Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 18
Anel da família.


Notas iniciais do capítulo

Náthalie Ocáriz fez com que minhas bochechas corassem de felicidade. Simplesmente me deliciei com sua recomendação, foi tão caloroso quanto receber um abraço forte da pessoa que se gosta, com direito a sem querer soltar.
Esse capítulo é dedicado a você, que dedicou um tempinho seu nessa história :)

p.s.: Caros leitores, esse capítulo foi escrito nas madrugadas, então está num nível extremamente ALTO e PERIGOSO de idiotice.
Vocês foram avisados.



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–Não se deixe enganar pela tia Lucy. Pode parecer apenas uma inocente velhinha, com suas dezenas de problemas de velhinhas, mas por dentro é o diabo em forma de gente. Ela não perderá a chance de lhe acertar com a bengala dela.

Engasguei com o último chocolate mordiscado. Tínhamos parado num desses postos de gasolina no meio da estrada. Estávamos a caminho de um banheiro imundo, para que eu lavasse os dedos melecados de chocolate, que com certeza só era possível utilizá-lo prendendo a respiração. Sam estava entretido demais em um dos jogos no celular do pai para nos dar atenção, perdido em seu próprio mundinho. Jeff o guiava pelas costas até o caminho.

–Meu primo Joaquim e sua esposa são meio... tarados, então se ouvir alguma... coisa suspeita vindo do banheiro, continue andando e tente não corar. Você cora com facilidade.

Não conseguia parar de tossir, meus braços estavam erguidos, enquanto Jeff batia minhas costas solidariamente.

–Bárbara provavelmente estará chapada, então se prepare, ok?

Tive que respirar fundo no mínimo 5 vezes até voltar ao normal.

–Não sei se estou indo conhecer sua família ou partindo para a guerra. – Resmunguei baixinho.

O olhar divertido de Jeff queimava em meu rosto.

–Todos eles vão te adorar, Vida. Você tem uma estranheza que já soa familiar a todos eles. – Sua voz soava calorosa e por algum motivo, me senti melhor. Ele acreditava em mim para essa função, não é? – E mais uma coisa. – O sorriso descontraído havia sumido. – Isso estava no porta-luvas. – Tirou uma caixinha azul marinho do bolso da calça e me entregou.

–Não me diga que alguma das suas garotas descartáveis deixou isso para trás?

–Garotas descartáveis?

–São como as chamo. – Dei de ombros, brincando com a pequena caixinha nas mãos. – O que tem aqui? Por favor, não me diga que é um tipo de camisinha especial de fabricação única.

Seus ombros estremeceram e ele soltou um guincho que notei ser um riso.

–Abra logo, eu sei que você está se roendo de curiosidade.

–Tem razão. – E abri-a. – Oh, Jesus Cristo. – Era um anel. Um anel delicado decorado por pedrinhas brilhantes que me cegaram instantaneamente.

–Como achei que... Você sabe. É minha noiva. Então deveria ter um anel. – Olhou para um ponto além do meu ombro. Eu já o tinha enfiado no dedo da mão direita, examinando como ficava. Ele era lindo.

–Tia Al, você pode utilizar o banheiro logo? Esse odor realmente não me apetece. – Sam estava com o cenho franzido, nem totalmente mergulhado em seu mundo, pensei.

–Só um minuto. – E entrei, prendendo a respiração. Até mesmo no banheiro, onde a luz era precária, o anel reluzia. Ellie simplesmente piraria quando eu mandasse a foto dele. Com repugnância, girei a torneira e procurei pelo sabonete líquido.

–Vai precisar usá-lo um tempinho. – Jeff falou do outro lado da porta. – O que achou do anel?

–Ele é simplesmente lin...

Olhei novamente minha mão direita e meu sorriso gigantesco sumiu. Oh, Deus... OH. MEU. DEUS. O anel não estava mais lá.

–Foi da minha avó. Minha mãe também usou. – Continuou Jeff.

Jesus Cristo! Eu tinha acabado de perder o anel num banheiro nojento de beira de estrada. Provavelmente a relíquia da família deve estar enlambuzada de coliformes fecais agora.

Procurei no chão, debaixo da pia, até no meu corpo, esperando que estivesse pendurado em algum lugar.

–São pedras de diamantes.

São Longuinho... Ouve-me, meu Santo, que agora a coisa ficou feia.

–Meu avô deve ter morrido devendo por isso ainda. Ele era daqueles caras românticos.

Eu prometo que se eu achar esse anel eu dou três pulinhos, três gritinhos e três rodadinhas.

Refiz meu percurso até a pia. O banheiro era pequeno e o tal do anel não estava no chão em lugar nenhum.

–Porque você está demorando tanto?

–Você sempre foi enjoado assim quando uma garota está no banheiro? – Rebati, minha voz tremendo.

Apalpei ao redor da pia, minhas mãos ficando pegajosas com algo que... Deus me livre saber.

–Ahn... Desculpe.

Então enfiei a cabeça dentro da pia. Lá no fundo. Quase caindo ralo a baixo, estava o anel de brilhantes. A herança da família. Eu tinha deixado-a cair enquanto lavava as mãos.

Prendi a respiração. Ajoelhei-me no chão do banheiro, com a ideia que para pagar o pecado com o milho seria melhor, ao menos mais higiênico.

Meus dedos trêmulos foram até o anel. As pedrinhas ainda brilhavam. Minhas mãos escorregavam com o suor, desejei ter os dedos finos da minha irmã ao invés dos meus desajeitados.

Peguei-o com cuidado, ele já estava entre meu dedão e o indicador, estava quase em segurança quando começou a escorregar novamente e foi escorregando novamente pelo ralo. Rápido. Sem previsão de salvação.

Saltei tão rápido, fazendo um barulho grotesco enquanto minhas mãos batiam na pia a procura do anel que girava. Quase mangando da minha cara. Oh, ironia do destino...

Não desperdicei outra oportunidade, quando conseguir ter o anel nas mãos, não o larguei de jeito nenhum. Cravei na palma da minha mão tão forte que ele feriu minha pele.

–CONSEGUI! – Gritei, remexendo os braços e pernas numa dança da vitória ridícula em pleno banheiro vazio e imundo.

–As coisas estão tão difíceis aí assim, Vida?

Foi como um balde de água fria ouvir a voz do Jeff do outro lado. Senti que até a raiz da ponta do cabelo eu fiquei vermelha. Extremamente vermelha.

–Desculpe, eu... – De jeito nenhum que iria lavar as mãos novamente. Não iria cometer o mesmo erro duas vezes. – Já estou indo.

Esfreguei as mãos no short jeans. Tinha prestado atenção numa reportagem sobre higiene pessoal na TV, eles falavam que o short/calça pode ser a salvação em alguns momentos inoportunos, exatamente com essas palavras.

Enfiei o anel novamente no dedo da mão direita, apertando ele entre os dedos para que não escapasse e empurrei a porta do banheiro.

–Acho que ele ficou um pouquinho folgado. – Sorri na cara dura. – Mas realmente é muito bonito.

E até brilhava mais depois do ocorrido. Juro pela minha mãe. Jeff balançou a cabeça e me lançou aquele olhar de sempre quando me comportava assim. ‘Vamos-fingir-que-isso-não-aconteceu’. Adorável.

Estávamos caminhando de volta ao carro quando eu me lembrei da minha promessa. Eu tinha prometido a São Longuinho se ele achasse o anel. E ele achou, sempre achava. Sam já tinha entrado e Jeff estava com a porta do motorista aberta.

–Jeff... Eu tenho que fazer uma coisa antes. É bem rapidinho. Pode entrar se quiser.

Ele balançou a cabeça, ainda me lançando o mesmo olhar de antes e fechou a porta do carro consigo dentro.

Tudo bem. Era agora. Respirei fundo.

–Por você, São Longuinho. – O que eu tinha prometido mesmo?

Três pulinhos... Comecei a saltar pelo estacionamento do posto.

Três rodadinhas... Rodopiei no lugar.

E três gritinhos... Eu estava no segundo de uma sequência de gritos estridentes e baixos quando um cara do posto passou por mim.

–Nós não permitimos a prática de macumbas aqui, moça – Suas sobrancelhas grossas e peludas estavam franzidas em minha direção, reprovando meus gestos de devoção ao meu santo.

Mais um gritinho e sorri, encabulada, em sua direção.

–Não é...

Mas ele já tinha voltado a caminhar, mais rápido agora, afastando-se aceleradamente. Tive que ganhar alguns olhares tortos de caminheiros para ter coragem de entrar no carro novamente. Jeff estava com a cabeça inclinada e quase pude imaginar suas orelhas tortas também, como Bento fazia.

–Se eu soubesse que você gostaria tanto de um anel...

***

Foram seis longas horas de viagem e mais duas paradas pelo caminho. Informei em um tom de total preocupação, que achava melhor guardar o anel de volte ao porta-luvas, porque parecia perigoso andar com ele por aí. Jeff não contestou minha estranheza.

Em uma das paradas, entramos em um restaurante aos pedaços para almoçar, fingi que não vi a garçonete quase dançando um pole dance na frente do Jeff. Coitadinha, pensei, nesse fim de mundo eu também adoraria que alguém me tirasse daqui.

Após alguns flertes entre os dois, eu me senti no direito de arrastar a cadeira ruidosamente e informar que iria no banheiro, como quem informa que está indo para Las Vegas dançar em um Can Can.

–Posso ir também? – Sam ergueu a cabeça em minha direção, os cabelos cacheados negros caindo em seus olhos. Sorri, ajeitando seu cabelo para trás com as mãos. Seus olhos mel não me olhavam, mas estavam à vista agora.

–Bem melhor.

–O banheiro fica lá fora. – Respondeu à garota loira tão rápido que me assustei, ela não pretendia ser útil, ela tinha aquele olhar de vão embora, apenas vão embora.

Fomos até os banheiros lá fora, correndo, devo acrescentar, porque eu estava simplesmente morrendo de medo que um bicho estivesse escondido entre os matos e fosse nos atacar a qualquer instante.

Sam corou violentamente quando perguntei se ele precisava de alguma ajuda. Ganhei um curto, grosso e merecido “não” como resposta.

Quando saí do banheiro feminino, o garoto estava em pé, com as mãozinhas afundadas nos bolsos da calça jeans olhando lá fora como se estivesse pensando na vida. Qual é o garoto de 5 anos que pensa na vida?

Sorrateiramente, puxei minha câmera da bolsa e encontrei um bom enquadramento para tirar a foto dele.

No exato instante que dei o clique, Sam virou. A foto que eu imaginara poderia ter sido arruinada, mas ficou melhor ainda com um rosto infantil franzido em surpresa.

–Não resisti. – Confessei sendo pega no flagra.

Ele sorriu, como se realmente entendesse.

–Minha avó ficaria bem no seu corredor.

–Ah, é mesmo? – Guardei a câmera de volta a bolsa. – Por quê?

–Porque ela gosta de gente como você. Como eu também.

–Será que ela deixará me bater algumas fotos dela?

–Ela terá que colocar o vestido de ir à igreja que sempre coloca quando vai tirar foto.

Nós caminhamos de volta a mesa. Tentei ensiná-lo uma brincadeira simples que fazia com Mel enquanto caminhávamos em um parque, mas ele embolou as pernas e quase caiu e eu quase caí tentando não deixá-lo cair. Acho que ele esperava uma atitude reprovadora, mas acabei caindo na gargalhada quando derrubamos duas cadeiras pelo caminho.

–Encontrei alguém tão desajeitado quanto eu. – Suas bochechas coraram novamente.

Quando chegamos à mesa ela estava vazia. Sem sombra de Jeff em lugar nenhum. Com a garçonete, imaginei, mas com uma vasculhada pela área, notei que a garota estava, desgostosa, debruçada no balcão da loja.

–Ele foi fumar. - Olhei para Sam, confusa.

–Porque acha isso?

–Porque ele faz isso. – Disse como se fosse óbvio. – São o que as porcentagens de pesquisas sobre adictos dizem.

A comida chegou e Jeff ainda não tinha voltado, dei um pequeno sermão a Sam antes de me levantar, ir até a entrada do restaurante e encontrá-lo prestes a acender um cigarro com o isqueiro. Com a ousadia que minha mãe sabia que eu tinha, arranquei o cigarro de seus dedos e o joguei inteiro no cinzeiro.

–Alguém já falou para você que câncer de pulmão mata?

–Alguém já falou para você que ser enxerido também mata?

–Não consigo pensar em uma causa para a morte.

–Assassinato, coloque no topo. – Ele parecia realmente zangado, mas não liguei.

–Mova sua bunda grande para dentro e trate de sumir com esse chumaço de cigarro antes que eu o veja dando sopa em algum lugar.

Ele riu com minha petulância.

–Então você anda analisando minha bunda... – Minhas bochechas coraram sem que eu quisesse.

–Pense em flertar com a loira de farmácia enquanto eu como e não reclame quando eu vomitar em seus tênis. – Me lançou um olhar assustado e eu me esforcei para não rir. – Só estou avisando.

Durante o resto da viagem conversamos mais sobre sua família, conversamos sobre a minha família e sobre algumas coisas aleatórias. Era fácil conversar com ele, às vezes Jeff só me deixava tagarelar sobre um assunto e quando pensava que já não prestava mais atenção no que eu falava (o que sempre ocorria com Brian), ele se virava para mim e fazia uma pergunta sobre o que tinha acontecido depois. Eu adorava a forma como ele parecia realmente notar o que eu falava, quase beirando a uma curiosidade.

Nós gargalhávamos cada vez que Sam exibia sua opinião em nossos tópicos. Com suas palavras afiadas e dados científicos, eu me perguntava como cabia aquilo tudo em uma cabeça tão pequena.

Pedi para trocar de CD quando começou a repetir as músicas e escolhi dentre tantos rocks mais pesados, um soul que parecia se encaixar no momento. Batuquei ao ritmo da música até que uma pergunta surgiu na minha cabeça.

–O que o Sam achou disso tudo? – Falei baixinho, para que não acordasse o garoto que cochilava no banco de trás agora.

–Disso o quê? – Não tirou os olhos da estrada.

–Disso... Do nosso relacionamento mais falso que nota de 3. O que ele achou disso?

–Não falei. Só disse que estávamos indo viajar com você, ele sabe da simples verdade: que somos apenas amigos.

–Ele não desconfiou?

–Sam não contesta esse tipo de coisa.

–Não parece certo mentir para ele. De qualquer jeito. – Confessou Jeff com um tom meio amargo.

–E o que você vai dizer quando sua família for nos dar os parabéns? – Murmurei, me esforçando um bocado para não levantar a voz. – Que é o aniversário dos dois no mesmo dia?

–Ele vai estar muito distraído com qualquer outra coisa para notar nós dois. Eu conheço meu filho, tudo bem?

Queria contestar, mas achei melhor ficar calada. Imaginei o típico comentário que minha mãe faria nesses momentos, seria algo do tipo “se não tem nada de bom para dizer, apenas tranque sua maldita boca e jogue fora a chave”. Tive que dizer a minha mãe que iria passar um tempo de férias com a Ellie numa praia. Eu nunca poderia dizer a verdade para ela, não somente pelo fato que eu estava indo mentir para uma família inteira sobre um noivado falso, mas sobre eu ter ‘passado adiante’ em relação ao Brian.

Imaginei-me apresentando Jeff a minha mãe. Muito provavelmente, ela nos receberia com um cartaz feito de cartolina e giz de cera com os dizeres TEAM BRIAN rabiscados rudemente.

Eram só 2 semanas e passariam rápido. Eu esperava.

Em algum momento eu fechei os olhos, em outro eu já estava mergulhada num sono frágil.

Praticamente tinha acabado de fechar os olhos quando algo cutucou meu ombro insistentemente.

–Pegue o anel. Chegamos.

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Não estão indo minhas notas finais, então terei que escrever aqui, desculpem.

Pessoas amadas do meu ♥,
Tenho uma notícia não muito boa para lhes dar. Próxima semana começam minhas aulas, meu último ano (se tudo de certo, logicamente).
Em virtude da importância desse tal ano, eu terei que interromper a história.
Ou, na melhor das opções, postar com uma frequência beeem menor.
Então essa semana estou me dedicando nela ao máximo. E é por isso que estou dizendo a vocês, se vocês forem legais comigo, eu postarei o próximo capítulo rápido e o próximo igualmente rápido.
Ajudem-me com isso, ok?
Mais uma coisa: o que acharam da nova capa?


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Notas finais do capítulo

Não fiquem chateados comigo, ok? :(