Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 23
Uma história mais trágica que a minha




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Nem mesmo senhor Young conseguiu prender minha atenção naquele dia.
Os ocorridos do dia anterior ainda rondavam minha cabeça. E eu não conseguia tirar os olhos de Taylor, como que se agora que eu sabia o que ela quis dizer no dia seguinte à festa de Connor, estivesse fazendo com que eu me sentisse mais estranha em relação a ela. Como se ela tivesse algum tipo de vantagem sobre mim.
Passou pela minha cabeça milhões de vezes ir esclarecer a situação, mas eu não devia explicações a ela. E também não era só isso, era também a forma que Sebastian e Bryan vinham me tratando. Não conseguíamos ter uma conversa sem que eu corasse ou ficasse um clima estranho no ambiente. O que me irritava era que eu não conseguia definir estranho.
E depois vem minha mãe. Sentada no sofá, sozinha, pálida. Aquela história de mal estar não tinha me convencido. E eu não conseguia fazer muita coisa, pois eu não estava acostumada a me preocupar com ela. E isso me frustrava. Eu sabia que ela estava precisando de mim. Mas simplesmente não dava. Por mais que nosso relacionamento tivesse melhorado, ainda não era algo natural.
O sinal tocou, me despertando do transe.
Recolhi minhas coisas de qualquer jeito procurando freneticamente  por alguém para poder conversar, encontrei Ashley lidando com os cadernos que não paravam em suas mãos.
- Quer ajuda? – eu cheguei rindo e pegando um caderno que estava prestes a cair.
- Não, obrigada. – ela respondeu seca, tirando o caderno de minha mão e passando por mim, pisando duro.
- Ashley! – eu a chamei – O que houve? – eu perguntei enquanto corria para andar ao seu lado.
- Nada. – ela disse, sem me olhar.
- Ashley! – eu disse mais alto e segurei em seu braço. Algumas pessoas que estavam no corredor pararam para nos olhar. Ela olhou em volta e depois olhou para mim.
- O que foi? – ela perguntou, baixo.
-O que está acontecendo? – eu perguntei.
- Alice, me deixa ir pra minha sala. – ela tentou soltar o braço, mas eu segurei mais forte.
- Não antes de você me explicar porque você está assim. – ela me olhou, e depois saiu andando, me puxando junto com ela. Fomos até o corredor dos armários, que estava quase vazio.
- Bryan aconteceu. – ela respondeu, se jogando em uma das portas dos armários e bufando.
- Bryan? – perguntei.
- Sim. Eu não aguento mais ter que ficar esperando que ele esteja sem aquela vadia para poder falar com ele. Eu não sei mais quem é Bryan. Ele se deixou levar totalmente por ela. Eu acho que – ela suspirou – eu acho que ela pediu para ele não falar mais comigo, ou coisa assim. Eu percebi que ele fica meio tenso quando eu vou falar com ele e ela está junto. Isso me dá tanta raiva! – ela passou a mãos pelos cabelos.
- Ash, olha...eu entendo você. Realmente entendo. Eu também sinto como se ele estivesse...- eu pensei na palavra, para não acabar falando o que não devia – estivesse se perdendo. Sabe?
- Isso. – ela sussurrou – ela está o destruindo.
- Eu sei que ela tem uma grade parte da culpa em tudo isso. Mas Ash...Bryan não é mais criança para ser influenciado facilmente assim. Talvez ele esteja meio perdido mas...bem, acho que você deve falar com ele. Converse com ele. Você o conhece mais que ninguém. – eu a encorajei com o olhar, logo depois juntando minhas coisas e indo enfrentar a próxima aula.

Depois do final do período da manhã, tínhamos nossas 2h de almoço antes de começar o período da tarde, já que hoje era segunda e o tempo era integral.
Encontrei Connor me esperando perto do refeitório, e então seguimos para o espaço debaixo da árvore que sempre ficávamos antes do período da tarde. Ao chegarmos lá, o espaço estava vazio, ninguém havia chego ainda. Nos acomodamos e de repente Connor ficou tenso.
Levantei o olhar para ele.
- Taylor vai pra minha casa hoje. – ele resmungou. Às vezes eu até esquecia que eles eram irmãos. Eles não se tratavam como irmãos.
- Connor, - eu comecei – porque sua relação com ela é tão...difícil? – eu perguntei – Desculpe se eu estou perguntando demais.
- Não, tudo bem. É uma longa história. Preparada? – ele apertou o braço em volta da minha cintura.
- Preparada. – eu respondi, sorrindo.
- Bom, meus pais se separaram logo depois que Taylor nasceu. Naquela época eu tinha mais ou menos um ano de idade. Eu fiquei com minha mãe, e ela com meu pai. Não me pergunte o porquê, nem eu sei. Enfim, depois do divórcio, meu pai se mudou para Nova York com Taylor, e nunca mais apareceu. Quer dizer, apareceu. Doze anos depois.
- Doze anos? – eu perguntei, assustada.
- Sim. – ele respondeu – Depois de doze anos ele voltou pra Seattle com ela. E então eu conheci minha irmã, de verdade. E bem, logo de cara a gente não se deu muito bem. Meu pai a criou da pior maneira possível, e então ela se tornou essa menina mimada e egoísta que você conhece. – ele fez uma pausa – Sabe...eu poderia ter corrido atrás, querer conhecer ela e meu pai também. Mas eles nunca fizeram falta. Mas enfim, depois que ele voltou, acho que eles entraram em algum acordou, ou alguma coisa do tipo. Não importa aonde, eu e ela sempre estudaríamos na mesma escola. Por isso ela está aqui. E ela ainda mora com meu pai. Por isso que no dia da festa que eu dei em casa, eu não fiz questão nenhuma de ajudá-la a ir pra casa quando ela estava bêbada.
- Mas...sua mãe também é mãe dela. Ela nunca fez nenhuma objeção quanto seu pai sumir com Taylor durante doze anos? – eu perguntei, ainda digerindo a história inteira.
- Taylor foi uma gravidez indesejada. Quando ela nasceu, minha mãe teve depressão pós parto, e tudo mais. Ela pareceu nem ligar quando meu pai disse que iria para Nova York e iria levar Taylor com ele. Na verdade ela nunca ligou para nada, até hoje ela não liga para mim. – eu apertei sua mão mais forte, vendo que ainda era um pouco difícil para ele falar disso.
- Você já imaginou como seria se vocês tivessem crescido juntos? Digo...como irmãos de verdade?
- Inúmeras vezes. Mas eu não imagino como poderia melhorar alguma coisa. Como eu disso, nem ela nem meu pai nunca fizeram falta. – ele respirou fundo – Sabe Alice, às vezes eu ainda fico meio confuso. De um tempo pra cá, eu perdi a conta de quantas vezes eu encontrei meu pai saindo de fininho de casa de manhã. Eu via. Eles ainda têm alguma coisa. E isso pode parecer egoísta, mas eu não gosto disso. Eu não consigo nem imaginar uma figura paterna querendo ter algum tipo de presença na minha vida. Mas eu ainda prefiro meu pai do que os outros caras desconhecidos que eu já vi saindo de casa de madrugada também. – ele riu sem humor nenhum.
- Eu não sei nem o que dizer, Connor. – eu me virei para ele, passando a mão de leve em seu rosto. – Eu nunca ouvi nenhuma história parecida. Sinto muito. – foi tudo o que eu consegui dizer.
- Não precisa sentir. Foi o ambiente em que eu cresci. Eu já estou acostumado. – ele colocou a mão por cima da minha e se inclinou para me beijar. Depois de algum tempo nos beijando, ele se afastou, como se tivesse esquecido de dizer alguma coisa.
- Onde você estava ontem que eu te mandei várias mensagens e te liguei várias vezes e você não deu sinal de vida?
- No apartamento do meu pai. – respondi.
- E precisava desligar o celular? – ele perguntou. Eu arqueei uma sobrancelha.
- Eu desliguei por causa da minha mãe, Connor. – ele assentiu, fazendo uma cara feia – Porque essa cara? – eu perguntei, já séria.
- Nada. – ele respondeu – Esquece.
- Connor, por favor! Eu estava com o meu pai. – eu disse.
- Eu sei! Mas o problema não é seu pai. É quem está no apartamento junto com ele. – ele disse. Demorei um pouco para perceber de quem ele estava falando.
- Théo? – perguntei.
- Você sabe que sim. – eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Tirei o braço dele de minha volta e me sentei, olhando diretamente para ele.
- Ah não. Eu pensei que você tinha entendido quando disse que ele é meu melhor amigo. E você passou meu aniversário conversando com ele, porque isso agora? – eu já estava um pouco alterada.
- Porque eu estava em sua casa, e ele era seu convidado. Eu não iria ser rude. – meu sangue ferveu.
- Eu não acredito que eu estou ouvindo isso. – agora sim ele tinha conseguido me deixar brava. Realmente brava.


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