extremamente obediente.


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Notas finais do capítulo

TAANRAAAMMM!
Voltei. Em grande estilo. Nem tanto, mas ok.
Tinha me programado para postar esse capítulo na semana santa, não rolou. Minhas provas são sábados e domingos, então minha semana é realmente de segunda a segunda kkkkk De ontem não passava, mas daí eu comecei a passar mal e foi com determinação que eu bati o pé e hoje veio.
Preparem-se, queridos leitores, porque Obrigado e Volte Sempre está chegando, finalmente, num looping (procurei a palavra no goolge, não nego).
É o final, tia Loly?
Ele já esteve mais distante, caros leitores.
Mais uma vez me desculpo por qualquer erro no capítulo, revisei em partes isoladas, e por não ter respondido ainda os comentários do capítulo anterior. Mas eu sei que vocês são uns 22kos lindos e legais



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