Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 22
O Cupido e sua mira ruim.


Notas iniciais do capítulo

Dancei com o Diego no ritmo ragatanga quando recebi a recomendação da Vick. Amei a sua ideia de ler a fic tomando um chocolate quente ou cappuccino e indico aos outros leitores essa experiência. Menos se você mora em Sergipe ou se sua cidade é tão quente quanto a minha, sugiro um chocolate gelado kkkkkk
Muito obrigada Vick!
Esse capítulo é dedicado a você :)



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Tive um daqueles sonhos estranhos que a pessoa tem a sensação terrível que está despencando rápido e dolorosamente de um penhasco. Acordei ofegante e o corpo tenso.

Tive que piscar três vezes, deixar que meu cérebro voltasse a funcionar e raciocinar que aquele não era meu quarto, aquela não era minha cama e o homem que estava ao meu lado não era... Bem, meu.

Jeff estava deitado de bruços, seu ronco baixo e ritmado, seu rosto virado para o outro lado. Um lençol enrolado de qualquer jeito em sua cintura. Estava na ponta da cama, como que necessitava manter um espaço seguro entre ele e eu. Suas costas nuas, me dando uma melhor visão de sua tatuagem. Imaginei quando ele tinha feito, porque ele tinha feito... Eu gostava de tatuagens, contudo fugia da agulha como o diabo fugia da cruz.

Mais algumas piscadas e eu lembrei o que tinha acontecido ontem a noite. Ou melhor: o que não tinha acontecido.

Suspirei baixinho, jogando para lá o lençol que enroscava meu corpo, com um pulo, meus pés firmaram no chão de madeira polido. Tremi de frio e devido a algo pinicando a sola do meu pé.

Ignorando isso, andei nas pontas dos pés até minha mala. Com uma muda de roupas e minha nécessaire, tranquei-me no banheiro.

Minha cara estava ruim. Tão ruim que provavelmente eu poderia ser aceita na família Adams e ainda participar de um episódio exclusivo da Caverna do Dragão como Uni, o unicórnio, com o tamanho galo que carregava na testa.Tomei um banho frio e vesti uma roupa leve. Quando saí do banheiro Jeff tinha mudado de posição, mas sua respiração ainda estava tranquila. Ótimo. Eu poderia fugir sem ser notada.

Enfiei meu celular no bolso do short e fechei a porta silenciosamente.

–Fugindo?

Um grito falho saiu da minha garganta. Marco estava parado na minha frente com seus cabelos loiros molhados de um recente banho, o cheiro de loção pós-barba pairando pelo corredor. Muita informação para curto espaço de tempo.

–Não está meio cedo para você estar acordado, não? – Meu coração martelava contra as costelas.

–Eu iria dizer o mesmo.

–Não conseguia dormir. – Ok, o susto já tinha passado, meu coração poderia estabilizar agora. Mas a visão daquele loiro de olhos azuis com sua bermuda cinza folgada e uma blusa de Pearl Jam estava me levando a loucura.

–Eu também não durmo muito. – Deu de ombros. – Quer tomar um café? Estou louco para alimentar meu vicio matinal.

–Não, não precisa, obrigada.

–Eu insisto.

Seus passos silenciosos caminhando pelo corredor sem esforço. Eu iria dizer que ele tinha entendido errado, que se tinha algo que sobrava em mim era sono, mas não o corrigi.

Segui-o pelo corredor, girando o anel-fortuna no dedo nervosamente.

Meio hesitante, aconcheguei-me à mesa da cozinha, enquanto Marco enchia um bule com água e o colocava no fogão. Perguntei-me se ele morava sozinho, se ele tinha aquele estranho hábito de andar como um gato, sorrateiramente, desde pequeno e se ele tinha um bom relacionamento com o pai falecido (que Deus o tenha).

–Minha tia Marta tem o costume de dizer que uma xícara de café pode fazer milagres.

–Então pode me dar uma jarra inteira. – Falei baixinho, mais para mim mesma, mas ele ouviu e estreitou o olhar.

Como uma perfeita exatidão, escoou o café e encheu duas grandes canecas. Escorregou o corpo pela mesa da cozinha, ficando de frente a mim, seus olhos azuis nos meus castanhos, ofereceu-me uma das canecas e assoprei a fumaça distraidamente enquanto mergulhava duas colheres de açúcar.

–O que você faz da vida, Alma? – Beirava a simpatia e curiosidade.

–Na verdade... – Ajeitei-me na cadeira – Eu gosto de dizer que sou responsável em distribuir alegrias aos outros.

–Ah é? – Ergueu uma das sobrancelhas.

–Sim. Eu entrego as pessoas cookies e elas me pagam sorrindo.

Marco soltou uma gargalhada que... Meu Deus, o que era aquilo?

–Trabalho num Café, mas falar assim soa muito prosaico. – Seus olhos não desviaram dos meus nem quando bebericou seu café. – E você, o que faz?

–Ajudo as pessoas encontrarem seu verdadeiro amor.

Se Marco não tinha conseguido me deixar boquiaberta antes, agora, definitivamente, ele o tinha feito.

–Tipo o Cupido? – Consegui perguntar, quando finalmente saí do meu transe.

–Tipo o Cupido. – Marco estava exibindo aqueles dentes que com certeza tinham sofrido clareamento ao menos duas vezes.

Por algum motivo, eu tinha achado aquilo fantástico. Não questione muito, Leitor, já deu para notar que em matéria de estranheza eu era perita.

–Você faz parte de um site de relacionamentos? – Soava interessada, mas um tanto quanto risonha.

–É uma rede, na verdade. A sede fica na França e eu comando a filial aqui. Temos um site, obviamente, mas nós promovemos todo o encontro para o casal. Nosso trabalho está muito além do que uma rede social de encontros e... – Pousou a caneca na mesa, sacudindo a cabeleira loira. – Devo estar te enchendo o saco, não é?

–O quê? Claro que não. – Deslizei para a ponta da cadeira, quase me debruçando na mesa. – Eu sempre quis saber como funciona isso. Não por mim, lógico! – Sorri envergonhada. – Só curiosidade.

Engoli metade do meu café, com o líquido negro fervente deslizando pela minha garganta.

–Tem gente que conhece realmente a outra metade da laranja?

–Mais de 40% dos meus clientes acabam firmando um compromisso sério.

–E os outros 60%?

–São persistentes, tenho cliente que já está em sua 15ª tentativa.

–Talvez o problema não seja dos 14 que se passaram, talvez esteja nele. – Falei com a voz falha. Eu tinha acabado com minha pobre garganta.

–Você está certa. Nós torcemos para que ele entenda isso quando seu 50ª também não der certo.

Eu ri de seu jeito sério de ser brincalhão. Ellie classificaria Marco como um Deus Grego e faria uma análise rápida de como ele deveria ser na cama (ela sempre faz isso), mas ele era mais que ser um rostinho bonito, ele era engraçado e inteligente. Ao contrário de Jeff, ele parecia ser um livro aberto e suas frases sendo preenchidas sem esforço algum.

Marco não parecia ser o homem que fugiria se eu me entregasse. Ele teria dado valor, ele teria tornado uma noite inesquecível. Ele... Droga, eu tinha que parar de fazer paralelos aos erros de Jeff.

–Temos até uma página exclusiva para nossos clientes homossexuais... – Interrompeu meus pensamentos. – Na verdade, é uma das mais acessadas.

Um choro infantil rompeu o silêncio da casa antes que eu pudesse lhe responder. Uma loira descabelada entrou na cozinha com um bebê em seu colo, a garotinha aos berros quase pendia de seus braços.

–Escandalosa. – Resmungou a Murta que Geme antes de olhar na nossa direção e parecer surpresa. – Vocês dois aqui?

–Acho que a Joana está com fome, Pam. – Marco bebeu mais uma vez de seu café, tão despreocupado quanto antes.

–Essa pestinha sempre está com fome.

A Murta bateu em pelo menos meia dúzia de panelas, ocasionando um barulho estridente, até encontrar a que queria. Parecendo desajeitada, segurou uma Joana berrante em um braço e com o outro vasculhou a geladeira.

–Quer que eu a segure? – Ofereci-me antes que presenciasse e um homicídio doloso.

Seus olhos zafira me analisaram de má vontade, mas quando me levantei e estendi os braços na direção da garotinha ela veio de bom agrado.

Eu adorava crianças e isso não era novidade. Embalei-a no meu colo com o cuidado que faltava na Murta e usando a voz ridícula para bebês, logo a menina gargalhava. Uma porta bateu e lá estava Marta na entrada da cozinha, me observando com aqueles olhos questionadores e ao mesmo tempo gentis, em uma das suas mãos ela segurava uma cesta cheia de ovos e algumas plantas.

–Quantas pessoas de pé tão cedo. – Sorriu amigavelmente.

–Fui forçada. – Resmungou a Murta.

Revirei os olhos sem sentir. Eu sabia muito bem que havia dois tipos de mães: as que brincavam de casinha e as que realmente eram mães. E, definitivamente, a Murta que Geme, brincava de Lá-lá-lá-lá-Polly (N/A: Alguém se lembra dessa musiquinha? Não é da época de vocês? Ok.).

–Parece-me que a pequena Jô está muito bem, Pâmela.

A ruiva praguejou, massageando as têmporas.

–Parece que faz séculos que eu não tomo um bom banho.

–Eu cuido dela, querida, pode ir tomar seu banho com suas frescuras. – Marta tinha o tom suave igualzinho ao da sua filha, era cauteloso e mesmo assim sério.

–Você faria isso? – Marta pousou a cesta na pia e se virou para a loira, um sorriso fino em seus lábios. – Muito obrigada, Marta. Você não sabe o quanto de saudades estou dos meus sais.

Empurrou a mamadeira recém-fechada para minha sogra e sumiu escadas acima.

–Ela só estava esperando uma pequena brecha, tia, você a deu uma fenda inteira.

–Não seja tão duro com a mulher, meu bem. – A mulher mais velha pegou dos meus braços a loirinha. – A maioria das mulheres sabem a consequência de ter um filho, outras são como Pâmela. – Chacoalhou a garotinho em seus braços experientes e me lançou um olhar. – Acho que você não terá esse problema, não é Alma?

Oh Santo das Terras Profundas, cave agora um buraco para que eu possa me enterrar. Corei até as pontas das orelhas. Marco explodiu numa gargalhada estrondosa, talvez ele não estivesse rindo se soubesse no que quase aconteceu ontem. No quanto àquela afirmação poderia ter sido colocada a prova.

–Nós... – Engoli em seco. – Ainda não planejamos ter filhos. – Não tive coragem de fazer contato visual nem mesmo com Joana. – Temos o Sam e...

–Você não espera que eu me contente só com um neto, não é, querida?

Estava prestes a sair correndo quando um limpar de garganta rompeu a cozinha.

–O que você está fazendo com a Alma, mãe? – Um sonolento, descabelado e mais sexy ainda, Jeff aproximou-se de mim. Vestindo uma calça de moletom folgada e uma blusa flanela. A cada passo seu em minha direção, meu coração fazia um mortal entre minhas costelas. Antes que Marta respondesse, suas mãos pousaram na minha cintura, seus lábios pousando na minha... Testa suavemente.

Tratou de se afastar rápido, procurei seus olhos, mas ele estava sem qualquer tipo de emoção. Era fachada, notei, parte do teatrinho para sua família. Algo em meu peito murchou.

–Só estava exigindo o que qualquer avó quer: mais netos. – Ele deveria ter ficado surpreso, mas seus olhos esboçaram o mínimo de atenção, sua boca espichou para cima.

–Ela será uma ótima mãe. – Soou sincero. – O que você acha de um time de futebol, Vida? – Até mesmo brincando seus olhos não mudaram.

–Com direito aos reservas. – Respondi e mais um lampejo de emoção brilhou nos verdes acastanhados. Marta falou algo em aprovação, Marco duvidou da capacidade de Jeff, ele nem sequer revidou, seus olhos presos nos meus.

–Nós podemos conversar? –Soou baixo e rouco, da maneira que eu temia.

Ele iria dizer o quão longe nós fomos ontem, iria deixar claro que era um erro. Como minha parte racional deveria pensar.

–Claro. – Minha voz falhou.

Ele me guiou até a parte de trás da casa, para um quintal cheio de plantas coloridas e com uma pequena agricultura de subsistência. Nós poderíamos ter sentado em um dos bancos, mas permanecemos em pé.

–Eu quero que você preste atenção no que eu vou falar. – Sussurrou e um tremor involuntário percorreu meu corpo. Se estivéssemos sentados, talvez não houvesse o sério risco de que essa conversa acabasse no chão, para onde meus falhos joelhos estavam me levando. – Hoje é o dia da missa e é a hora de cumprir minha parte do trato. Você precisa causar uma perfeita impressão se quiser ter ao menos uma chance de uma bolsa de estudos. Não razoável, não boa, mas uma perfeita impressão.

Deixei um suspiro de alivio escapar quando notei que o assunto da conversa era totalmente diferente do que eu pensava, foi passado despercebido.

Jeff me entregou um verdadeiro dossiê sobre seu tio Oliver, com o tom de voz sério que eu nunca tinha o visto usar antes. Falou-me dos pequenos detalhes de como se portar diante da presença do homem, de nunca falar muito alto ou “não tamborilar os dedos quando estiver impaciente”, como ele disse. Oliver passaria apenas dois dias na casa da sua irmã Marta e eu tinha apenas 48 horas para mostrar o quão maravilhosa eu era.

Só tinha um detalhe: eu talvez fosse tão maravilhosa assim e eu deixei a missão impossível clara a partir do momento que eu comecei a notar mais na sua calça de moletom escorregando pela sua cintura do que no que ele falava. Porque ele tinha que ter a perfeita escultura de um V?

–Alma. – Sua voz tentava soar chateada, mas parecia mais risonha. – E sobre ontem a noite... – Prendi a respiração. – Espero que você entenda que eu nunca poderia colocar você na frente da minha família.

Eu murchei mais rápido que um daqueles bonecos de posto de gasolina, com suas mãos voando em todas as direções. Mas notei a presença de Deus um pouco maior quando meu celular começou a tocar. Era uma graça divina que eu deveria aproveitar.

A foto sorridente de Ellie piscava na tela. Eu nunca estive tão feliz por receber uma ligação sua. Fiz cara de pôquer para Jeff, algo como: ligação-de-negócios-tenho-que-atender e acenei para o celular e então me afastei.

–Elliezinha, meu amor. – Cantarolei quando a atendi.

Ah meu Deus, Alma! Ainda bem que você atendeu! – O sorriso sortudo que eu carregava morreu assim que eu ouvi seu tom de voz.

–Ells? O que foi que aconteceu?

Não pire, ok?

–EU TENHO MOTIVO PARA PIRAR? – Eu tinha pisado nas metades das plantações de rosas graxas sem sentir.

Não. Quer dizer... Sim. Não sei. Talvez! – Sua voz berrava do outro lado da linha.

–Ellie...? – Perguntei num fiapo de voz, notando que a presença divina que eu tinha sentido não passava de calúnia da parte do Cara lá de cima. – Não é o Bento, é?

Ouvi uma fungada.

Eu sinto muito, Alminha.

–O que aconteceu? – Meus olhos já ardiam e eu sabia que a qualquer momento eu estaria encharcando o gramado inteiro da minha sogra.

O Collin... Ele se esqueceu de fechar o portão hoje de manhã e.... E o pulguentinho o seguiu para fora, bem na hora que o carro dos correios passava e... Ele não morreu, ok?

–Você está tentando me reconfortar? – Berrei como uma louca, não me importando se iria acordar alguém naquele momento. – O que aconteceu com o meu bebê?

Ele quebrou uma patinha da frente, mas agora ele está melhor. – Mais uma fungada. – Só que eu tive que ligar para alguém... Porque nem eu e nem Collin sabíamos muita coisa sobre cachorros, nós nunca tivemos um e... Tinha alguém que já conhecia o Bento.

O telefone deve ter sido arrancado de sua orelha, porque no instante seguinte uma voz totalmente rouca soou:

Eu vou cuidar do Bento até você voltar, Alma.

Eu quase me engasguei.

–Brian?!


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Notas finais do capítulo

Eu demorei para postar esse capítulo e nem respondi todos os reviews. Massss pelo menos eu avisei que as coisas ficariam russas pro meu lado ~ninguém usa mais Russa como gíria, Louise.~ Desculpem-me.
Eu irei responder todos os comentários, podem ficar calmos. Só fazia mais de uma semana que eu não postava e sabia que estava em débito com vocês, por isso decidi postar o capítulo logo.
Então é isso, não pude revisar o capítulo com calma, então perdoem também.
Essa autora anda meio pirada, mas eu adoro vocês e ainda não pretendo parar a fic :3
CÂMBIO DESLIGO Xxx