Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 44
E então tudo fica claro




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Foi como um dejavú.
Poucos meses antes havia acontecido exatamente a mesma coisa. Mas o final havia sido feliz.
Dessa vez eu não imaginava como isso poderia terminar em algo feliz.
Uma sensação estranha percorria todo meu corpo a cada vez que eu imaginava o que estaria acontecendo.
– Vai dar tudo certo, Alice. Tenho certeza que não é nada grave. – Sebastian disse, como se lesse meus pensamentos. Eu estava olhando pela janela, um ma mão apoiada no queixo. Quando Sebastian disse isso, olhei para baixo, e depois me virei para olhar para ele. Ele desviou a atenção da estrada por um momento para me encarar, e eu o agradeci com o olhar. Ele voltou a prestar atenção na estrada, e então quem buscou por apoio fui eu.
Estiquei meu braço pousei minha mão em seu braço. Ele olhou para minha mão e depois para mim. Entendendo minha necessidade, ele tirou uma das mãos do volante e pegou a minha, entrelaçando nossos dedos novamente, como havia feito da primeira vez.
Então eu voltei a encarar a janela, tendo a horrível sensação de que eu não voltaria tão feliz para a casa como aconteceu da primeira vez.

Quando chegamos, os médicos autorizaram nossa entrada no quarto onde minha mãe estava no mesmo momento. O que foi um alívio para mim, mas não por um momento.
Ao abrir a porta, eu vi que alguma coisa estava errada, muito errada. Alguma coisa estava faltando.
Encontrei os olhos de Patrick, que sentava na beirada da cama, e estavam vermelhos e inchados. Ele segurava uma das mãos de minha mãe. E a outra...bem, a outra estava apoiada em sua barriga. Onde não havia nenhuma saliência.
Meu coração parou por alguns segundos. Meu corpo endureceu.
Eu queria virar as costas para aquela cena e sair correndo para onde nada pudesse me alcançar. Eu não queria enfrentar aquilo, e ao encontrar o olhar de minha mãe, ela pareceu entender isso na mesma hora. Era muita coisa para eu lidar em tão pouco tempo.
Talvez fosse a cena mais triste que eu já tivesse visto em toda minha vida.
O sexo da criança seria descoberto em uma semana e meia. Vários nomes já estavam sendo cogitados. Já estava sendo planejado transformar o escritório de Patrick em um quarto para o bebê.
Todos esses planos destruídos. Um aborto espontâneo.
Eu me ajoelhei ao lado de minha mãe e meus olhos automaticamente encheram de lágrimas.
– Não. – ela me disse, com a voz ainda fraca e rouca – Não chore. Vai ficar tudo bem, nós ainda poderemos tentar outra vez. Por favor, Alice, não chore. – e então foi ali que eu vi que ela precisava de mim. Precisava de mim para ser forte, e dar forças a ela. Eu teria que dividir esse fardo com ela durante todo o tempo que ela precisasse, e deixar minha dor de lado para aguentar a dela.
Mas eu sabia que eu não era forte o suficiente para isso, e ela também. Ela me conhecia muito bem para saber que tudo o que eu sabia fazer era fugir dos meus problemas e usar a frieza para encobri-los. E que todas as nossas discussões e diferenças algum dia iriam vir à tona e pesar sobre nossos ombros, e nos fazer pensar em tudo o que não foi dito, ou em quanto tempo nós perdemos. E que nós simplesmente não iríamos aguentar a pressão, e então daríamos um jeito de fugir.
Porque é o que eu faço. É o que nós fazemos.
Durante todo esse tempo nós reprimimos tanto nosso amor uma pela outra que todas as vezes que tentávamos uma reconciliação, ela não durava muito tempo. E nós deixávamos as coisas por isso mesmo, porque enfrentar os problemas de frente não é uma de nossas características.
E foi ali, naquele momento que ela me pediu para não chorar, foi que eu vi que eu não aguentaria. Que eu cederia à pressão e iria transformar minha própria vida em um poço frio e escuro. E ela também viu isso.
E quando nós saímos daquele hospital, eu no carro de Sebastian, e ela junto com Patrick, eu já tinha certeza de qual seria meu destino dali para frente. Eu só não sabia como iria enfrentá-lo.

Chegando em casa, eu ajudei Patrick a ajeitá-la na cama enquanto Sebastian ligava para Bryan para dar a terrível notícia. Eu deixei os dois sozinhos dentro do quarto e fui para sala que era onde Sebastian estava, ele estava colocando o celular no bolso quando me ouviu me aproximando e se virou para mim. Eu conseguia ver a solidariedade em seus olhos, e o quanto ele estava lutando para ser o melhor amigo possível para mim.
Ele nunca foi acostumado a dar apoio a ninguém, e isso estava sendo novo para ele. E eu estava muito agradecida por ele estar tentando.
Ouvimos o carro de Bryan entrar na garagem, e alguns segundos depois ele apareceu na sala, e ao olhar o dois me encarando com pesar, eu não consegui mais aguentar. A dor explodiu em meu peito e eu comecei a chorar. Vi de relance Bryan andando em minha direção para me abraçar.
Mas os braços que me envolveram foram outros.
Um abraço forte e decidido, disposto a me proteger de tudo que poderia tentar me machucar. O mesmo abraço que eu recebi quando contava pela primeira vez para alguém sobre minha primeira decepção amorosa, o mesmo abraço que fez questão de me desejar feliz aniversário, o mesmo abraço que me fez me acalmar quando eu pensava que algo teria acontecido com a minha mãe quando descobri que ela estava grávida.
E de repente eu me senti tão culpada.
Como se não fosse para aquilo estar acontecendo, como se de alguma forma aquilo fosse culpa minha. Como se eu tivesse escolhido agir do pior jeito desde que cheguei aqui.
Como se eu não devesse estar sentindo o que eu estava no momento.
– Meninos. – a voz de Patrick ecoou pela sala, e eu me desvencilhei do abraço de Sebastian e me virei para ele. – Elizabeth agora precisa descansar, ela passou por momentos... – ele limpou a garganta – complicados. Eu precisarei da ajuda de vocês a todo o tempo até ela se recuperar completamente. Ela precisa principalmente se recuperar...psicologicamente. – na última palavra sua voz se embargou, e seus olhos encheram de lágrimas. Ah, não.
Bryan se aproximou e passou os braços pelos ombros do pai, o abraçando, Patrick retribuiu o abraço e afundando a cabeça no ombro do filho, começou a chorar.
Eu não tive reação na hora, tudo o que eu queria fazer era voltar para o abraço de Sebastian e chorar de novo, mas nem para isso eu tinha forças. Ver Patrick chorando daquele jeito me fez perder o chão debaixo dos meus pés. A sala deu um giro de 360 graus e foi como se o teto tivesse atingido o chão. Senti Sebastian me abraçar pela cintura e me sentar no sofá mais próximo.
– Vai. – eu sussurrei em seu ouvido enquanto ele me ajeitava – Seu pai precisa de você agora. Vai. – com a visão embaçada eu o observei me encarar. Seu rosto estava a poucos centímetros do meu, sua respiração batendo em meu rosto. Então ele terminou de me deitar e caminhou até onde Patrick ainda abraçava Bryan, e envolveu os dois em um abraço.
Talvez tenha sido a cena mais triste e ao mesmo tempo a mais linda que eu já tenha visto até agora.


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