Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 11
Tudo de uma vez




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391954/chapter/11

Chegando em casa subi direto para meu quarto e liguei o computador. Felizmente encontrei Théo online. Conversamos por mais de uma hora e eu lhe contei tudo sobre meu dia, e assim ele fez também.
Bryan havia me dito que hoje tínhamos sido liberados do período integral, pois era o primeiro dia de aula depois das férias, mas que na próxima semana, teríamos que ficar na escola pelo período integral as segundas, quartas e sextas. Ótimo!
Eu estava sentindo falta de um livro, mas eu já tinha acabado com todos da minha prateleira, então, fui até Bryan para ver se ele tinha algum para me emprestar. Bati na porta de se quarto e ele não respondeu, então desci as escadas e o encontrei na sala, vendo TV.
- Bryan. – eu chamei do pé da escada, e ele não me respondeu. – Bryan! – falei mais alto e não obtive resposta. Andei até o sofá e pude vê-lo dormindo profundamente. Ok, eu podia conseguir um livro depois. Me virei e segui em direção a escada, e quando coloquei o pé no primeiro degrau, o ouvi chamando:
- Alice? – me virei e o observei coçando os olhos, enquanto tentava focar em mim. Não consegui falar por um instante, tudo o que eu conseguia fazer era admirar seus olhos me encarando. – Está tudo bem? – ele falou, me tirando do devaneio.
- Sim...é que eu só queria...um livro. Eu fui até seu quarto e você não estava, então eu desci e vi você dormindo. Não quis te acordar, desculpe.
- Não, tudo bem. A maioria dos meus livros estão no escritório do meu pai, pode escolher.
- Ai Bryan, eu não me sinto bem entrando no escritório do seu pai. – eu disse, rindo envergonhada.
- Mas não tem problema nenhum, Alice. – ele disse, e eu balancei a cabeça. – Ok, eu vou com você. – ele se levantou e eu observei que ele estava com uma regata que marcava todo seu físico impecável. Alice, você não deveria estar reparando nessas coisas.
- Não precisa se preocupar Bryan... – eu comecei, mas ele já estava seguindo pelo corredor e gritando para eu acompanhá-lo. Entrei atrás dele no escritório e ele apontou pra estante.
- Meus livros estão desse lado – ele apontou para o lado esquerdo. – O resto são apenas livros escolares e os livros de negócios do meu pai. Andei até lá e comecei a passar a mão pelos livros. Eu tinha muitos, mas nada comparado com a quantidade que tinha ali.
- Não sei nem por onde começar... – eu falei dando mais uma olhada. Senti que Bryan se aproximou e parou bem atrás de mim, seu braço encostando em minhas costas e sua respiração em meus cabelos. Ele esticou o outro braço, passando ao lado de minha cabeça e pegando um livro.
- Tenta começar por esse. – ele o abaixou e eu o peguei, considerando em hipótese alguma me virar. Eu basicamente estava encurralada. De um lado, a parede, de outro, a mesa, e atrás de mim, o Bryan. Li o título do livro, tentanto controlar minha respiração. Wuthering Heights.
Mais conhecido como O Morro dos Ventos Uivantes.
- Eu nunca consegui terminar de ler esse livro. – eu falei, sem pensar nas minhas palavras.
- Porque não? – Bryan perguntou, baixo. A proximidade dele estava perigosa demais.
- Algumas coisas aconteceram enquanto eu estava lendo...e eu não consegui terminar. Nunca mais me interessei. – eu tentava falar da maneira mais normal possível, para tentar deixar o clima um pouco mais leve. Droga! Ele também sabe que as coisas estão estranhas, porque não se afasta? 
- Se você não quiser, pode tentar esse. – ele esticou o braço novamente e em reflexo eu o impedi, segurando-o.
- Não, esse está ótimo, obrigada. – eu me virei lentamente, tentando ao máximo não fazer contato visual e demonstrando que a conversa já tinha acabado. Ele deu um passo para o lado e eu finalmente consegui me afastar. Levantei a cabeça e sorri para ele, abrindo a porta do escritório e saindo dali o mais rápido que eu conseguia.

Entrei em meu quarto e fechei a porta, me encostando nela. Demorou alguns segundos para minha respiração voltar ao normal e meu coração desacelerar. O que tinha acabado de acontecer? Nota mental: isso nunca mais vai acontecer. Nunca mais.
Joguei o livro em cima da cama e meus olhos encontraram o desenho pendurado no mural. Me aproximei e encostei no desenho, com a menção de tirá-lo dali. Mas ele estava tão perfeito...tão real.
Chega, Alice. Peguei meu pijama e entrei no banho. Depois de alguns minutos, saí do chuveiro e me troquei, abrindo a porta do banheiro e quase tendo um ataque cardíaco.
- Porra, Sebastian! – eu gritei ao me assustar com a figura dele sentado no pé da minha cama.
- Mas você se assusta muito fácil! – ele disse, rindo.
- O que você quer? E como você entra sem bater assim? E se tivesse me pegado desprevenida? – eu perguntei, me recompondo o susto.
- Então seria um ponto a mais pra mim. – ele respondeu, sorrindo.
- Sebastian, se você não quer nada, por favor, sai. – eu falei, controlando a raiva crescente.
- Calma, eu vim em missão de paz. – ele levantou uma mão. Eu cruzei os braços, esperando ele continuar. – Sábado vai ter uma festa na casa do Connor. Tradição de volta as aulas. E eu queria que você fosse comigo. – ele parou de falar e eu esperei para ver o desfecho da piada. Ele só me encarou. Minha crise de riso veio aos poucos.
- Eu? Ir com uma festa com você? – ri mais alto. – Me poupe, Sebastian.
- Não entendi a graça. – ele falou, cruzando os braços e se levantando. – Todos vão. Não vejo o porquê de você ficar de fora.
- Olha, Sebastian, – eu me recompus – eu não gosto de festas, e eu não gosto do Connor. Obrigada, mas eu não estou interessada. Agora por favor, me dá licença.
- Eu sinceramente não sei como o Bryan tem paciência com você. – ele disse, jogando as mãos pro alto – Caralho, Alice! Eu vim aqui numa boa convidar você, falar com você. O que custa você parar de ser cabeça dura por um instante e se divertir? – ele se aproximou de mim – E se você vier com aquele papo de “você não me conhece” de novo eu juro que eu vou pedir pra tua mãe te pagar um psicólogo. – ele parou a poucos centímetros de mim, me encarando. Preciso confessar que fiquei completamente sem palavras por um instante. Mas apenas por um instante.
- Sebastian, sai daqui. – eu disse, baixo.
- Tá. Parabéns, você venceu. – ele se virou, caminhando até a porta. – Se você quer que eu te trate como um fantasma nessa casa, ótimo, é assim que vai ser daqui pra frente. Eu não te conheço, não sei quem você é. É só uma estranha ocupando um quarto na minha casa. – ele abriu a porta e saiu, me deixando estática, olhando para a porta fechada.
Não segurei meus impulsos e saí atrás dele.
- Sebastian, espera! – eu gritei no momento em que ele bateu a porta de seu quarto. Fui até lá e bati incessantes vezes, até ele abrir. Ele abriu e saiu da frente, andando até o meio do quarto. Entrei e fechei a porta atrás de mim.
- Olha, desculpa, tá? – eu falei, andando até ele.
- Qual é o teu problema? – ele se virou pra mim.
- Como assim, meu problema? – eu perguntei.
- O que te aconteceu pra você ser desse jeito? – ele abaixou a voz.
- Eu não gosto de falar nisso. – eu respondi.
- Então a gente nunca vai conseguir chegar a um acordo.
- E quem disse que...
- Chega! – ele falou – Eu não tenho nada a ver com a tua vida. Não sei nem porque você veio atrás de mim.
- Tudo bem, Sebastian. Se você quer tanto saber assim, eu vou te contar. – Boa, Alice, agora vai ter que contar.
- Vai? – ele parou, surpreso.
- Vou. Mas não aqui. A gente não pode ir lá fora? – eu perguntei, apontando para o jardim pela janela de seu quarto.

- Você tem certeza que quer ouvir? – eu me sentei na grama, e ele se sentou ao meu lado.
- Se você quiser falar. – ele disse.
- Bom, tudo bem. – eu comecei – Há mais de dois anos atrás, eu me envolvi com um garoto. Um garoto muito parecido com você. – eu olhei para ele – Ele era muito conhecido por todos, e todas as meninas caíam por ele. Era uma loucura. E eu nunca liguei muito pra ele, na verdade eu achava ridícula essa coisa toda de galã. Mas ele, por algum motivo, começou a mostrar interesse por mim, bem na época mais difícil da minha vida, quando minha mãe tinha me abandonado. Eu demorei pra me recuperar, e ele se mostrou a pessoa perfeita pra me ajudar. Nessa época, eu tinha uma melhor amiga em quem eu confiava cegamente, e ela me ajudou com ele. Enfim, nós começamos um relacionamento e eu finalmente estava me recuperando do que minha mãe tinha feito, ele me fazia muito bem. No dia do nosso aniversário de três meses de namoro, eu resolvi fazer uma surpresa, algo aleatório. Como ele me disse que não estaria em casa, eu resolvi passar lá pra deixar algumas coisas prontas. Quando eu cheguei, seus pais não estavam em casa, e como eu já tinha deixado avisado para eles, eles deixaram tudo aberto para mim. Eu entrei e subi diretamente para o quarto dele, para pegar algumas coisas que eu precisava, e quando eu abri a porta, meu mundo se desfez em pedaços.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Family Portrait" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.