Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 11
Aprendendo a deixar ir.


Notas iniciais do capítulo

O problema
É que nessa de não saber se gosto
Ou se não gosto, o coração
Fica curioso e prefere
Pagar pra ver
E eu paguei pra ver
E foi aí que eu me dei mal

Fabiana, Isabela ou Ana - Soulstripper (que me conquista fácil fácil, mesmo depois do fim, só com o replay :/)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391961/chapter/11

Presta atenção aí, leitor.

Eu sei que as coisas estão ficando confusas para você também, mas tome consciência que, felizmente, a culpa não é minha.

Rezei um credo, uma Ave Maria, um Pai Nosso e um Santo Anjo, só pra começar, mas aquela miragem não saia da minha frente.

Ele estava sorrindo e caminhando na minha direção, era o suficiente para que eu quase desmoronasse da minha própria altura. Em um segundo eu tinha minha sobrinha ao meu lado, no seguinte eu já não a tinha mais.

Depois de um forçado e desengonçado abraço com Sam, a loirinha partiu para os braços mais experientes no ramo: os braços do (cof) meu (cof) Jeff Buckley.

Vamos encarar os fatos: se eu havia conseguido conquistar com o máximo de esforço o seu filho, ele tinha, sem o mínimo de problema, conseguido conquistar a minha sobrinha. Ele a tinha nos braços nesse momento e esta, soltava gargalhadas estrondosas.

Eu poderia me acostumar com essa cena todos os dias.

Balancei a cabeça rapidamente, afastando os pensamentos impróprios para o momento e com as mãos apoiadas nos joelhos para cumprimentar o meu mais novo garoto favorito.

Eu só tive um momento sozinha com Jeff, quando minha sobrinha convocou Sam para um passeio pelo seu parque. Ela falou assim, como se fosse a própria dona.

Respirei fundo antes de ter coragem suficiente para quebrar o contato que eu tinha das crianças para os olhos verdes acastanhados. Perturbadores, no mínimo eles eram.

-Você nunca mais foi no Café. – O objetivo não era que meu tom de voz soasse preocupado, ou pior, magoado. – Nosso lucro decaiu, o Sr. Lewis andou perguntando por você.

-Só ele?

-Lógico. – Que não.

-Você mente mal, Vida.

-Não é verdade.

-Tem razão, você mente muito mal. – Revirei os olhos.

-E como, diabos, você sabia que nós estávamos aqui?

-Um chute?

-É um GPS? Você estalou um GPS em mim. É isso? Foi no meu cabelo? – Estranhamente passei a vasculhar meu couro cabeludo, a procura de sei-lá-o-quê. – Ou foi minha gengiva? Meu Deus... Aposto que foi no meu tênis. Admito que estou envergonhada que agora você sabe que ele é o único sapato que eu uso. – Minhas bochechas começavam a adquirir um tom escarlate. – Mas não é meu único, ok? Eu só... Tá legal, eu estou esperando pelo presente de Natal da minha mãe, mas... Jeff porque você está rindo?

Desconfortavelmente, eu tentei ajeitar meus cabelos agora bagunçados.

-Eu só estou começando a ficar assustada, tudo bem? Primeiro, foi meu número de celular que até agora eu não sei como você o conseguiu, e então você aparece aqui e... Pare de rir! Pelo amor de Deus, eu estou falando muito sério Jeremy.

Cruzei os braços contra o corpo e virei o rosto, minha atenção na gargalhada alta da minha sobrinha e as caretas do Sam.

-Só estou brincando.

-Como você sabia que nós estávamos aqui?

-Coincidência?

-Também saiu ligando para todos os números para achar o meu celular?

-Não, isso consegui com sua amiga loira.

Escancarei a boca.

-O quê? A Ellie te deu meu número?

-Eu nem tive que pedir duas vezes. – Eu ia ter uma longa conversa com minha amiga desmiolada se ela dava meu número para qualquer um.

-Presta atenção. – Ajeite-me no lugar. – Se nós quisermos que isso – apontei dele para mim. – der certo, e eu classifico certo como ‘não te matar diante da sua família’, nós teremos que criar algumas regras.

-Não gosto muito de regras.

Soltei uma risada sem humor.

-Porque isso não me surpreende? – Grunhi mais para mim mesma. – Olha só, eu sei que nós não temos nada. Nada mesmo. Mas acho que seria legal se... Bem, se nós fôssemos sinceros um com o outro. E...

-Parece justo.

-O quê? – Eu só conseguia olhar para seus braços flexionados, ele os tinha cruzado e DEUS É MAIS! O que era aquilo, Senhor?

-Você confia em mim? – Engoli em seco antes de balançar a cabeça timidamente. Eu seria capaz de deixar Mel sobre seus cuidados, então eu confiava nele de modo insano. – Não precisamos de uma regra para isso.

-Então... – Respira e inspira. Como era esse processo mesmo? – Devíamos pensar na nossa história também.

Ele piscou algumas vezes.

-Hein?

-De como nos conhecemos. Como você me pediu em casamento...

-Claro. Hã... Nos conhecemos no café, eu te pedi em casamento rabiscando no guardanapo e mandando na conta um ‘casa comigo’, você chorou e gritou um ‘sim’. Aí está nossa doce história de amor.

-O quê? – Lancei-lhe um olhar incrédulo. – Não, de jeito nenhum. Eu com certeza te diria não. Um guardanapo na conta?

-O que você sugere então, Srta. Difícil?

Voltei a me sentar no banco e Jeff se acomodou ao meu lado, esticando tanto o corpo que por um momento eu pensei que ele estivesse se deitando ali mesmo.

-Eu deixei escapar em uma das nossas longas conversas que um dos meus lugares favoritos do mundo inteiro era uma estação de trem. E então...

-Por quê? – Eu estava tão empolgada na minha narração, que me assustei quando ele me interrompeu. Seus olhos cravados nos meus. Corei.

-Porque o quê?

-Porque é seu lugar favorito?

-Nada demais.

-Se fosse nada, não seria seu lugar favorito no mundo inteiro. – Revirei os olhos com a sua insistência.

-Minha mãe me levou a estação de trem da nossa cidade quando eu tinha 12 anos, disse que algum dia poderia me dar o melhor presente do mundo.

-Que seria...?

Santo Deus, eu adorava seus olhos, mas eles me assustavam como o inferno.

-Uma passagem só de ida para um lugar bem longe. – Eles me analisaram por um breve momento, mas eu me mantive tão neutra quanto o possível. – É uma daquelas lembranças antigas, nada demais. E adivinha só? Você me levou a estação de trem e no meio de locomotivas e pessoas, se ajoelhou e... – Deixei escapar um suspiro. – Malditos hormônios femininos, você chegou a ter diabetes ouvindo tudo isso?

-Cheguei muito próximo. – Sorriu, mas não era seu sorriso meia boca costumeiro. – Você teria dito sim se o idiota do seu ex tivesse te pedido em casamento?

-Provavelmente. Com toda certeza se tivesse sido assim. – Dei de ombros. – Estar com Brian era cômodo.

-Comodidade é bom?

-Acho que já não era mais no nosso caso. Ele conhecia minha família, eu conhecia a dele... Ele queria alguém como companhia para as festas chatas da empresa do seu pai e eu queria alguém para chamar de meu. Então eu adotei um cachorro e superei rápido tudo isso, estou feliz.

-Só seu cachorro que coloca um sorriso desse no seu rosto? – Não, não morde o lábio assim, amigo. Não olha assim pra minha boca, amigo.

-Claro que não. Eu gosto de filmes de comédia. – No momento que eu disse isso me arrependi. Droga.

Se você tiver alguma dúvida como acabar com o clima de alguma coisa, contrate-me. Segue meus modos de contato no rodapé da página. Mas por incrível que pareça Jeff sorriu, um grande sorriso que poderia abastecer a energia de uma metrópole inteira.

-Tem alguma regra dizendo que eu não posso te beijar? – Ele estava mais próximo agora. Era bem provável que ele escutasse os batimentos do meu coração ou minha respiração ofegante.

Mas eu não cheguei a respondê-lo.

-TIA! – Pulei de susto quando a voz infantil da minha sobrinha preencheu meus ouvidos. – Olha só que bonitinho o Sam conseguiu pegar, o nome dele é Afroldo.

Misericórdia ao Afroldo nessas poucas linhas, por favor. O pobre pássaro estava todo encolhido e assustado, esbugalhando os olhinhos miúdos rogando por socorro, Sam o segurava nas mãos como se fizesse isso todos os dias.

-É um nome muito bonito. – Parecia um tanto quanto impossível Jeff acariciar sua cabeça sem espremê-la, mas para minha surpresa ele o fez.

-Eu posso levar ele pra casa? – Os olhos verdes da garota me suplicaram.

-De jeito nenhum. Sua mãe ia arrancar meus cabelos, fio por fio.

-Ahh tia Al...

-E além do mais... Os passarinhos foram feitos para voar e não presos em uma gaiola.

-Mas eu ia tratar ele bem, eu ia amar tanto ele que ele nem iria sentir falta de nada. – Argumentou, alisando a cabeça da ave com delicadeza.

-A mãe do Afroldo vai sentir saudades dele, ele tem uma família também. Você ficaria triste se tirassem você da sua família?

Balançou a cabeça, mas seu olhar concentrado no pássaro.

-Mas ele também gostou de mim.

-E se você gostou dele também vai deixá-lo ir. – Então seus olhos marejados fixaram nos meus.

-Eu gosto dele. – Soou quase como se estivesse se defendendo de uma afronta.

-Então o deixaremos ser livre. Vamos nos despedir dele? – Relutante, ela concordou.

Sam, que a todo momento esteve calado, olhou para mim como se perguntasse o que deveria fazer.

-Tchau Afroldo. – E com um aceno, Sam abriu suas mãos e o pássaro após uma leve sacudidela nas penas, levantou voou.

Mais alguns instantes de depressão-pós-perda, Mel finalmente olha para mim, sem vestígio nenhum de choro e pergunta:

-Mas eu posso criar peixes?

E foi assim que fomos parar numa enorme loja de peixes. Jeff fez questão de comprar um casal de peixinhos dourados para minha sobrinha, que os chamou de Cosmo e Wanda, enquanto Sam preferiu um Beta.

-Não vai querer uma companheira para seu peixinho, Sam?

-Não, ou ele vai matá-la após o acasalamento.

-Jesus Cristo! – Arregalei os olhos e Jeff e Mel gargalharam.

Eu poderia me acostumar com isso, com todos os dias eu tê-los ali. Parecia fazer sentido.

Eu já os amava, Samuel e Jeremy, como uma família, não sei quando isso começou, mas eu tinha certeza. Eu os amava e sabia que teria de deixá-los ir também, algum dia, alguma hora, só não esperava ser tão rápido.

-Ôh tia... – Mel puxou a barra da minha camisa, quando eu a olhei, ela ergueu o saquinho cheio d’água que carregava Cosmo. – Olha só, ele me adorou. Tá até me mandando beijinho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se eu contar para vocês, assim, como quem não quer nada, que a 'Alma' que eu apresentei a vocês no capítulo, anunciou hoje que está grávida?
Pode ser destino querendo dar um toque em vocês. Sei lá. Quem sabe?
Já disse que estou adorando cada um dos meus leitores novos (ou não)? ♥♥ Por isso me dediquei um bocadinho para esse capítulo chegar um pouco mais rápido e maior.
E aqui está meu Sam, é só uma foto, mas desde o começo eu imagino esse garotinho como ele. Meow http://data3.whicdn.com/images/66717575/large.jpg
Quem quer um pouco de emoção pro próximo capítulo?
~ergam seus dedos e braços~



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Obrigado e Volte Sempre" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.