Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 6
Capítulo 5 – A Regra – ANTES


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do meu novo sistema de postagem, estou bastante animada para escrever o agora da Harriet. *-*



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Passaram-se dois dias desde que Laura morreu. O Conselheiro preferiu não mandar o corpo para minha mãe e arriscar que ela soubesse que Laura era um cupido. Eu também preferi assim. Dissemos a ela que foi como aconteceu com o vovô e ela se conformou. Quanto a mim, eu contei que seria um cupido. Não, não falei que era para tomar o lugar de Laura. Acho que ela não aceitaria. Disse que era meu dom e que eu sempre tive certeza disso. Ela me abraçou, me beijou e disse que estava orgulhosa – mas que pensava que esse era o desejo de Laura e não o meu. Ela estava certa. Conselheiro me pediu que comparecesse ao mesmo edifício dos testes hoje. Penteio meus cabelos loiros, por pouco brancos, e encaro os olhos cinza no espelho. Ainda não chorei depois daquele dia. Mas eu quero chorar, talvez isso me ajude a superar. Ainda não me disseram porque Laura morreu nem porque eu senti aquela droga de dor dentro da sala escura. Ainda não me disseram nada e mesmo assim eu estou fazendo tudo o que eles pedem.

Quando chego, Gaia está na entrada. Ela me conduz por um labirinto de corredores até aquela sala luxuosa. O homem maltrapilho está lá, sentado na mesma cadeira; a da ponta. Não me permito tornar em um flashback. Meus pesadelos todos são constituídos de lembranças, não quero eles até quando estiver acordada. “Olá Harriet.” “Olá.” Ele tem um sorriso afável, minha expressão, no entanto, não é amigável. Nunca fui arisca, mas esse homem despertou em mim um lado áspero que eu nem conhecia. “Acho que eu lhe devo explicações.” Permaneço calada. “Laura suportou o teste.” Ele faz um nó em minha cabeça e reforça outro que já existia na minha garganta. “Gaia não queria que eu contasse a você porque, se for como sua irmã, vai buscar vingança. Esse não é o caminho certo.” Vingança? “Ela foi assassinada.”

Sabe quando você dorme na aula e quando acorda espera ver a parede do seu quarto, mas na verdade o que seus olhos captam é a expressão enraivecida da professora? Sei que é uma comparação banal, ridiculamente insossa, mas eu me senti meio que assim. A parede do meu quarto é uma morte causada pela própria incapacidade do corpo de Laura para suportar um teste. A realidade é um assassinato. Um assassinato! No Céu. Um assassinato no Céu. Se não fosse trágico, seria cômico. Meu corpo cede e eu caio no chão, exatamente como Laura quando caiu em meu colo. Mas não há ninguém para me segurar. Gaia corre e me levanta do chão, deixando meu corpo pender em uma cadeira. Procuro ar para preencher meus pulmões e, quando finalmente o encontro, posso dizer: “Como?” O Conselheiro mais uma vez parece contrariado. “Eu esperava que me perguntasse quem… Mas já que…” “Ela… Ela sentiu dor?” O interrompo. “Sim.” Responde, curto e grosso. Ele não procura meios-termos para falar comigo, e essa é a única coisa que me contenta em sua personalidade desvairada. “Como?!” “Alguém sabotou o teste.” Assinto com a cabeça e finalmente faço a pergunta que ele quer ouvir. “Quem?” “Um humano.”

A resposta vem, com dedo indicador e polegar, para puxar as pontas do nó em minha garganta. Gaia segura minha mão direita e aperta, acho que ela quer me dar forças. Nos últimos dias ela tem sido bastante gentil comigo. Na verdade eu tenho começado a gostar de seu pequeno rosto redondo e pálido, do nariz arrebitado onde seus óculos fazem malabares. Aperto a mão dela de volta e me forço a continuar com a conversa. “Como?” Repito a pergunta. “Descubra.”

(…)

Depois daquela conversa nada mais foi dito sobre a morte de Laura. Ninguém sabe o que a tinha matado, pelo menos ninguém no Céu, penso. Se um humano a matou, eu irei encontrá-lo, eu irei matá-lo com minhas próprias mãos. Atirarei uma flecha em seu pescoço e ele irá se casar com sua desgraça. Isso é o suficiente.

Diariamente, eu tenho ido até aquele edifício. É um treinamento. Descobri-me um prodígio do arco-e-flecha. Quero dizer, depois de quatro dias treinando integralmente numa droga de alvo. Agora preciso “preparar minhas emoções, apurar meus sentidos e exercer minha função”, diz Gaia enquanto me guia pela escada-armadilha até a varanda. O Conselheiro está lá, como sempre. Ele tem um livro em mãos. Seria um livro bonito – capa de couro, caligrafia desenhada enfeitando a lombada cor-de-ouro – se não tivesse uma solitária página no lugar onde caberiam trocentas. “O que é isso aí?” Pergunto, sentando-me em uma cadeira branca de metal. Olhando bem, esse lugar – apesar de um pouco maltratado – parece um jardim de inverno. “São as regras do jogo.” Ele diz, abre o livro, umedece os lábios finos e começa a ler. “1 – Nunca se apaixone.” Sorri, fecha o livro e observa enquanto a expressão cômica em meu rosto entrega a maldita balbúrdia mental. “É isso?” “É isso.”

Para alguém se preocupar em encardenar uma folha com uma mísera frase em couro e adornar com letras douradas, é porque essa frase é importante. Eu acho. “Ok.” Respondo e me levanto, mas ele faz sinal para que eu me sente de novo. “Sabe por que essa é a única regra?” “Não faço a mínima ideia.” “É porque se colocássemos outras regras além dessa, ela seria só mais uma. Agora que ela é única, ela é A Regra. Sendo A Regra, descumpri-la é letal.” Ele diz. Parece fazer todo sentido para ele, mas eu, sinceramente, não entendo. “Cupidos são em parte humanos. Ou geralmente são. Com a convivência, você vai sentir como eles e seu coração vai palpitar no mesmo compasso. Se você deixar que aconteça… Se você se apaixonar, esse compasso vai ser como o som do relógio de uma bomba. Tic-Toc. Tic-Toc. Tic-Toc.” Ele ri, mas eu me mantenho séria. Confusa. “Finja ser humana. Não deixe que eles descubram. Mas finja para eles, e não para você mesma.”

O resto da “aula” corre bastante normal. Ele diz que devo manter-me longe das “ovelhas desgarradas”.

“As pessoas que amam são perigosas porque elas matam e morrem por seus venerados. As pessoas que não amam são perigosas porque só o que querem é continuar vivendo.”


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Notas finais do capítulo

SAVE THE WORLD - SWEDISH HOUSE MAFIA (cover)
http://www.youtube.com/watch?v=2mBdBRQcm7k



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