Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 20
Jerry e Jeff.




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–Você está tremendo. – Sussurrou.

–Eu sei. Estou tentando parar, mas é como não comer chocolate na Páscoa, como pensar em Hulk e não pensar em verde, é como...

–Só... Sorria e acene. – Interrompeu-me.

–Ok, sorrir e acenar. – Balancei a cabeça em consentimento. Estávamos nos últimos degraus da escada quando eu parei. – Hey! Eu conheço isso, são os pinguins do Madagascar. – Jeff me lançou um olhar gélido lá de baixo. – Desculpe, eu falo coisas sem sentido quando estou nervosa.

Estendeu-me sua mão e revirou os olhos.

–Só quando está nervosa?

Eu teria revidado se um vulto não tivesse passado por nós dois rapidamente e parado na minha frente.

–Olha só se não é a garotinha esquentada!? – E essa era a Bárbara, exatamente como eu imaginava, mas bêbada. – Você ainda pensa que eu estou transando com o Jerry?

–Babi, dá um tempo. – Jeff apertava tão forte minha mão que quase gemi de dor.

–Priminho... – Seus olhos pintados vagaram para ele e sorriu amigavelmente. – Estou surpresa o quanto essa daí durou. Devo dar meus parabéns ou pêsames?

Senti meu sangue começar a esquentar. Dirigi meu pior olhar psicopata para a garota, mas ela nem sequer me observava.

–Você está bêbada.

–Bêbadas falam a verdade. – Seus olhos vagos passaram por mim novamente, sorriu, mostrando todos os dentes que eu classifiquei mentalmente como presas e saiu.

–Eu te avisei. – Foi só o que ele falou antes de diminuir minimamente o aperto em minha mão e seguirmos até a sala lado a lado.

–O que ela quis dizer com...

–Não leve a sério o que ela fala, Vida.

–Olha quem chegou! – Maia pulou do sofá quando adentramos o cômodo, seus braços envolvendo o pescoço do irmão, afastando-me alguns passos.

Quando eu tomei coragem para olhar a sala, me arrependi, todos os olhares estavam na minha direção, analisando-me como se eu fosse um daqueles pedaços de carne giratórios em restaurantes de rodízio.

–Olá – Ergui a mão em um aceno e sorri, sentindo-me patética. Sorrir e acenar só funcionava para pinguins. Pedi ajuda com o olhar para Jeff, mas ele estava ocupado com a irmã nesse momento. Ótimo.

Mãos acenaram na minha direção sem muita boa vontade.

Um sofá grande cinzento de três lugares e uma poltrona, formando um L, com uma TV de plasma (chocada que essa tecnologia tinha chegado aqui) em uma das extremidades da sala e o mais incrível de tudo: um piano preto que estava colado a parede. Pensei em Maia tocando, ela tinha um porte de pianista perfeito, mãos delicadas e já poderia imaginar seus longos cachos negros de um lado para o outro enquanto tocava alguma coisa tocante.

Um homem estava na poltrona, uma mulher sentada muito (até demais) confortavelmente em seu colo e presumi que esse era Joaquim e sua esposa, ninfomaníacos.

Uma mulher com uma bengala reluzente estava uma das extremidades do sofá, me fuzilando por trás dos óclinhos meia-lua, uma carranca não muito convidativa. Tia Lucy. Ao lado dela estava a mãe de Jeff, sorrindo-me afável e Sam ao seu lado, acenando com sua mãozinha para mim.

Um alívio gigantesco se fez presente quando eu fui até ele e Arquimedes que estava espremido numa sobrinha de espaço do sofá, alguém que eu conhecia, um garoto e um gato, mas eu os conhecia.

Sentando-me no tapete da sala pensei se muitas garotas já tinham sentindo essa sensação de fora-de-encaixe que eu estava sentindo. Provavelmente Jeff já tinha trazido tantas delas que sua família nem ligava mais se ele trouxesse mais uma. Mais uma.

–Acho que alguém pegou meu lugar. – Quase engasguei quando olhei pra cima.

Acho que Jeff tinha me esquecido de contar sobre alguém, foi a primeira coisa que pensei. A segunda foi um resmungo sobre como todo mundo nessa família parecia ter olhos claros invejáveis. E outras coisas, logicamente.

Quando olhos azuis sorriram para mim, quase deslizei pelo tapete como uma gelatina em um dia de verão. Imagina se... Oh Deus, ele já estava sentando ao meu lado. Eu estava muito velha para babar por um loiro de olhos azuis?

Ele tinha um rosto quase totalmente perfeito, deveria ser até simétrico, seu nariz era um pouco torto, mas parecia mais um charme do que um defeito, de qualquer jeito.

–Marco – estendeu-me a mão... E que mão. Espera, eu não tenho taras por mãos. Não, meu lance era os pés e... Esqueça, eu gosto de sorrisos.

–Alma. – E a minha quase se foi quando ele espalmou minha mão e beijou as costas, seus olhos em momento algum desviando dos meus.

MAS O QUÊ?

Eu era uma garota comprometida. Por 2 semanas, apenas. Depois eu estava livre, leve e solta. Aguarde-me loiro. Deus, eu estava andando muito com Ellie, acho que sua doença era contagiosa.

–Não sabia que você viria. – Desviei dos olhos hipnotizantes azuis para os verdes acastanhados. O maxilar de Jeff estava contraído, não parecia um bom momento para ele, que pena.

–Era meu pai, lógico que eu viria para me despedir dele. – Rebateu ele se levantando com graça. Ele era só um pouco mais baixo que Jeff, mas esses dedinhos a menos nem faziam falta.

–Não era uma das suas pessoas favoritas, pelo o que me lembro.

O loirinho estava começando a ficar vermelho. A sala tinha ficado estranhamente silenciosa agora. Ambos em pé e eu lá, sentada encolhida no chão. Comecei a me levantar também, fracassando na ideia de parecer uma dama enquanto o fazia, mas meu jeito desajeitado comoveu o loiro, que no segundo seguinte tinha me ajudado a me firmar.

Olhos verdes acastanhados exibiam uma calma controlada a força, mas suas mãos puxaram-me pelo antebraço até ele, fincando os dedos com força.

–Deixem de besteira, garotos. – Marta acariciava um Arquimedes manhoso em seu colo. – Tenho certeza que meu irmão, onde quer que esteja, não iria gostar disso.

–Não me importo o que ele acharia ou deixaria de achar, mãe. Com todo respeito. – Ele não tinha uma cota muito grande mesmo.

–Desculpe, tia Marta. – Os doces azuis desviaram-se rapidamente para a idosa e sorriram. – Só estava cumprimentando a nova garota. – Ele piscou para mim. Assim, na cara dura.

–Eu vou quebrar seu nariz novamente, Marco. – Avisou Jeff em tom assustadoramente calmo e claro.

O loiro ergueu as mãos para cima e riu inocentemente, pareciam as badalas das 18 horas em meus ouvidos.

–Não sei por que tanta posse. Nós costumávamos dividir as garotas.

–Até a 3º série. – Grunhiu.

–Jeff... – Chamei-o baixinho, esperando que ninguém fosse ouvir, o que foi bem idiota da minha parte, provavelmente se eu tivesse gritado as pessoas não teriam ficado tão atentas para o que falaria. – Você pode... – Limpei a garganta. Meu braço estava começando a ficar dormente. – Está me machucando.

E me soltou como se meu contato queimasse. Um desculpe entre dentes saiu com esforço.

–Eu te dei o máximo de educação que consegui enfiar nessa sua cabeça, Jeremy, seja um homem e apresente Alma para o resto da família.

Jeff resmungou baixinho, mas não contradisse a Madre Superiora, digo, sua mãe. Sua mão me puxou mais delicadamente pela cintura.

–Tudo bem. Alma, esses são os novos papais, Joaquim e sua esposa. – Sorri na direção de ambos.

–Pâmela, meu nome é Pâmela. – Tratou de interromper a mulher com uma careta nada simpática.

–Mas nós gostamos de chamá-la de Murta que Geme, diretamente saída dos livros do Harry Potter.

Dona Marta fez um guincho reprovativo e eu tentei ao máximo engolir o ataque de risos que explodiu em mim.

–Tudo bem, essa é... – Ele me conduziu alguns passos para o lado foi quando senti uma pontada próxima do joelho, pulei com o susto. – É a tia Lucy, e sua bengala, fuja delas.

Então um vislumbre de dourado passou por mim, atingindo perfeitamente o estômago de Jeff, com um gemido baixo ele sorriu forçadamente e acenou para a mulher de cabelos brancos desgrenhados.

–Sempre um prazer, tia Lucy. – Então ele murmurou no pé do meu ouvido, baixinho o suficiente para que alguém ouvisse. – Ela é mãe da Bárbara e do Joaquim, pegue leve com ela, coitada.

Tentei lançar meu melhor sorriso encantador para a idosa, mas eu recebi uma carranca em resposta. Por Deus...

–E é isso. Você irá adorar nossa família, eles são incríveis e não gritam nadinha.

Stai zitto, stronzo! – E para minha total alegria Bárbara estava de volta, suavemente seu novo copo com um líquido amarelo escuro.

Uma explosão de gargalhadas se fez presente na sala, os únicos que ficou tão confuso quanto eu foi Arquimedes.

–O que foi? O que ela disse, Jeff? – Mordendo-me de curiosidade puxei a manga de sua camisa.

–Disse que gostaria de se casar comigo. – Ele exibiu seus dentes perfeitos em um sorriso, seu braço envolvendo-me mais aconchegadamente pelos ombros.

–É sério? – Meu queixo estava quase no chão. Será que relacionamentos incestuosos era permitido na Itália, gente?

–Não, Vida. Mandou-me calar a boca e me chamou de babaca.

Isso fazia mais sentido.

–Chega de discussão. Não queremos assustar a visita. – Maia sorriu para mim, seus cabelos negros estavam perfeitamente bagunçados e adoráveis. Saltitou até o canto da sala onde estava o piano e... AHA! Sabia que ela era a pianista. – Porque você não toca para a gente, Jerry?

Esqueçam-se do meu queixo, eu realmente não o tinha mais. O meu Jeff se assemelhava mais a um cavalo que um pianista. Onde o sentido do mundo está nesse momento?

–Você toca? – Gaguejei, surpresa.

–Costumava, mas faz muito tempo e eu nem era grande coisa, na verdade. – Ergueu levemente os ombros e os relaxou.

–Não seja modesto. – Maia prontamente o defendeu. – Os Natais não são mais os mesmo sem você tocando.

–Não me lembro mais das notas, Maia.

–Só tente. – A morena insistiu com sua voz fina.

Jeff exibiu aquele meio-sorriso, nada provocativo como o que ele destinava a mim, girou até que ficasse na minha frente, segurando-me pelos ombros, mais uma vez surpreendeu-me quando estalou um beijo na minha testa e seguiu até o piano, tive que piscar algumas vezes, o local onde seus lábios tinham entrado em contato com meu corpo queimava, só então segui de volta ao sofá.

Eu estava me aconchegando no lugar que Sam havia cedido no sofá, indo se sentar no colo da avó, quando o som do piano começou a soar. Era leve e mesmo assim parecia alcançar, como um leve carinho com as pontas dos dedos, o âmago.

Todos se calaram por um momento, até mesmo Marco que estava ao meu lado, no ombro do sofá. Jeff estava sendo realmente modesto quando disse que não era tão bom nisso, ele era, surpreendentemente era bom. Seus dedos tamborilavam com uma delicadeza que até então eu achava que era inexistente.

Deixei-me levar pelo som, em algum momento eu só conseguia pensar em Jeff e no que tinha acontecido a ele no meio do caminho. Quando o garoto do interior, que dividia as garotinhas com o primo, que sabia tocar piano, que tinha uma irmã mais nova e a amava, tinha se tornado o que ele era hoje: um livro fechado sem algum tipo de acesso.

Um pouco mais tarde naquele dia, quando o sol já tinha definitivamente ido embora e a lua já alcançava uma boa posição de destaque, nós dois caminhávamos lado a lado em silêncio não muito longe da casa. Se eu estivesse sozinha, provavelmente estaria pirando em ficar no meio do mato, mas Jeff estava lá, então apenas o acompanhei.

–Quero te mostrar uma coisa. – Aquilo na sua voz era ansiedade?

Só consegui balançar a cabeça em consentimento e deixar que ele me levasse mais alguns longos passos.

–Aqui. Exatamente aqui. – Olhei em volta, tentando encontrar alguma coisa diferente. Parecia mais uma contemplação de tudo que já tinha visto antes: mato.

–Onde? – Seus olhos quase brilhavam na minha direção, silenciosos. Seu indicador apontou para cima e ao mesmo tempo nós dois erguemos as cabeças.

Pode ser muito bem clichê, e não me importo em admitir isso, mas lá estava a visão que sempre tive, mas que nunca tinha visto direito. Realmente eram incontáveis estrelas, brilhando como um perfeito anel de brilhantes.

–Eu me pergunto o que aconteceu com você. – Falei baixinho, ainda sem coragem de olhá-lo nos olhos, seu olhar queimando em mim. – O que fez você mudar assim.

–Porque você acha que eu mudei?

–Porque eu não consegui encontrar uma conexão entre o Jerry e o Jeff que eu conheço. Parecem ser duas pessoas.

Pelo canto do olho notei que ele tinha desistido de ter um contato direto comigo, uma de suas mãos foi depositada quase inconscientemente na minha cintura.

–Eu sou a mesma pessoa, no final das contas. – Murmurou baixinho, no meio de tantos barulhos de cigarras e outros tipos de animais que eu adorava não conhecer.

–Eu adoraria acreditar nisso Jeff, mas minha parte cinzenta do cérebro funciona suficientemente bem.

Fechei os olhos por um momento, puxando todo o ar que conseguia e quando os abri, um par de olhos verdes, o castanho não estava ali, me observavam.

–Eu quero ser a pessoa que meu filho pensa que sou. Eu queria ser um filho bom e um pai melhor ainda. Queria ter alguém como você me esperando quando chegasse em casa.

–Eu nunca te esperaria, Jeremy. Isso é muito machista, sabia?

Um canto de seus lábios ergueu, os olhos sorriram mais que os lábios.

–Eu adoraria te esperar chegar em casa para poder falar o quão ruim foi o meu dia enquanto você falava algo estranho o suficiente para que meu dia valesse a pena.

Tristemente meus olhos arderam e eu tive que me desviar do seu olhar.

–Eu quero isso, mas sei que nunca vou ser ou ter.

–Porque não? Não parece ser algo tão difícil assim.

Hey, seu idiota, isso foi um eu posso muito bem ser “a pessoa que você espera em casa à noite”.

–Porque eu não mereço isso.

Quando eu era pequena minha mãe costumava dizer que meu maior pecado era ser impulsiva, eu dizia o que passava por minha cabeça e fazia o que achava que deveria ser feito. Minha impulsividade foi aparada quase totalmente quando eu cresci, mas ela ainda surgia um momento ou outro.

E ela surgiu agora, quando pousei minhas mãos sobre seus ombros e puxei seu corpo em direção ao meu.

–Pegaria mal se eu voltasse para sua casa com o batom borrado?

Um misto de surpresa e malícia surgiu em seu olhar, mas ele não deixou de me responder, apertando-me mais contra ele:

–Nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

Desculpe realmente se eu não respondi seu review no capítulo passado, mas era responder todos os reviews ou postar um novo capítulo. Eu li todos os reviews e eu amei cada um, ok? Vou te responder e vocês terão que aturar minha loucura ainda *risadinha maléfica*
Esse é meu primeiro capítulo programado *CHORA PAIXÃO* BEIJO MÃE, PAI, XUXA...
Espero que vocês tenham gostado do momentinho love (só não tô pior que Pablo do Arrocha), ele não vai durar tanto tempo, então vamos aproveitar, ok?
Beijos com sabor de QUÍMICA NÃO ENTRA NA MINHA CABEÇA, BODEGA! (Ami feelings, de um jeito menos doce kkkk).