Give Me Love – Novatos escrita por Giulia Bap


Capítulo 11
Capítulo 10 – Pocahontas – ANTES


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pequeno, não me batam! KKK



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Arrasto-me para fora da cama. Seis da manhã. As nuvens acumularam-se de frente para a janela de meu quarto, cobrindo a luz do Sol e fazendo de todo o cômodo um canto escuro. Arrumo a cama onde dormi – a de Laura – e me enfio num vestido branco, simples e um pouco largo. Mamãe não demora a bater na porta para ter certeza de que eu havia acordado. Desço para a cozinha. Anjos não precisam comer como os humanos, mas o café-da-manhã é um ritual que meus pais não dispensam. Pela primeira vez em uma semana papai se senta conosco, mas eu não me demoro na tigela de cereal. Corro, como todos os dias, até o edifício de testes. Não é um edifício como qualquer outro, não tem segundo andar, mas é uma construção tão… Enorme! Gaia não está mais lá me esperando na entrada. Eu já sei o caminho.

Atravesso a sala de espera cheia de cadeiras cinza sem notar a presença de uma garota morena sentada na última fileira. Só venho a percebê-la quando já estou adentrando o corredor. Ela olha para mim como quem encara uma miragem. Tem pele âmbar e o cabelo negro está trançado longamente até pender ao lado de sua cintura. “Está tudo bem?” Pergunto, sem atrever-me a ir até ela. “Laura!” Ela grita, emocionada, e corre em minha direção. Não tenho tempo de dizer que não sou minha irmã antes que ela jogue seus braços ao redor de meu pescoço e me esmague num abraço de urso.

“Não, não. Sou Harriet. Laura é minha irmã.” Momentaneamente, esqueço-me de colocar o verbo “ser” no passado. “Ah, me desculpe. Pode passar um recado para ela?” Um sorriso tão gentil corre em seus lábios. Não quero quebrá-lo, como fizeram com o meu. Mas preciso. “Eu não posso.” Respondo. Ela capta o recado e se senta na cadeira mais próxima. “Como?” Pergunta. Não pisca, não se mexe, só fita meu rosto como se estivesse procurando a Laura dentro de mim. “Alguém fez isso com ela.” Assumo. Ela parece próxima de minha irmã o suficiente para que eu possa confiar em sua capacidade de guardar segredos. Laura não é amiga de fofoqueiros. Era. “Me deixe ajudar.” Agora ela segura o choro, olhando para cima, ambas as mãos segurando com força a trança em seus cabelos. “Vai com calma aí, Pocahontas.” Tento quebrar o gelo. Mas esse é o meu modo de lidar com o luto, e não o dela. Repreende-me com o olhar. “Aonde está indo?” Pergunta. Não sei se posso dizer, mas acho que não vai fazer mal. “Vou falar com o Conselheiro.”

Pocahontas ergue suas finas sobrancelhas, talvez surpresa, e seca algumas lágrimas com as costas das mãos. “Preciso ir.” Ciente de que estou atrasada, vou correndo pelo corredor. Ela agarra meu pulso e eu sou obrigada a parar. “Quando eu puder ajudar, o farei.” Pocahontas – bem, eu ainda não sei seu nome – levantou três dedos e sorriu. Isso significa que ela me ajudaria, e é uma promessa. Volto a correr, sendo cuidadosa apenas ao subir a escada. Gaia censura meu atraso com um olhar. O Conselheiro se diverte com a situação, mas não está menos irritado. “Vamos começar com as consequências de errar.”

Conselheiro – não faço ideia do nome verdadeiro desse cara – não é nem de longe uma pessoa da qual eu possa chegar a gostar um dia. Sua arrogância, sua ironia, seu modo errôneo de falar do amor, como se fosse um mal necessário… Isso tudo me enfurece. Mas não se trata apenas da personalidade soberba, ele fala da morte de Laura com uma naturalidade suspeita. Quero dizer, falava, porque nunca mais citou o assunto. Tive um bom tempo para engolir a ideia, entender que há um responsável impune por minha tragédia. O que eu não consigo engolir é o tom com que esse homem pediu que eu descobrisse, por conta própria, o assassino. Ele instiga vingança, exatamente o contrário do que deve fazer. E algo dentro de mim diz que ele sabe quem é. Mesmo assim, ainda preciso dele. Estou cega sem ordens, e é ele quem as outorga.

“Os humanos são fracos. Agarram-se rápido demais a uma salvação imediata, e é aí que mora o erro. Porque eles pensam que são superiores a nós e isso… Isso é tremendamente injusto.” A voz alterada pela angústia – que eu posso apostar, é fingida – ecoa pelo céu, sem paredes para fazê-la ressonar. Eu preciso dizer que descordo desse homem, mas não posso. A vontade de afrontá-lo me atingiu como uma lâmina e eu uso de toda a minha sensatez – a qual ele tanto preza – para contê-la. “Quando um anjo se apaixona a parte humana infla e esgota pouco a pouco sua capacidade de pensar. E então, sem que ele perceba, vai se tornando abominável e ambicioso, o juízo se esvai e o amor o condena a entregar sua espécie. Mais cedo ou mais tarde.” Afirma, e eu duvido de cada palavra. “Alguma pergunta?”

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Notas finais do capítulo

HEADLIGHTS - THE CLASSIC CRIME
http://www.youtube.com/watch?v=qdnW7H0hlrs



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