Os Quatro Símbolos escrita por Avery Chevalier


Capítulo 23
Capítulo Vinte e Um


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou gigantesco, mas é que semana que vem é provável que eu me atrase para postar de novo que ando meio que sem tempo. Espero que gostem :)



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CAPÍTULO VINTE E UM

Eu não sabia onde estava, mas com toda certeza não era mais o mar, pois o ambiente ao redor era uma floresta, ela estava escura mas de alguma forma eu conseguia enxergar as coisas ali. Uma tempestade estava caindo fortemente junto com raios e trovões e uma forte ventania balançava as árvores.

Estava andando para ver se me achava, mas aquela forte chuva fazia minha visão ficar mais embaçada. Um forte cheiro de queimado fez eu me virar e ir na direção dele.

Passei pelas densas folhagens molhadas e antes mesmo de sair da mata, pude ver uma camada grossa de fumaça saindo de algum lugar. Fui andando até sair da parte da floresta e o lugar que me deparei era na verdade uma casa, ela tinha sido incendiada e não restava praticamente mais nada dela ali dentro.

Ia dar alguns passos para dentro da moradia queimada, quando ouvi sons vindo da floresta, parecia um choro de criança e pessoas correndo naquele chão de cascalhos. Segui o som, até porque alguém poderia estar precisando de ajuda e eu também queria ser ajudada, já que não fazia ideia de onde estava.

Entrei naquela floresta escura novamente e antes mesmo de dar um passo, eu pude perceber que já estava em outro lugar da mata, como se eu tivesse me teletransportado até ali, não tive tempo de tentar entender aquilo, pois vi de onde vinham os sons: Uma mulher estava correndo enquanto segurava uma criança que chorava no colo, podia ver que mesmo naquela correria a moça tentava acalmar a menininha que não parava de chorar.

Eu não sabia de quê elas corriam, ia perguntar se elas queriam ajuda, mas pareciam que não estavam me vendo, eu gritava e tentava falar, mas era como se eu estivesse invisível ali.

Comecei a ouvir um som de coisa grande caindo e me dei conta de que as árvores estavam despencando e pegando fogo atrás da mulher que corria desesperadamente. Eu realmente estava boiando em tudo que estava acontecendo. Estava eu sonhando? Num pesadelo? Em coma? Uma alucinação? Eu não sabia!

Algo saindo entre as árvores caídas e em chamas prendeu minha atenção. Era alguma coisa que vestia um manto negro bem comprido que arrastava no chão molhado e por incrível que pareça o fogo que vinha das árvores não encostava nele.

Aquele ser encostou no braço da mulher e quando ela se virou eu pude ver seu rosto e ele era tão familiar para mim, eu realmente a conhecia...

Atrás do ser de capa surgiu mais dois vestidos iguais a ele e cercaram a mulher tirando a criança do seu colo. A moça tentou pegar a menina de volta, mas não deu, a pessoa de capa ainda estava segurando o braço dela e isso de alguma forma a deixava mais fraca, podia ver a dor em seu rosto, mas ao mesmo tempo a determinação de que iria fazer algo e não deu outra, pois no momento seguinte a floresta toda começou a se congelar, tudo mesmo em um piscar de olhos já estava mudando, podia ver o chão começando a ficar escorregadio e o aquele ser também estava paralisado, talvez estivesse congelado também, mas eu não pude saber como aquilo terminava, pois como se tivesse sido teletransportada novamente, eu fui parar em outro lugar.

O cenário ao fundo ainda era o da floresta, mas eu estava fora dela ao lado de um enorme carro preto. As pessoas que tinham pegado a criança estavam indo em direção a esse veículo com a menininha no colo que estava estranhamente quieta.

Um dos seres de capa abriu a porta detrás do carro e colocou a criança lá dentro e para a minha surpresa, não era só essa menininha que estava no banco traseiro, tinham mais outras três crianças, um era um garotinho em torno de uns cinco ou seis anos com cabelos castanhos e olhos azuis, tinha um outro garotinho com idade de uns seis anos com cabelos claros e olhos cor de mel e num canto bem encolhida tinha uma garotinha que deveria ter uns quatro anos com cabelos bem pretos e olhos de um azul bem claro...Aquelas crianças eram familiares, faziam lembrar o Daniel e a Adélia, o outro não sabia de quem se tratava. Será que era eles menores? Olhei para a menininha loira que foi colocada no carro e me surpreendi em ver quem era ela...Era eu...mas como assim?

Eu ainda estava em estado de absoluta surpresa quando algo que eu não esperava aconteceu. Um enorme barulho de alguma explosão foi ouvido e as pessoas de capa foram arremessadas para longe. O carro em que as crianças estavam foi coberto por uma enorme nuvem branca de alguma coisa que não consegui identificar e não conseguia ver mais nada através dali.

Tentei me locomover naquela névoa que se formou com a explosão, mas assim que consegui sair dela eu estava na floresta de novo e estava vendo aquela criancinha loira - eu ainda achava estranho me ver pequena - ela estava sendo carregada por um daqueles seres de capa preta que estava correndo e parecia querer se esconder de algo. Enfim a pessoa parou perto de uma árvore e tirou o capuz da capa e quando eu vi quem era, fiquei completamente surpresa. Era o meu pai adotivo, ele era um Deles.

~~ Os Quatro Símbolos ~~

Comecei a me sentir sendo embalançada como se eu estivesse me movimentando sem que mexesse as pernas. Estava tentando abrir os olhos e quando consegui fazer isso me vi enxergando tudo embaçado, meus olhos estavam ardendo e eu não conseguia distinguir direito as coisas. Comecei a voltar a ouvir os sons a minha volta e eram de pessoas falando, meu ouvido ainda estava meio tampado.

Minha visão se ajeitou e eu me vi deitada na areia, comecei a tossir desesperadamente e achei que fosse começar a vomitar, mas felizmente isso não aconteceu. Vi um homem moreno com os cabelos molhados vestindo uma blusa vermelha e me dei conta de que era um salva-vida e me lembrei que tinha caído daquela pedra, ou melhor, a água me arrastou e teve aquelas visões...

Me sentei na areia e ainda olhava ao redor desnorteada . O salva-vida me ajudou a me sentar, mas eu não precisava mais de ajuda, estava bem, realmente estava maravilhosamente bem, de uma hora para outra tudo passou.

Levantei-me e vi o Daniel vindo na minha direção me segurar como se eu pudesse cair a qualquer momento.

– Eu estou bem, não preciso de ajuda - disse tirando meu braço das mãos do Daniel.

– Você está mesmo bem? Não precisa ir para algum posto de saúde não? - o salva-vidas perguntou segurando nos meus ombros e que saco, será todos pensam que eu vou cair?

– Obrigada por ter me ajudado, mas eu estou melhor.

Disse isso e sai andando. Ouvi passos na areia ao meu lado e vi a Adélia e o Daniel tentando acompanhar meus passos que eu nem tinha me dado conta de estar quase correndo.

– Ei, dá para esperar, Eloísa? Será que se esqueceu que não temos ainda lugar para ficar? - ouvi o Daniel dizer.

Eu enfim parei e os dois me alcançaram.

– Nossa, eu ainda não entendo você, foi salva por um bombeiro super gato e foi embora sem nem pegar o número ou facebook dele, realmente não te entendo - a Adélia disse balançando a cabeça negativamente como se eu tivesse feito algo muito errado. Ela já estava vestida novamente, pelo menos isso.

– Não importa. Olha, tem uma pousada aqui perto que eu já fiquei hospedada quando era menor então acho que podemos ficar lá.

Começamos a andar novamente só que dessa vez mais devagar. Eu queria chegar logo em algum lugar que eu pudesse descansar e colocar os pensamentos em ordem. Eu ainda não entendia as coisas, como assim meu pai adotivo tinha me roubado e eu nunca me lembrei dessas coisas? Está certo que na época eu só tinha três anos, mas mesmo assim era para eu me lembrar de algo ou da minha verdadeira mãe, fora que a história que meu pai sempre me contou então era falsa, ele me dizia que eu tinha sido encontrada por caçadores na floresta e que me levaram para o orfanato e lá ele me adotou.

Ainda não sabia ao certo o que tinha acontecido e o que me fez ser arrastada para a água, mas eu ainda não queria falar com ninguém nada sobre as visões, então o melhor a fazer era só não dizer nada.

Em menos de meia-hora chegamos ao local em que era localizada a pousada e ela não estava lotada, até porque nem era alta temporada então era provável que só tivessem poucos quartos alugados.

Fiquei com um quarto no segundo andar e o Daniel e a Adélia também, resolvemos que cada um ficaria em um quarto separado, até porque eu não me atreveria a dormir na mesma cama que a Adélia de novo, uma vez já foi o suficiente.

Eu já ia abrir a porta do meu quarto quando senti uma mão no meu pulso fazendo-me virar.

– Eu acho que temos que conversar sobre tudo que aconteceu e eu quero me desculpar por ter...te beijado

Eu não queria ainda pensar que o Daniel tinha me beijado e que eu tinha gostado, isso era estranho, logo eu que sempre achei ele um chato idiota. Isso ia ficar para depois, tinha mais coisas em que pensar antes.

– Depois nos conversamos e tudo bem, eu te desculpo, só não faça isso de novo, tá? Não gosto de ser pega de surpresa.

– Raparei isso quando você me empurrou de uns três metros de altura até o mar - ele disse rindo - Mas digamos que eu não vou dizer que não vou fazer de novo, até porque eu gosto de surpreender. Bom descanso.

Ele se virou e entrou no seu quarto que era de frente ao meu.

– Idiota - murmurei.

Entrei no meu quarto, ele era bem melhor do que o que ficamos na outra vez, não tinha nem comparação. Tinha uma cama de casal encostada embaixo da janela e que tinha um colchão bem confortável, do lado direito tinha duas cômodas, uma com um espelho em cima e a outra com uma televisão de 32 polegadas, na parede esquerda tinha uma porta que era um banheiro e umas prateleiras. Dessa vez tinha ar-condicionado no quarto, pelo menos não ia sentir aquele calor horrível que estava lá fora.

Eram sete horas da noite, a hora já tinha voado e eu nem tinha me dado conta, até porque o céu ainda estava meio claro, o sol não tinha entrado completamente ainda, aquele lugar parecia que nunca pararia de ter sol e tempo quente.

Tomei um banho e lavei meus cabelos que estavam um verdadeiro ninho de passarinho, ele estava todo embolado e ressecado por causa daquela água salgada e da areia e demorei um bom tempo para desembaraça-lo.

Minha mente ainda estava muito confusa, eu tinha que contar das visões que eu tive quando cai na água, mas foi tanta coisa que nem sabia por onde começar, mas isso ficaria para o dia seguinte.

Me joguei na cama deitando-me de frente para a janela e vendo o tempo que já estava escurecido e com algumas estrelas que já tinham aparecido.

~~ Os Quatro Símbolos ~~

Despertei de madrugada ouvindo uns barulhos estranhos que vinham de algum lugar do quarto. Abri os olhos e olhei para o relógio que marcava duas horas da manhã, nem sei como consegui dormir cedo, até porque peguei no sono deveriam ser umas sete e meia da noite.

Já ia me virar e ir dormir de novo achando que os barulhos eram coisas da minha cabeça, quando comecei a ouvi-los de novo e mais forte dessas vez, parecia algum animal gruindo ou roncando, poderia ser a Adélia, mas eu tinha certeza que ela não sairia do quarto dela para vir para o meu.

Eu me sentei na cama e observei o quarto completamente escuro, não dava para enxergar nada, pensei em acender o abajur que tinha em cima da cômoda, mas era longo o caminho até lá e confesso que estava com medo e fora que sempre que eu estou em um lugar com tudo apagado sempre começo a enxergar coisas que não estão lá e só vinha coisas da minha imaginação, parecia que a qualquer momento o Freddy Krueger iria aparecer na minha frente e eu descobriria que estava num sonho e que provavelmente morreria nele.

O som de algo arranhando o chão de madeira do quarto embaixo da minha cama juntamente com uma gruído mais alto me fizeram dar um salto e sair correndo pelo quarto escuro em direção a porta sem olhar para lado nenhum.

Comecei a bater na porta do quarto do Daniel igual a uma louca, estava apavorada e não queria nem saber se estava com um pijama ridículo de bolinhas e batendo na porta de um garoto que era muito chato.

Já ia começar a gritar para ele abrir logo a porta quando ela se abriu, o Daniel estava com uma cara de sono e o cabelo todo bagunçado.

– O que você está fazendo aqui essa hora batendo na porta do quarto igual uma louca? - ele perguntou e parecia um pouco surpreso por eu estar ali.

– Te-tem algo no me-meu quarto - eu estava tentando controlar a respiração ao falar, mas estava difícil.

Ele me lançou um olhar confuso e perguntou:

– Como assim? Você tem certeza de que está acordada, Eloísa?

O Daniel encostou em mim como para saber se eu era real real mesmo, mas eu sabia que era para saber o que eu estava pensando e saber se o que eu falava era real ou não.

– Vamos lá, eu vou ver - ele disse e deu dois passos e já estava na porta do meu quarto.

Ainda estava com medo de entrar ali, fiquei parada na soleira da porta enquanto observava o Daniel acender a luz e procurar em todos os cantos do lugar.

– Viu? Não tem nada, você só deveria estar sonhando ou então deveria ser só um inseto que entrou e você pensou que fosse algo maior - ele disse parando na minha frente.

– Eu tenho certeza de que não estava sonhando e o barulho era muito alto para ser só um inseto. E se forem ratos? Ai meu Deus, eu tenho pavor daqueles roedores!

– Para de ser fresca. Mas se quiser pode dormir lá no meu quarto.

Me senti ficar completamente vermelha, eu sei que ele não estava falando naquele sentido, mas mesmo assim fiquei igual a um pimentão.

– Não, eu vou dormir aqui mesmo - disse.

– Então tudo bem.

Ele saiu do meu quarto e foi para o seu. Eu ainda estava na soleira da porta e sem coragem para entrar, mas entrei e fui para a cama deixando todas as luzes acesas e colocando na minha cabeça que deveria ser só coisas da minha mente fértil.

Já estava pronta para me deitar quando as luzes do quarto começaram a piscar e um som vindo do canto do quarto não deixou dúvidas de que eu não iria dormir ali sozinha de jeito nenhum.

Peguei meu travesseiro e meu cobertor e bati de novo na porta do quarto do Daniel, eu estava parecendo uma criança com medo do escuro batendo na porta do quarto dos pais.

Ele abriu a porta no mesmo segundo e disse com um sorriso vitorioso no rosto:

– Eu sabia que não iria dormir lá, senhorita medrosa.

– Aposto que se fosse você também não iria conseguir dormir lá, acho que aquele quarto está assombrado.

– Podemos trocar de quarto então, você dorme aqui e eu lá no seu.

Ele já ia sair do quarto e ir para o meu quando eu segurei seu braço impedindo-o de sair.

– Não, não quero ficar sozinha, eu sei que você é um chato e tudo mais, mas estou com medo.

Ele respirou fundo e disse enquanto segurava meus ombros e me guiava para dentro do quarto dele que era exatamente igual ao meu, dava para saber pois uma luz fraca saía de um abajur e iluminava um pouco o lugar.

– Tudo bem então.

O Daniel pegou seu travesseiro e seu cobertor e já ia forrar no chão, quando eu disse:

– Ei, não precisa dormir no chão, até porque fui eu que invadi seu quarto.

Eu ia me sentir extremamente culpada se ele dormisse naquele chão, não digo frio porque não estava, mas o ar estava ligado e ele não teria nada para se cobrir e fora que eu era a invasora ali e não ele.

– Achei que fosse se sentir incomodada com a minha presença.

– Não, mas se você encostar um dedo em mim eu juro que dessa vez te empurro pela janela.

– Vindo de você eu realmente acho que faria isso - ele falou rindo.

O Daniel apagou a luz do abajur e se deitou ao meu lado fazendo-me ficar um pouco nervosa, não sei se era pela proximidade dele ou pelo quarto estar todo escuro e eu achar que aqueles barulhos fossem começar a aparecer de novo.

Tentei tirar qualquer coisa da cabeça e tentar dormir, mas eu estava me sentindo incomodada, parecia que algo estava nos observando a espreita, eu me revirava para lá e para cá na cama, mas nada daquela sensação passar. Até que eu me virei em direção ao canto da porta e vi algo que me assustou fazendo-me gritar. Era algo com olhos vermelhos e garras bem grandes e afiadas e sim, eu já tinha visto aquilo antes e sabia quem era.


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Notas finais do capítulo

:D