Meu coração está subindo pela garganta, querendo agir por conta própria. Sei que uma humana não vai resolver o problema de Henry. Eu preciso voar. Planar por Nova York atrás dele. Não posso levantar voo no meio da rua, preciso ir para o terraço. Entro no elevador. O tempo que leva para chegar no terraço é curto, mas cada segundo equivale a uma lágrima, minha pele está salgada, minhas pernas tremem e eu não sei bem o que isso significa. Finalmente, chego no último andar. Há uma mancha ruiva empoleirada no muro ínfimo que separa humanos de anjos. Aqueles que andam e os que podem voar. Ele tem os braços abertos, ajoelhado de um jeito perigoso demais na margem. Não sei se há alívio ou medo em minhas lágrimas agora. O vento as seca e apenas algumas insistentes continuam escorrendo por meu rosto, pendendo em meu queixo e pingando no sobretudo vermelho.

Corro até ele. Seguro sua mão direita aberta quando ele balança, não sei se tomando impulso para se jogar ou se desequilibrando. Automaticamente se vira para mim. A expressão amargurada entrega a raiva que sente de mim no momento em que o prendo. “Por favor.” A voz quase inaudível, sussurrada e esganiçada do garoto, traz uma lembrança desagradável. Estou segurando Laura, novamente naquele corredor estreito, gritando por socorro até não ter mais voz. “Não vou deixar você ir.” Digo, apertando sua mão e puxando-o para longe da margem. Ele se recusa. “Você não é o Superman.” Henry solta uma risada insana. “E você não é Lois Lane! Desce daí seu idiota!” Grito com ele. Sinto-me culpada quase imediatamente. Ele me obedece, mas de um jeito que eu não esperava.

Lança seu corpo contra o vento e eu posso ver seus cabelos ruivos balançando conforme se misturam com a paisagem.

Jogo-me atrás dele. Sei que isso coloca em risco todo o Céu. Sei que serei punida. Sei que Henry e eu nem temos futuro.

Insensatez s.f. Procedimento de quem não reflete antes de agir. Aluamento, demência, desorientação, disparate, loucura e parvulez.

Minhas asas se abrem. Sei que isso tudo não demorou nem três segundos. Agarro o corpo de Henry no ar e seguro-o contra o meu. Uso toda a minha força para trazê-lo de volta ao parapeito. Não sei se mais alguém viu, mas também não importa agora. Quando chego, continuo abraçada a ele. Assim como fiz com Laura, minhas asas estão cobrindo nós dois. Meus olhos fechados. Não quero ver a expressão dele. “Tava enganado.” Ele fala depois de algum tempo. Finalmente meu olhar encontra o seu. “Você é o Superman.” Termina. Minha vez de soltar uma risada insana. “Ok, Lois Lane.” Respondo e fecho meus olhos novamente. Sei que Henry está sorrindo. “Eu te amo.”

Quando digo minha voz está embargada de tudo. Nostalgia, saudades, amor, loucura, tristeza. Abro os olhos para ver a reação dele a isso. Nada. Como eu já esperava. “Você não me ama.” Concluo. Ele assente com a cabeça. “É.”