Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 15
Documentários, buracos negros e cupcakes.


Notas iniciais do capítulo

Mais uma recomendação e mais uma vez minha mãe considerou me internar no hospício da cidade
Muuuito obrigada Diana Malik, fico feliz que apesar de não ter gostado muito do começo, tenha insistido na história e hoje esteja gostando :)
Esse capítulo é dedicado a você.

P.s.: Tenho algumas coisas para falar nas notas finais, então fiquem ligados ;)



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–Como você entrou no meu apartamento? – Meus olhos esbugalhadas e minha voz estridente não esconderam minha surpresa.

–Não foi lá muito difícil, Vida. – Deu de ombros e voltou sua atenção para o documentário estranho que Sam assistia. – Seu porteiro está no décimo quinto sono lá em baixo.

Grunhi e amaldiçoei seu Antônio.

–Eu toquei a campainha e olhe só a surpresa: meu filho atende a porta. – Por um breve momento ele observou a criança ao seu lado, ternura e preocupação ainda estavam neles quando voltaram para mim. – Você deveria ter me ligado. Pouparia um quase enfarte.

–Eu... Eu estava fazendo mesmo isso quando o Brian me ligou e... – A posição relaxada tinha ido embora, equilibrou o prato quase vazio em mãos e o levou até a cozinha. Segui-o, puxei o ar para os meus pulmões e o soltei, com as costas contra o balcão, esperei que não estivesse tremendo tanto ao ponto de cair dali. Jeff não parecia lá muito contente hoje e talvez eu tenha colaborado.

–Não, Vida. – Repreendeu-me. – Talvez você não tenha notado ainda, mas é bom que você saiba. – Um passo de distância. Sérios, os doces olhos verdes acastanhados estavam estranhamente sérios. – Esse garoto – fez um gesto com a cabeça para Sam – é tudo o que eu tenho. Se algo acontecer ao Samuel só Deus sabe o que eu sou capaz de fazer.

Se eu não estivesse com medo do seu tom ameaçador, talvez eu ficasse emocionada com seu tom paternal. Tive que limpar a garganta antes de perguntá-lo:

–Como você sabia que ele estava aqui? – E minha voz ainda saiu esganiçada.

–Sam tem costume de repetir números. Quilômetros percorridos, passos dados, lances de escada... Os favoritos no momento eram as de linha de ônibus. Eu não tinha notado algo errado, até a sra. Dolores me ligar desesperada dizendo que tinha procurado em todos os lugares e Sam tinha sumido.

–Ele ficou chateado por não ter ido à escola. – Foi um ‘eu sei que você mentiu para mim’ mais educado.

–Eu sei.

–Você pode me pedir para ficar com ele, se quiser. Eu adoro esse garoto.

Sorriu meia boca e concordou.

–Ele também gosta de você, acredite. Vocês dois ainda vão acabar comigo, quase atropelei uma velhinha para chegar aqui enquanto ligava para você. – Bagunçou os cabelos e eu definitivamente tive que me segurar no balcão para não escorregar.

–Atropelar velhinhas é como um bônus.

–...Para o inferno.

Ele se preocupou comigo também ou só com o fato de que eu poderia saber onde estava seu filho?

Preferi acreditar que ele se preocupava comigo e um sentimento estranho borbulhou em minhas veias.

–O que seu ex queria? – Sua mudança de assunto não foi despercebida, mas eu já tinha avançado alguns passos com ele. Muito estranhamente eu me senti mais próximo ao Jeff.

–Está ultrapassando um problema masculino: o arrependimento tardio. – Cruzei os braços contra o tronco.

–Ele quer uma chance.

–Acho que ele sempre foi meio pirado assim e eu só notei agora.

–Não o dê uma chance, Vida. – Era ciúmes? Eu queria fosse, mas achava pouco provável. Jeff só deveria estar preocupado em que eu fosse furar com ele.

–Eu sei me cuidar, pai.

–Eu sei que sim. – Nós estávamos a um passo de distância, ele poderia avançar e me ter contra ele, mas preferiu recuar. – Acha que o Sam já está pronto para ir?

Olhei pelo canto do olho para o garoto, Sam nem sequer piscava quando assistia a um documentário sobre o universo no Discovery Chanel.

–Deixe-o ficar mais um pouquinho. – Não sei se eu pedia por ele ou por mim.

Concordou com um aceno.

–Falou com sua mãe, sobre... Você sabe, eu estar indo? É um momento muito delicado e eu não quero incomodar.

–Não se preocupe com isso. – Procurou por minha mão, apertou-a gentilmente, seu calor corporal aqueceu-me por completo. Céus, agora eu parecia uma fogueira humana. Desviei-me dele rapidamente, vasculhando algo na geladeira só para não precisar encontrar seu olhar. – Você se dará bem com minha mãe. Só não... Você sabe, fale sobre mortes engraçadas e essas coisas que você gosta. Isso pode assustá-la.

Corei violentamente, quase deixando a vasilha de doce de leite que a babá da Mel insistiu que eu trouxesse escorregasse pelas minhas mãos enquanto girava nos calcanhares em sua direção.

–Vou me esforçar.

Peguei três colheres e a entreguei uma.

–Ninguém que comeu sopa e veia de café da manhã pode recusar.

–A Dolores não é uma senhora ruim.

–Sua comida que é. Vai ver ela tem medo de morrer engasgada.

–Tem razão. Não me recordo de ter visto uma uva alguma vez em sua cozinha.

Ele estava me dando aquele olhar novamente enquanto eu ria/guinchava de sua piadinha. Eu o conhecia, só não conseguia decifrar direito. Jeff repuxou os lábios quando pegou meus olhos nos dele.

Joguei-me ao lado de Sam no sofá e Jeff do outro lado. Algo explodia ruidosamente na TV. Apontei com a colher para a televisão.

–Tem certeza que sua mãe não gostaria de saber que se uma pessoa caísse num buraco negro ela ficaria esticada como um espaguete? É um dado curioso.

–Eu me pergunto como você sabe essas coisas.

–Programas de TV domingo à noite. Eles são ruins o suficiente para ter esse tipo de informação inútil.

–Você é uma pessoa estranha. – Concluiu após mais uma colherada.

–Não somos tão diferentes. – Rebati de cenho franzido.

–Hey vocês dois... – Sam resmungou de boca cheia e apontou sua própria colher para a TV. – Essa é a melhor parte, explicando o surgimento das estrelas com as nuvens de hidrogênio se aglutinando, eu não consigo ouvir com vocês se comunicando.

–Desculpe, pequeno Newton. – Acariciei seus cabelos antes de me ajeitar no meu lugar e ficar quieta.

–Talvez não tão diferentes, Vida. – Jeff sussurrou, com o a atenção focada no documentário.

***

–Vou te ensinar uma coisa para você não esquecer nunca mais, Alminha.

Revirei os olhos e mordisquei mais uma parte do meu cupcake. Eu amava cupcake de chocolate com baunilha, eles tinham o poder de me fazer aturar a Ellie dando dicas femininas após nosso turno, dentro de um shopping barulhento.

–Você bagunça o cabelo. – Ela jogou para trás sua cabeleira loura. – Morde o lábio inferior. Focaliza o olhar no queixo dele e lentamente, LENTAMENTE, ergue o olhar para cima e então... – Ela parou seu joguinho de sedução e me fitou com um olhar irritado. – Não dá para conquistar alguém com o nariz sujo de baunilha, Alma.

Limpei a ponta do nariz com as costas da mão e sorri envergonhadamente.

–O Jeff Buckley vai cair duro no chão se você fizer isso. Duro... Não vamos usar duro, soa estranho. Não seria apropriado se ele...

–OK, Ells. Eu entendi. Não é tão difícil. Bagunça o cabelo, morde o lábio e olha de baixo pra cima. Qual é a dificuldade nisso?

–Exatamente.

Mordisquei o último pedaço do meu cupcake e sorri em sua direção. Seu sorriso murchou ao me ver.

–Ok, vamos comprar logo comprar alguma roupa. Estou sentindo que isso não vai dar certo. Nosso plano B são peitos, tudo bem?

–Peitos. Ok. Espera... O que têm eles?

–Você deve ter jogado o nome de Jeremy na macumba, Jesus Cristinho. Não faço ideia como esse homem caiu na palma da sua mão assim. Do nada.

Era uma boa pergunta.

A pergunta mais inteligente que Ellie já tinha feito, provavelmente.

E eu não fazia a mínima ideia da resposta. Dentre todas as garotas que ele poderia conseguir um favorzinho de graça, porque eu?

–Deixa para lá. – Ellie puxou-me pelo punho para mais um antro de tortura. – Não faça essa cara de desespero, meu bem. Nós sabemos que sua mãe me agradecerá quando vir algumas roupas descentes no seu guarda-roupa.

–Não conta. Minha mãe queria que você fosse sua filha. – Resmunguei.

–Eu iria adorar. Minha mãe foi uma vaca comigo e com meu pai antes de nos largar.

–Vai ver é por isso que somos amigas, Ells. Nosso único ponto em comum: famílias remendadas.

Puxou-me para um dos seus abraços sufocantes.

–Vou sentir saudades suas, nem acredito que vou ter que ficar com o pulguento do seu cachorro.

–É por pouco tempo, Elliezinha.

–Não me... – Fungou. – Ah droga, Alminha. Como eu vou aturar nosso chefe sem suas caretas quando ele virar as costas? Não quero nem imaginar o que será de mim quando eu chegar e não ver sua cara enquanto você me oferece cookies.

–Eu nunca te ofereci cookies, Ellie.– Seus braços me afastaram.

–Shhh, Alma! Você está acabando com meu discurso de despedida.

–Nós não vamos nos despedir tão cedo ainda.

–Eu não sabia que o Jeff iria conseguir suas férias antecipadas, mas o Sr. Lewis quase se ajoelhou quando você tocou o nome dele. Sabe o que isso quer dizer?

–O quê?

–Que você vai poder ter um futuro melhor, Alminha. Eu sei disso. Você merece isso. Você já teve azar suficiente na vida. Jeff vai cumprir o que ele falou e você finalmente vai acabar sua faculdade e... Eu espero que você trabalhe no manicômio que eu for daqui a algum tempo, Alminha.

–Não fale assim, Ells. – Foi a minha vez de puxá-la para um abraço de quebrar as costelas.

–Eu mereço aturar o Lewis porque eu fiz por onde, eu sei disso. Sabe aquele ditado de quem planta hoje colhe amanhã? Quando minha tia me disse isso, eu a mandei ir plantar bananeira na esquina. Mas você... Nós duas sabemos que como matéria de atração você é uma droga, mas em qualquer outra coisa você é a melhor.

–Não é...

–Cala a boca. – Não ousei abrir a boca mais. – Você vai cumprir sua palavra e o Jeff fará o mesmo. Prometa a mim que, aconteça o que acontecer, você vai até o final.

–Eu não sei se...

–Prometa-me. – Interrompeu-me. Sua voz decidida.

–Ells...

–Prometa! – Sibilou alto, fazendo as pessoas nos olharem torto.

–Ok, tudo bem. Eu prometo. – Lançou-me um sorriso triste e concordou.

–É uma oportunidade única, Al. Você sabe disso. Tudo bem que esse Jeff é estranho, até o Collin tem um pé atrás, mas não conseguiu achar nada, então...

–Do que você está falando?

–O Collin disse que... Espere, vou falar exatamente o que ele falou: – limpou a garganta e no momento seguinte fez uma imitação ridícula de voz masculina – Porra, esse cara, Jeremy, que tá pegando sua amiga, ele não passa pela minha garganta.

–O Jeff tem um jeito meio estranho, mas eu sei que ele não é psicopata e nem nada. – Por algum motivo estranho, eu sentia no dever de defendê-lo.

–Porque tem tanta certeza? – Ergueu uma sobrancelha. Ela não acreditava em mim.

–Eu só sei.

–Resposta errada, amiga. – Mas sua linha de pensamento foi interrompida quando viu um vestido vermelho extravagante na vitrine.

Eu nunca conseguiria pagá-lo e sabia disso.

Na verdade, eu sabia que no final das contas eu compraria um short e uma sandália em um brechó lá perto de casa, o resto do dinheiro que sobrava eu usava para revelar minhas fotos. Isso tudo rezando para que o aluguel do apartamento ainda não tenha sido descontado da minha conta.

Ellie gostava de se iludir que nós esbanjávamos dinheiro toda vez que nós íamos ao shopping. Provávamos quase metade das roupas de uma loja e saíamos de mãos vazias. Era um prazer peculiar que ela sentia.

Não soava estranho, então, que eu estava contando os minutos para sair dali, certo?

Nós pegamos as fotos reveladas e, enquanto ela falava no telefone com o namorido, eu conferia todas as fotos.

Agora eu tinha um bocado de Sam. Ele olhando as fotos do corredor, ele sentado todo encolhido no sofá da sala assistindo algum documentário... Também havia mais algumas de Mel brincando com Bento e nós duas cozinhando o almoço de ontem.

Mas minha favorita, sem sombra de dúvidas, tinha sido a última. Eu a tinha tirado ontem à noite, era a primeira foto que eu tinha tirado de Jeff e sua miniatura em forma de chaveirinho, Sam. Eles estavam com colheres na boca, um do lado do outro e olhos pregados na TV.

Bem, era isso que eu pensava quando tirei a foto, mas agora, analisando bem, Jeff exibia aquele repuxar de lábios que sabia quando meus olhos estavam nele. Era atrevido, mas mesmo assim adorável.

–O que você está olhando aí? – A loira espichou-se na minha direção.

–Minha ruína.


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Notas finais do capítulo

Demorei, mas cheguei.
A lindinha da professora de biologia não quis me dar 0.5 para eu passar de ano logo, então culpem ela a minha demora.
Não se preocupem, já mandei macumba online para ela. Mas quem quiser mandar também é... Brincadeira, nem sou tão vingativa assim.
Primeiro de tudo, eu não gostei muito desse capítulo, mas eu já estava em falta o suficiente com vocês para refazê-lo todo.
Segundo, eu tive uma ideia para um capítulo um pouquinho diferente na fic. Não sei quando ainda, mas... O que vocês acham de um ponto de vista diferente? Não, não estava pensando no Jeff. Quem sabe o Sam? O que vocês acham?
TEEEERCEIRO e último: FELIZ NATAL PARA VOCÊS!
Sempre fui fã do Natal, era daquelas que ficava sentada na frente do relógio de passarinhos na casa da vó, esperando dar meia noite para abrir os presentes.
Comam muito chester da Perdigão e NÃO comam torta de frango (a do ano passado fez uma catástrofe na minha família e não indico para ninguém).
Já estou dando adiantado porque não sei se irei postar antes do dia 25.
Beijos e queijos!
P.s.: não comam torta de frango, sério.