Contar o meu dia? Como assim contar o meu... Ah, foda-se, eu improviso.

Eu acordara com a macaca.

E não, vocês não estão lendo errado. Eu que resolvi narrar essa bagaça. Narradores que assistem deixam as coisas muito dramáticas e... Bléh. A partir de hoje, eu vou contar as minhas próprias desgraças e, se vocês não gostarem, tirem satisfação comigo! Eu não...

Respire, Silena.

...Vou me importar de colocar o rabo entre as pernas e devolver a narrativa para alguém que vai omitir e mediar o que for pensado. Mas eu vou chorar até desidratar. Só pra saber. Mas sem pressão, ok?

Eu estou parecendo estranhamente legal, certo? Pois é, vou contar uma historinha que me aconteceu... Uma que me fez querer ouvir mais a Sheila do que a Lilith.

Momento gay ON, bitches.

Eu havia dito a Leo que em cinco minutos estaria pronta. Uma hora e meia depois, estávamos prontos para sair. Leo estava com uma carranca mais horrível do que o normal. Não falou nada e nem me olhou na cara desde que entramos no carro.

−Leo? –Eu perguntei, mas seus olhos continuavam na rua. –Leo! LEEEEO!

−Vai gritar no ouvido da sua avó, Silena.

−Por que você tá tão azedo hoje?- Perguntei.

−Sofrendo por antecedência. –Ele disse em um murmúrio. –Vou ficar três semanas na detenção por causa desse atraso.

−Deixa de ser exagerado, Valdez! –Repreendi. –Lógico que não...

−Não? –Ele me encarou quando paramos em um semáforo- Olhe querida, para homens as coisas não são assim tão simples de se resolver. Quero dizer, eu tenho pernas magníficas, mas não acredito que elas serão tão convincentes quanto as suas para o Sr. D.

Vocês entendem o drama, certo? Estou cercada de idiotas!

−Ok, mas você não precisa fazer careta! Essa sua carranca horrível já é suficientemente assustadora.

Ele riu. ELE RIU! Gente, que desaforo! Eu aqui, me esforçando para irritá-lo e o imprestável ri. RI!

−Aff. Pelo menos você voltou ao comportamento idiota normal... –Eu disse acompanhando-o. O sinal abriu e ele acelerou.

−Desde quando você se importa?

Eu pisquei.

−Hã?

−Você sabe... Nessas últimas horas trocou mais palavras comigo do que nos últimos três anos. Ah, se você não contar aquela vez que eu coloquei fogo naquele pôster, claro...

Eu respirei fundo. Aquilo era um assunto delicado... Meus olhos estão começando a embaçar. Estou à beira das lágrimas... Meu pôster favorito. Justin sem camisa, Fatone correndo...

Arrgh que ódio!

−VOCÊ É UM GAY IMPRESTÁVEL! –me descontrolei – Meu pôster!

Ele riu.

−Achei que tínhamos superado isso... Olho por olho, dente por dente.

−O que você está insinuando, Valdez? –Estreitei os olhos.

−Você estragou minhas chances com a garota dos meus sonhos, eu queimei o garoto dos seus. –Ele deu de ombros. Sério? Eu estraguei um caso do Leo? Sentindo remorso em três... dois...

Alarme falso galera, alarme falso! Ah qual é, era um pôster de edição limitada! E ERA AUTOGRAFADO!

Silena, não pense assim. Você tem que se tornar uma pessoa boa. Pense em pôneis, arco-íris, doces, açúcar, tempero e tudo o que há de bom...

Sheila, é você? Pare de assistir às Meninas Super Poderosas!

Quem mais poderia ser?

Gente, a Sheila é uma vaca. É a minha consciência, mas ela não dá as caras com frequência. Pensei até que tivesse fugido pro Butão! O país gente, o país...

Agora vaza daqui, sua puritana dos infernos!

E essa é a Lilith! São gêmeas, uma representa meu lado bom e a última, meu lado mau. Lilith nunca me abandonou... Sempre esteve comigo, já a vaca da Sheila...

Silena, pense em Charles! Você precisa deixar Lilith para conseguir namora-lo.

Bláh, bláh. bláh, Silena... Veja bem, saia com o bofe e aproveite! ALTAS PORNOGRAFIAS. Depois você manda ele ir pastar...

−Silena! Não vai descer do carro? –Leo, já do lado de fora, havia acabado de abrir a porta do passageiro – A minha! – e me encarava com as sobrancelhas arqueadas. Eu vi a fachada da escola a poucos metros... Estávamos no estacionamento. Eu pisquei me libertando do meu transe. Lilith iria me ajudar, me diria caminhos maldosos, mas pelos fins certos pelo menos. Ela me ajudaria a bolar planos infalíveis para os outros casais. Charles não era comum, eu não o deixaria escorrer por entre os meus dedos.

Desci do Audi R8 prateado que rendeu muitas garotas a Leo, e comecei a andar ao lado do moreno, estávamos na mesma classe naquele horário. Ficamos em silêncio por algum tempo, estávamos duas horas atrasados, mas ainda teríamos tempo de assistir quatro aulas. Agora passávamos pelos armários. Leo parou para pegar e deixar coisas no seu eu o esperei. Eu preciso ajudar o Leo com... Céus, eu era assim tão ruim? Porque eu sequer me lembro quem é a tal garota... Suspirei.

−Eu me importo Leo, porque eu não quero mais ser essa pessoa. –Sorri fracamente enquanto respondia a pergunta que ele me fizera um tempinho atrás. –Essa que todos querem manter distância...

−A que é irritante, arrogante, egoísta, mimada, narcisista...?

Aquilo atingiu a minha cara como um tapa bem dado. Se Leo, que era meu “irmão”, pensava assim de mim, imagina os outros?!

−Outch. –Foi tudo o que eu consegui dizer. – Você acha que eu sou isso?

Ele parou para me encarar, com aqueles olhões castanhos e calorosos. Eu sentia sentimentos bons exalando de Leo. Acho que era o que os charlatões costumam chamar de aura. Talvez eu deva usar essa dúvida para ver Apolo, o belo, dançando YMCA... Ou o Harlem Shake... Ou a ragatanga! Tanto faz, só queria ver aquela beldade se requebrando pra mim.

Desculpe Justin, foi um momento de fraqueza!

−Isso é tudo o que mostra, Silena. –Ele disse. –Mas eu sei que você tem um lado bom... Em algum lugar profundo desse coração sombrio –Ele ri, gesticulado- Pode haver um pouco de amor... –Eu sorrio- Por você mesma.

Minha expressão desaba. Engulo seco. Eu sei que Leo, sendo Leo, estava fazendo uma piada. Mas eu era sentimental... Era superficial, mas ainda assim era sentimental. Ele machucou meus sentimentos. Ou o meu ego. Provavelmente o último.

−Isso foi cruel, Valdez.

−Você precisa de um choque de realidade, Silena. –Ele tirou uma mecha que caiu no meu rosto e a colocou atrás da orelha. –Eu sei que isso não é tudo. Você é divertida, inteligente, e as vezes a sua ingenuidade me preocupa. Você é uma pessoa boa, só não é praticante da bondade.

Eu ri sem humor. Ainda não tinha digerido a última fala, mas pareceu algo bem filosófico... Desde quando o tapado do Valdez diz coisas inteligentes? Ele ainda estava parado me encarando. Ele vestia uma calça bem escura, com uma regata branca, uma camisa xadrez por cima –dobrada até os cotovelos-, um relógio preto de pulso, tênis daquele tipo ‘skatista legal’, e um boné que deixava à mostra apenas alguns cachos que escapavam pra fora do mesmo. Céus, por que diabos ele não me odiava? Eu o prejudiquei também, certo? Ele deveria espetar bonecos de vudoo com a minha forma, sonhar com carros me atropelando ou com a manicure derramando acetona nos meus olhos, não me dar conselhos.

Ria da cara desse imbecil e saia andando.

Não Silena, ele está certo. Você nunca vai conseguir acabar com esse carma negativo se ainda pensar em fazer coisas boas para o seu próprio bem.

−Obrigada, Valdez. –Eu disse piscando freneticamente para dissipar as lágrimas. Não, eu não me importava em chorar na frente dos outros, mas eu não borraria a minha linda maquiagem que fiz com tanto custo. Me processem. –Você é um bom amigo. Mesmo sendo quase inútil...

−Ah, qual é Silena?! Eu sou muito útil... Por exemplo, A Puta Que O Pariu ia morrer de fome se eu não tivesse aparecido.

−Ok, admito. Mas eu vou passear com a Puta Que O Pariu, então o mínimo que você pode fazer é mantê-la saciada.

−E vai ser difícil! Puta Que O Pariu é uma daquelas bem vorazes.

Eu gargalhei. O sinal bateu, nos despedimos, e eu segui para a minha próxima aula.

Momento Gay OFF, bitches!

Ok, foi isso que aconteceu. Eu vou tentar ser legal por isso... E a menos que o efeito TPM passe, eu vou continuar tentando. Agora rebobine um pouco a fita, apenas algumas horas antes dessa conversa.

Voltando ao meu mau humor: Não era porque eu tinha aula dali a três horas, não porque estava atrasada e, muito menos porque eu gritei com o Justin quando ele me acordou naquela manhã. Céus, não... Deletando isso da minha mente em 3... 2...

Que culpa tinha o Justin se eu havia escolhido acordar com a voz suave dele todas as manhãs? Suspirei, me levantando. E nossa, como eu estava confusa... Essa história de carma estava atrapalhando até mesmo o meu sagradíssimo sono de beleza.

Mamãe que não leia isso. Tipo, não temos uma relação complicada nem nada, ela me apresenta como bonequinha para a sociedade e, quando estamos sozinhas, ela ignora a minha existência. Como se eu tivesse pedido pra nascer... Na hora que estava lá, revirando os olhinhos, nem hesitou. Agora me culpa por ter tido que fazer inúmeros tratamentos e cirurgias, alegando que a gravidez “estragara seu corpo de miss”... Eu deveria me sentir culpada, mamãe gasta boa parte da fortuna herdada de seus incontáveis acordos de divórcio com cirurgias e afins. Ficou viciada, coitada... Eu até queria dizer que a razão de ela ficar “casando” todo mundo da vizinhança e todos os meus amigos que me pagavam uma visita, era a pura carência. Em outras palavras, falta de sexo. Infelizmente eu não podia dizer isso já que, além de atirada –Ela se joga pra cima dos meus amigos! Will Solace que o diga. –, ela sai com uns trocentos caras por ano.

Daí, você pode perceber que esse ‘mel’ não é hereditário.

Ok, devo me arrumar para a escola. Escovo os dentes ainda definhando de preguiça, sem ao menos encarar meu reflexo. Então eu percebi esse detalhe, e o fiz. Grande erro. Assim, do tamanho do Evereste mesmo.

Visão do inferno. Aliás, me desculpe capeta, eu estou rebaixando a sua morada.

−CONSPIRAÇÃO!!! –Gritei. Mas ninguém me ouviria, afinal, eu estava sozinha –ou quase- na mansão... Mamãe estava em um SPA e Hefesto, meu padrasto chifrudo como um minotauro, estava em uma viagem de negócios na China. Ou na Coréia... Ou no Japão. Ah, que se dane, eles tinham o olho puxado e muita tecnologia, ok? Dá na mesma. Quanto ao inútil no quarto ao lado, estava dormindo e babando, tenho certeza. Seboso.

Agora tinha mais essa, eu ri da minha desgraça olhando-me no espelho. No dia em que mais precisaria de tempo – as olheiras estavam prestes a bater no queixo-, teria míseras três horas para tentar ficar apresentável diante da escola.

Carma desgraçado...

Eu tinha medo de estar paranoica. Ou com sérios problemas. De repente, todas as coisas ruins pareciam ser as que mais se faziam presentes. Maldita hora em que Rachel me levara pra ver aquele charlatão quente... Pelo menos a visão era agradável, dei de ombros. Será que ele me amaldiçoou? Estreitei os olhos... Era bem possível, mas eu nem havia sido assim tão mão-de-vaca! Havia? Ah, foda-se. Eu poderia estar investindo aquele dinheiro em uma bolsa da minha futura incrível coleção da Chanel.

Mas as coisas pioraram muito naquele final de semana... Percy não dera notícias de como havia sido a reconciliação – Se é que teve uma-. Eu revirei meus lindos olhinhos azuis e pensei que eles sairiam das orbitas... Tinha que ser o lerdo do Percy pra estragar aquele plano inestragável (?)! A vaca da Clarisse tinha me dado um bolo! Mas eu vou atolar a cara dela na lama... Espera só! Com ela eu não vou ser legal coisa nenhuma. Rachel fora a um retiro espiritual e só a veria hoje na escola... Charles não ligou nem uma mísera vez para mim. Cachorro! Eu pensava que ele era diferente... Ah, e eu segui o conselho do Percy e comprei um cachorro. É uma hermafrodita, porque eu não sei descobrir essas coisas então, por hora ela/ele se chamará Taylor. O problema é que esse bicho não para de chorar! Tudo bem que as pessoas me chamam de cadela, mas eu não tinha cara de mamãe-lessie... Ou será que tenho? Que seja... Deve estar com fome. Olha querido/a, eu sinto muito, mas nessas lindas próteses não tem leite.

−Coisa peluda e mal criada... –Eu falei com Taylor- Se você não fosse tão irritantemente fofo, eu te jogaria na privada. Ele/a rolou dentro do cesto. Agora os ‘gritos’ eram mais altos e eu olhei para o travesseiro, cogitando a ideia de que não seria presa por asfixiar um animal... Ou será que sim? Acho que a menos que fosse o Leo, não teria problemas com o Greenpeace.

Deuses... Que tipo de pessoa horrível eu sou? Tudo bem que eu não gostava de bebês, mas não gostar de filhotes era um crime! Naah, eu gosto de Taylor... Mesmo ele/ela não tendo parado de chorar nessas 46h que passamos juntos.

Taylor chorou mais alto. Isso não eram cordas vocais, era um desaforo.

Qual era mesmo o nome do país onde as pessoas comem cachorros? Algo me diz que eles são da espécie olhos puxados, mas não tenho certeza. Eu poderia ajeitar meu carma dando Taylor pra algum faminto e depois...

Maneei a cabeça. Xô, pensamentos negativos. Eu vou dar um olé nessa maré de azar, e quando ela passar por mim, eu lhe darei um belo de um chute no traseiro. Pra aprender a não mexer com a vida dos outros.

−SILENA! –A porta do meu quarto se foi aberta com um baque alto. –JÁ NÃO BASTA VOCÊ COLOCAR ESSE MALDITO DESPERTADOR DOS INFERNOS PRA TOCAR CINCO HORAS ANTES DE TERMOS QUE IR PARA A DROGA DA ESCOLA, VOCÊ RESOLVE ATRAPALHAR MEU SONO COM UM SOM QUASE TÃO IRRITANTE QUANTO A SUA VOZ?

Isso é o que eu chamo de humor do cão... Céus. Taylor chorou novamente, dessa vez atraindo a sua atenção.

−AH meus deuses! Isso é um filhote? –Ele perguntou com os olhos agora brilhando.

Humor do cão + bipolaridade. Ele foi até o cesto e pegou Taylor nos braços. Expostos. Ele teve a audácia de entrar no meu quarto seminu! Idiota!

−Bom dia maninho! –Eu sorri pra irritá-lo, ignorando o fato de ele estar jogando Taylor para cima- Dormi pouco, mas dormi bem sim. Obrigada por perguntar.

−Vey, para de tirar onda com a minha cara... Ou eu... –Ele disse massageando as têmporas. – Queimo aqueles CD’s horríveis.

EPAA! AQUELE VIADO OFENDEU O N’SYNC? OFENDA A MINHA MÃE, A MIM, A MINHA FAMÍLIA, A ZEUS, A MINHA VOVOZINHA –que descansou em paz e, quem diria, estrelou uma campanha de prevenção a Herpes aos 80 anos! Uma inspiração- MAS APELOU AO FALAR DOS MEUS FOFUXOS!

−Tira suas patas de Taylor, Valdez! –Eu disse caminhando até ele.

−Taylor? –Ele respondeu- Não tinha um nome pior não? Coitada da cadela. Aliás, uma solteirona como você devia ter gatos ao invés de cachorros...

Eu deu uma risadinha e eu estava pronta para revidar, mas me contive. Cadela? Era uma fêmea?

−Taylor é um nome bonito, meu bem... –Eu revidei, dando a outra face- Ao contrário dessa sua cara.

Ok, não foi muito gentil da minha parte. O Valdez nem era assim tãaao acabado. Alguém lá em cima gosta dele, porque se tivesse puxado o pai... Cruzes! Veja bem, nós não nos odiamos. E não, nunca nos envolvemos... Está fora de cogitação. Eu só estou “odiando” ele esses dias... Porque eu descobri que esse infame é um dos BFF do Charles e nunca, NUNCA, mencionou a minha pessoa! Isso é pra acabar com qualquer amizade. O idiota sabe que eu arrasto uma carroça pelo moreno sarado, mas nunca fez nada. Há, mas isso tem volta! O destino não tem o que fazer mesmo... Talvez conspire contra o Leo!

−Taylor é um nome sem sal. –Ele revirou os olhos- Coloque um nome que não faça o cachorro parecer um hermafrodita! Quando você tiver uma vida medíocre, seus peitos estiverem batendo no umbigo e sua bunda estiver flácida, talvez você deva padronizar o nome dos seus gatos para ‘Taylor’... Assim não tem perigo de errar.

Eu pisquei tentando absorver. COMASSIM “peitos batendo no umbigo”? Há, mas ele não vai conseguir me confundir. Pois como diria Clarisse Lispector, “sempre existe um bisturi, quando suas peles insistirem em cair”.

−O que está insinuando? –Assassinei-o com um olhar.

−Que você vai morrer solitária, virgem e rabugenta... Não muito diferente do que é agora.

−EU NÃO VOU MORRER VIRGEM!

O queixo dele caiu. E, veja bem, eu queria dizer que foi por causa de um belo cruzado de direita que eu dei nele, mas a verdade foi que ele caiu diante da surpresa.

−Você é virgem? –Sim!

−N-não! –Eu respondi.

−Meu Deus, você é sim! –Pois é, era difícil acreditar, já que a fama que me precede diz totalmente o contrário. –Agora tudo faz sentido... É tudo falta de sexo!

−Para de me zoar, antes que eu enfie a mão na sua cara. –Céus, estou andando demais com a Clarisse.

Ele deu de ombros assentindo. Mas o maldito sorriso travesso ainda esta lá, brincando nos lábios cheios de Leo.

−Por que não chamamos de Hermie? –Eu demorei um pouco para raciocinar, mas então percebi que ela ainda segurava Taylor/Hermie.

−Tanto faz, vocês que são cachorros que se entendam... –Eu disse. –Agora some do meu quarto, eu tenho que me arrumar.

−Vou chama-la de Megan Fox. –Ele disse. Acho que preciso lembrar esse desmiolado, que o cachorro/cadela me pertence. E Megan Fox? Pelo amor de Deus, eu não ia deixar o/a cachorro/cadela carregar um desses nomes que os caras pensam no banheiro. Bléh!

−Sem chance. Isso é nome feminino. –Ele me olhou como se tivesse brotado um cogumelo na minha cabeça.

−Claro que é! –Ele disse como se fosse óbvio- Porque nome feminino é o que damos para as fêmeas! O cachorro não vai ser transexual... Vai?

Revirei os olhos e cruzei os braços na altura do peito. JESUS MARIA JOSÉ EU AINDA ESTOU DE PIJAMA! E SEM SUTIÃ! PORRA VALDEZ!

Ok Silena, respira e disfarça.

−Chame-a da puta que o pariu, Valdez! Só tire a sua presença do meu quarto!

Ele sorriu perversamente. Medo. Muito medo mesmo. Ele era o filho desmiolado do meu padrasto chifrudo... Olhar pra cara de Hefesto já era traumatizante uma vez no mês... Imagina a vida toda! Isso deve ter uma parcela de culpa na personalidade estranha do Valdez. Dizem que o caráter da criança reflete no que ela vê em casa... Coitado do Valdez tsc... Se isso fosse verdade, além de ser um jovem traumatizado ele tinha um caráter muito feio. Consequentemente, ele não era lá muito confiável.

−Tudo bem, maninha... –Ele estreitou os olhos- E eu vou levar a Puta Que O Pariu para comer alguma coisa.

Eu arregalei os olhos. Ele passou a Puta que O Pariu para um braço e com o outro pegou a cesta com os brinquedos. Piscou pra mim.

−VALDEZ VOLTA AQUI! –Mas ele já tinha ido gargalhando. Desgraçado... Não era pra ter levado aquilo no sentido literal.

***

−ANDA LOGO SILENA! –Valdez batia, quase arrebentando a porta do quarto. –Nós vamos chegar atrasados!

Eu mal tinha começado a fazer a maquiagem.

−Espera Leo, eu ainda tenho que passar rímel.

−Passa no carro, Silena! –Ele revidou.

−Vai borrar tudo! Você quer que eu pareça um zumbi de Thriller?! –Perguntei retoricamente. Às segundas e quartas eu ia para a escola com o Leo, porque depois da aula eu tinha treino das líderes de torcida, então eu tinha desculpa para pedir carona a algum gatinho dos times que também treinavam, alegando sempre que o Leo havia ido embora sem mim. O que não era verdade, já que na maioria das vezes ele também estava treinando (Lacrosse) do outro lado do campo.

−Cinco minutos!

−Okay, cinco minutos e nem um segundo a mais!

***

Eu estava desfilando pelo meu tapete vermelho imaginário nos corredores da escola, intimidando todo mundo like a boss, ao lado das minhas melhores amigas, Srta. Zem e Srta. Delicadeza-mandou-lembraça, vulgo Rachel e Clarisse, quando escuto:

−SILENA! –Eu me viro, procurando o ser gritante.

Estreito os olhos. Era Percy... Percy e Annabeth! JUNTOS! AH MEU DEUS! JUNTOS! Acho que posso riscar “vender os órgãos do Valdez a preço de banana na internet” da minha lista de coisas que faria para diminuir o carma. Eles se aproximaram abraçados.

−Sério? Isso está mesmo acontecendo? –Ela assentiu e eu comecei a pular de alegria. –Posso me considerar absolvida?

−Absolutamente. –A loirinha me falou. Percy encarava a situação com uma feição um tanto cômica... Tinha quase certeza que ele não fazia ideia do que estávamos falando.

−Podemos riscar esse da lista, Silena... –Rachel disse sorrindo- Mas ela continua longa...

−Do que você está falando, Silena? –Perguntou Annabeth.

−Da única coisa que é mais vadia do que eu... O carma!

Todos riram, menos Percy é claro... Tenho certeza que ele só processou aquilo mais tarde, e só riu na hora do jantar... Depois perguntaria a Tyson.

Bom, eu passei o resto das aulas me perguntando qual seria o meu próximo casal... Ver Percy e Annabeth juntos me animou bastante. Fez tudo parecer mais possível. E, se eu estou tentando ser uma pessoa legal, por que não ajudar aos outros ao invés de ficar apenas reparando meus erros? Os erros eram prioridade, claro, mas a maioria fazia tanto tempo! E, além do mais, era gente demais pra lembrar...

Meu nome é Silena Beauregard, tenho 17 anos e recentemente descobri que sofro de conspirações do universo, onde os espíritos recalcados resolveram me aplicar um castigo que bugam todos os meus relacionamentos. Um castigo mais vadia do que eu, e que se chama Carma. "Carma" gente, não "Carmem". Conheci um cara saradão e não posso perder a chance de tê-lo em meus braços. Os espíritos iriam interferir, mas eu cansei de levar na cara e agora estou tentando reparar o que fiz de errado e ser uma pessoa boa... Começando por alimentar a Puta Que O Pariu.

Apertem o cinto.