Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 8
Surpresa II




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- E então? – ele perguntou, e eu não consegui responder. Eu sentia o vento bater em meu rosto e cabelo. Aquilo realmente me lembrava de São Paulo. E de repente eu senti saudade de tudo...como eu queria estar lá agora. Com meu pai, com Théo... – Alice?
- Porque você me trouxe aqui? – eu perguntei, sem pensar.
- Você não gostou? Desculpe eu...eu achei que faria você se sentir melhor. Eu não queria ter invadido sua privacidade assim. – minha garganta fechou. E eu não sabia se me sentia feliz ou triste.
- Não, mas é que... – eu fechei os olhos e respirei fundo, impedindo que as lágrimas viessem – É muita coisa pra eu processar, desculpe. – eu disse e me virei, pulando de volta para o muro e descendo pela árvore. Corri para dentro da casa e subi as escadas, quando estava no último degrau, esbarrei em alguém.
- Ei, ei. Calma, o que aconteceu? – Sebastian segurou em meus ombros e me fez olhar para ele.
- Sebastian me dá licença, por favor. – eu disse, baixo, abaixando a cabeça.
- Você tá chorando? – ele perguntou, levantando meu rosto meu pelo queixo.
- Não. Me dá licença Sebastian! – eu falei mais alto.
- Alice! – ouvi a voz de Bryan atrás de mim.
- Bryan, não. Eu só quero ir pro meu quarto. – eu disse, e me desvencilhei quando as mãos de Sebastian foram ficando mais frouxas em meus ombros.
- O que você fez com ela? – Ele perguntou a Bryan, observando minha expressão.
- Ele não fez nada comigo. Foi só um mal entendido. – eu disse, olhando para Sebastian, e depois de relance para Bryan.
- Mal entendido que te deixou assim? – ele apontou pra mim.
- Chega! – eu disse, levantando uma mão. – Parem com isso, vocês não me conhecem! Parem de agir como se vocês se importassem comigo! – as lágrimas inundaram meus olhos – Eu sou uma estranha pra vocês assim como vocês são pra mim, eu não pertenço a essa família! Então por favor, parem! – eu olhei para os dois, que olhavam atônitos para mim.
- Alice... – Sebastian deu um passo em minha direção.
- Não. – eu olhei para ele, friamente. – Eu não quero a piedade de vocês. – encarei Bryan, que observava tudo calado. – Boa noite. – e assim eu saí, entrando no meu quarto e batendo a porta.

O domingo, felizmente ou infelizmente, passou rápido. O clima era meio pesado entre mim, Bryan e Sebastian. Minha mãe e Patrick pareceram não perceber.
Era noite e eu estava no meu quarto revirando minha estante de livros para achar um que eu não tenha lido ainda, ou tenha paciência pra reler. Nada. Já tinha tentado de tudo, Théo não estava online, já tinha lido tudo o que estava na estante, não tinha nada de interessante na TV.
Meus olhos pousaram na porta do closet. É isso. Corri até lá e puxei a caixa que eu tinha colocado na estante mais alta. Peguei o último caderno e o puxei. Meu caderno de desenhos.
Fazia muito tempo que eu não desenhava, eu sentia saudades. Eu nunca deixava quase ninguém ver meus desenhos, mas as pessoas que viam, me diziam que era um dom. Um dom que eu puxei da minha mãe, por isso, depois que ela foi embora, eu nunca senti vontade de desenhar de novo.
Puxei qualquer lápis que tinha em cima da escrivaninha e deixei minha mente fluir. Eu costumava passa horas e horas em um desenho só, mesmo que só desenhasse por hobbie, eu só sossegada quando alcançava a perfeição. Mas dessa fez foi diferente, eu tinha esquecido a sensação que era colocar tudo que pesava em minha mente numa folha de papel. Em menos de quarenta minutos estava tudo pronto. Quando eu parei e olhei para o que eu tinha desenhado, me surpreendi comigo mesma.
Seattle. À noite. Vista de cima, do telhado dessa casa. A réplica perfeita do que eu tinha visto ontem à noite. 
Minha mente vagou até o que aconteceu ontem, e eu senti uma vontade repentina de concertar as coisas. Me levantei e prendi o desenho no mural de fotos e saí, indo até a porta do lado e bati, e logo a voz de lá de entrou mandou eu entrar.
- Alice? – ele olhou pra mim, surpreso. Se sentou na cama e fechou o livro que estava em mãos.
- Oi Bryan. – eu comecei, meio sem graça – Desculpa se eu te atrapalhei.
- Não, tudo bem, entra. Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou enquanto eu fechava a porta atrás de mim.
- Não. É que...eu sei que é estranho eu bater na porta do seu quarto essa hora, mas é que eu queria...falar com você.
- Ah, tudo bem. Senta. – ele apontou para o pé da cama, e eu caminhei até lá e me sentei. Me senti corar um pouco quando ele deu a volta e se sentou na minha frente. – Pode falar.
- Eu queria te agradecer pelo que você fez ontem.  – eu comecei – Foi realmente muito lindo.
- Mas eu pensei que... – ele começou confuso.
- Eu sei o que você pensou. – eu o cortei – E eu queria me desculpar por isso também. Pelo jeito como eu saí de lá, e pelas coisas que eu falei pra vocês aqui no corredor. É que...
- Você não precisa se explicar se não quiser. – ele disse.
- Mas eu quero. – eu soltei, sem pensar. Não sei como nem por que, mas eu sentia necessidade de me explicar. – Eu não sei lidar com isso. Com as pessoas se importando comigo. É tudo muito novo pra mim, e o novo me assusta. Na maior parte do tempo eu me sinto sozinha e só conto comigo mesmo. Eu nunca gostei de depender de ninguém. Porque quando você se importa com uma pessoa, você vira dependente dela, e então você espera as coisas dela. E na maioria das vezes elas te decepcionam. Por isso eu simplesmente não me deixo me importar, porque assim eu não viro dependente de ninguém. – ele ficou me olhando por uns segundos, antes de falar.
- O que te fizeram pra você pensar desse jeito? Tenho certeza que não foi só o fato que ocorreu com sua família. – ele perguntou, baixo.
- Eu prefiro não falar disso, Bryan...
- Mas você já veio até aqui.  – ele disse.
- Por isso mesmo, eu já fui longe demais. – eu disse, passando a mão pelo rosto.
- Alice... – Bryan começou e colocou sua mão em cima da minha, eu estava prestes a tirar a minha quando a porta se abriu e a figura de Sebastian apareceu.
- Bryan, nosso pai pediu... – ele parou e olhou para nós dois, retirei rapidamente minha mão de debaixo da de Bryan. – Opa! Me desculpem, não queria atrapalhar nada! – ele riu – Só passei pra avisar que nosso pai pediu pra dizer que caso vocês não queiram ir comigo pra escola amanhã, ele vai sair daqui às 7h. Obrigada e podem continuar de onde pararam. – ele sorriu e fechou a porta. Me levantei para ir atrás dele, mas Bryan segurou meu braço.
- Se for atrás vai ser pior. – eu me virei para ele e olhei sua mão em meu braço. Ele percebeu minha expressão e soltou imediatamente.
- Eu venho aqui concertar uma cagada, e acabo fazendo outra, ótimo! – eu disse, passando as mãos pelo rosto.
- Foi culpa minha, eu não devia ter feito o que eu fiz. – ele abaixou a cabeça.
- Não, olha Bryan, tudo bem. Eu vou dormir, porque amanhã o dia é cheio. Só espero que o que eu tenho dito aqui, fique por aqui. Boa noite. – não esperei uma resposta e segui em direção ao meu quarto.


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Notas finais do capítulo

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