Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 42
A verdade, e nada mais que a verdade




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Era um dos dias em que eu teria que ficar até mais tarde na escola, pois era um dia de período integral. Desde o dia em que eu havia realmente acabado tudo com Bryan, ele estava me tratando diferente, com certa frieza. E eu não via como não dar razão a ele.
Eu estava sentada com Sebastian debaixo na árvore em que estávamos acostumados a nos reunir.
– Você está decidida a levar isso a sério? – ele quebrou o silencio.
– Isso o quê? – eu olhei para ele.
– Você e Bryan terminarem. – ele girava o celular nas mãos, sem olhar para mim.
– Eu gosto de Bryan, Sebastian, mas eu simplesmente não posso dificultar as coisas em casa. Minha mãe e Patrick são totalmente contra isso e eu cansei de causar tantos problemas. Eu só quero viver bem aqui, só isso. – ficamos em silencio por um tempo, até que ele falou:
– Você mudou. – foi apenas o que ele disse.
– Não Sebastian, por favor não. Eu já ouvi isso uma vez e não foi em uma situação muito agradável e...
– Não. – ele me interrompeu, colocando a mão em meu rosto. – Não estou te repreendendo.
Mas você mudou mesmo, Alice. Quando você chegou aqui, tudo o que você queria era ir embora. E olhe para você hoje, desistindo de algo para poder viver bem aqui. Você encontrou um motivo para ficar, Ally, um motivo que fez você se importar o suficiente para se desprender do Brasil. Você se importa. Isso é uma mudança e tanto, principalmente para você. – eu não entendi direito o que ele quis dizer com a parte do motivo, mas ouvir Sebastian dizer aquilo me fez me sentir melhor, e isso bastou para eu sorrir. Me inclinei e deixei um beijo em sua bochecha.

Chegando em casa, fui para meu quarto, mal me deitei em minha cama e a porta já se abriu, revelando minha mãe. Ela estava prestes a completar dois meses de gravidez. Isso significava que o ano letivo estava acabando. Semana que vem era a última semana de aula, e a semana de provas. No final de semana seguinte seria a formatura dos veteranos, no caso, Bryan e Sebastian.
Nossa relação tinha regressado boa parte do que havia se desenvolvido nesses últimos meses.
E pelo olhar sério dela me encarando no pé da cama, ela estava realmente muito disposta a conversar sobre isso.
– Alice, eu queria conversar com você.
– Pode falar. – eu disse me sentando na cama. Ela se sentou perto de mim e então começou a falar.
– Sabe, eu estava tão feliz que finalmente nós estávamos nos dando bem, que finalmente estávamos tendo uma relação de mãe e filha. E então nós regredimos praticamente todo o caminho! Eu só quero deixar bem claro que não importa qual seja sua atitude daqui pra frente, eu não posso fazer nada quanto à decisão sobre essa relação impossível. Eu só esperava mais de você, esperava que você soubesse que isso era loucura!
Você esperava mais de mim? – quando levantei meus olhos para ela, eles já estavam marejados. Minha voz era baixa e cortada. – Desculpe mãe, mas acho que você não tem o direito de esperar nada de mim. Se eu te decepcionei agora, nós estamos quites, não acha? – ela me olhou por alguns segundos e depois abaixou olhar.
– No dia em que sua avó veio te visitar, - ela começou – ela me disse uma coisa que eu achei um absurdo. Nós estávamos na cozinha, e ela me mandou ficar atenta com você. Ela me disse que mais cedo ou mais tarde você se envolveria com um dos dois, pois adolescentes eram assim. E foi a primeira vez que eu duvidei dela, e eu estava errada. – então eu comecei a lembrar daquela tarde, e me lembrei de quando estava ouvindo à conversa das duas, escondida. Então era isso que minha avó falava. Ela já tinha percebido uma coisa que nem eu estava ciente. – E sabe o que ela me disse depois, Alice? – eu balancei a cabeça negativamente. – Ela me disse que sabia disso, pois eu era exatamente igual a você. – e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa a mais, eu finalmente pedi.
– Eu quero saber tudo. Eu quero a verdade, mãe. – ela me olhou de momento confusa, mas depois sua expressão foi clareando, e o medo tomou conta dela. – Porque você me abandonou? – minha voz era fria e baixa. Ela respirou fundo, e então começou:
– Eu namorei a primeira vez quando eu tinha 15 anos. Era o menino que toda menina sonhava, minha mãe o adorava. Ele morava duas ruas atrás de minha casa. Se você quiser um dia, eu posso levar você para conhecer a casa e que eu nasci e cresci aqui em Seattle. – eu acho que nunca contei isso antes, mas vocês já devem ter percebido que minha mãe é de Seattle, por isso um dos meus sobrenomes é Campbell. O outro é Campos, caso você esteja se perguntando. – E eu achava que ele era o homem da minha vida, sabe? Ele era tudo que eu procurava, e eu estava perdidamente apaixonada. Eu o namorei até meus 18 anos. Nós estávamos prestes a noivar, e então eu literalmente tropecei em seu pai na rua. Ele andava de bicicleta e quase me atropelou em uma esquina. E nós começamos a tropeçar um no outro todos os dias. Eu diria que ele era um cara persistente, acho que você puxou isso dele. E então ele começou a se aproximar de mim, cada dia me trazendo uma história diferente sobre o Brasil, e eu estava fascinada. Um brasileiro que estava passando as férias em Seattle, tão independente, tão cheio de si. Eu acabei me apaixonando. E então eu joguei tudo para o alto, terminei um relacionamento de quatro anos e antes que qualquer um pudesse me impedir, nós fugimos. Eu fugi com seu pai para o Brasil sem fazer a mínima ideia do que aquele país poderia me oferecer. Eu não falava português, eu não sabia exatamente nada sobre a cultura. Para mim aquele lugar era outro mundo. Mas seu pai soube exatamente como me encaixar. Eu aprendi a falar português, eu arranjei um emprego, eu comecei a viver. Mesmo que a família de seu pai tivesse dinheiro, eu não queria depender deles, e seu pai me apoiou, e nós crescemos juntos. E então eu descobri que estava grávida. Você nasceu, e cresceu. E conforme o tempo foi passando, eu fui percebendo a loucura que eu tinha feito. Eu tinha uma vida aqui em Seattle, uma vida perfeita, que apenas uma louca desperdiçaria. Eu faria uma faculdade, eu me casaria com meu futuro noivo, e nunca mais precisaria me preocupar com nada. E a sombra da dúvida me dominou, e eu fui ficando cada vez mais infeliz. Então um belo de um dia, sua avó pegou um avião e foi para o Brasil nos visitar, você provavelmente lembra desse dia. E eu perguntei a ela o que havia mudado por aqui, e ela me respondeu que não muita coisa. Ela também me disse, Alice, que se eu quisesse cometer mais uma loucura, e largar tudo e voltar com ela, eu ainda teria mais uma chance. E como você pôde ver, eu apreciava loucuras. Mas eu não voltaria com ela, eu não podia deixar você tão pequena. Então eu esperei mais alguns anos, até eu ver que você tinha maturidade o suficiente para entender, ou tentar entender. E então eu fiz o maior sacrifício da minha vida. Eu deixei você. Mas eu fui embora, Alice, sabendo que não seria permanente, que nós nos reuniríamos novamente. Eu só precisava me estabilizar aqui. Eu queria ser feliz, e queria que você crescesse em um ambiente feliz, não naquele em que você estava crescendo, vendo que seus pais não se amavam. Eu sabia que conseguiria te dar uma vida melhor aqui. E quando eu cheguei aqui, eu descobri que eu realmente tinha uma segunda chance. Meu primeiro namorado, aquele cara que eu pensava que era o amor da minha vida, estava disposto a me aceitar. E eu me casei com ele.


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