Obrigado e Volte Sempre escrita por Loly Vieira


Capítulo 1
Dia de sorte




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Ajeitei o vestido florido assim que saí do carro. Passando a sacola de comida chinesa de uma mão para a outra, que estava a oitava temporada de Criminal Minds.

Peguei a chave reserva enquanto subia as escadas do apartamento do Brian, pronta para fazer uma surpresa no seu aniversário.

Permiti-me sorrir antes de destrancar a porta e ver o sorriso mais lindo do mundo em minha direção.

Eu tinha feito uma viagem de 5 horas de carro para estar ali, agora, junto do cara da minha vida. Deixando minha mãe em sua cidadezinha natal com resmungões do tipo ‘quando crescem, trocam a mãe pelo namorado’.

Abri a porta tomando fôlego para gritar ‘PARABÉNS!’. Mas nunca cheguei a fazê-lo.

Minha boca se abriu, sim, mas de total surpresa.

–Alma... – Esse era meu namorado.

–Quem? – E essa era a loira mais peituda que eu tinha visto na vida.

PRÓLOGO - porque essa história merece um -

Testando.

Leitor?

Leitor, você está aí?

Desculpe pelos danos, estou confundindo sua cabeça, mas é por um bom motivo.

Eu sei que os prólogos costumam vir antes do primeiro capítulo, mas aqui as coisas são diferentes, leitor.

Quero deixar bem claro que minha função não é simplesmente narrar e você simplesmente ler. Não nessa história.

Principalmente depois da cena que vai se seguir, eu gostaria de firmar um pequeno compromisso. Com meu orgulho mais pisoteado que salão de sapateado, nada mais cabível que pedir antes de uma relação mais... Íntima entre nós, que tenhamos um trato.

Sim, leitor. Quero um trato. Porque aqui vão ser trocados sentimentos, pensamentos e tudo aquilo que você espera ler e eu tenho que escrever. É nossa função.

Pare agora leitor se você não estiver com cabeça para isso. Não leia se estiver esperando que haverá alguma barreira, não haverá nenhuma. Eu irei confiar em você. Abrirei as portas e janelas, o cadeado ficará sempre aberto a qualquer hora.

Dê a chance para outras histórias se não concordar com meus termos.

Mas se quiser ir a fundo, leitor, pode confiar, o resto está sobre minha responsabilidade.

Onde estávamos? Ah, sim... De volta ao capítulo 1

A comida chinesa se espatifou no chão, bem no seu tapete indiano que ele tanto adorava.

Ambos estavam nus no sofá vermelho em formato de L que ficava de frente a TV. O sofá que tantas vezes nós dois estivemos juntos.

Pisquei repetidas vezes. Brian se levantou, vestindo sua cueca boxer rapidamente, ao mesmo tempo que a loira se cobria com as roupas que ele jogava em sua direção.

Recuei alguns passos.

–Alma, meu amor, espera. – Ele ergueu as palmas das mãos em minha direção. – Vamos conversar.

Ele ainda tinha a cara de pau de me falar uma frase clichê de gente que tem culpa no cartório. Eu olhei de relance por seu ombro. Era uma garota muito bonita, de fato. Com cara de prostituta, mas mais... Quente do que eu.

–Ela por acaso usa o vestido ridículo que sua mãe deu no natal? – Eu voltei a encará-lo. Tão sedenta de raiva e ressentimento que me causava tontura. – Esse horroroso vestido florido que sua mãe deu? Ela compra a sua comida favorita, seu seriado favorito e viaja 5 horas para fazer uma surpresa pra você no seu aniversário na folga dela?

Ele não me respondeu.

–Há quanto tempo isso anda acontecendo? – Falei num falso controle sobre meu corpo, massageando as têmporas.

–Foi a única vez, Al! – Ele gritou quase me fazendo acreditar em seu desespero. – Você é quem eu quero. Eu juro. É você.

Parei alguns segundos no parapeito da sua porta antes de notar o que tinha acontecido: 4 anos de namorado jogados no lixo.

–Você é um estúpido. – Murmurei.

–Al, me desculpa... – Ele ousou se aproximar alguns passos, pisando no frango xadrez para me alcançar.

–Você acabou com tudo, Brian! – eu caminhei a passos pesados até a escada novamente.

–Eu quero o Bento! – ele gritou antes que eu pusesse o primeiro passo para fora.

–O quê? – girei nos calcanhares.

–Eu quero o Bento, eu que lhe dei. Eu quero meu cachorro. – Se o vizinho estivesse olhando pelo olho mágico nesse momento ele estaria tendo crises de riso. Um cara com uma cueca box, sujo de comida chinesa, com uma loira semi-nua atrás dele, estava exigindo alguma coisa.

–Experimente dar um passo dentro do meu apartamento, tocar um pelo do meu cachorro e você vai ver como se faz um aniquilamento genital masculino na Grécia Antiga!

Não esperei pela sua resposta e desci as escadas de dois em dois degraus.

Bento havia sido um presente de aniversário. Nós dois fomos a um abrigo e quando eu me apaixonei pelo cinzento, ele disse que poderíamos levar. Mas nunca – nunca mesmo – ele havia ajudado a cuidar do canino.

Bento morava comigo desde então e como passávamos o maior tempo no meu apartamento, o cachorro acabou se acostumando com ele e abanava o rabo quando Brian chegava.

Mas a relação dos dois se resumia a isso.

Permaneci tanto tempo parada da mesma maneira, com a testa apoiada no volante do carro, que meu celular teve que tocar duas vezes até que eu o atendesse.

Atender celular que é bom... Nada, né?

–Meu dia já está uma droga, Agatha. Se quiser piorar, liga pra polícia primeiro, ou melhor, para Samu, você vai precisar dela.

Calma aí, queridinha. – Minha irmã usou aquela voz fina e irritante. – Preciso que você busque a Mel no colégio.

–Hoje não vai dar. – Fechei os olhos e respirei fundo. Talvez minha irmã mais nova notasse que algo não estava bem.

Eu preciso que você a busque no colégio. A diretora me ligou, Mel está na enfermaria e eu tenho uma reunião agora.

***

Fiz a pior baliza de todos os tempos na frente da escola da Melaine.

Imaginei minha sobrinha adoentada numa maca de uma enfermaria qualquer, vários ferimentos surgiram na minha mente do meu tempo de faculdade de enfermagem, um pior que o outro.

Minha respiração estava acelerada quando eu finalmente cheguei ao destino. Nem bati na porta antes de entrar.

Ela estava lá, mas com um sorriso que mal cabia no rosto.

–Mel! – Andei a passos rápidos em sua direção, sentada numa maca dura com os pezinhos balançando para lá e cá, sufocando-a nos meus braços tão rápido que não deu tempo dela resistir. Eu amava aquela criaturinha loira de 5 anos, seus olhos verdes escuros, seu formato pequeno e sua personalidade forte.

–Tia Al! – ela se debatia. – Tia, eu ainda quero viver!

Eu me afastei para examiná-la. Seus cabelos estavam emaranhados, sua farda toda suja de sangue.

–MELAINE! – Eu gritei histérica. – Ai meu Deus, Mel, o que aconteceu com você? Quem foi que te fez isso?

–Tia Al, controle os nervos, mulher! – A mãozinha miúda atingiu meu ombro com pancadinhas amigáveis. Afastei-me mais alguns passos a contra gosto. – Tudo não passou de um mal entendido.

–Ela está sendo modesta. – Uma voz grossa rompeu o cômodo. Meu coração disparou como um louco, pelo rabo do olho deparei-me com o homem que esteve todo esse tempo ali, mãos enfiadas nos bolsos da calça, suas costas contra a parede e lado a lado de um garotinho que segurava um pano ensopado de sangue.

–Onde está a enfermeira? – Grunhi em total descrença. Como alguém, em sã consciência, deixa um garoto sozinho naquele estado? Mesmo sem ser chamada, eu me aproximei dele. – Foi uma pancada e tanto no nariz.

Seus olhos castanhos me fitaram assustados.

–Acho que vocês dois se envolveram num tipo de UFC para crianças e não contaram para ninguém. – Desviei o olhar para minha sobrinha que sorriu sapeca.

–O Sam não deixou barato, ele deu um soco e tanto na boca do idiota do Lucas. A enfermeira Gracie teve que ir com ele no banheiro masculino para ver se ele parava de dar chilique. – Franzi o cenho. Adorando saber onde minha sobrinha entrava nessa história.

–Meu garoto. – Gabou-se o homem.

–Você sabe que o Lucas é um idiota, tia Al. – Tagarelou ela. – Ele tava chateando o Sam por nada.

–E você foi se meter na história. – Completei.

–É... – Respondeu indiferente. – E o Lucas brigou comigo! E aí começou a emoção. Com o Sam dizendo para ele parar e o Lucas indo pra cima do Sam.

Agachei-me até ficar a altura de onde o tal Sam estava sentado. Estendi a mão em sua direção.

–Posso dar um jeito nisso por enquanto? – Ele me entregou o pano, estava úmido e a água gelada pingou em minha coxa nua. Gelo e sangue, ótima combinação. – Respire pela boca e incline o tronco um pouquinho pra frente.

Ele fez o que eu pedi, enquanto eu limpava a área ensanguentada com a parte do pano limpa.

–Você leva jeito pra isso. – Já tinha quase esquecido da existência do pai do menino ao nosso lado.

–Tranquei a faculdade de enfermagem no penúltimo período. – Dei de ombros.

–Tia Al é ótima com isso. Mamãe fala que ela poderia ser médica se fosse menos burra. – Senti-me corar.

–Mel...

–É verdade! – Defendeu-se.

Sam cravou os olhos castanhos em mim. Eu sorri para ele, que não sorriu de volta.

–Isso acontecia muito comigo também. – Falei para ele. – Toda vez que brincávamos de queimado na minha escola meu nariz era o alvo mais divertido.

–Por quê?

–Por que não era tão forte como você e desmaiava toda vez que isso acontecia. Devia ser engraçado pra quem olhava. Posso dar umas gargalhadas hoje em dia.

Ele sorriu. Um daqueles sorrisos cúmplices de quem sabe o que o outro está falando e entende.

–Meu pai e a garotinha se deram bem. – Ele falou dando uma olhadela rápida para os dois.

Nem tinha notado, mas ambos nesse momento estavam brincando de Adoleta onde Mel estava sentada. Ergui uma sobrancelha.

–Parece que sim. – Era estranho como o sujeito grandalhão se portava uma total criança, frágil e inocente, ao lado da minha sobrinha.

O nariz do Sam tinha parado de sangrar, eu estava finalizando quando senti uma presença inquieta ao meu lado. Suspirei.

–Tia Al – Chamou-me a garota manhosamente. – Ôh tia...

–Pode dizer, Mel.

–A gente podia levar o Sam e o pai dele na melhor sorveteria do mundo, né? – Sugestionou alegremente.

–Quem sabe algum dia. – Consenti. Uma resposta incerta era a melhor resposta para uma criança de 5 anos questionadora.

–Hoje parece ótimo. – Lancei um olhar torto para o mais velho.

Mas que diabos! Será que ninguém conseguia entender que eu só queria voltar para casa, deitar na minha cama, assistir FRIENDS e comer chocolate em paz?

Eu tinha o direito de ficar deprimida e reclamar pros quatros cantos o quão ruim estava meu dia.

–Mel. –Olhei em seus olhos verdes, que me observaram pedintes. – Nós não vamos tomar sorvete hoje.

–Você está tendo um dia não muito legal? – Ela perguntou baixinho. – É isso? – Eu fiz que sim com a cabeça. Seu sorriso infantil abriu-se radiante. – Então tomaremos sorvete e tudo se resolve!

Eu suspirei pesadamente.

–Muda essa cara. – O grandão passou por mim sorrindo debochadamente.

–Só tenho essa. – Respondi-lhe como uma criança birrenta. Revirei os olhos quando ele gargalhou.

–Não copiem essa moça, crianças. – Ele apontou para mim e olhou para os dois pestinhas que estavam lado a lado. Sam não parecia gostar muito dessa aproximação repentina da garota. – Ela não é um bom exemplo.

Estreitei os olhos em sua direção.

–Vamos logo tomar sorvete. A garota em chamas precisa controlar a temperatura. – Sorriu mais uma vez na minha direção. Eu o mataria agora se a faixa etária permitisse.

–Para completar meu dia. – Grunhi.


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Notas finais do capítulo

E aí?O destino estava conspirando para eu não postar essa história (meus dois pen drivers queimaram, os únicos lugares que ela estava), mas como eu sou teimosa cá estou eu.Espero que gostem. Rende uma boa história daí com a ajudinha de vocês.