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POV Silena Beauregard

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Começarei essa retomada de poder (O Poder da Narrativa) com três perguntas existenciais que ajudarão a entender o que se passa aqui.

1) Você já voltou a fazer algo que jurara a si mesmo jamais fazer novamente?

Bem, isso acontece sempre. Se nunca aconteceu com você, olhe para os lados. Você tem aquele amigo que, sempre que acorda de ressaca, lança aquela famosa frase “Nunca mais eu bebo”?

Não?

Eu também não, porque, bem... Eu sou esse amigo.

2) Você já se perguntou como seria uma junção de Paraíso e inferno?

Deixe-me dizer que eu sim, mas quero deixar claro que até mesmo nas minhas fantasias, isso parecia ser uma ideia melhor.

3) Biscoito ou bolacha?

Okay, essa não é bem uma pergunta existencial, mas não podemos negar que é polêmica.

Depois desse monte de abobrinha que, a princípio parece completamente inútil, vamos ao que interessa:

VOLTEI AO MEU TRONO.

Sério, preciso reclamar mesmo por motivos de: Eu sou a protagonista dessa bodega, mas eu apareço? Nãaaaaao.

Isso é porque você não é onipresente, onisciente e onipotente, Silena. Você não pode saber tudo o que se passa, estar em todos os lugares e-

Calada, Sheila!

Eu não sou essas coisas ainda. Espera só até eu conseguir marcar uma reunião com os seres dos pactos profundos das trevas.

Me aguarde.

— NÃO TINHA MESMO COMO COLOCAR UMA REDE PROTEÇÃO EM VOLTA DESSE LUGAR? – reclamei. – Não existe repelente no mundo capaz de combater essas coisas voadoras que insistem em me chupar. E NEM É NO BOM SENTIDO!

Escutei a risada de Leo de algum canto, mas sinceramente: O que me importa esse inútil?

— Silena, isso é apenas mais uma forma de contato com a natureza! – Rachel disse, se aproximando. Ela estava ajudando os garotos a carregarem nossas bagagens e suprimentos para perto das mesas de piquenique. É bom mesmo que ajude, porque eu praticamente tive que arrastar ela até aqui.

Estúpidas aulas de yoga.

— Contato com a natureza? – Perguntei incrédula, enquanto me estapeava para me livrar de outro mosquito. – Por que não pode ser um contato agradável? Essas coisas voadoras não me veem chupando o sangue delas! Não é justo! Da última vez eu vim até esse lugar fiquei de quarentena durante UMA SEMANA porque mamãe estava convencida de que eu estava com catapora!

Tirei os meus óculos escuros e finalmente os coloquei afinal, não queria que meus olhos sofressem com a alta incidência de raios ultravioleta e-

Como se todos não soubessem que você está usando isso para secar os garotos sem que eles te percebam.

Obrigada, Lilith. Muito obrigada por estragar tudo.

O que foi? Vai dizer que nunca fez isso? Pfff.

— Meus deuses Silena, o que diabos você colocou nessa mala? – Will disse enquanto tentava retirar a minha mala de dentro do Jeep de Leo alugara para a ocasião.

Deixo um gemido de puro descontentamento deixar os meus lábios. Estamos no Maldito Aterro novamente. Eu jurei que nunca mais colocaria os meus lindos pezinhos nesse lugar (da última vez precisei de boas quatro horas na pedicure para conseguir tirar toda a lama das minhas unhas. Eca.), mas adivinhem só?

Pela décima quinta vez, aqui estou eu.

Acho que posso pensar em me candidatar nas próximas eleições porque, bem, olha eu aqui fazendo promessas impossíveis de cumprir. Ah, mas isso seria incrível!

“Vote Silena, a gente resolve o seu problema”.

— Apenas o estritamente necessário, Will. – respondi.

— O seu “estritamente necessário” pesa mais do que a minha tia Ártemis. – Ele disse um pouco sem fôlego. – E ela precisou ter o estômago reduzido no verão passado. UMA AJUDINHA AQUI! – Will clamou, mas Percy continuou rindo um pouco mais atrás, sem demonstrar interesse algum em ajudar.

Ha ha ha. Pobre loirinho...

— Considere isso uma punição ter dormido com a minha mãe. – Eu disse, o olhando com certa desaprovação. Ele apenas sorriu de lado e deu de ombros, carregando a mala (sozinho) para junto das outras.

Um perfeito cafajeste, mas tão bonito o rosto...

Percy chegou por trás de Annabeth e a envolveu em um abraço.

Ew. Odeio casais.

— E então garotas? Devemos esperar um tipo de briga na lama hoje? Vocês sabem, para o nosso entretenimento. Eu acho que eu tenho sido um ótimo namorado e eu mereço um prêmio por isso. – Percy disse, arrancando murmúrios de alguns dos garotos e causando reviramento de olhos em massa de nós garotas.

— Percy! Seu idiota! – Annabeth disse com certa indignação, mas logo começou a rir.

— A coisa mais próxima de uma briga na lama que você vai conseguir, Percy, sou eu te empurrando na maior poça que eu encontrar!

Acho que a flor de pessoa que acabou de dizer isso dispensa apresentações. Quero dizer... Existe coisa mais “Clarisse” do que uma ameaça?

Supreendentemente, ela não estava arregaçando as mangas ou fazendo caretas no canto. Ela estava... Sorrindo!

Meus. Deuses.

O mundo está definitivamente girando ao contrário por aqui.

Por mais que eu odeie esse lugar com todas as forças do meu pâncreas, eu estava feliz de estar reunida aos meus amigos. Bem, eles não eram todos meus amigos, mas ainda assim...

— Minha garota... – Chris disse, abraçando Clarisse de lado e beijando sua bochecha. De onde ele surgira eu não fazia ideia, mas o olhar fuzilante que Clarisse estava lhe lançando logo o mandaria para o inferno.

— Eu disse “SEM contato físico”, Rodriguez!

O sorriso dele se alargou ainda mais, e ele aproveitou a distração dela para lhe dar um selinho rápido nos lábios.

Eu sei o que você deve estar pensando: “Por quanto tempo eu dormi?”, certo? Então vamos esclarecer isso de uma vez por todas. Aparentemente, depois daquele encontro fracassado, Chris levou Claire para rebater algumas bolas de baseball e BUM:

Lá se foram anos de ódio e rejeição.

Mesmo com essa ideia salvadora e mirabolante que ele teve, devo deixar bem claro para fins de diminuir o meu Carma que todos os créditos por esse relacionamento pertencem a mim por Direito!

Ponto final.

Resumindo a história, eles começaram a se encontrar escondidos desde aquele dia e por isso só revelaram os detalhes do encontro no dia em que finalmente assumiram que estavam namorando.

Mais conhecido como “ontem”. Enfim...

— Hey Nico, você vai nadar de verdade hoje ou só ficar afundando novamente? – Chris perguntou alfinetando a nossa querida pirigótica trevosa.

— Eu não me afoguei! – Nico respondeu estreitando os olhos.

— Se afogou sim, Niquito. – Rachel disse, segurando uma risada e beijando a bochecha dele em seguida. O que há com essas pessoas e demonstrações de afeto hoje? Eles estão assim tão ansiosos por trocarem bactérias uns com os outros?

Da próxima vez eu devo trazer um spray anti-afeto.

Espera, o que eu acabei de falar? Não vai haver uma próxima vez!

— O estilo filhotinho de cachorro aquático não funcionou muito bem para você, cara... – Leo adicionou. Todos os carros já haviam sido descarregados e estávamos começando a nos aglomerar na clareira onde acenderíamos uma fogueira.

Como se precisássemos de algo mais brilhante do que euzinha ft. os dentes do Solace... Tcs.

— Eu não nasci para nadar, ok? – Nico disse revirando os olhos. – Eu corro, isso é o que eu faço! Eu sou do tipo terra.

— Touro, Virgem ou Capricórnio? – Katie perguntou batendo palminhas ao se juntar a nós. Estreitei os meus olhos por baixo das lentes dos óculos... Ainda não tinha engolido os desaforos do outro dia.

— Escorpião.

— Eca. – Katie disse, franzindo o nariz. Normalmente eu concordaria, mas como eu não exatamente gosto dela, vou ficar na minha. Me processe. – Enfim... Preciso de homens musculosos e dispostos para carregarem aquele cooler imenso.

Os meninos começaram a admirar as árvores, o lago... Os próprios pés.

— Eu mencionei que dentro desse cooler está praticamente todo o conteúdo alcóolico desse local?

Agora sim eles pareciam interessados. Garotos...

Antes que alguém pudesse se manifestar, o último carro chega “cantando” os pneus e quase estourando o que resta dos meus frágeis tímpanos (longa história, mas posso adiantar que envolve o Valdez e sua mania idiota de consertar tudo e um martelo elétrico.). Meu peito (mesmo com todo os ml de silicone) se enche de expectativa, e imediatamente eu começo a consertar o meu cabelo, que por conta da viagem e a poeira mais parece uma peruca inspirada no Mufasa.

Imediatamente, Connor pulou da carroceria da picape com uma mochila nas costas e Travis (que ainda estava em cima da coisa) lhe passou uma bicicleta de trilha e, em seguida, outra.

Digamos que eles nem se importaram em dizer “oi” antes de sumirem pelo bosque em suas bicicletas idiotas.

E não, eu não sei andar nessas coisas.

Piper foi a primeira a descer do carro, que agora sabíamos que era de Jason. Posso dizer que a garota estava amarela como uma pilha de Doritos, e por mais que uma parte de mim insistisse em acreditar que era por causa da anemia causada pela falência e consequente pobreza, é mais provável que seja pelas habilidades de piloto de fuga do loiro.

Agora ela apoiava os braços nos joelhos enquanto Reyna – que saíra do carro segundos depois- murmurava alguma coisa e endireitava a postura da McLean colocando uma mecha de cabelo dela para atrás de uma orelha em seguida.

Quando eu digo que esse povo está estranhamente afetuoso ultimamente...

— Eu vou. – Leo respondeu, sem desgrudar os olhos do lugar onde o carro estava estacionado sem qualquer vestígio de sorriso em seu rosto feio.

Ok! Tudo bem. “Seu rosto nem tão feio”. Melhorou?

Ótimo.

— Nós vamos com você. – Chris disse, se referindo a ele e Clarisse. Quem quer que tenha dito que o cavalheirismo morreu, estava completamente correto.

Eu sei que há algo de errado, mas como eu estou com preguiça de bolar uma teoria da conspiração, resolvo ignorar o fato e voltar a minha atenção para o trio que agora tirava as malas do carro.

Isso mesmo, trio. O Universo me odiava, então ser decepcionada já estava se tornando rotina.

Espero que esse jogo vire logo...

Jason usava uma camisa polo azul escura, shorts brancos e chinelos da mesma cor. Além de mim, era o único que usava óculos escuros e, devo dizer, estava lindo como nunca.

Eu sei que ele não é flor que se cheire, mas estamos falando estritamente de estética aqui, ok?

Ok.

— REYNA RAMIREZ ARELLANO! – Katie gritou e trocou um olhar cúmplice com Will. - TRAGA ESSA BUNDINHA LINDA ATÉ AQUI!

Eles disseram a última parte juntos e explodiram em gargalhadas, arrancando um sorriso discreto da própria Reyna, que chegava em nosso círculo.

Sinceramente, como esses três eram melhores amigos estava acima da minha compreensão. Juntaram as duas borboletas sociais (uma com tendências geeks e outra esportista) e o Poço do Infinito Sarcasmo.

Não dá!

Mas pensando bem... Minhas melhores amigas são uma hippie natureba e a bruta do agreste, então...

— Deuses... – Nico disse, balançando a cabeça ao ver Katie e Will abraçando Reyna animadamente enquanto ela revirava os olhos com um sorriso de derrota – Vocês são tipo Bob Esponja, Patrick e Lula Molusco.

— Ahh, Katie definitivamente seria o Bob Esponja. – Chris disse, depositando o cooler ao lado sobre uma das mesas de piquenique.

Senti um tom de piada interna.

Já comentei como odeio piadas internas? Arrgh!

Minha curiosidade só aumenta quando Katie começa a ficar vermelha como um pimentão de feira, mas a visão não dura muito tempo porque Will resolveu interromper qualquer resposta ao falar:

— Vamos lá, Rey! – Ele disse. – Uma corrida até o lago.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Até porque, você joga futebol, lacrosse, é arqueiro, tem duas vezes o meu peso e é mais alto que uma vara de tirar côco. – Ela começou a acenar. – Isso seria totalmente justo.

Não disse? Um poço de sarcasmo. Eu até gostaria dela, mas aquela blusa laranja, péssimo corte de cabelo e a leve associação com Drew eliminava qualquer pensamento amistoso.

Fala sério, laranja é tipo... A pior cor EVER.

— Quão justo vai ser se eu tiver uma bola de banha nas minhas costas? – Ele estreitou os olhos.

— O suficiente. – Reyna sorriu.

A próxima coisa que vi foi Will jogando a Gardner por cima de um ombro e correndo em direção ao lago, com Reyna correndo um pouco mais a frente. Katie gritava e esperneava. Deve ser de felicidade, não é mesmo?

Hahaha.

Morra, Gardner.

Silena...

Ela me chamou de cadela, Sheila!

Isso não justifi-

Pelo amor dos deuses, sua puritana. Cale a boca!

Obrigada, Lilith.

Eu estendi um lenço sobre um dos bancos e me sentei, ficando de cara com ninguém menos que Percy e Annabeth, que estavam um pouco afastados sorrindo como dois idiotas. Revirando os olhos, me viro para o outro lado, onde posso contemplar Chris e Clarisse discutindo enquanto tentam armar uma tenda...

É disso que eu gosto! Brigas e destruiç-

Claro... CLARO que o Rodriguez tinha que arruinar o momento encurralando a minha pobre amiga entre ele e uma árvore e a beijando fervorosamente.

— Ahhh, o amor não é lindo? – Rachel disse, se sentando ao meu lado.

Ok Silena, prepare-se.

— Espero que essa pergunta tenha sido retórica, água de salsicha. – Eu disse mal humorada. Rachel riu, enquanto apontou com o queixo na direção oposta a nossa, onde Jason pegava praticamente arrancava a mala das mãos de Piper.

— O que você acha desses dois? – A ruiva me perguntou enquanto brincava com as miçangas de uma das suas milhares de pulseiras. Eu tentara por anos fazer com que ela se livrasse dessa arte artesanal de quinta, mas Rachel nunca foi de ouvir os meus conselhos de moda então...

Que fique claro que eu só não arrancara aquelas coisas com as minhas próprias mãos porque não sei que tipo de mandinga passa por ali. Vai que é mandinga do mal? De desgraça a minha vida já está cheia.

— Acho que, se Jason não deixar ela em paz de uma vez por todas, o Valdez vai acabar incendiando aquela cabeleira loira e sedosa... – Murmurei olhando para o meu celular. Claro que no inferno não havia sinal de celular, mas os velhos hábitos nunca morrem, não é mesmo? – Olha Rachel, eu sei que a culpa disso é minha, mas você não se incomoda com aquela cena ali não? Porque tipo, eu posso totalmente te ajudar a separar aqueles dois depois que eu fisgar o Charles...

Apontei com o queixo para Percy e Annabeth que estavam ocupados demais degustando as amídalas um do outro para notarem que estávamos observando.

Silena!

Ai Sheila, desculpa por querer ver a minha amiga feliz!

— De forma alguma! – Rachel riu pelo nariz e eu posso dizer que ela estava sendo sincera. – Eu fico feliz por eles, Percy e eu tivemos um relacionamento ótimo, mas simplesmente não conseguimos nos conectar realmente.

— Ah, claro! – Eu ri sarcasticamente. – Eu sei bem o que vocês conectavam incessantemente naquela época.

— Silena! – Ela advertiu, mas logo riu da situação. – O que eu quis dizer é que eu não sentia a conexão por parte dele.

— Tão pequeno assim? – Eu perguntei entortando a cabeça para um lado. Eu nunca imaginaria isso do Jackson.

— Você é um caso perdido, Silena Beauregard. – Ela balançou a cabeça enquanto voltou a atenção para Jason e Piper. – Aqueles dois. Eles tem a conexão. Eu consigo sentir uma aura especial entre os dois... Diria até que são almas gêmeas.

Franzi o cenho.

— Rachel, a gente mal chegou aqui! Não vai me dizer que você já andou por aí fazendo chás de cogumelos e cheirando as ervas do lugar.

Ela me olhou com um olhar inocente e piscou em seguida.

— Será que é isso? – eu perguntei fazendo um bico enquanto voltava a encarar Clarisse e Chris. – Somos só nós duas agora? Porque desse ângulo aqui, eu diria que fomos completamente trocadas pelo Queridinho do Olympus.

No lago, Katie estava nos ombros de Will enquanto Reyna estava nos de Nico e eles jogavam “Briga de galo”. Bem, eu diria “de galinhas” nesse caso. Galinhas horrorosas, devo acrescentar.

— Quem diria, não? A Bad Girl e o Garoto de Ouro. Soa como uma comédia clichê do fim dos anos oitenta. – Rachel riu observando as próprias unhas. – Mas e aí, você não vai considerar juntar o Jason com a Piper?

Franzi o cenho. Leo me odiaria se eu fizesse aquilo, então eu precisava de tempo para “considerar” se valeria ou não a pena. A verdade é que os instintos de Rachel nunca erravam.

— Você sabe que, por mais que eu deteste admitir, o Valdez é sempre fundamental nesses planos. Não acho que teríamos o apoio dele nesse caso em específico... – murmurei. – Mas vamos deixar nossas opções em aberto. – Disse em tom de fim de conversa.

— O que aconteceu, Si? – Ela me perguntou, ignorando completamente o meu ponto. Obviamente, eu desviei o olhar. – Eu sei que tem algo te incomodando, e você pode me dizer o que é. Eu estou aqui para te ouvir...

Eu suspirei pela milésima vez naquela hora. Meu humor estava péssimo, sim, mas tinha um motivo. Infelizmente, alguém percebera e agora azucrinava o meu sossego.

Ai que orgulho!

Shhh, Lilith. Estou no meio de uma coisa aqui!

— É só que... – hesitei. - Que espécie de deck é esse? Sem cadeiras de Sol? Isso é ridículo!

Ela revirou os olhos.

— Vamos lá, Silena... – Ela incentivou. – Eu sei que há algo errado.

— Ela achou que o Beckendorf viria. – A voz do demônio se fez ouvida. Sem precisar me virar, eu já sabia que se tratava do babaca do Valdez. – Ele vinha, sim, mas teve que cancelar no último minuto porque o Jake sofreu um acidente no parquinho e precisa de um acompanhante no hospital. Ele pediu para dizer que realmente sente muito.

Esses são os momentos em que eu agradeço por não ter nenhum pirralho para chamar de irmão.

— Foi por isso que os Stoll pegaram uma carona com o Jason. – Leo disse, se sentando sobre a mesa e apoiando os pés no banco, ficando muito próximo a Rachel, que estava na minha frente. – Eles dispensaram o Chris por motivos de “Preservação de Olhos e Inocência”. Eu não os culpo... Clarisse e Chris acabaram por ser o casal mais fofamente grudento EVER. É nojento!

— Não posso discordar. – Revirei os olhos.

— Bem, pessoas, eu vou checar se a Piper melhorou. – Rachel se levantou. – Aparentemente, a viagem com Jason não foi muito pacífica.

Assenti e ela se retirou. Vadia.

Ela queria mesmo era me deixar sozinha com o Leo para discutirmos sobre Piper e Jason. Chacoalhei a cabeça, e voltei a minha atenção a Leo, que observava o lago com uma distração visível no olhar.

Estreitei os olhos.

— Você não estaria secando o Nico, estaria Valdez?

— Não. – Ele riu, virando-se completamente para mim.

— Graças a Deus. – Eu ri da minha própria piada, enquanto usava a câmera do meu celular para conferir se meu rosto ainda estava apresentável.

— Sabe, Silena... – Ele começou, me lançando aquele olhar maroto digno dos Stolls. – Você é uma atriz e tanto! Aquela cara de desolação deixaria qualquer criança faminta no chinelo.

Arqueei uma sobrancelha, voltando a encará-lo.

— Você não esperava menos de mim, não é irmãozinho? – Ele ergueu as mãos sorrindo e voltou a olhar para o lago. O garoto devia estar com muito calor mesmo, porque aqueles olhos esclerosados não desgrudavam do lago. – O importante é que agora ela não vai desconfiar de nós, afinal, eu serei surpreendida.

— Exato. – Eu coloquei meus óculos novamente. – E por que raios o Jason trouxe a Piper?

Aquela pergunta estava me incomodando desde o princípio.

— Não sei. – Leo disse dobrando as mangas da camisa. – Mas eu vou descobrir ainda nesse fim de semana.

Dei de ombros. Existem três coisas que nunca, jamais, se poderia negar sobre Leo: O cabelo dele era oleoso, as más intenções sempre estavam lá e a determinação dele é inabalável.

— E quando eles chegam?

— Charles disse que que eles sairiam às duas. – Ele me respondeu olhando no relógio de pulso. – Isso foi há uma hora e vinte minutos atrás então eu diria que a qualquer momento.

Assenti.

— Excelente.

Jason e Piper podiam esperar.

Meu nome é Silena Beauregard, tenho 17 anos e, no intuito de diminuir o meu carma e fisgar o bofe dos meus sonhos, eu posso –talvez- ter acabado de esconder o jogo da minha melhor amiga, colocando-a como alvo de um plano que não só me ajudaria com o carma, como serviria de pagamento de dívida do Elfo-Demoníaco com cara de cantor de boyband.

Até aí tudo bem, mas e se eu também estivesse escondendo o jogo do próprio Valdez?

Façam as suas apostas, e que comece o fim de semana!