Estrela da Tarde escrita por Ametista


Capítulo 39
Epílogo (Anna)


Notas iniciais do capítulo

Oieee gente! Como vocês estão?
Respeitando bonitinho o período de quarentena?

Enfim, deem olá pra esse epílogo deuso que tá chegando, e estejam preparados para rir e chorar lendo ele, porque foi o que aconteceu comigo enquanto escrevia

Beijos ♥



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Seth girou sobre mim, apertando-me contra o tapete de flores multicoloridas da clareira. Gemi baixinho em aprovação e mordi o lábio para reprimir um sorriso obsceno; havia poucas coisas mais excitantes que sentir o peso dele sobre meu corpo, em especial quando cada centímetro de pele ardia em contato com a minha. Rendida pelos próprios instintos, desci com as unhas pela superfície nua das suas costas largas, o que despertou no peito dele um som grave e profundo. Seus músculos se contraíram, ficando mais tensos enquanto ele lutava para parar de me beijar, apoiando nossas testas uma na outra.

— Não faça isso comigo – pediu em tom de súplica ao que meus dedos voavam para o botão da sua bermuda, embora ele não fizesse qualquer esforço real para me empatar de abri-lo. – Já estamos atrasados.

Meu sorriso foi de quem já sabia que estava com a vitória nas mãos:

— Como se eu me importasse.

— Mas você é a aniversariante – Seth protestou uma última vez, muito debilmente. Seus dedos astutos subiam pela minha cintura, empurrando a camiseta para cima e suscitando em mim um arrepio delicioso de expectativa. Com ele me tocando daquela forma, o pensamento de passar a noite toda ali com outro tipo de comemoração e simplesmente fingir demência a respeito da festa era cada vez mais tentador.

— Por isso mesmo. É meu aniversário, posso fazer o que eu quiser. – No segundo em que percebi que ele pretendia objetar, resolvi mudar de tática, afinal, um mero atraso era melhor do que não dar as caras. – Além do mais, o que seria da minha festa de aniversário sem uma entrada triunfal?

Seth abriu os olhos e me fitou, sério. Com um movimento rápido, ele prendeu meus pulsos no alto da cabeça para me impedir de despi-lo – se a intenção dele era me desestimular, o plano falhou complemente, porque a posição em que ficamos só me fez querê-lo ainda mais. Fiquei insatisfeita por constatar que ele não estava tão seduzido pelas circunstâncias quanto eu gostaria.

— Alice vai nos matar – lembrou-me e o tom categórico deixou evidente que ele não se permitiria ser ludibriado.

No final, acabei desistindo; não por conta do aviso, mas sim porque havia alguns corvos empoleirados nas árvores próximas, e o modo fixo com que seus olhos nos encaravam denotava que Alice não era a única à nossa espera. Seth rolou para o lado para sair de cima de mim e eu me sentei, sacudindo o cabelo para me livrar das pétalas e gavinhas que haviam se agarrado aos fios. Não devia ter tantas flores naquela clareira assim. Era fim de outubro, metade do outono; a vegetação já devia ter secado, mas eu havia descoberto com o passar do tempo que tinha um talento especial com as plantas – que meu poder sobre a terra não se resumia em somente atirar pedras e brincar com a poeira. Quase como se concordando comigo, um ramo de lavanda encostado em meu pulso desabrochou, exalando um perfume adocicado que fiz questão de me curvar para sentir de perto.

Assim que se colocou de pé, Seth estendeu a mão para me ajudar a levantar também; ele me puxou direto para seu abraço, procurando minha boca para um beijo e eu senti em seus lábios um juramento silencioso de que terminaríamos o que começamos ali em outro momento, muito provavelmente depois que a festa terminasse. Correspondi ao beijo com voracidade, dizendo a ele do meu jeito – com mordidas atrevidas no lábio inferior e arranhões nos ombros – que eu não era a mais paciente das criaturas, e só me dei conta do quão familiar era aquela cena toda quando Seth se afastou, sendo iluminado pelos raios de Sol remanescentes que se escapavam dentre as frestas das árvores.

Suspirei e sorri feito boba no que a imagem se pintou por inteiro na minha memória, baixando então os olhos para o jeans e a camiseta do Metallica que eu estava usando. Será que foi realmente inconsciente a forma como eu os escolhera antes de sair de casa naquela manhã?

— Sabia que essa foi minha primeira visão consistente? – Não pude deixar de transmitir a recordação a ele para enfatizar a que eu estava me referindo.

Sua sobrancelha fez um arco inquisitivo.

— Defina “consistente” – rebateu com precisão calculada, o que não me surpreendeu. Seth sempre sabia quando havia algo a mais.

— Ah, era uma coisa idiota, a anterior. – Revirei os olhos e fiz um gesto de desprezo, entrelaçando nossas mãos conforme começávamos a andar. Pela visão periférica, notei que os corvos piscaram demoradamente ao cruzarmos com eles e depois alçaram voo, alvoroçados. – Envolvia música ruim, uma pista de dança e um vestido de gala verde absurdamente decotado.

— Interessante – avaliou, a expressão sendo tomada por um ar travesso e malicioso, ciente de que eu me desagradaria. – Talvez devêssemos ir no próximo baile da escola da reserva. Já estão vendendo os convites e... – Deu de ombros com um sorrisinho torto pretensioso. – Bom, que mal há em fazer a sua visão se tornar verdadeira?

Mal pude conter meu ceticismo à medida que lhe mostrava também essa outra visão. Seus olhos se ampliaram; seu sorriso, entretanto, passou a exibir todos os dentes. Em momentos como esse, seu lobo interior sempre parecia traí-lo ao vir à tona, um espectro faminto.

— Retiro o que eu disse. – E balançou a cabeça, inconformado. – Não vou conseguir chegar até La Push sem tentar arrancar esse vestido.

Gargalhei alto.

— Devia controlar seus pensamentos. O Reverendo Eddie já pode escutá-los daqui.

— Eu não tenho medo de Edward – Seth replicou, um tanto mais tarde, ao adentrarmos nos limites da propriedade Cullen e um vulto colorido sair de dentro da casa para nos receber. – Eu tenho medo é dela.

Teresa se adiantou para nós com uma carranca mal-humorada, sua fantasia de Alice – não a nossa Alice, mas a homônima do País das Maravilhas— me fazendo recuar ligeiramente. O traje estava de fazer cair o queixo, e se isso era algo bom ou ruim, resolvi deixar o julgamento a cargo do observador. Além da peruca de fartos cachos louros, a garota usava um minúsculo vestido azul amarrado por um espartilho, com meias listradas em preto e branco terminando acima dos joelhos. Torci intimamente para que o volume de babados por debaixo daquela saia fosse o suficiente para cobri-la na parte de trás.

— Uau. – Minha exclamação de choque saiu involuntariamente. – Cadê a sua fantasia?

— Sua idiota! Por que demorou tanto? – Os olhos dourados fuzilaram Seth de esguelha, fulminantes, como se o culpassem pelo atraso. – Da próxima vez, vou mandar os corvos atacá-los.

Fechei a cara. Aquela nova parte de mim não reagia nada bem a ameaças.

— Da próxima vez que eu flagrá-la nos espionando, vou dar algo para seus corvos verem, e acredite, você não vai gostar.

A atitude dela abrandou no ato; como se desinflasse, Teresa cruzou os braços e de súbito parecia uma criança birrenta, de olhar petulante e bico estalado. Não era à toa que as matilhas confiavam em mim e na amizade que construímos juntas para mantê-la sobre relativo controle.

— Não quero descer as escadas sozinha – resmungou à meia-voz. – Os convidados não vão se chocar muito com a fantasia de vagabunda se eu estiver com a aniversariante do lado.

— Garanto que ninguém vai notar a diferença, Tery – Seth provocou aos risos, só para irritá-la.

— Edward já me pediu para avisar que – cortei-a quando ela estava a ponto de redarguir, lutando contra as minhas próprias bochechas para reprimir a risada –, se tentar arrastar alguém para um dos quartos, ele vai apagar você com um tranquilizante e lhe trancar em um dos armários da casa até a festa acabar. – E para reiterar a bravata sem falar uma única palavra, Edward surgiu na janela do primeiro andar com cara de poucos amigos.

Ela fingiu uma ânsia de vomito para a fantasia de Van Gogh dele – que ficou bem legal com a barba ruiva falsa, o enchimento interno do terno azul e o esparadrapo ensanguentado em torno da cabeça –, todavia fez uma careta verdadeiramente intrigada diante da aparição de Bella logo atrás, que ostentava um vestido do célebre quadro Noite Estrelada.

— Caramba, esse é um dos fetiches mais estranhos que eu já vi.

Os dois ficaram obviamente ultrajados. Tapei a boca para abafar o riso – não que tenha dado certo. Se eu soubesse que era tão divertido ter amigos que meu irmão detestava, teria arranjado uma dúzia deles desde a época de humana. Eu já estava com lágrimas nos cantos dos olhos, no entanto Seth, em contrapartida, foi mais disciplinado do que eu; prendeu a risada e esperou até que eles nos dessem as costas e não estivessem mais à vista para se juntar a mim.

— Pois é, parece que vai ter que achar outro lugar para caçar coelhos – ele comentou entre um arquejo e outro, e eu poderia ter ficado o resto da noite ali me acabando de gargalhar com os dois, mas alguém tinha outros planos.

— Anna! – Alice gritou dos andares de cima, perto de onde meu quarto se localizava. – Vai subir logo ou quer tirar uma soneca antes?

Sabendo que era uma causa perdida, Seth se inclinou para se despedir de mim com um beijo demorado na testa. Sorri, acenando para ele e em seguida correndo em direção ao quarto. Não podia estar mais exultante por termos voltado a ser um pouco do casal que éramos antes. As coisas haviam melhorado bastante – não apenas entre nós dois, como também com a minha família inteira – depois que abri o jogo acerca do que havia acontecido na prática em Volterra. A descoberta de que eu fora brutalmente torturada resolveu todas as diferenças que pudessem haver entre mim e Seth, mas as reações dos demais, a princípio, me magoaram, não vou mentir. Aquém da perturbação impressionada – afinal, não era todo dia que se tinha entre as paredes uma vampira que copiou os talentos mais letais do mundo e arrancou um olho de Jane Volturi –, levou semanas para que eu parasse de receber olhares enviesados pelas costas. Eles faziam questão de se certificar – tanto Seth quanto Edward – que eu estava caçando com frequência e me alimentando sempre de pelo menos duas presas. Criamos uma rotina de saídas em grupos de três ou quatro para eu poder praticar os novos poderes, todas as tardes. Não mostrava a minha face de olhos vermelhos se não fosse extremamente necessário. Eram pequenas atitudes que os tranquilizavam... Embora eu soubesse em meu íntimo que não passavam de bobagens. Nunca mais tive qualquer surto. Demonstrava sempre um domínio impecável das habilidades duplicadas, inclusive durante o sono. Custou algum tempo... Porém, finalmente, a desconfiança desapareceu, cedendo lugar ao zelo e ao cuidado, o medo se transformou em respeito e orgulho. A duras penas, a minha metade animal acabou ganhando a confiança daqueles que eu amava, e desse modo, conquistei também a minha antiga posição entre eles.

Aos poucos, juntamos nossos pedaços.

Não que fôssemos os únicos se reconstruindo. Os Volturi, ao que os rumores indicavam, também estavam sacudindo a poeira, tentando reerguer suas bases; as notícias a respeito deles chegavam até Forks, mesmo que não nos esforçássemos em procurá-las. Já havia se tornado de conhecimento geral que Aro e Caius estavam mortos, que uma parcela considerável da Guarda terminou sendo arrastada para a cova com eles e que Marcus e as esposas assumiram o poder. A surpresa maior disso tudo, é claro, foram os fatos terem alcançado nossos ouvidos através de Benjamim, que apareceu na cidade para uma visita amistosa quando a tempestade deu sinais de ter baixado. Ele ficou muito contente por me conhecer oficialmente e constatar que eu havia sobrevivido, e aproveitou a oportunidade para nos inteirar do que sabia.

Aparentemente, foram os próprios sobreviventes da Guarda que espalharam aos quatro ventos que a vampira recentemente acolhida pelos Cullen era a responsável pelo declínio do clã de governantes em Volterra. Se a finalidade era causar pânico ou talvez uma revolta contra os Cullen, fica o questionamento, mas o que ocorreu de fato foi que todos ficaram no aguardo de que nós nos apropriássemos do regime, de que os Cullen se autodeclarassem a nova realeza. Não existia a menor possibilidade desse disparate ir além de especulações ou boatos, no entanto comecei a perceber que havia quem entre os clãs ao redor do mundo que levava isso a sério, tanto que eu não deveria me surpreender algum dia se Vladimir e Stefan retornassem a Forks, ansiosos por conquistar meus favores. Foi essa a minha principal motivação para mandar um convite da minha festa de aniversário endereçado a Marcus junto de um bilhete conciliador escrito de meu próprio punho; queríamos que ele tivesse total certeza quanto ao nosso apoio em relação à nova regência e que fazíamos votos de que, além de justa, a nossa convivência pudesse ser pacífica.

Marcus não seria obtuso em negar uma oferta de paz proposta de minha parte. E, aliás, era sempre engraçado imaginar Jane com um ridículo tapa-olho encarando aquele convite como a afronta final, porque eu já o enviei ciente de que nenhum Volturi se atreveria dar o ar da graça na minha festa.

Eu ainda estava desfrutando desse retrato mental quando Alice finalizou o seu trabalho em mim. À essa altura já era noite lá fora, uma música animada subia as escadas e a porta da frente não parava de abrir e fechar. Se eu conservava alguma dúvida sobre a escolha da fantasia, elas se extinguiram diante do reflexo no espelho – a peruca negra coroada de adornos dourados, a maquiagem dramática e o vestido verde esvoaçante ficaram arrasadores na minha figura; nem Elizabeth Taylor poderia superar a minha versão de Cleópatra, independentemente de ela ter sido a inspiração inicial. Teresa, sentada na cama ao lado do meu precioso álbum de fotografias, ficou de pé para fazer uma reverência debochada ao mesmo tempo em que Alice se retirava para vestir a própria fantasia, depois ficamos tirando fotos uma da outra feito duas tontas até alguém bater na porta.

— Anna? – Leah chamou, colocando apenas a cabeça para dentro do quarto. Ela usava uma horripilante fantasia de palhaço, certamente para sacanear Quil, contudo deu para ver a testa dela se franzindo apesar da tinta. – Argh. Você está aqui. – Seu nariz se torceu para Tery, enojado.

— Sinto muito, querida, estou. – Um sorriso lento e irreverente se alargou na boca de Teresa conforme ela estudava Leah de cima a baixo. – E, a propósito, adorei a fantasia. É a sua cara.

— Posso dizer o mesmo da sua.

— Olha que ótimo – interrompi, posicionando-me entre elas de forma a romper com o contato visual –, vocês já estão se elogiando. Quanto progresso, não é? – Então reparei que Alice ia vindo no corredor, porém ao ver Teresa e Leah ela tentou dar meia-volta e sair de fininho. – Alice, poderia vir tirar uma foto nossa, por gentileza?

Pensei ter escutado um sibilar indistinto enquanto ela girava os calcanhares e vinha pegar a câmera da minha mão. Ninguém poderia se adequar melhor ao papel de Sininho do que Alice; suas feições miúdas pareciam ter sido especialmente concebidas para personificar a fada. Não precisei de muito para entender a frustração na expressão dela; por causa das picuinhas, demorou uma eternidade para que a coitada conseguisse bater uma foto decente, levando em consideração que Leah e Teresa ficavam o tempo todo se beliscando pelas minhas costas e foi necessário que eu as separasse a uma distância de uma braçada para que elas não saíssem no tapa. Eu estava tão concentrada em segurá-las que nem me toquei que Seth já havia chegado e estava nos assistindo com evidente prazer, confortavelmente recostado no batente.

O ar perdeu o caminho para meus pulmões. O uniforme de general romano não poderia ter assentado de modo mais perfeito naqueles músculos; a capa vermelha, a placa de bronze presa no peito, a toga, o elmo, cada detalhe se encaixava tão bem em Seth que Marco Antonio teria inveja. De repente, fiquei feliz de ele não ter concordado com as minhas outras sugestões – o casal de A Noiva Cadáver havia sido vetado devido a um trocadilho mórbido que eu fiz sobre já estar morta, e nem preciso dizer que foi ainda pior com Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau.

Seth retirou o elmo à medida que se aproximava e seus olhos negros lampejaram pela minha silhueta, indisfarçavelmente ávidos. As outras viram nisso uma deixa e caçaram depressa a rota de fuga para fora do quarto.

— Você está absolutamente deslumbrante – sussurrou quando ficamos sozinhos e eu senti minhas pernas bambearem. Não bastava estar lindo de morrer e cheiroso de um jeito que deveria ser considerado criminoso, Seth também tinha que falar com aquela voz rouca que me arrepiava.

Tive que beijá-lo. Era questão de sobrevivência.

— Não tanto quanto você – contrapus ao nos afastarmos, ofegantes. – Estou repensando essa decisão de permitir que você exiba essas pernas em público.

— Posso exibir só para você mais tarde, se quiser – ele soprou na minha orelha e na hora eu soube que aquilo ia acabar mal.

Edward se materializou na entrada.

— De jeito nenhum. Desçam. Os dois.

— Calma, eu só estava brincando – Seth resfolegou uma risada constrangida, passando a mão no cabelo espetado. Vendo que Edward não ia arredar o pé dali até descermos com ele, Seth expirou alto e revirou os olhos, vencido. – Minha rainha ainda não ganhou seu presente. Não se mova – pediu, disparando pelo corredor. No que retornou, quase atropelando Edward no percurso, trazia nos braços uma cestinha de vime que aninhava uma coisinha ainda menor. – Quero que conheça a Ártemis.

Deixei escapar um suspiro derretido. A bola de pelos castanho-avermelhados enrolada na cestinha não devia medir muito mais do que um palmo. As orelhinhas eram caídas e amplas, seu pelo era brilhante e um pouco ondulado nas pontas e, mesmo sem tocar, eu sabia que devia ser bastante macio. Sonolenta, a filhotinha abriu os pequenos olhos escuros com curiosidade, deu uma fungada e uma lambida na minha mão para em seguida se encolher de novo, bocejando.

Senti meus olhos ficarem úmidos. Meu coração já tinha sido arrebatado por ela. Ártemis.

— Ai, meu Deus, Seth! Ela é linda!

Ele se empenhou para guardar um sorriso convencido, esfuziante com a minha reação. Nenhum outro presente seria mais amado que o dele, isso era incontestável. 

— Bem, você tinha Apolo, um cachorrinho cor de areia para lhe fazer companhia... – justificou e deu de ombros. – Achei que uma ruivinha agora seria uma opção mais adequada.

Não tive nem condições de responder. Apenas assenti com um movimento da cabeça, abanando o rosto para que as lágrimas não estragassem a maquiagem. Com todo cuidado, peguei a cestinha dele e a pousei na lateral da cama, torcendo para que o barulho nos andares inferiores não a despertasse. Apertei os lábios, pensativa; com Ártemis ali, eu tinha mais uma razão entre várias para deixar aquele quarto trancado. 

— Vão indo na frente – indiquei para Seth e Edward ao observar que o álbum de fotos, sem dúvida uma dessas razões, continuava exposto no meio da cama para quem quisesse ver. – Só tenho que guardar isso antes.

Edward fechou a porta atrás de si ao saírem. Uma vez sozinha, dobrei-me para apanhar o álbum e no ato fui abstraída pelo desejo de contemplar as adições recentes. E lá estavam elas, novinhas em folha, cintilando feito joias e tão valiosas quanto. Sue, Seth e eu no casamento de Sam e Emily – a expressão assassina nos olhos de Sue fez com que essa foto adquirisse uma posição de destaque no álbum. Leah e eu jogando pôquer no bar de Stu Bennett. Eu beijando uma garrafa de absinto ao mesmo tempo que a mão de Jacob me puxava pela gola da jaqueta. A reunião com os amigos de Seth na praia, quando os conheci. A batalha de solos de guitarra na festa de aniversário dele e outra de nós dois abraçados na pista de dança, naquela mesma noite. Quil usando uma calcinha de renda vermelha como máscara. Embry usando um vestido de Leah quando perdeu uma aposta.

Eu sabia que ainda haveria mais fotos. No dia seguinte, mais ou menos por esse horário, eu estaria preenchendo as páginas em branco com Emmett e Jasper fantasiados de Brittany e Tiffany Wilson, do filme As Branquelas. Com Renesmee, uma miniatura adorável de Frida Kahlo, carregando a biografia da artista para todo lado. Com uma Rosalie furiosa por flagrar Kurt e Lívia no quarto dela. Com Esme e Carlisle me abraçando enquanto eu cortava o bolo do meu suposto aniversário de dezoito anos. O melhor Halloween da minha vida.

O futuro era isso: um álbum esperando para ser ocupado com retratos maravilhosos. Era fácil vê-lo se completando feito um mosaico por detrás das pálpebras... Os anos felizes que eu teria pela frente... E nesse futuro, de repente, tão clara quanto a aurora, surgiu a imagem de duas crianças correndo na minha direção, um menino e uma menina de olhos verdes expressivos e cabelos negros...

O álbum escorregou das minhas mãos. Meus olhos voaram diretamente para a barriga. Será possível?! 

Depois de quase um minuto em silêncio, agitei a cabeça, devolvi o álbum ao seu lugar e estiquei um sorriso repleto de segredos antes de fechar meu quarto, trancando a porta à chave.

O futuro seria perfeito. Muito.

Mas aquele agora era simplesmente sublime.


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Notas finais do capítulo

NÃO ME DEIXEM NESSA ANGÚSTIAAAAA, FALEM O QUE ACHARAM

PS: Como estão os corações para o epílogo do Seth?



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