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POV Silena Beauregard

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Alô, alô, alô, vocês sabem quem sou eu?

Querida, apenas pare.

Sheila, não me reprima! Não precisa descontar esse seu mau humor na minha lindíssima existência.

Então, voltando... Sou eu mesmo. A primeira, única e maravilhosa Silena Beauregard. Recuse imitações.

Há.

Vocês já devem ter percebido o quanto o meu humor está maravilhoso, certo? Pois então... Parece que finalmente o universo resolveu girar para o lado certo e está conspirando ao meu favor. Não é maravilhoso? Por dois meses da minha vida eu achei a única solução seria mexer meus pauzinhos e pedir para os russos resetarem o mundo com aquelas bombas atômicas e...

Mas que matraca! Vá direto ao ponto.

Grossa...

O que eu estou tentando dizer é que Clarisse e Chris parecem finalmente estar se acertando e meu plano poderosíssimo que envolvia óleo, gliter, álcool e uma pirigótica “alcoolizada” deu super certo.

Sou mesmo a rainha da cocada preta. Me adorem, mas eu só aceito oferendas de grife... Inclusive, seria ótimo começar aquela coleção de bolsas da Channel que eu terei antes dos vinte.

Ah se vou.

— Tá sonhando com o cabelo de miojo de novo?

Já ouviram que um comentário ode estragar um dia completamente lindo e transformar a mais linda e saltitante gazela em um hipopótamo feroz de safari? Então... Qual é o problema das pessoas com o cabelo angelical de Justin há uns anos atrás? Eu hein...

— Vá plantar trigo sem glúten... – Revirei os olhos, voltando a minha atenção para as minhas lindas unhas que não estavam mais corroídas devido a ausência dos banhos de descarrego diários. Estávamos no meu quarto fazendo vários nadas enquanto esperávamos a comida chinesa chegar. – Eu nem sei como eu ainda não te excomunguei do meu ciclo de amizades... Que tipo de amiga não conta como foram as coisas no encontro mais esperado do século?!

— Ela tem razão, Clarisse... – Piper começou, se ajeitando melhor na minha cama. – Isso é simplesmente inaceitável!

— Ah garota do pompom, fica na sua que você não tinha nem que estar aqui. - Clarisse a fuzilou com o olhar e em seguida, seu olhar parou em mim. – Por que mesmo ela está andando com a gente?

Revirei os olhos e suspirei. Como eu já disse milhares de vezes, Clarisse é sempre delicada como o coice de uma mula calçando ferraduras.

— Não me chama de garota do pompom! – Piper disse entredentes. - Aliás, você também é líder de torcida, não devia usar isso como insulto.

Clarisse abriu a boca para falar alguma coisa. Uma. Duas vezes, e desistiu em seguida murmurando um “tanto faz”. 1x0 Piper.

Minha garota.

Sobre a Piper: Decidi que ela pode, sim, sentar conosco. Raciocina comigo... Ela é líder de torcida –isso já é meio caminho andado-, tem o corpo certo, o rosto certo, um pai super gato e famoso e ainda se mostrou super útil no plano para ajudar Luke a conquistar a punk ft. marrenta ft. trevosa, vulgo Thalia.

Só tinha que melhorar o gosto pra homem, né? Convenhamos que ninguém com bom gosto namoraria o Valdez. Mas é como eu costumo dizer, ninguém é perfeito... Além de mim, claro, que sou a deusa do rolê.

— Rachel, você vai ficar aí fingindo de morta? – Eu perguntei para a ruiva, que estava com o rosto enfiado no travesseiro e não dissera uma palavra nos últimos minutos. Se tratando de Rachel, isso é abnormal.

— Oasiud você uer io uigua? – Essa é a minha sincera reportagem da transmissão. Antes que eu pudesse tentar associar o que ela dissera, Clarisse puxa o rosto dela para fora dos travesseiros de uma forma nada delicada.

— Tira a cara da bunda para falar. – Ela reclamou.

— OUCH! – Rachel se sentou, esfregando a cabeça no lugar onde Claire acabara de puxar. – Eu disse: “O que você quer que eu diga?”

— Não sei... – Começo, pegando o meu celular para fazer algo interessante. – Alguma novidade sobre como você se sente, por exemplo?

Eu ia arrancar uma confissão dela sobre aquele garçom loirinho nem que tivesse que embeber algodão em acetona e espremer naqueles olhos dela. Que foi? Não é justo uma pessoa – que não seja eu- ter olhos tão incríveis! Eu acabaria com dois problemas de uma vez. 

— Com fome. – A cobra disse, fugindo do assunto. Odeio gente que se faz de sonsa...

— Isso não é nenhuma novidade. – Debochou Clarisse. – Falar nisso, essa comida está demorando demais.

Suspirei em cansaço. Eu ia desenvolver rugas precoces por causa dessa vida tirana.

— Não duvido que o Leo tenha recebido e comido tudo... – Piper murmurou. – Às vezes parece que aquele garoto tem sete estômagos!

— E às vezes parece que você queria ser comida por pelo menos um de-

— Clarisse! – Eu interrompi, mas confesso que tive que segurar uma risada. – Não seja vulgar. Lembre-se que esse é um ambiente purificado contra as energias negativas e qualquer outra coisa que influencie no carma.

Ding dong.

— Opa, deve ser a comida. – Rachel correu descalço e atravessou a porta em uma velocidade que deixaria Barry Allen com inveja.

Típico de Rachel.

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— Mas a melhor parte foi, sem dúvidas, acreditar que a gente precisava embebedar o Nico pra que ele aceitasse ser parte do plano hahah- Leo disse quando terminou de mastigar o que me parecia seu quinto quilo de comida.

A nossa refeição chegara há um tempo, e todos estávamos satisfeitas, exceto por Rachel e Leo - que aparentemente pretendiam comer até que o umbigo estufasse e não houvesse mais comida no país. Meu humor melhorara consideravelmente por estarmos relembrando o plano bem sucedido da noite anterior.

— Espera, eu me perdi aqui... – Começou Clarisse, franzindo o cenho. – Então quer dizer que o Nico topou ser parte desse plano maluco e sem pedir nada em troca?

— Querida, você acha mesmo que a oportunidade de molestar Luke Castellan e colocar a culpa na bebida pode ser considerada “nada”? Francamente...

Todos rimos. Clarisse não participara da elaboração do último plano, porque ela estava ocupada com os mil treinos que sempre tinha depois das aulas, então estávamos tentando explicar como tudo aconteceu.

— Então vocês enganaram a Thalia? – Ela disse boquiaberta, apoiando os cotovelos sobre a grande mesa de vidro da sala de jantar. – E o pior: Hades confiou em vocês para ajudar Nico a entrar de volta no armário e prender com um cadeado turco. Não foi para escancarar ainda mais as portas pra ele sair com direito a chuva de gliter, dançarinos e trilha sonora da Rihanna!

— Aquilo era Lady Gaga! – Piper protestou rindo. – E eu discordo de você, Valdez. A melhor parte foi, sem dúvidas, a festinha... Você requebra como ninguém, gostei de ver!

Ele sorriu.

— Você sabe que no fundo eu gosto é de quicar. – Piscou em seguida, me fazendo revirar os olhos. Por que ele não poderia ser um adolescente machão normal e ficar ofendido com esse tipo de insinuação? Esse povo que entra na zoação: Detesto.

Uma vergonha para os defensores dos barracos bem armados.

Desonra na sua vaca, Valdez.

— E ainda teve aquele drink, como era mesmo o nome? – Rachel ainda ria. Finalmente ela desocupara a boca e podia falar. - Ah, não sei. O que eu ainda quero saber é como você conseguiu ter acesso ao bar, Valdez...

Ele ficou visivelmente desconfortável e quando começou a corar, tive a certeza de que definitivamente tinha algo errado com essa história.

— E-eu... Pedi para que a garota da recepção me ajudasse. – Ele respondeu sem dar muita explicação. Hm...

Joga a intriga, Silena! Joga a intriga e espere pelo pior.

Silena, lembre-se que você pode constranger o seu irmão sendo indiscreta.

Ele nem é seu irmão! Vamos lá Silena, você está morrendo para saber...

Desculpa, Sheila, mas a Lilith tem razão.

— Você dormiu com ela, não foi? – Eu perguntei com a feição mais descarada que consegui formar. – Você está se tornando um gigolô, Valdez!

Ele arregalou os olhos.

— Eu não dormi com a Calipso! – Ele protestou, seu olhar caindo rapidamente sobre Piper, que mantinha sua expressão neutra. – Pelo menos não ainda... – murmurou a última parte para si mesmo, mas eu pude ouvir. O que foi? Quando se é a rainha do ensino médio você acaba por desenvolver esse tipo de habilidade.

— Hmmm olha como ele é safadinho... – Clarisse disse rindo. Pelo visto eu não era a única com ouvidos biônicos.

— Pegou o telefone dela? – Rachel atiçou, erguendo as sobrancelhas e sorrindo mais que o Coringa.

Leo suspirou. Ele tinha uma feição incomodada e isso não era nada comum para o Valdez. Definitivamente tinha algo errado nessa história e eu descobriria agora mesmo. Não vá você pensando que eu me importo com o Valdez é só que... Vocês sabem, eu detesto que me escondem as coisas. Isso.

— Ela trabalha pra Afrodite. – Ele disse como se fosse óbvio, mas a preocupação ainda estava óbvia em seu olhar. – Não deve ser tão difícil pra mim conseguir...

Já chega.

— Meus deuses, mas o que foi isso? – Eu disse, apressadamente me levantando. – Parece que A Puta que O Pariu quebrou outra coisa na cozinha! VAMOS CHECAR, VALDEZ, VEM. – Eu disse puxando ele dali. Ele poderia me agradecer depois. – A gente já volta!

— Ah, eu adoro aquela cadela. – Disse Piper, se levantando. – Quero vê-la.

— NÃO! – Eu disse exasperada. – É-rrr... N-não precisa... Ela está com... huh... Com o quê mesmo, Valdez?

Ele me olhou com uma sombra de divertimento, e eu soube que estava ferrada.

— Depressão pós parto. – Eu apertei minhas pálpebras com força e fuzilei o Valdez quando as abri novamente. As três garotas franziram o cenho, e Clarisse (como sempre) era a que parecia mais desconfiada.

— Ela é só um filhote. – Ela informou. Eu vou arrancar a língua dessa garota e alimentar meus porcos com ela. Nem que eu tenha que comprar alguns porcos...

— Ela teve gravidez psicológica, coitada... – Eu disse estalando a língua. – Não quer ver ninguém, desde que sofreu o aborto espontâneo.

— Não era depressão pós-parto? – Dessa vez foi a Piper. A língua dela teria o mesmo destino que a da Clarisse. Não, espera, melhor não. Aquela língua já tinha encostado no Valdez... Nem os porcos mereciam isso.

— Por isso que ela ficou deprimida, duh. – Eu respondi agarrando o casaco do Valdez e o puxando para o outro cômodo. – Agora vamos.

Entrando na cozinha, eu ainda poderia ouvir os murmúrios das garotas na sala de jantar. Harpianete estava na pia, lavando sei lá o quê.

— Harpianete, retire a sua insignificância da minha presença. – Eu disse pegando um copo d’agua e abrindo a geladeira em seguida.

— Me obrigue. – Ela disse, me olhando de cima a baixo. Atrevida. Quando eu ia abrir a boca para demiti-la pela décima vez naquela semana, Leo interrompeu.

— O que a Silena quis dizer, Harp... – Ele me olhou feio, e eu cruzei os braços revirando os olhinhos novamente. – É que precisamos de um momento a sós.

Ela acenou relutante.

— Tudo bem, garoto Leo, mas sem safadezas na minha cozinha.

Eca.

Sério, as pessoas têm que parar de insinuar que eu e o Valdez temos um caso! É humilhante, pra dizer o mínimo...

— Tudo bem, fala. – Ele disse quando ela se retirou. – Você não ia me arrastar até aqui por nada.

— Quem tem algo para falar é você! O que aconteceu com a tal Khaleesi? – Perguntei sem rodeios.

— Eu nem assisto Game of Thones. - Nossa, Valdez. Muito engraçado mesmo, vou chorar de rir. Reuni toda a minha desaprovação e a coloquei em um olhar mortal. – Calipso. O nome dela é Calipso...

— Foi o que eu disse. – Mentira, mas tanto faz. - O que aconteceu?

— Eu devo uma a ela. – Ele deu de ombros. – Mas ela não me disse o quê e pode ser qualquer coisa.

Espero que ela peça que você se mude para a Sibéria.

— Qual é o seu problema? – Perguntei encabulada. O Leo podia ser um idiota, mas eu não sabia que ele poderia ser tão burro. – Você nem conhece essa garota, Valdez! Ela-ela pode pedir que você faça as unhas dela, ela pode pedir que você trabalhe, - Comecei a contar nos dedos.- Pode pedir que você faça o dever de casa dela, que você venda drogas, ou o pior: que você escute Justin Bieber! Meus deuses, Valdez, ela pode pedir até favores sexuais!

— Deus te ouça...

— Seu pervertido! – Comecei a andar de um lado para o outro. – Você deveria ter falado comigo antes...

— Para pedir favores sexuais? – Ele ergueu uma sobrancelha.

— SEM SAFADEZAS NA MINHA COZINHA! – Harpienete gritou de algum lugar. Não se fazem empregados como antigamente, definitivamente não. Eu não sei porque essa mulher ainda trabalha aqui, mas eu vou dar um jeito nisso, escrevam o que eu estou falando.

E foi aí, pessoal, que as coisas ficaram realmente feias, porque o que aconteceu em seguida arruinaria completamente o meu raro bom humor.

— SILENA BEAUREGARD, EU VOU ACABAR COM A SUA VIDA! – Meus olhos estavam tão arregalados que poderiam saltar a qualquer momento, e quando Thalia começou a se aproximar erguendo as mangas do casaco, eu fiz o que qualquer dama faria:

Joguei o Valdez na frente e fechei os olhos.

— O que está acontecendo aqui? – A voz era de Clarisse. Piper e Rachel estavam logo atrás e Percy acabara de se juntar ao grupo. De onde ele surgira eu não fazia ideia, mas estava feliz por ter mais uma pessoa para testemunhar a minha morte eminente.

— SAI DA FRENTE, LEO, EU VOU DESFIGURAR A CARA DESSA DEMÔNIA! – Vários barulhos de tabefes preenchiam o lugar e todos falavam ao mesmo tempo.

Eu queria chorar, mas eu tive muito trabalho para aplicar rímel naquela manhã, então não. Claramente não.  

Gente, para quê tanta violência? Temos que ter carinho uns com os outros...

Quero ver é sangue.

— GENTE, O QUE EU FIZ? – Gritei em desespero virando para o lado e protegendo meu rosto com as mãos. Harpianete podia ser vista do outro lado da janela de vidro, parada do lado da planta e rindo da minha cara.

— VOCÊ SABE O QUE VOCÊ FEZ. AGORA CALA A BOCA E SE PREPARA PRA APANHAR! – Ela continuava vindo para cima, eu não sabia o que fazer. Percy, aquela ameba, finalmente se moveu e começou a tentar segurá-la... Ouch, essa deve ter doído.

— Ei ei ei! – Leo interferiu, silenciando a todos. – Ninguém aqui vai apanhar. Por que não se sentam e conversam como duas pessoas civilizadas?

— ME LARGA, SEU BABACA! – Ela disse, tentando se desvencilhar dos braços malhados do primo. – E ESSA RIDÍCULA NÃO TEM NADA DE CIVILIZADA! VOCÊ SABE O QUE EU TIVE QUE PASSAR? COM QUE EU... DIABOS, EU VOU ARRANCAR TODA ESSA COISA QUE VOCÊ CHAMA DE CABELO!

Epa. Aí não! Me chame do que quiser, mas não insulte o meu cabelo.

— MEU CABELO É LINDO! Trezentas escovadas antes de dormir. – Eu disse sorrindo em escárnio.

— ELE VAI FICAR LINDO QUANDO EU PENTEAR A MÃO NA SUA CARA!

Meu nome é Silena Beauregard, tenho 17 anos e muita sorte no azar. Em uma tentativa de redução de carma, acabei traindo uma gótica trevosa que de alguma forma descobriu. Ela está possuída, e não é pelo ritmo ragatanga. Pelo bem da minha vida, só espero que ela não jogue mais macumba em mim, até porque não cabe.

Ai José. E agora?