Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 9
Capítulo 8 – Henry – AGORA


Notas iniciais do capítulo

Acho que já sabem da morte do Cory Monteith. Eu não sou exatamente uma glee-k, mas tenho uma admiração tremenda pela Lea Michele e estou mal por ela, porque o cupido que atingiu os dois não pôde ver o caminho trágico que essa história de amor poderia tomar. Hoje vou escrever por ela. ♥



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Nossas mãos se afastam – contra a minha vontade – e saímos daquela lojinha. Todas as outras também estão enfeitadas com árvores de natal, anunciam liquidações extraordinárias e tocam músicas natalinas repetitivas. “E qual é o seu nome?” O ruivo pergunta conforme andamos entre a multidão apressada. Mas nós não temos pressa, damos passos curtos, um ao lado do outro. Ou pelo menos eu estava ao lado dele. “Harriet.” Digo. “Não vai perguntar meu nome?” Não respondo.

Minha lógica é completamente contrária a de todo mundo. Penso que, talvez, se eu não souber o nome dele, o que estou sentindo não poderá ser caracterizado como paixão. Ah, engano. “Já sei, você não precisa perguntar meu nome porque já leu em alguma das suas cartas de tarô.” Ele brinca, eu reviro os olhos. “Prazer Harriet, sou Henry.” Noto que já estamos numa parte menos movimentada da cidade. É perto de um parque. Os brinquedos estão molhados por culpa da chuva, nenhuma criança se arrisca. Henry estende sua mão para mim, eu a aperto formalmente.

Se eu não fosse o cupido dessa droga, poderia jurar que um me atingiu bem agora.

Henry corre para o pequeno parque e se senta no balanço. Não posso evitar uma risada. “Ei! Tá molhado aí.” “E…?” “Vai ficar parecendo que você fez xixi nas calças.” Digo, de um modo bem infantil, ok, mas isso faz parte de mim. “Eu já fiz tantas coisas piores que isso…” Ele ri e pede que eu me sente no balanço ao lado dele. Apesar de ter certeza de que me arrependeria depois, afundo-me naquele brinquedo vermelho. “A maioria me diz que casais brigam. Eles insistem em tentar me convencer de que é fase.” Eu sei que ele está falando sobre sua namorada. Não me atrevo a comentar nada. “Eu já desisti do amor. E não estou certo de que seja uma fase.” Continua, sua cabeça baixa. A auréola vibra. “Eu não desisti.” Minha voz sai baixinha, quase sussurrada, mas ele me ouve. “Você é especial demais para desistir, estou certo?”

Especial demais para desistir. Pode parecer ironia, mas o tom de voz dele é sereno, livre de qualquer sentido conotativo. Especial demais para desistir dele. “Certo.” Apesar de não poder ver seu rosto, sinto um sorriso em sua voz. “Gosto de você.” Ele diz. Sim, ele gosta de mim. Mas não vai chegar a me amar. E eu não posso dizer nada além de um presunçoso “eu sei” sem que ele pense que eu sou uma grande aberração. Porque a resposta adequada – e não pronunciada – é “Eu te amo”.

(…)

Eu voltei para o prédio. Ele seguiu um caminho aleatório. Ali, da janela, sinto que é o momento certo para tentar começar. Pego o arco envernizado em cima da cama e posiciono um flecha. Com a mão esquerda seguro a empunhadura, com a direira, a corda.

“Meu arco está curvo e a corda tensa; cuidado com a flecha.” Cito Shakespeare, tornando o momento quase cômico. Miro uma mulher de uns cinquenta anos de idade. Ela carrega um gato no colo; aposto que tem vários deles. Solitária. Uma imagem vem a minha cabeça. Ela está olhando para um garoto de vinte e três anos de idade. Eles não formam um bom casal. O futuro que terão juntos…

Viro a mira para um garotinho de onze anos correndo no parquinho onde Henry e eu estávamos a menos de meia hora. Ele está brincando de pique-pega com uma garota. Sorrio ao ver o futuro que eles terão juntos. Adolescentes, começarão um namoro cheio de vai-e-volta. Jovens adultos, amadurecidos, existem dois possíveis caminhos. A garota irá para Los Angeles, o garoto fica em Nova York. Eles se esquecem, criam vidas novas. Ou se casam e ela fica em Nova York por ele. Prefiro apostar no segundo caminho e flecho o menino bem nas costas. Ele para por uns dois segundos, atordoado, antes de voltar a correr atrás dela.

Largo o arco, dessa vez na mesa de centro, e me jogo na cama. Estou quase caindo no sono quando ouço o barulho do elevador chegando no andar. Passos apressados cortam o vento do outro lado da parede, mas há um som diferente. Saio para ver o que é, contrariando o meu lema de não ver o que não querem que eu veja. A minha parte insensata tem aguçado a curiosidade que antes era quase inexistente. No corredor, uma garota de longos cabelos ruivos bate insistentemente na última porta do corredor. Seu rosto faz-me lembrar do de minha mãe, vermelho e molhado. A respiração iregular e os soluços denunciam o choro. Corro até ela. Uma corrente elétrica percorre meu corpo. Minhas veias e artérias tornam-se cabos para transmissão de energia. Ela é tão parecida com Henry…

“Posso ajudar?” Pergunto. Ela não ouve. Aproximo-me um pouco mais. Ela se dá conta de minha presença. “Quem é você?” Ela diz, atravessando um soluço e depois outro. “Harriet, amiga de Henry.” Atrevo-me a usar o termo ‘amiga’, ele soa tão estranhamente afável… Gosto disso. Os olhos dela se arregalam. “Ele não tem amigas.” “Eu cheguei aqui hoje.” Explico, ela revira os olhos como quem não crê que eu tenha tornado-me amiga dele tão rápido. “Henry não está aí.” Apesar de avisá-la, ela não para de socar a porta. Enfim desiste, apoia a cabeça na madeira e escorrega para baixo, as pernas bambas, os olhos afogados em lágrimas. “O que foi?” Pergunto. Minhas pernas também lutam para não atrofiarem. “Ele vai tentar alguma coisa. Henry…” Emudece, chora, continua. “Deixou um bilhete. Se não conseguisse se acertar com Abigail hoje, ia tentar... Fazer alguma besteira.”

Fazer alguma besteira. Existem várias interpretações para essa frase se dita por qualquer outra pessoa. Mas eu só consigo ver um significado para ela agora. Pelo jeito como saiu batendo a porta hoje de manhã, não se resolveu com Abigail. Ele desistiu. Mas eu me lembro muito bem do momento no parquinho em que eu prometi a mim mesma: não desistiria dele.

Não desistir e conseguir, no entanto, são coisas diferentes.

Novamente, o Conselheiro está errado. Ele não conhece a natureza humana.

“As pessoas que amam são perigosas porque elas matam e morrem por seus venerados. As pessoas que não amam são perigosas porque só o que querem é continuar vivendo.”

Meu caro, você ainda não conhece Henry.


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Notas finais do capítulo

THE CALL - REGINA SPEKTOR
http://www.youtube.com/watch?v=sXcjpm5gCg8