H O L O C A U S T escrita por imyourvenus


Capítulo 5
Um pequeno inferno particular.


Notas iniciais do capítulo

Oie gente, depois de mais de um ano estou de volta.
Será que alguém ainda lê essa fanfic? Espero que sim.
Acho que ninguém da época que ela foi postada ainda usa o Nyah, e nossa, tá tudo tão diferente por aqui!
Mas enfim, vou voltar atualizar todas as minhas histórias, e quanto a essa, acho que terá mais conteúdo. Estive estudando bastante a Segunda Grande Guerra ultimamente. Sem mais delongas, até lá embaixo.
Boa leitura



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Nota: 10, 0

Primavera de 1943

Lily Evans

Eu me sentia imunda, em todos os sentidos possíveis.

E até mesmo nos impossíveis.

Mesmo tendo chegado há poucos dias no campo, estava exausta.

Em apenas cinco dias o barracão no qual eu estava já tinha lotado. Quantas pessoas havia ali? Facilmente 50, podendo beirar a uns 70.

Não havia cama suficiente para todas as mulheres, ou melhor, não havia beliches duras e frias para todas, então tínhamos que dormir duas ou três amontoadas em um espaço mínimo.

Eu dividia o beliche com Tonks.

Em pouco tempo eu já havia aprendido as lei da sobrevivência por ali.

Não havia conversas.

Apenas se falava o necessário.

Não havia felicidade.

Apenas a alegria de ganhar algumas rações extras.

Não havia comida.

Apenas uma sopa de repolho podre com cascas de batata fervida.

Não havida água potável.

Apenas um líquido lodoso que poderia ter sido água no passado.

Não havia riso.

Não havia amizade.

Não havia humanos.

Só o que havia eram sombras.

Sombras de pessoas.

Sombras de lembranças.

Sombra de lares felizes.

Sombras de famílias destroçadas. De pessoas deturpadas, abusadas, exploradas, condenadas.

Um reflexo de humanidade com uma espessa camada de névoa negra as envolvendo, as puxando, as sugando.

Um pequeno inferno particular.

– Lily, como você veio parar aqui? – Perguntou Tonks, me tirando de meus pensamentos.

Por um instante fiquei em dúvida se contava ou não, não queria viver aquilo novamente.

Mas o que Tonks pedia chorando que eu não fazia sorrindo?

– Sabe Tonks, eu não era uma irmã muito boa. Estava confinada em casa e com tédio, o único passatempo que eu tinha era provocar minha irmã mais velha. Eu costumava destruir suas coisas para perturba-la, mas um dia ela se cansou e disse que iria ter volta... – Parei, revivendo cada palavra, cada sensação.

Tonks me encarava com os olhinhos curiosos pelo resto da história.

... – Com “dessa vez vai ter volta!” eu nunca poderia imaginar aquilo. Eu nunca imaginei que Petúnia pudesse me denunciar aos Nazistas. Mas fora essa a vingança dela, me condenar à morte. Por causa de alguns vestidos.

– Parece horrível, Lily. Eu sinto muito. – Ela disse em sua voz infantil que me fazia quase feliz o fato de ela estar ali.

O que era um pensamento horrível e egoísta, ela não estava ali para uma coisa boa. Estava ali para morrer, como eu. Como todos.

– Não sinta Tonks, eu não fui nada boa para ela. Mas e você, como veio parar aqui? - Perguntei, e derrepente seus olhos perderam o brilho.

– Bom... Eu costumava ter uma vida feliz, sabe? Mamãe e papai se amavam, ia bem na escola e tinha bons amigos. Mas então papai morreu e mamãe ficou doente, acho que com depressão, e aos poucos foi sucumbindo até que veio a falecer. Fui mandada para a casa de um tio, mas ele não queria a minha companhia, dizia que eu era “excessivamente barulhenta” além de ser uma “despesa extra” então me entregou a uns soldados que passavam pelas redondezas, sem nem mesmo pedir a recompensa.

Aquilo era... Cruel.

Como uma pessoa pode fazer isso com uma criança?

Além do trauma de perder os pais ser mandada para morrer nesse lugar infernal pelo próprio tio?

Por uma pessoa que deveria protegê-la...

– Tonks... Eu não sei o que dizer. – Falei baixo, quase sem voz.

– Que tal boa noite? Estou cansada, e ainda temos um longo dia amanhã. Boa noite Lily. – Ela falou, com sua voz animada novamente.

– Boa noite. – Respondi surpresa com sua mudança de humor.

Ser criança claramente tinha suas vantagens.

Mas mesmo sendo animada, Tonks já apresentava sinais da fadiga, seus olhos estavam mais baixos do que quando a conheci, sua pele estava ficando amarelada e seus cabelos, antes volumosos, estavam baixos e oleosos.

Eu não sabia exatamente há quanto tempo Tonks estava ali, mas suspeitava que fosse mais do que qualquer outra mulher daquele barracão.

Ser criança definitivamente tinha suas vantagens.

– x –

Acordamos com as sirenes e logo formamos uma fila.

Era triste saber que uma parte considerável daquelas pessoas moribundas não estariam ali no final do dia.

Cada um recebeu um pão preto e um copo de água lodosa como café da manha e sustento do dia e foi para seu local de trabalho.

Comíamos enquanto andávamos, não havia descanso.

Eu estava escalada para retirar os entulhos de uma construção demolida próxima à cerca junto com outra mulher muito magra e abatida.

Pelo seu uniforme vi que era judia.

O trabalho era pesado, ainda mais para duas mulheres. Sendo ainda que uma delas estava tão fraca que mal conseguia ficar de pé.

– Pode deixar que eu faço sua parte, descanse um pouco. – Me peguei falando e indicando uma pedra grande para ela se sentar.

– Ah minha menina... – Vi que seus olhos estavam marejados – Eu já estou em Auschwitz há muito tempo. Não tenho mais esperança, estou fadada a morte. O que me resta é esperar que ela seja indolor, morrer dormindo não me parece uma má ideia. – Ela disse e não parou de trabalhar.

E então entendi sua intenção, ela não queria acordar amanhã.

Queria fechar os olhos e não abri-los nunca mais.

Aquilo me assustou, mesmo sabendo que esse seria o destino de todos ali e já tendo percebido que várias pessoas foram e nunca mais voltaram, nunca tinha ouvido ninguém falar que queria morrer.

Ela se entregou, não haveria mais guerra praquela que outrora talvez tenha sido uma dedicada mãe de família ou uma empresária de sucesso. Fim da linha para aquela mulher de traços doces.

Assenti e não disse nada, sabia que em suas condições não havia muito a ser feito. Ela iria pra um lugar melhor, de qualquer forma.

Tiramos os entulhos durante 12 horas sem qualquer descanso, e mesmo assim ainda faltava muito a ser retirado.

Eu estava completamente dolorida, faminta e cansada. Um alívio tomou conta de mim quando um soldado veio nos buscar para que fossemos em direção as nossas respectivas filas para voltarmos aos barracões.

Eu não sentia mais os meus braços.

A mulher que estava comigo não conseguiu andar até o soldado, ela estava tão exausta que não aguentou fazer o pequeno percurso e caiu no chão, e quando estava tentando se por de pé novamente um barulho seco foi ouvido.

Um tiro.

Um tiro na cabeça.

Um tiro na cabeça de uma mulher que mal conseguia se por de pé.

Então eu caí de joelhos, eu tinha acabado de presenciar um assassinato.

Ele atirou na cabeça dela, e seu sangue estava jorrando, como que para irrigar o solo.

Aquele solo maldito irrigado com sangue de pessoas inocentes, pessoas boas, pessoas vitimadas.

E eu gritei, um grito único de pavor.

Sangue, muito sangue.

Derrepente sinto uma forte dor nas costas, o soldado tinha me chutado.

– Estou com dor de cabeça sua vagabunda. – Ele falara, como se o assassinato de uma mulher indefesa fosse normal para ele – Agora se apresse e traga o corpo se não quiser ter o mesmo destino.

E saiu caminhando.

Eu sabia que tinha que ser rápida, não queria o mesmo fim.

Me levantei rápido e sequei as lágrimas que insistiam em cair, eu precisava ser fria.

Ela era só um peso morto do qual eu tinha que me livrar o mais rápido possível, sem pensar que provavelmente aquele peso morto tinha um nome, uma família que a amava.

Sem pensar que aquele peso morto estava vivo há alguns minutos.

Seu último desejo não fora realizado, ela não morrera dormindo. Mas quem mandou ousar desejar alguma coisa?

Era isso que acontecia com aqueles que ainda tinham esperanças, seja ela de viver ou ter uma morte tranquila.

Peguei seus braços e comecei a arrastar sobre o solo seco e arenoso até onde os prisioneiros judeus se encontravam, abandonei o corpo ali dando uma última olhada em seu rosto, que apesar de tudo, estava com aspecto tranquilo.

Caminhei até a fila de ciganos que já tinha começado a se movimentar em direção aos barracões, tudo que eu precisava era dormir.

Dormir e esquecer.

Gostaria que aquela mulher sem nome pudesse fazer o mesmo.


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Notas finais do capítulo

Então gostaram? Não acho que minha escrita tenha mudado muito durante esse tempo, né?
Eu nem acredito que já tem um ano que não posto, estava com tantas saudades desse mundo!
Espero que tenham gostado, até o próximo que vai sair terça, quinta ou sexta-feira!
Beijos amores.
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