1789, Itália

Querido diário,

Que dia é hoje mesmo? Faz mais de dois dias que perdi a conta. Meu hálito tresanda, me sinto suja. Faz dois dias que estou de viajem, caminho à grande e conhecida Inglaterra, mais especificamente Londres. E agora você se pergunta... O que faz uma menina de família nascida em Itália, Florença, com dezasseis anos a caminho de uma cidade tão grande sem a companhia de sua família. Sozinha, apenas com um par de bolsas, com fome, mas acima de tudo com o grande nervosismo do que lhe aguarda. Sim, eu me encontro nessa desagradável posição.

É uma grande e barbuda história que tenho para lhe contar, mas tempo e falta do que fazer nesta pequena carruagem, não faltam.

Tudo começou quando meu pai descobriu que eu não era sua filha legítima, sim é o que você está pensando, a minha mãe dormiu com outro homem. Eu não a julgo, o meu pai não é o melhor marido do mundo, mas a gota de água para a minha vida se desgraçar foi ele enfiar um punhal no coração da minha mãe, após ter descoberto de sua traição, há exatamente três dias atrás.

Tudo nessa vida muda, marés vêm e vão, flores florescem e murcham, mas algo que nunca vai mudar é o ódio que o sinto por ele.

Ele não suportaria olhar-me nem mais um dia, e ver em mim a traição de minha falecida mãe, meu olhos azuis e cabelos negros, provenientes de outro homem. Agora não significando absolutamente nada para ele, expulsou-me da Itália, mandando-me para a Inglaterra, iria servir um Duque rico.

Esse é o breve resumo do que vivi essa semana, acho que lhe atribuir um nome seria apropriado. Chamá-la-ei então de “Red Week”.

Amor, Eleanor

O tempo passava mais lento que o habitual, estava observando as grandes pastagens pela janela de minha carruagem. Fazendeiros tratando do seu rebanho, camponesas levando seus filhos para um passeio. O condutor da minha carruagem conduzia com pressa, mas para mim o tempo passava em camara lenta.

Levava como bagagem alguns vestidos, não todos, nunca caberiam naquela carruagem. Não me explicaram que tipo de serviços iria prestar àquele duque, mas vindo daquele homem que um dia já chamei de pai, não me parece ser algo bom.

Minha mãe era a mais linda de toda a corte, até meu “pai” assassina-la. Herdei os olhos azuis dela. Porém meu cabelo é castanho, que proveio de meu pai biológico.

Quando nasci, todos ficaram espantados com minha beleza, me lembro de comentários que faziam quando eu era apenas uma garotinha. “Ela casará com um príncipe rico” ou “Quando crescer, príncipes e duques farão fila para se casarem com a senhorita”. O que sabia eu sobre casamentos com cinco anos?

Agora finalmente embarquei para a Inglaterra, passarei pelo Canal da Mancha de barco, e depois continuarei meu caminho até o grande palácio de Oxford em Londres para o duque rico chamado Nathaniel Windsor. Nada nesta história me agrada. É claro que vou sentir muita falta da minha vida antiga… Meu próprio palácio, meus vestidos e minhas jóias, mas principalmente minha mãe.