Acordei no meio da noite com o barulho da chuva, sentei na cama sonolenta e lembrei-me dele, meu lobinho cor de chocolate, chocolate-quente, ri baixo com o péssimo apelido que inventei para ele há um bom tempo, mas nunca tive coragem de usar. Fiquei com saudades, eu precisava vê-lo.  Peguei meu travesseiro e saí do quarto, andei por aquele corredor escuro, senti alguém passar por mim, mas nem me dei ao trabalho de ver quem era, segurei na maçaneta e abri a porta, aquele cheiro me invadiu, como alguém podia ser tão cheiroso assim? Fui até a maca, puxei uma cadeira deixando ela ao lado dele e me sentei, pus meu travesseiro ao lado de sua cintura e apoiei minha cabeça nele, segurei sua mão grande e quente, ele me fazia sentir bem melhor, beijei ela e fiquei afagando-a, mas alguém entrou  no quarto.         

  _ Me desculpe Nessie, mas eu já ia vir aqui para ver como ele estava...         

  _ Tudo bem vô, posso ficar aqui?         

  _ Claro! – Ele disse abrindo um sorriso e começou a ver Jake, eu não entendia muito bem o que ele fazia, mas anotava os batimentos dele em uma prancheta e fazia mais outras coisas.        

   _ Ele está bem? – Perguntei sem esconder minha curiosidade.         

  _ Sim, ele está melhorando, seu corpo consegue se curar rápido, Edward disse que ele já entende o que os outros falam... Ele já ouve tudo!       

    _ Sério? – perguntei feliz.        

    _ Sim! – ele respondeu sorrindo – Pode demorar um tempinho para ele acordar... Mas ele já melhorou muito a ponto de poder entender o que todos dizem. – Não consegui esconder meu sorriso, meu lobinho já estava entendendo tudo...      

     _ Tchau Nessie...- Meu avô disse indo para a porta, mas fiquei curiosa sobre um assunto.     

     _ Vô... O que os lobos fizeram com a recém-nascida? – Ele parou e me olhou, então falou:   

     _ Está morando com a Mary...      

     _ Por quê? – Perguntei curiosa e meio chocada.          

     _ Por que lá é o melhor lugar para ela ficar, não têm humanos, eles vão ensinar a ela nossa dieta, se ela quiser é claro...

     _ E se ela não quiser?    

     _ Bom, aí veremos o que fazer... Mas iremos ficar com ela... – Meu avô respondeu franzindo o cenho.    

     _ Por que não a mataram? Ela quase matou o Jake!    

     _ Um lobo teve a impressão por ela... O Seth. Não podemos machucá-la!              _ O Seth? – quase gritei. – Mas... Ela quase matou o Jake, como ele pôde ter uma impressão por uma quase assassina? – Larguei a mão de Jake quase sem perceber e me levantei rapidamente da cadeira.      

     _ Nessie, se acalme, ela é recém-nascida, não tem autocontrole, e disseram que ela estava com sede. Não encontramos o “criador” dela, ele deve ter transformado ela e por algum motivo estúpido a largou. Então ficaremos com ela!  - Meu avô repetiu a última frase calmamente. Respirei fundo. E  falei calmamente:   

     _ Mas e os Volturi?    

     _ Ela não criou um caminho de destruição pela cidade nem nada, ela não corre perigo, ninguém sabe que ela existe. E espero que demore um pouco para reencontrarmos eles...     

     _ Sabe vô, eu ainda não entendo como o Seth pode amar uma criatura assim.      _Não são os lobos que escolhem suas impressões, quando foram matá-la e Seth os impediu, então eles se deram conta do que havia acontecido.  Bom, deixa eu ir... Qualquer coisa nos chame...     

     _ Pode deixar, tchau. – Tentei esquecer o mundo a minha volta. Virei-me para Jake e comecei a mexer em seus cabelos negros. Dei um beijo em seus lábios quentes. – Espero que você esteja me ouvindo, não sei se você está dormindo... – Eu disse e dei uma risada nervosa. – Não sei de onde eu tirei tanta coragem para falar isso, mas é a verdade... É melhor dizer antes que eu mude de idéia néh? – cocei a cabeça, eu ainda não acreditava que ia fazer isso, mas se não fosse agora, não seria nunca. – Jake, eu já sei sobre a impressão... Faz um tempo, uns dias depois de eu ter voltado e... Por favor, não fique bravo, me desculpe por não ter falado isso antes mas é que... Eu nunca tive coragem... E a tia Alice tinha inventado um plano super doido, Missão namoro Jakeness – Eu disse e ri. – Ela é uma louca, minhas tias me deram dicas de paquera... Foi horrível, quase não pus o plano em prática, eu tinha vergonha de fazer a maioria das coisas que estavam naquela lista e a tia Allie ficou meio brava... – eu ri de nervoso novamente. – Me desculpe... – eu dizia olhando para minhas mãos, eu não tinha coragem de olhá-lo nem quando ele estava desse jeito. – Mas eu quero que saiba que você também é a minha vida, eu te amo Jake, se não fosse por você, minha vida nem teria tanta graça... Não sei se você sabe, mas... Você chegou a ter uma parada cardíaca. Achei que você fosse morrer Jake! - senti as lágrimas descerem por meu rosto, eu não queria chorar. – Eu não podia deixar você morrer, você não podia morrer Jake, e eu agradeço por ter ficado, por ter escolhido ficar com todos nós, eu não sei o que eu teria feito se você tivesse morrido Jake... – as lágrimas aumentaram e eu nem quis escondê-las. – Eu só quero que você fique comigo pelo resto da eternidade, para sempre! Você é um lobo, se continuar se transformando nunca envelhecerá, e eu sou meia vampira, também não envelheço. Quero que fique comigo, eu quero você Jake! E fique sabendo que eu não vou permitir nunca que o seu coração pare! – Comecei a chorar mais ainda e olhei para ele, uma lágrima escorria por seu rosto, manchando seu rosto quente, ele estava ouvindo, ele estava acordado, me levantei e o abracei, ele não conseguia se mexer, mas eu sabia que ele teria me abraçado. Então o beijei. Sua boca não se mexia junto com a minha, mas só de beijá-lo eu já me sentia bem, me sentia segura. – Eu te amo Jake! – sussurrei em seu ouvido. – E sabe que eu adoro quando você faz isso em mim? Quando você chega ao meu ouvido e fala bem baixinho que me ama? – Me afastei e me sentei na cadeira ao lado da maca e tive uma idéia, me levantei, com muito cuidado ergui sua cabeça, puxei o travesseiro que ele usava e rapidamente coloquei o meu. Pus seu travesseiro onde o meu estava, bem ao lado de sua cintura. – Agora você pode sentir meu cheiro quando eu não estiver aqui. E eu posso sentir o seu. – Eu disse colocando a cabeça em meu novo travesseiro e peguei sua mão novamente. O cheiro dele estava grudado no algodão do travesseiro, seu cheiro era muito bom.                                                                                   -*-*-          

     Acordei com frio, ainda estava segurando a mão de Jake. Olhei no relógio, eram três e meia da manhã, coloquei meu travesseiro ao lado de seus rosto, a maca era meio grandinha, ainda cabia mais uma pessoa meio espremida e foi o que eu fiz, me espremi no cantinho, não querendo machucá-lo ou tirar algum fio do lugar, consegui me deitar, segurei novamente a mão dele, e acabei dormindo, não com frio, pois agora eu sentia o calor que emanava de seu corpo.  

                                                                              -*-*-   

     _ Nessie... Acorda meu amor... – Ouvi minha mãe me chamar, meus olhos arderam com a claridade, mas logo me acostumei.    

     _ Oi mãe? – Perguntei me levantando com cuidado, dando um beijo na bochecha quente de Jake.    

     _ Você tem que ir para escola...

     _ Ah não mãe! Deixa eu ficar com o Jake! – Eu não queria ir pra escola hoje.   

     _ Nessie, o Jake está bem... E você tem aula. Precisa fazer suas tarefas, Se arrume, daqui a pouco Henrique está aqui! – Ela disse séria e saiu do quarto. Me despedi de Jake e saí do quarto, tomei café me troquei e fiz a tarefa que não havia dado tempo de fazer... Logo depois Henrique chegou e fui para escola.             _ Bom dia! – Ele disse sorrindo.   

      _ Bom dia! – Tentei sorrir.   

      _ Como o Jake está?    

      _ Ahh.... Ele tá melhorando... Eu não queria ir hoje pra escola, mas minha mãe mandou... – Ele sorriu sem alegria. – A vampira está com vocês? – Perguntei sem esconder a curiosidade, eu sabia que ele me falaria, minha família talvez não, mas ele sim!       

     _ Sim... – Ele respondeu e me olhou. – A Lucy...   

     _ O Seth teve a impressão por ela... – Respondi com uma careta, ele riu. – Qual é o problema?    

     _ Você fala isso como se fosse algo ruim!   

     _ Mas isso é ruim! – Respondi meio brava. – Ela quase matou meu Jake!         _ Mas Nessie, ela era uma vampira recém-nascida, sem saber sobre os Volturi ou algo parecido... Ela não sabia sobre nada, ela estava com sede, viu o Jacob... É triste para nós, porque ele é nosso amigo, mas ela não o conhecia, sentiu o cheiro do sangue e se descontrolou! – Ele disse estacionando o carro. Paramos na hora, não queríamos chamar atenção, imagina se alguém nos ouvisse falando sobre vampiros? Meu pai me mataria... Logo as garotas vieram correndo em minha direção. Tentei abrir um sorriso.    

      _ Oi Nessie... Estávamos com saudades... – As garotas disseram em coro.  – Porque você não entrou no MSN? Nós estávamos teclando todas juntas ontem... Só estava faltando você! – Hermily disse. E eu me lembrei do por quê de não ter entrado.   

      _ Na verdade eu nunca entrei no MSN... Eu nunca tive ninguém pra conversar... – No Brasil eu não conhecia ninguém, só trocava e-mails com meus pais e a minha família, quando eu cheguei aqui nem tive com quem trocar e-mails.   

      _ Ontem eu estava online! – Henrique disse de repente, sorrindo amarelo. Estava tentando quebrar o clima estranho. – Mas acho que não tenho vocês como contatos... – Ele disse fazendo uma careta. Agradeci ele mentalmente. O sinal tocou, era hora da nossa aula.    

      _ Depois a gente troca nossos e-mails, agora eu tenho que ir... – Camila disse sorrindo e saiu correndo. As garotas nos deram tchau e cada um foi para sua aula. Minha aula era de calculo, junto com Henrique. Tá, eu não prestei atenção na aula! Eu estava preocupada demais com o Jake. Eu estava com medo dele piorar, dele se sentir sozinho lá naquela cama, eu não estava com ele... E eu queria muito estar lá!  

      _ Nessie, se acalme... – Henrique sussurrou, sua cabeça estava abaixada para o caderno, mas eu sabia que ele me olhava pelo canto dos olhos, eu deitei minha cabeça na mesa, e pude ver seus olhos, sim, ele estava me olhando.                _ Eu estou com medo...    

       _ Não precisa ficar! Eu sei que ele está bem! Sei que ele vai melhorar, meu instinto me diz isso! – Ele disse sorrindo, tentando me deixar melhor. Eu sorri.            _ Deixem o namorico para outra hora, agora é hora de fazer os exercícios da página 48! – Pulei quando ouvi a voz do professor. Henrique mostrou metade dos exercícios que ele já havia feito.     

       _ Eu estava explicando para ela professor... Ela não havia entendido o porquê de X ser igual a menos vinte no primeiro exercício... – Ele disse apontando com o lápis o resultado do exercício A. Tá, até eu estava acreditando na desculpa dele.    

       _ Okay então, me desculpe atrapalhar vocês. – O professor disse sorrindo e saiu.  

       _ Essa foi quase! – Sussurrei começando a fazer meus exercícios. Henrique riu fazendo os dele também. As aulas foram passando lentamente. Só porque eu estava louca pra voltar pra casa? Talvez... No almoço aquele mesmo assunto chato voltou. Henrique arrumou uma desculpa e disse que Jacob teve um acidente de moto, mas não disse nada sobre mordida ou coisa parecida claro!           _ Ouun Nessie! Ele está bem?      

          _ Tadinho! Ele vai melhorar viu flor!   

          _ É claro que ele vai melhorar! – Ouvi elas exclamarem e senti o choro vir. Henrique puxou minha cabeça delicadamente para seu ombro, enquanto esfregava a mão em meu braço, tentando me acalmar. Eu realmente tenho sorte de tê-lo como amigo!       

          Henrique estacionou o carro em frente a minha casa, me deu tchau e eu pulei do carro correndo até a porta. Minha mãe abriu antes de mim.    

          _ Venha cá meu amor, tem uma pessoa aqui... – Ela disse sorrindo, eu achei estranho mas nem disse nada. Entrei em casa e coloquei minha mochila no sofá. Um homem estava sentado lá. Ele aparentava ter uns cinqüenta anos, cabelo e bigode bem grisalhos, ele sorriu para mim. Sorri de repente, eu me lembrava vagamente dele. Vi que uma lágrima escorreu por sua bochecha, mas ele enxugou rápido e ficou bem envergonhado, ri baixo. Ele se levantou decidido e me abraçou.     

          _ Você cresceu bastante! Lembra de mim? – Minha cabeça repousava em seu ombro. Então me lembrei. Ele era o Charlie, meu avô!    

          _ Vovô Charlie? – Perguntei baixo, ouvi ele rir baixo.    

          _ É pequena, você se lembra mesmo! – Ele se afastou para me olhar, mas seus braços ainda me seguravam pela cintura. – É... Pequena não... Você cresceu bastante! – Ele riu. Mordi o lábio.  

          _ Você sabe que ela também é “especial”... – Ouvi minha mãe. Será que ele sabia que nós éramos vampiros, lobos e a mestiça?   

           _ Verdade... – Ele me olhou nos olhos, ainda sorrindo. Me abraçou e beijou minha cabeça.   

           _ Minha neta... – Ele disse para si mesmo, bem baixo, mas eu pude ouvir... Eu era “especial.”