“ E no coração o tempo que vai correndo,
 Os nossos dias logo serão lembranças,
 O amor, o sonho, o esquecido, em qualquer dia quero que aqueça...
 Quatro estações com seu amor, no fundo do peito. ”

O inverno havia chego, e eu não podia mais ir ao bosque observar os patinhos, pois a neve havia tomado conta de tudo, não tinha nenhum patinho à vista, como nenhum outro animal.

 Eu sentia tantas saudades dele, apesar de toda a dor que me causou, eu ainda o amava. Sim eu o amava! Mas provavelmente ele não voltaria mais, ele se foi como os patinhos, mas, os patinhos eu sei que voltam.

 Só me restou pensar naquelas palavras que ele me dizia no outono, talvez refletir também. Talvez eu estivesse o atrapalhando. Meu sentimento era demasiado grande por ele, e acho que por maior que fosse a dor de não o ter mais em meus braços, de não poder ouvir as palavras carinhosas, observar os sorrisos, passear as minhas mãos em seu rosto... Por maior que fosse aquela dor, o meu desejo de que ele fosse feliz era infinito.

 Talvez ele me amasse também, mas a minha presença fazia mal a ele. Eu deveria mostrar-lhe a prova de meu amor, e, por maior que fosse aquela dor intensa que tomava conta de todo o meu físico, eu iria agüentar. Iria partir, assim como ele desejava.

—X—

Estava caminhando sobre uma estrada de terra, coberta por neve. Minhas mãos seguravam as pesadas malas. Seguia caminhando, caminhando em direção ao leste. Quando um vento muito forte levava meu chapéu, e estava difícil de caminhar contra ele. Era o vento do outono, e ela disse para mim:

 - Ele está morto! Não fisicamente, mas ele morreu. Ele desistiu dos sonhos que o mantinham vivo. A primavera está chegando, e ele já era uma planta em sua melhor fase, você é apenas uma semente e deverá continuar o seu caminho. É assim que funcionam os ciclos.

“Ele está morto,
Ele está morto!
Ele está morto e
O amor de vocês também está!”

Eu simplesmente não conseguia acreditar naquelas palavras. Ele não poderia de nenhum jeito, estar morto! Ele tinha tanta luz dentro de si, tinha tanta magia, amor, sonhos, desejos! Não, eu não consigo aceitar isso! Eu deveria estar morta agora, e não ele!

 Ao menos que... NÃO! Ele só poderia estar morto se ele começou a usar o cérebro, agir como alguém frio e calculista. Ele não pode ter perdido a sua criatividade, o seu brilho. Ele era mais forte do que isso! Se ele fez essa troca, ele irá sofrer. Meu Deus! Não o deixe sofrer.

—X—

Ele me dizia que queria ser como o Peter Pan, viver em um mundo de maravilhas e que apesar das voltas que o mundo dá, se tivermos sonhos, iremos nos manter vivos para sempre. A fantasia é algo essencial para a nossa vida.

“Pegue a minha mão, vamos para a terra do nunca!”

As malas que eu segurava, caíram ao chão. Eu não tinha mais forças para segurá-las, eu não tinha mais forças para me manter em pé. Meu joelhos foram se dobrando até meu corpo sentir por completo a neve fria daquele inverno. Lágrimas caiam em vão de meus olhos, pois nada daquilo iria mudar os fatos. Eu não queria mais ver, não queria mais ouvir, não queria acreditar!

“Ele está morto!”

 Não tinha mais motivação em me manter acordada, logo meu olhos foram fechando e assim eu fui entrando em um profundo sono.

—X—

Uma luz batia em minha janela, indo diretamente para o meu rosto, me incomodava aquele brilho. Eu puxei as cobertas que estavam em cima de mim e me sentei na beirada da cama. Logo me levantei e fui abrir as cortinas, olhei a paisagem...

 - A primavera chegou.  

E eu era apenas uma semente, naquele jardim de estações.

Fim.