Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 6
Conhecendo Seattle




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Aparentemente tinham todos a mesma idade, e se conheciam muito bem. Cheguei com Bryan e ele foi cumprimentando a todos. Uma menina se levantou da areia e veio correndo o abraçar.
- Bry! – ela gritou, depois que ele a soltou, ela olhou pra mim.
- Ash, eu queria te apresentar a Alice. – ele se virou pra mim e sorriu – É a filha da Elizabeth, que eu te falei que estava vindo morar aqui.
- Ah, claro! Oi Alice, meu nome é Ashley, mas pode me chamar de Ash! Seja bem vinda! – ela disse estendendo a mão. A peguei e nós nos cumprimentamos.
Ashley tinha mais ou menos o meu tamanho, era bem fininha e seu cabelo era loiro e cobria completamente suas costas.
Olhei em volta, essas não seriam pessoas que eu conviveria em São Paulo. Agitadas demais, felizes demais, perfeitas demais. Havia um menino com o violão, duas meninas sentadas em volta cantando alguma coisa que eu não consegui decifrar, dois meninos brincavam de futebol americano um pouco mais perto da água. Meus olhos pousaram sobre o olhar que me encarava de volta. Sebastian. Ele se levantou da areia e veio em minha direção.
- Vejo que conseguiu tirar a menina da toca. – ele disse a Bryan.
- Pois é. – Bryan riu.
- Bom irmãzi...desculpe, Alice – ele corrigiu, observando minha expressão – que tal acompanhar a gente num luau pra estrear sua vida como nova cidadã de Seattle? – eu encarei Sebastian, tentando achar qualquer vestígio de ironia ou qualquer outra coisa nessas palavras. Eu não confiava no Sebastian, não mesmo. Mas se eu quisesse começar a viver aqui, eu teria que começar de alguma forma.
Conforme a noite caía, os meninos foram deixando a fogueira mais forte. O menino que tocava violão, que tinha se apresentado como Connor, já tinha tocado o repertório inteiro de Jason Mraz e agora tocava algumas músicas aleatórias. Eu tinha trocado algumas palavras com Bryan, mas parecia que uma das meninas que estavam cantando com Connor não o deixava nem olhar para o lado. Taylor, eu acho.
A única pessoa que tinha se preocupado em me manter entretida era Ashley. Quando ela se levantou para conversar com uma outra menina, me levantei e me afastei deles um pouco, me encostando em uma das rochas e encarando a escuridão do mar. Depois de alguns minutos lá, Ashley me achou e se sentou ao meu lado.
- Não se importa de eu sentar não é? – ela disse, já se ajeitando.
- Não. – respondi, respirando fundo. A observei tirando algo do bolso, e só percebi que era um cigarro e um isqueiro quando ela acendeu o fogo. Ela deu uma longa tragada e esticou o cigarro para mim, o peguei e fiz o mesmo. Não era a primeira vez que eu tinha fumado, na verdade, ultimamente, eu fazia isso com frequência. Não era como se eu fosse viciada ou algo do tipo, era mais uma distração.
- Você não gosta muito daqui, não é? – ela perguntou, se virando para mim. Olhei para ela, não demonstrando que fiquei um pouco surpresa pela pergunta.
- Não é isso. – respondi, pegando o cigarro da mão dela.
- É o que então? – ela perguntou encostando-se à rocha ao lado da minha.
- Eu nunca quis sair do Brasil. Minha mãe me obrigou a vir pra cá.
- Elizabeth não tem cara de quem obriga alguém a fazer qualquer coisa. – ela disse acendendo outro cigarro e deixando aquele comigo.
- As aparências enganam. – eu respondi.
- Quantos anos você tem? – ela perguntou mudando completamente o assunto.
- Faço dezesseis daqui duas semanas.
- Então você vai entrar no segundo ano?
- Sim. – a observei assentindo.
- Boa sorte, então. – estavas prestes a perguntar o porquê, mas resolvi ficar quieta. – Eu também sou um pouco como você, reservada. Nunca fui de muitos amigos. Na verdade o único amigo que eu tenho é o Bryan. E às vezes eu fico estressada por ele andar com esses meninos que são todos influenciados pelo Sebastian, mas ele sempre dá um jeito de me colocar aqui no meio. De vez em quanto eu gosto de ficar por aqui com eles, é uma forma de distração. Mas eu sou daquelas que prefere a solidão.
- Influenciados pelo Sebastian? – perguntei.
- De tudo isso que eu falei, você só ouviu essa parte? – ela perguntou rindo, dei de ombros – Esses caras veem o Sebastian como um deus, uma divindade na Terra. Chega a ser cômico. Só eu e o Bryan que não damos muita atenção. O Connor também não é bajulador, mas é que eles têm personalidades parecidas, por isso se dão bem. O resto só falta lamber o chão que ele pisa.
- E as meninas? Aquela Taylor parece que nasceu grudada no Bryan. – eu ri.
- A Taylor é uma perdida, coitada. Ela é irmã do Connor, se joga em cima do Bryan, mas eu acho que o negócio dela é o Sebastian. Eles ficam de vez em sempre, ela e o Bryan. – ela riu – Eu prefiro ficar por fora disso.
- E você, não tem alguém? – perguntei, e depois me arrependi, percebendo que talvez tivesse ido longe demais. Ela riu.
- Não tenho cabeça pra essas coisas. Minha última paixonite foi o Sebastian, aí você imagina como eu acabei, certo? – eu assenti, rindo. – Então, depois disso, nunca procurei por mais nada. E você, deixou alguém no Brasil?
- Não. Não nesse sentido, digo. Deixei meu melhor amigo. – ela assentiu.
- Uma hora você se acostuma. – dessa vez foi minha vez de assentir. Ficamos por mais um tempo em silêncio, e então vimos uma sombra se aproximando, olhamos para cima e vi Bryan parar na nossa frente.
- Estavam se escondendo? – ele disse e olhou pra mim, encarando o cigarro em minhas mãos. Por um momento pensei que ele fosse dizer alguma coisa, mas ele ignorou. – A gente já tá indo. – ele estendeu a mão pra me ajudar a levantar e eu a peguei. Ashley já se estava de pé. – Quer que eu te leve até sua casa? – ele olhou para ela.
- Não Bryan, obrigada. Eu vou sozinha. – ela sorriu e eles se despediram. Ela sorriu pra mim e saiu andando. Voltamos para o centro da fogueira e esperamos Sebastian se despedir de todos.
Enquanto voltávamos pela orla, Sebastian começou:
- E então, gostou? – demorei um pouco pra perceber que ele estava falando comigo.
- Do quê? – perguntei, saindo do meio dos dois e indo para o lado de Bryan.
- De tudo. Do pessoal e tudo mais. – ele respondeu.
- Gostei. – respondi.
- Mas você nem ficou lá com a gente. Ficou escondida com a Ashley. – respirei fundo. Desde quando ele se preocupa?
- Sebastian, deixa ela. – Bryan disse.
- Tá, desculpa. Já entendi que você não foi com a minha cara. Mas eu ainda vou conseguir desfazer essa primeira impressão.
- Não é isso. – eu disse. E pensei porque disse aquilo, já que era isso. Eu não tinha ido com a cara dele.
- Não? É o que então? O Bryan já fez minha caveira?
- Não! O Bryan não tem nada a ver com isso. É que você me lembra uma pessoa que eu não gosto muito. – isso era verdade, ele me lembrava um dos meninos da minha sala, que se achavam perfeitos. Foi o primeiro menino pela qual eu me apaixonei, e depois do que ele fez comigo, eu nunca mais me deixei levar por ninguém.
- Ah é? Quem? – ele perguntou.
- Um menino que estudava comigo.
- E o que ele fez pra você não gostar dele?
- Não importa, esquece. – eu disse, já cortando o assunto.
Chegamos em casa e subimos direto para nossos quartos, Sebastian entrou no seu e não saiu mais. Eu troquei de roupa e desci para beber alguma coisa. Era tarde, quase meia noite. Encontrei o Bryan na cozinha.
- Sem sono? – ele perguntou.
- Não, muito pelo contrário, só desci pra pegar algo pra beber.
- Você se deu bem com a Ashley, não é? – ele perguntou, se encostando no balcão.
- Acho que eu posso dizer que sim. – respondi.
- Eu imaginei que sim. Você me lembra muito dela. – ele comentou.
- Ela disse mesmo que se parece um pouco comigo. – eu disse.
- Que bom que vocês se deram bem. – eu assenti e me virei para subir as escadas, Bryan me seguiu, apagando as luzes.  Subimos para o segundo andar em silêncio, e quando eu estava abrindo a porta do meu quarto, o observei abrindo a porta do seu, já que eram uma do lado da outra. O chamei.
- Bryan. – ele parou, voltando um passo e olhando para mim.
- Sim?
- Obrigada por hoje. – eu dei uma tentativa de um sorriso.
- Não precisa agradecer, Alice. – ele sorriu e entrou em seu quarto.


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