Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 10
Sorvete e criança, combinação ruim.


Notas iniciais do capítulo

"Oh, metade do meu coração tem o controle da situaçãoMetade do meu coração toma seu tempoMetade do meu coração tem juízo para te dizer que não posso continuar te amando"Half Of My Heart - John Mayer



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–Nós não vamos dizer tchau à tia Al? – Sussurrou.

–Ela está dormindo, garoto. – Falou outra voz num tom um pouco mais claro.

–A gente não deve falar com as pessoas quando elas estão dormindo?

–Não.

–Mas se a casa estiver pegando fogo? – Remexi-me no sofá. – Ou se houver alguma situação caótica fora de controle?

Minha coluna doía como um inferno.

–Em situações de emergência, sim.

–Mas não é educado sair sem se despedir.

–Sam... – Soou em tom de repreensão. – Você pode ficar quieto para eu amarrar o cadarço? Ou você vai acordar ela.

Mas já era tarde demais. Sentei-me no sofá, ainda grogue de sono. Olhando de um lado e para o outro encontrei os dois na cozinha, Sam estava sentado no balcão, os cabelos ainda estavam úmidos do recente banho e Jeff tentava calçar um dos tênis do garoto, mas fracassava.

Espreguicei-me no sofá, sem que eles ainda me notassem acordada.

–Vocês já tomaram café? – Minha voz saiu rouca.

–Papai? – Sam olhou alarmado para Jeff, que derrubou o tênis infantil no chão. Por um momento eu pensei que deveria estar realmente mal, passei as mãos pelos cabelos tentando diminuir a assombração que eu era no momento. – Agora eu posso dizer tchau?

Jeff soltou um muxoxo e balançou a cabeça. Depositou o filho no chão e esse, desajeitada e timidamente, se aproximou de mim. Seus olhos mel rapidamente passaram pelos meus, estendeu-me uma mão tão formalmente quanto um encontro entre Newton com o Papai Noel.

Ele era Newton, com toda certeza.

–Muito obrigado pelas panquecas, tia Al, e obrigado pelo novo lugar no corredor.

–O prazer é todo meu, Samy. Qualquer coisa pode contar comigo.

Ele corou quando eu depositei um beijo estalado na sua bochecha.

–Qualquer... Qualquer coisa mesmo? – Perguntou meio encabulado.

–Qualquer coisa mesmo mesmo.

–Então... – E o resto da confissão saiu em uma lufada só. – Tia Al, meu pai roubou sua pomada do kit de primeiros socorros. – E correu até o seu posto ao lado de Jeff.

Franzi o cenho.

–Não roubei, Sam. – Falou entre dentes.

–Tem razão, papai. O correto é furtou. Não houve contato corporal com a vítima no momento do delito.

Cruzei as pernas no sofá, achando graça daquilo tudo.

–Sam... – Repreendeu mais uma vez com o olhar. – Você não pode sair me denunciando por aí, filho.

–Mas a vovó me disse que contar uma mentira é algo inaceitável para os métodos educacionais.

Jeff tentou balbuciar alguma coisa, mas nada falou. Passou as mãos pelos cabelos, elas tremiam.

–Não roubei ou furtei nada, peguei emprestado. Eu ia devolver.

–Pode ficar com ela. Considere como um presente adiantado para seu aniversário. Seja lá quando ele for.

–Faltam 93 dias. – Respondeu Sam prontamente. – E faltam apenas 35 para o seu, tia Al.

–Como você sabe disso?

–Vi no seu calendário da geladeira. – Respondeu meio hesitante. – Você não ficou chateada, ficou?

–Eu sou, definitivamente, apaixonada pelo seu filho. Espero que isso não interfira na nossa relação, Jeff. – Levantei do sofá aos tropeços. Esbarrei-me na mesinha de centro e engoli um xingamento. – Seja lá qual ela for.

Acho que deixei Sam sem uma resposta e Jeff mais ainda. Se o dono dos olhos verdes acastanhados já estava meio nervoso, agora ele parecia como um daqueles menininhos hiperativos. Passava as mãos nos bolsos como quem procura algo.

–Está tudo bem, Jeff?

–Não. Quer dizer... Sim. – As mãos bagunçaram os cabelos mais uma vez. – Está sim. Só preciso, realmente, tragar um cigarro.

–Isso ainda vai te matar, caro Jeff. – Ele não respondeu. – Vai lá fumar teu cigarro que eu e o Sam vamos preparar os melhores waffles do mundo para o café da manhã.

Não pensou duas vezes antes de murmurar algo inatendível e bater a porta da frente.

–É o efeito da nicotina. – Explicou-me Sam. – Devido a secreção aumentada da dopamina provoca a dependência.

–Isso deve ser armazenado no meu cérebro para a posterioridade. – Arrumei os cabelos num coque desajeitado. – Você estudou a possibilidade de também pegar um câncer de pulmão?

–Sim, mas não são tão altas. Papai nunca fuma comigo por perto.

–Um ponto para ele.

–Ou um ponto para a vovó, ela disse que iria brigar pela minha guarda se ele fizesse isso.

–Definitivamente o ponto vai para ela.

Ele balançou a cabeça em concordância.

–Vamos lá calçar seus tênis e preparar os melhores waffles da história.

–Pode ter requeijão?

–E tudo o que tiver direito.

***

–Do que você vai querer? – Perguntei.

–Hm... Céu? Tem céu, moço? – A loirinha espichou-se toda em direção ao balcão.

–Sim.

–E chocolate?

–Sim.

–Mas tem creme?

–Também tem.

–Flocos?

–Anham.

–E amora?

O garoto, que não devia nem ter 18 anos, apenas balançou a cabeça, já impaciente.

–Então... – Minha sobrinha inclinou-se o máximo que conseguia para olhar por cima do balcão. – Eu vou querer morango.

Tá legal. Os caras das sorveterias nos odiavam. Eu não poderia culpá-los.

Não me perguntem como, mas Mel tinha aprendido a realmente explorar cada sabor de sorvete ao decorrer dos seus sábios anos de vida.

E bem... Isso não era tão legal para os caras quanto deveria ser para ela. Porque ela saia com um sorriso do tamanho do faturamento dos criadores da Nutella.

Essa era minha sobrinha, leitores. Não poderia ser diferente.

–Tia, você não vai acreditar no tanto de novidade que eu tenho para contar. – Ela estava tão animada que nem viu que seu sorvete de morango gotejava.

Viva ao estoque de guardanapos e para as pessoas que não achavam estranho ver uma criança andando embalada de guardanapo pela rua. Tudo para evitar que sua roupa de marca não fosse manchada.

Uma de suas blusas infantis custava uma pequena fortuna que me salário definitivamente não cobria.

–Ai. Meu. Deus. Pode ir me contando já!

Ela sorriu, totalmente animada.

–Só uma perguntinha-inha, tia. A fada madrinha também visita os meninos, né?

–Acho que sim. Talvez. – Dessa vez quem estava concentrada era eu. No meu sorvete de menta.

–Então olha só: ela visitou o Sam. – Franzi o cenho e juro que tentei levar a sério o lance da fada madrinha e suas visitas. – Porque ele não reclamou quando eu peguei o lápis verde dele e não coloquei na ordem certa depois.

–Ele tem uma fileira de lápis de cor?

–É. Ele seleciona por cores primerías.

–Acho que é primárias, Mel.

–É, isso aí. Mas tia Al, ele até disse sim quando eu o chamei para brincar!

Se a Mel continuasse pulando assim, nós teríamos que voltar a sorveteria para comprar outra casquinha e não, eu não queria fazer isso de jeito nenhum. Nós tínhamos um ritual bastante sensato de não repetir uma sorveteria duas vezes durante o período de 2 meses.

–Tá legal que ele ainda não gosta de abraços, mas tudo bem.

–Nem todo mundo gosta de abraços.

–Bem... É. Acho que não. Mas você gosta né, tia Al?

–Adoro abraços. – Ela parou de lamber seu sorvete e sorriu pra mim, o morango grudando no cabelo e as mãozinhas pegajosas.

Foi aí que eu notei que tinha errado. Agora eu tinha duas marcas de pequenas mãos na parte de trás da minha calça rosa. Isso não era tão atraente quanto soava.

Dica de hoje: Não diga que você gosta de abraços para uma criança quando ela estiver com um sorvete.

Já fazia uma semana que eu não via Jeff ou Sam. Eu tinha notícias do segundo através da minha pequena informante Melaine. E o primeiro, bem... Vez ou outra ele me mandava um sms.

A quem eu estou querendo enganar?

Todos os dias eu recebia seus malditos sms’s.

O primeiro tinha sido uma foto dele e de Sam, o rosto de ambos estavam escondidos pela espuma do que deveria ser creme de barbear. Era uma foto um tanto quanto bonitinha e eu tinha passado no mínimo 3 minutos só sorrindo ao vê-la.

Eu poderia ter notado aí que eu estava indo para um caminho errado, mas não notei.

Troquei uma dúzia de sms’s com ele, vejam só, me portando como uma adolescente boba. Quando eu o perguntei de sua ausência no café ele me respondeu que estava muito ocupado, perguntei se ele estava morto de fome ou somente magro e ele me respondeu que estava em perfeita forma, mas adoraria que eu desse uma pequena analisada.

Eu estava observando minha sobrinha correr atrás dos pássaros do parque. Sua blusa estava seca graças aos meus métodos educacionais. (Bem, eu me orgulho disso. Obrigada.) O que eu poderia dizer da loirinha? Ela gostava de soltar gritinhos empolgados e atazanar os passarinhos, e eu a adorava.

Eu estava tão tranquila que quase pulei do banco quando meu celular vibrou.

Se eu não acreditasse na santidade de uma criança, juraria que meu filho está louco por você. XXX Jeff

Dei uma última olhada em Mel antes de respondê-lo, minhas mãos coçavam por isso.

O que eu faço com meu charme que só encanta a faixa etária abaixo dos 18? XXX Alma

Não, eu não estava flertando com ele. Não estava.

A resposta veio logo em seguida.

Acho que você deveria aumentar a faixa etária. XXX Jeff

Alma, não responda. Você não deve responder, Alma. Não.

Aliás, nós temos que nos encontrar qualquer hora dessas e você tentará explicar a meu filho que eu não sou um chefe de cozinha como você. XXX Jeff

–Tia Al! – A loirinha piscou seus grandes olhos verdes escuros na minha direção. – Tia você tá me ouvindo?

–Cla...Claro. – Minha sobrinha me puxava na direção do grupo de pássaros. Eles pareciam tão assustadores assim de longe?

–Ai tia, você devia dar uma visitinha lá no tio Tony qualquer dia desses. Ele é médico da cabeça e pode tentar da um jeitinho na sua.

Eu ia abrir a boca para respondê-la quando meu celular vibrou em outra mensagem.

Já falei que amei a parte de trás dessa sua calça? XXX Jeff

Não foram preciso nem dois minutos. Sim, eu contei, não deu nem dois minutos para que o grito fino e animado de Melaine pudesse irromper pelo parque.

–SAM!

Acho que eu vou acabar precisando do número desse tal tio Tony.


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Notas finais do capítulo

Acreditem que nesse momento eu estou fazendo uma carinha de dar dó.Eu digo meus sinceros 'desculpas' pela demora. Fiquei tão feliz porque ganhei leitores novos ♥ Vocês são uns amores. Bem... Eu estive procurando loucamente para uma pessoa que tivesse um rosto como eu imagino a Alma. E imaginem só vocês, caros leitores, que eu me deparei pesquisando (e chegando a conclusão) que a esposa de um dos meus ídolos é o mais próximo de minha Alma. Giovanna Fletcher, esposa do princeso Tom Fletcher.
http://f8.mb-content.com/pictures/788/77/4/1477788_MLWTKKNCGHGPVGJ.jpg
Eu gosto tanto dela quanto eu gosto do idiota ao lado delahttp://www.contactmusic.com/pics/ln/20130429/300413_tom_fletcher/tom-fletcher-giovanna-fletcher-tom-fletcher-with-his_3635691.jpg
Nhac.Um beijo e um queijo pra vocês.



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