A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander


Capítulo 16
Capítulo XVI - Capí




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XVI

CAPÍ



- Não ele não está! – uma voz estranha disse.

- Não acredito! – índio disse, mas uma coisa pequena o atingiu na testa e ele desmaiou caindo no chão.

Quando Capí virou-se ele viu por entre a vasta vegetação uma figura baixa quando características africanas. Os olhos negros e sapecas com um sorriso nos lábios grossos de onde um cachimbo estava pendurado. Tinha no máximo 14 anos de idade e vestia um tipo de roupa com apenas um lugar para a perna dele, como se fosse feito sob medida.

Os arbustos cobriam a parte inferior dele, mas Capí sabia muito bem que haveria apenas uma perna ali. Um vento muito forte vinha de trás dele fazendo as folhas se soltarem dos galhos das arvores e voarem para todas as direções.

- Olha o que temos aqui! – o garoto disse com o olhar mais sapeca do mundo, do tipo que havia armado uma armadilha e estava prestes á rir de quem caíra na armadilha.

- Vo-você é o... Saci? – Capí perguntou. Tinha que ser cauteloso, pois de acordo com o que leu sobre o Saci, não poderia dar oportunidade de se aproximarem dele.

- Sim, e daí? Estão ferrados de qualquer jeito. Conhecendo-me ou não. Foi como você disse garoto – ele disse olhando Capí nos olhos. Estava muito bravo. – Por causa do seu amiguinho aí, vocês todos estão ferrados.

E deu uma risada macabra com fumaça saindo da boca. Ele se aproximou e na cabeça tinha um tipo de toca, um gorro na verdade, vermelho vivo e muito sujo e desgastado. Como Capí previra, ele tinha apenas uma perna e vinha pulando de um jeito nada engraçado.

- Está vendo? Eles estão borrando as calças de medo! – ele disse.

- Com quem ele está falando? – Caimana cochichou no ouvido de Capí.

- Não sei. – Mas neste mesmo instante o vento se tornou mais forte. O arbusto de onde Saci estava escondido se partiu em dois, dando passagem á um Funil de vento que girava sem parar com galhos e folhas girando ao seu redor.

Ele se aproximou de Saci, deixando um rastro no chão por onde passava e Saci pulou para dentro dele, com o sorriso maldoso. Apenas a parte de cima do seu corpo ficou visível e abaixo estava o funil, transparente de vento. Capí não podia perder tempo, então disse.

- Precisamos de sua ajuda!

- Como é? Está me dizendo que depois que seu amigo me zuou, vocês querem minha ajuda? – ele curvou-se para trás e riu.

- Sim! – Capí prosseguiu. Nós precisamos chegar á Amazônia e só você pode nos ajudar!

- Prefiro brincar um pouco. – Saci disse e desapareceu com o redemoinho de vento.

- Para onde ele foi? – Viny perguntou. Ele segurava Índio que estava começando á recobrar a consciência. Sua testa tinha um machucado, mas não era grave.

- O que houve? – ele perguntou atordoado, levando á mão ao machucado e emitindo um sonoro “Ai”.

- Agora não temos tempo de explicar, precisamos nos apressar. Temos que conseguir á força que ele nos ajude á chegar lá!

- E como faremos isso? – Caimana perguntou alarmada.

- Com isso! – ele retirou da bolsa uma garrafa transparente de vidro com uma rolha tapando o buraco.

- Como assim? – Índio perguntou.

- Não sabiam que á única coisa que é capaz de prender o Saci é uma garrafa de vidro? – Capí perguntou.

- Não! – eles responderam junto.

- Pois agora sabem. Precisamos arrumar uma forma de atraí-lo para aqui dentro. – ele disse dando uma tapa na garrafa vazia.

- Vamos nos separar, assim será mais fácil! – Viny falou.

- Você está maluco? – Índio perguntou. – Sabe quantos animais ou coisas estranhas têm nessa floresta? Não podemos nos perder. Temos de ficar perto.

-OK, OK! – Viny se desculpou. – Nem um pouquinho longe?

- Viny! – Caimana advertiu-o.

- Tudo bem, podemos nos separar um pouco – olhou para Viny – Mas apenas um pouco, até conseguirmos acha-lo!

- Yes! Mas como vamos chamar a atenção dele?

- Com isso. – Capí retirou a mochila das costas e pegou um embrulho quadrado que abriu cuidadosamente. Uma pequena quantidade de uma planta com cinco folhas estava ali.

- O que é isso? – Viny exclamou.

- É a planta de uma flor chamada Cleome. Ela é bem parecida com uma planta que os azêmolas costumam usar como...

- Fala logo o que é! – Caimana o cortou.

- Tudo bem, tudo bem! Ela se parece com a maconha, uma droga que os azêmolas usam.

- E o que essa tal de maconha faz?

- Não sei, mas é uma droga alucinógena. E aposto que o Saci gosta.

- Mas ele é uma criança! E onde você achou essa planta?

- Não ache que só porque o Saci aparenta ser uma criança que significa que ele é uma! Os Sacis podem chegar á ter 77 anos e ter a mesma aparência de criança durante todo esse tempo. É um dos poderes que o gorro vermelho dá á ele. E eu consegui isso do lado de fora da Korkovado. Corri até lá, na verdade!

- OK! Mas e quanto ao plano? – Viny perguntou ansioso.

- Iremos chamar a atenção dele com isso – ele entregou uma planta para cada um – Mas não iremos nos separar muito. Ficaremos em uma distância considerável, que seja possível mantermos na nossa visão.

- E se ele cair na armadilha, o que faremos?

- Bom, alguém assovia e irei por trás pegá-lo! Simples assim.

- Já estou vendo que esse plano não vai dar certo... – Índio murmurou.

- Deixe de ser pessimista Índio. Vamos lá!

Eles se separaram, porém cada um ficou á uma distância considerável, para que ninguém se perdesse naquela mata densa e sombria.

Andaram em linha reta, sempre olhando para os lados para se certificarem de que seus companheiros estavam ali. Em um momento ou outro, uma ventania surgiu, mas se dissipou rapidamente. Sombras e vultos apareciam repentinamente por trás de arvores enormes e grossas.

Capí ouviu um ruído de folhas se espalhando pelo chão da floresta e parou. Caimana que estava um pouco longe dele, porém visível acima da vegetação, parou também. Uma risada medonha veio de longe e ele percebeu que o Saci estava vindo.

- Ei Saci! Tenho um presentinho pra você! – Capí ouviu Viny gritar.

Era o que ele queria, porém o vento veio tão forte na direção de Capí que ele teve que cobrir os olhos com a mão que estava segurando a planta. Ela afrouxou a mão um pouco, sem querer, e a planta saiu voando para longe. Ao menos estava com a garrafa, pensou.

- Ora, ora, ora. Olha o que temos aqui! – Saci apareceu sem o redemoinho e com uma perna apoiando seu corpo.

Saci olhou para a garrafa nas mãos de Capí e fez um movimento com a sua mão. Havia um buraco na mão dele e um vento saiu desse buraco e atingiu a garrafa que voou e se quebrou em mil pedaços no chão.

- E agora? O que você vai fazer?

- Ei! Saci! – Viny gritou – Tenho um presentinho pra você!

Saci olhou para o lado e depois voltou-se para o Capí.

- É melhor fugir enquanto pode! – disse se desfazendo em um redemoinho de vento e folhas. O redemoinho passou por entre a mata e foi na direção do grito de Viny. Capí se aproveitou da brecha que Saci havia deixado e saiu correndo em disparada pelo caminho deixado pelo redemoinho.

Antes de Capí seguir o Saci, ele já havia chegado onde Viny estava e todos os outros, Caimana e Índio ficaram ao lado dele.

- O que você disse garoto? – Saci perguntou.

- É... É que... – gaguejou Viny. – Eu queria te dar isso. – ele mostrou a planta na palma da sua mão. A expressão de Saci, que antes era de fúria, logo mudou para uma expressão de esperança. Como se o garoto tivesse ganhado sua primeira bola de futebol ou algo do tipo.

- Isso é... Isso é... – balbuciou.

- Sim... – Viny não sabia o que estava dizendo, mas estava caindo no jogo dele. – É sim! Com toda certeza!

- Você, vai me dar? – Saci perguntou dando um pulo pra frente.

Nesse momento, Capí já estava bem atrás de Saci e fazia sinal de silêncio aos amigos que olhavam assustados para ele.

Eles estavam tremendo, com medo, e Saci deu mais um pulo pra frente. Foi quando Capí tomou coragem e saltou por trás dele. Ele agarrou o seu gorro vermelho e encardido e rolou pelo chão. Saci soltou um grito de fúria, mas não moveu um dedo sequer.

- Vocês me enganaram seus filhos de uma...

- Ei, ei! Você deve realizar um desejo agora! Senão não terá mais seus poderes de volta.

Saci resmungou com o cachimbo soltando fumaça pendurado no canto da boca.

- E o que vocês querem? – ele cruzou os braços no peito.

- Queremos... – Capí se levantou com a ajuda de Viny e Índio – que você nos leve até Amazonas, até o Curupira.

- O que? Vocês acham que vou leva-los aquele lá?

- Sim. Caso tenha esquecido, eu tenho isto. – ele ergueu o gorro.

Saci grunhiu.

- Tudo bem. Mas vão se arrepender, pois a floresta da Amazônia é muito perigosa!

- Não temos medo. E, aliás, Curupira estará conosco. Sei que ele é bom para aqueles que são bons.

- Tudo bem. Depois não digam que não avisei.

Capí jogou o gorro nas mãos do Saci que assoviou alto e cinco redemoinhos surgiram rodopiando com os galhos em suas entranhas.


Cada um deles envolveram Capí, Caimana, Índio e Viny e rodopiaram. No primeiro momento, Capí ficou enjoado, pois a visão de fora do redemoinho era turva e era como se vislumbrasse vários lugares ao mesmo tempo. Teve a impressão de ter visto o Palácio do Planalto, mas foi um breve momento, até que sua visão escureceu e ele desmaiou.

* * *

Ao abrir os olhos Capí estava com a visão embaçada e, aos poucos, os vultos foram tomando forma. Índio e Viny estavam do seu lado direito e Caimana do seu lado esquerdo. Todos o olhavam de cima e acima deles, arvores se erguiam deixando a luz do sol bater em seus olhos, por entre os espaços entre os galhos e folhas.

- O que houve? – Capí se levantou do chão de onde estava deitado. - Onde estamos?

- Estamos na Amazônia. Por sorte ainda é bem cedo – ela consultou o relógio em seu pulso. – Uma hora da tarde.

- OK! Precisamos encontrar o Curupira o mais rápido possível. Não será nada legal permanecer nesta floresta depois que o sol se pôr.

- O garoto está certo. – Saci disse. Estava encostado em uma arvore soltando fumaças pelo cachimbo. Agora que já ajudei, vou indo embora.

Ele rodopiou e desapareceu em meio ao redemoinho.

- E agora? – perguntou Viny. – Como acharemos o Curupira?

- E agora... Nós procuramos. É o único jeito de achá-lo.

- Ele também não gosta de fumar, como o Saci? – Caimana perguntou.

- Talvez sim. – Capí respondeu. – Mas onde acharemos alguma coisa que sirva pra fumar? Eu não conheço esses tipos de coisas.

- Nem eu. – ela disse olhando para Viny.

- Nem olhe pra mim.

- Então vamos procurar alguém que saiba.

- Eu sei Senhor.

Eles se encararam por um momento e olharam ao redor. Não havia ninguém além deles ali na floresta quente.

- Estou aqui!

Capí olhou para baixo e viu uma bola de pelos marrons. Era do tamanho de uma bola de futebol, mas era muito peluda e com dois grandes olhos verdes á mostra. Duas patinhas pequenas de cachorro estavam em uma posição conhecida como T-REX, e suas patas abaixo eram de algum tipo de animal réptil.

- O que é você?

- Eu vou mostrar o caminho para vocês! – ele virou-se e disse. – Sigam-me.

- Ele é tão fofinho. – Viny disse.

Os Pixies se entreolharam, mas como não tinham ideia melhor eles seguiram a pequena criatura.




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