Anteriormente...

−Você está dizendo que ela está colhendo o que plantou? –

−Exatamente. Isso é carma.

−Mas o que você pretende fazer para acabar com isso? –Disse Rachel. Depois de terem finalmente saído da consulta e deixado quase toda a mesada por lá mesmo, elas estavam comprando roupas.

−Eu vou mudar meu carma. Raciocina comigo... Se eu consertar os estragos que fiz em algumas vidas amorosas, talvez o universo interceda e conserte a minha!

...Agora:

−Er... Você não acha que essa lista é muito longa, Si? –Disse Rachel apreensivamente. Todo mundo sabia da fama de Silena, ela não se importava com nada além do próprio umbigo. Mudar esse comportamento seria, no mínimo, inusitado... Para não dizer “cômico”.

−É, eu sei... Mas os primeiros da lista são Percy e Annabeth. Acabei com eles noite passada... Se é que eles tinham alguma coisa. –Disse a última parte mais para si mesma. –Pontos dobrados se eu conseguir consertar esse.

−Da próxima vez, pense mais antes de acabar com um astral amoroso... –Disse Rachel saindo do provador – O que achou?

−Ficou lindo! –Silena disse com sinceridade- Agora vamos, temos algumas coisas para fazer.

−Wow! Isso é um sonho? –Brincou Rachel. –Silena Beauregard saindo de uma loja antes de ter experimentado roupas por quatro horas seguidas?! Tempo recorde.

−Cala a boca, vaca. Vamos, anda! –Revirou os olhos tirando o cartão de crédito para pagar as compras.

−E aonde vamos?

−Você eu não sei, mas eu vou até a casa do seu ex-namorado bonitinho para a primeira fase do plano. –Rachel namorara Percy durante dois anos, mas acabaram –amistosamente- quando perceberam que a relação não era mais a mesma. Foi um alívio para os dois, mas só perceberam quando haviam, de fato, terminado.

Silena passou pela portão do condomínio onde morava, deixou o carro na sua garagem e foi para a casa do vizinho. Esperava que ele concordasse com o plano, pois não seria fácil forçá-los. Pensou que teria que ser anunciada, mas o avistou deitado em um aparelho, levantando peso... Ele gostava de manjar de boa saúde e, Silena tinha que admitir, que saúde. Percy era bastante cobiçado. O típico garoto popular, capitão do time de basquete que sofria muita pressão dos pais e não era a pessoa mais provida de massa encefálica do mundo, mas ele nunca se preocupou com as notas até elas terem ameaçado sua campanha na temporada de basquete. Então ele precisou procurar por ajuda da monitoria escolar. Acabou se tornando aluno de Annabeth.

−O que você quer, Silena? –Ela se aproximou e ele largou o exercício, encarando-a furiosamente.

−Pedir desculpas... Pelo o que fiz a você e à Annabeth.

Percy franziu o cenho.

−Você está se desculpando?

−É, eu sei... Meio estranho, não?- Ela sorriu olhado para o céu- Mas eu estou tentando acalmar os deuses, então... –Ela esperou uma resposta, mas ela não veio- Eu só quero que você saiba que vou consertar tudo. Vou aproximar você e a ner- desculpe, a Annabeth de novo.

−Nem adianta... Não vai funcionar. Tentei conversar com ela hoje de manhã e ela deixou bem claro que não queria me ver nem pintado de ouro.

−Bem, deixe isso comigo... O que quer fazer no seu encontro? –Perguntou.

−Que encontro?- Silena revirou os olhos. Percy era um lesado, Deus do céu...

−Quer saber, deixa pra lá. Estamos perdendo tempo. –Ela sabia que se tentasse explicar à Percy, só iria embora quando o outro dia clareasse. Isso se tivesse sorte. –Ligo mais tarde com os detalhes.

O próximo passo seria mais difícil. Annabeth, ao contrário de Percy, não era amiga de infância Silena. Ela crescera em um lugar completamente diferente das casas luxuosas dos Beauregard ou dos Jackson. Annabeth era muito estudiosa e acabara se tornando monitora de sua escola. Quando não estava ensinando, trabalhava em uma cafeteria para ter seu próprio dinheiro e morava com os pais em uma casa modesta perto da praia. Ao contrário de Silena e Rachel, ela não era uma “fresca”. Ela tinha um melhor amigo, Luke Castellan, com quem Percy tinha uma rixa ridícula de basquete. A cafeteria onde trabalhava era de May Castellan, mãe de Luke. E era lá que Silena entrava para dar continuidade ao seu plano infalível.

−Nós estamos fechados. –Disse Annabeth friamente assim que viu Silena cruzar a porta de vidro que dava acesso aos clientes.

Silena olhou em volta e percebeu o movimento no café. Estava cheio de clientes.

−Ahh entendi... “Fechado” pra mim. –Silena disse encarando a frieza do olhar cinza de Annabeth. - Mas eu não a culpo... Depois de ontem à noite, eu também me trataria mal.

−Ah minha filha, vai procurar o que fazer. –Disse Annie. Estava de saco cheio daquela patricinha metida- Sei lá... Procurar seu hobby que é... Dar pro time de futebol (?)

Silena respirou fundo. Não precisava de um assassinato na sua cota de purificação de carma. Precisava de paciência para lidar com toda a hostilidade da loira, que agora separava alguns pedidos.

−Wow... Você é briguenta. Agora eu entendo porque o Percy gosta de você. –Aquelas palavras pegaram Annie de surpresa, mas ela não deixou transparecer. –Olha, o Percy não fez nada. Não o culpe por algo que eu fiz, ok? Não é justo. Eu estava bêbada e... Achei seu bilhete. O resto você sabe. Eu quero fazer as pazes com você.

Annabeth sorriu compreensivamente. Silena sentiu uma pontinha de esperança.

−Indo embora? –Annie perguntou, jogando um balde de água fria em Silena, mas esta não levou a serio. Não voltaria para casa até que tivesse, no mínimo, feito Annabeth considerar a falta de culpa de Percy.

−Juntando você e o Percy hoje à noite. Qual seria sua ideia de noite perfeita? –Perguntou.

−Nem precisa ser à noite- Sorriu Annabeth. –O momento perfeito seria vê-la sendo atropelada por um ônibus.

−Ah que senso de humor! –Silena continuou indiferente. –Percy tem mesmo muita sorte... Ele vai estar aqui às 18h... Esteja pronta e divirta-se!

Annabeth revirou os olhos enquanto assistia Silena deixar o café. Até seu andar era prepotente! Se Percy achava que podia fazer sua amiga assumir a culpa e ficaria tudo bem, estava enganado.

Annabeth terminou seu expediente desejando mais do que nunca um bom banho e um filme idiota. Vai saber... Enquanto virava a placa que anunciava que o café estava –dessa vez era sério- fechado, viu Percy pela porta de vidro. Ele estava parado em frente à porta e, como sempre, usava aquela jaqueta ridícula que os atletas usavam. Annie não via necessidade de usar aquilo fora da escola.

−O que diabos você está fazendo aqui? –Perguntou saindo de dentro do estabelecimento.

−Er... A Silena não disse que eu viria?

−Eu não ouço o que a Barbie fala... –Annie revirou os olhos. – E, seja lá o que estiverem tramando...

−Não estamos tramando nada –Interrompeu Percy rebatendo. –Olha, eu me desculpei e eu estava falando a verdade... O resto foi a Silena. Ela armou todo esse negócio de “Encontro em Série”.

−O que isso quer dizer? –Perguntou Annie confusa.

−Um cartão leva a outro. –Só então ela notou uma espécie de bilhete nas mãos de Percy. Olhou mais atentamente, na verdade eram dois.

−O que diz o primeiro? –Perguntou vencida pela curiosidade. Trancou a porta e ele sorriu atrás de si. Pela primeira vez, sentiu que Annabeth estava baixando a guarda.

−“Convença a Annabeth a ir” – Leu e mostrou a ela em seguida para que pudesse ler com os próprios olhos. –Como estou me saindo até agora?

Annabeth suspirou. Ainda estava muito brava com Percy e Silena, mas não conseguia agir indiferente diante daqueles olhos verdes.

−Não sei... Depende do que diz o segundo cartão. –Ela cruzou os braços esperando que Percy abrisse o outro cartão.

−“Vão até a Rua St. Jude, 9605 e achem o próximo envelope. No caminho, contem três coisas que gostam um no outro” –Ele leu e entregou o cartão a ela em seguida. Ela encarou o cartão e quebrou o silencio que havia se instalado.

−Eu não sei...

−Olha, eu começo. –Percy interrompeu antes que Annabeth colocasse mais obstáculos. –Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço... E paciente também. Você não fica brava comigo nas aulas particulares... Não me trata como o idiota que eu sou. Eu realmente gosto disso. –Ela permaneceu em silencio. –Olha, eu sei que não estou com moral pra te pedir nada, mas nós nunca fizemos nada juntos por só por diversão. –Ela ia protestar, mas ele foi mais rápido. –Além do mais, isso é coisa da Silena... Pode apostar que não vai ser chato.

Annabeth suspirou vencida.

−Estou livre pra parar quando quiser? –Perguntou.

−Com certeza! Confie em mim. –Ela riu debochadamente, mas ele não se deixou abalar. Revirou os olhos.

−Ok, você venceu.