Um pé na frente do outro. Era apenas o que eu precisava fazer para atravessar o aeroporto e encontrar a mulher que me esperava com a expressão ansiosa.
- Ah, meu amor! Quanto tempo! – ela me abraçou. Coloquei minhas mãos em seus braços, gesto máximo de carinho que eu estava disposta a demonstrar.
- Três anos. – respondi. Ela assentiu, e sorriu, sem graça.
- Patrick está louco pra te conhecer. Os meninos também estão. Seu inglês está afiado, não está?
- Sim. – respondi enquanto andava atrás dela com minhas malas em direção ao carro. Me sentei no banco do carona e coloquei meus fones de ouvido.
- Alice, se você não quer falar comigo, eu entendo. Mas por favor, aproveite. Você está em Seattle. É muito melhor que São Paulo. Você vai amar, eu tenho certeza.
- Eu amava São Paulo. Amo, na verdade. – respondi.
- Não, você amava a vida que levava em São Paulo. E vai aprender a amar a que vai levar aqui em Seattle também.
- Quando meu pai vai poder vir me visitar? – perguntei observando a cidade pela janela do carro.
- Não sei, Alice. – e assim continuamos a viagem em silêncio.
Meia hora depois, estacionamos em frente ao que seria minha nova casa daqui pra frente. Mas aquilo não era uma casa, era uma mansão.
- É aqui que você mora? – perguntei, boquiaberta.
- Sim, e agora você mora aqui também. Essa casa também é sua. – Uau. Caminhamos até a porta de entrada e minha mãe a abriu, me dando passagem para ir na frente. Eu não sabia pra onde olhar.
O hall de entrada era um cômodo grande e largo,com quadros de diversas épocas na parede, seguido de um pequeno corredor que dava diretamente para a sala de estar, onde se situavam dois sofás de três lugares cada um, um de frente para o outro, com uma pequena mesa de centro, uma lareira gigante de um lado, e um televisão gigante do outro.
Na parede onde se situava a lareira, ao lado dela, seguia uma escada que ia até o segundo andar.
- Pode subir, seu quarto é a porta do meio do corredor. Arrume suas coisas e desça para o jantar, Patrick provavelmente está no escritório, e Bryan está em seu quarto.
Subi as escadas e andei até meu quarto. Era um quarto grande com uma grande cama de casal, e uma escrivaninha de canto, com um notebook em cima. A porta do banheiro ficava ao lado da porta do closet. Desfiz minhas malas e arrumei minhas roupas. Depois de tudo feito, me sentei ao pé da cama.
Essa seria minha vida a partir de agora. Agir como se nunca nada tivesse acontecido. Como se essa mulher que me pegou no aeroporto nunca tivesse saído de casa há três anos atrás e se mudado para os Estados Unidos para viver essa vida de rainha. É essa a mulher que eu chamo de mãe.
Estudar na melhor escola de Seattle, viver em uma mansão, ter tudo na hora em que eu quiser. Qualquer outra menina na minha idade daria tudo para ter uma vida dessas, mas eu não. Eu não queria ter me mudado, eu não queria ter vindo morar aqui. Eu quero minha casa de volta, quero meu pai de volta, quero meu melhor amigo de volta. Théo. Se alguém ficou mais abalado com a noticia da minha mudança além de mim, foi ele. Théo é meu melhor amigo desde que eu me entendo por gente. Na verdade, é meu único amigo.
Fui interrompida de meus devaneios ao ouvir um barulho na porta.
- Entra. – falei.
- Já arrumou suas coisas, Alice?  – minha mãe entrou no quarto. Fiz que sim com a cabeça. – Gostou do quarto? Eu mandei pintar de acordo com seus gostos.
- Gostei sim. Obrigada. – pelo menos dos meus gostos ela lembra.
- Ótimo. Patrick está esperando por você. – ela sorriu.
- Já estou descendo. – disse e ela assentiu, deixando o quarto.
Patrick é o novo marido da minha mãe. Eu nunca o vi pessoalmente, apenas algumas vezes em que ele aparecia nas chamadas por Skype que eu fazia com a minha mãe.
Hora de enfrentar o presente, Alice.