“... Uma promessa só de desejos perde a cor com o tempo
Você pode me sentir sobre sua pele?
Se fosse com aqueles sentimentos acumulados
Nós ficaremos bem, é só continuar acreditando
Não importa o quão longe, fique comigo...”

 Era dia 23 de janeiro e estávamos no campo, minha família estava no chalé isolado pela mata. Eu o levei para passear, pois conhecia aquele lugar como ninguém, eu conhecia os bosques, as cachoeiras, as trilhas, etc. A minha infância foi marcada por andar por lá, pois eu buscava as borboletas de dia e a noite seguia os vaga-lumes. E aquele dia seria diferente, eu quebraria a rotina da minha infância, pois eu teria uma companhia “humana” pela primeira vez, poderia mostrar a alguém aquela beleza, eu tinha alguém que poderia compartilhar aqueles momentos no topo da montanha, tinha com quem compartilhar o vento daquele fim de tarde.

—X—

 Nós estávamos sentados sobre a grama observando, ao longe, outras montanhas.

- Hey, Olhe! Um passarinho naquela árvore! – Eu disse toda animada.

- Eu já contei vários, veja por esse lado – Ele respondeu enquanto me virava delicadamente para a direita (onde ele estava sentado ao meu lado). E nós trocamos olhares por alguns segundos.

- Veja, bem aqui. – Ele apontava para o céu – Ali tem mais um, e olhando um pouco mais a cima tem mais 2, está vendo?

- Ahh, estou sim! Quantos passarinhos têm hoje por aqui, é difícil de eu encontrá-los quando venho para cá – Eu falava enquanto olhava apaixonadamente para os passarinhos que estavam tão distantes de mim.

 Nós ficamos naquela grama por um bom tempo, ficávamos brincando com as formigas que subiam em nossos corpos, contávamos piadas, e eu ficava sempre sem graça quando ele falava que eu ficava fofinha quando estava envergonhada, pois meu rosto ficava corado. Era tão bom estar ao lado dele, e sua pele tinha a fragrância de sabonetes.

 Quando começou a ameaçar anoitecer, nós fomos andar em volta do lado, e ele segurou minha mão. Caminhamos ao lado daquelas águas de mãos dadas, até nos sentarmos para apreciar aquele pôr-do-sol.

Enquanto víamos as cores quentes do sol batendo no lago, ele me ensinava o que sabia sobre os significados das cores:

 O azul era associado à fidelidade, imensidão e feminilidade, o verde era a esperança, ecologia, associado a algo que prende a atenção e acalma, o vermelho prendia a atenção e alertava era a cor da paixão, do amor, representava o cristianismo, pois era a cor do sangue de Jesus, e mostrava perigo, O preto e branco representava a morte (preto para ocidentais e branco para orientais) e o branco simbolizava a paz, o amarelo era a riqueza, o ciúme, a saúde e a loucura, o roxo representava a nobreza. Falando assim não parece nada romântico, e realmente essa parte não havia sido muito romântica, o melhor foi quando ele começou a falar que as rosas tinham outra linguagem:

- As rosas amarelas representam o amor eterno – E disse essa frase e entregou uma rosa amarela em minhas mãos.

 Era diferente estar com ele, eu me sentia bem, pois conversávamos sobre assuntos que nós dois gostávamos, a conversa nunca acabava, pois sempre tínhamos algum assunto. Era um enorme desejo de estabelecer comunicação, e uma forma de marcar o momento.

“... No dia em que você foi embora,
Eu fiquei sentindo saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi
pensando em nós dois...”

—X—

 O sol deu lugar a lua, e o que antes era claro, estava escuro, sem muitas cores para se apreciar. E nós começamos a andar novamente, voltando para a montanha que estávamos, porém no caminho começou a chover e então corremos para debaixo de uma árvore, onde ele se sentou apoiado ao tronco, e logo estendeu a mão e me puxou para perto dele, eu estava sentada sobre suas pernas e com a cabeça encostada ao seu peito, e ele passou o braço por mim, me abraçando e me mantendo aquecida, enquanto, com a outra mão ele mexia em meus curtos cabelos ruivos.

- As ruivas são bonitas e você é a mais bonita de todas – Ele falou baixinho.

 Eu provavelmente estava com a face bem corada naquele momento, ele tinha esse jeitinho de me pegar de surpresas com tais palavras. Eu fiquei olhando para os olhos negros dele fixamente, nós estávamos tão perto que eu podia sentir novamente o cheiro de sua pele, aquele cheiro me acalmava.

 Ficamos por vários minutos, nos olhando e brincando com os narizes como se estivéssemos fazendo um beijinho de esquimó, eu nunca havia estado tão perto de sua face e eu me perdia dentro daquele olhar, foi quando eu percebi que o olhar dele havia mudado. Ele me olhava de uma forma diferente, e meu coração congelou por uns segundos, o que era bastante para me dar um frio no corpo todo, principalmente na barriga, eu me sentia como se estivesse perdendo os sentidos e como se nem ao menos conseguisse sustentar o meu corpo para me manter sentada onde eu estava. Ele apenas levantou o braço e segurou minha cabeça, me trazendo para mais perto ainda, e assim nossos lábios se tocaram pela primeira vez, de uma forma suave, porém bem rápida, e após um pequeno beijo, nossos lábios se separaram. E aquela sensação fora ficando cada vez mais forte e eu não sabia mais onde estava e o que estava acontecendo, várias perguntas surgiam em minha mente, mas eu era incapaz de procurar respostas para elas, eu somente fiquei ali, parada, olhando profundamente para aqueles olhos negros que me hipnotizavam.

—X—

 Estávamos andando pelo bosque, na verdade, eu estava correndo atrás dos vaga-lumes e ele corria atrás de mim.

Em uma noite de verão...

Fim do capítulo...