Estrela da Tarde escrita por Ametista


Capítulo 28
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Olar, galera! Aproveitando o feriadão?
Então, né gente, primeiramente vamos fazer um minuto de silêncio pelos leitores que simplesmente morreram nos comentários.Onde vocês se meteram?
Segundo, ESTOU REALMENTE SURPRESA COM A QUANTIDADE DE LEITORES QUE APARECERAM.
Bem-vindos, seus lindos! (Denize, sua maravilhosa, eu vi e AMEI seu comentário, se eu não respondi antes, é porque fiquei com vergonha de aparecer aqui sem um capítulo decente para entregar).
Quanto ao capítulo, eis a justificativa do porquê ele é dedicado quase que exclusivamente aos coadjuvantes: pessoal, estamos entrando na reta final da fic. Eu não queria deixar algumas histórias paralelas em aberto no final e dificilmente eu vou conseguir focar nesses personagens com dedicação que eles merecem a partir daqui, então..
Enfim, aqui está e aproveitem ♥



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Eu me dividia em dois estados de espírito conforme a casa dos Cullen ficava para trás e o Ford avançava pela estrada. Parte de mim sentia como se eu tivesse morrido em sonho e estivesse pisando nas nuvens. A outra temia acordar com os pés sendo lambidos pelas chamas. Minha euforia em nada apagava minhas preocupações com relação ao retorno iminente do vampiro – apenas o tornava menos imediato. Praguejei, as mãos no volante ficando tensas. Poderia ser sexto sentido ou simplesmente neurose sussurrando na minha orelha, mas eu sentia que deveria estar lá. Podia sentir até nos meus ossos.

Anna não iria se dobrar. Isso havia ficado incontestável. Eu não poderia contar com o apoio de Edward ou dos Cullen, dos meus irmãos, do Conselho... Enfim, eu estava sozinho nessa. Teria que apelar para meios alternativos.

Uma coisa que aprendemos juntos na alcateia era que se você soubesse o que estava fazendo, era possível contornar uma injunção de um alfa. O problema era que quem nos ensinou era justamente quem eu precisava contornar. Eu não havia acompanhado muito dos surtos de rebeldia de Jacob – ainda não tinha entrado para a matilha na época em que ele fugia para encontrar Bella e assisti poucos episódios antes da briga que nos separou em dois grupos –, entretanto tinha visto o suficiente para perceber que o cara era um mestre neste quesito. Seria difícil enrolá-lo, mas era a minha única saída.

Eu ainda estava formulando uma ideia quando desliguei o carro no estacionamento da escola. Havia passado em casa apenas para pegar a mochila, mas não ter trocado de roupas mal me economizou tempo; os corredores estavam vazios e quietos no que passei correndo por eles. Quando adentrei na sala de aula, fui recebido pelo olhar reprovador da professora atrás da mesa. A turma, antes barulhenta, ficou em silêncio por um momento e nas carteiras do fundo, Kurt levantou a cabeça dos braços dobrados e suspirou de alívio. 

— Está atrasado, Clearwater – censurou a Sra. Mortensen, batucando o relógio no pulso. – Aqui, pegue sua folha de exercícios. – Ela puxou com um movimento rápido um papel da pilha diante de si e esticou o dedo ossudo para Kurt. – Todas as duplas já estão completas, menos a do Sr. Green. Sente-se com ele para fazê-los.

Assenti e apanhei a folha, indo rapidamente para o meu lugar ao que as conversas paralelas recomeçaram, tomando a sala em uma cacofonia descontrolada. Teresa parou de dizer alguma coisa a Penélope – que inclusive não se mostrava nada satisfeita com a divisão de duplas – e me acenou de leve.

— Graças a Deus, você veio – Kurt sibilou entredentes antes mesmo de eu me acomodar.  – Achei que teria que cortar os pulsos antes do fim da aula.

Cocei a nuca, sacando o material da mochila.

— Foi mal, tive um problema com o horário hoje de manhã. – Sorri por lembrar da dificuldade que tive de me desgrudar de Anna... e da que ela teve em se desgrudar de mim.

Ele estreitou os olhos cinzentos para a minha expressão.

— Engraçado, você não parece nem um pouco incomodado com isso. – E me analisou preguiçosamente de cima a baixo à proporção que um sorriso malicioso crescia bem devagar. – Você transou noite passada, não foi?

Quase caí da cadeira.

— Como...? O quê...? – Parei, vendo-o reprimir um riso em resposta ao meu assombro. – Desde quando virou paranormal, Green? – resmunguei, me inclinando na mesa.

— Essa foi fácil. – Ele bufou. – Você está cheirando a sabonete feminino, usando roupas amassadas de quem dormiu fora de casa, e por mais que tente, não consegue tirar esse sorriso bobo da cara depois de ter passado dias parecendo um touro marcado a ferro. – Riu baixinho. – Já não era sem tempo. Achei que teria que preparar um tutorial de como deixar de ser virgem. E aí, como foi?

Olhei sem ver para a folha de exercícios – tentando em vão esconder o rosto quente – e meu sorriso ficou maior à medida que as lembranças emergiam com tanta intensidade que eu as senti na pele, me arrepiando. Eu não me sentia desconfortável por ter esse tipo de conversa com Kurt – até porque ele não tinha qualquer reserva em falar sobre as escapadas dele comigo –, só que era estranho sair do papel de ouvinte.

— Foi... – Um tremor familiar me percorreu. – Foi perfeito. Quer dizer, eu não sabia muito bem o que fazer, e a Anna menos ainda, mas... Não imaginava que pudesse ser tão bom.

— Fico contente por pelo menos um de nós ter tido uma noite que preste. – Kurt apertou meu ombro feito um veterano de guerra cumprimentando um cadete. Tomei fôlego para devolver uma piada mordaz, mas reparei que o sorriso dele secou enquanto se debruçava sobre as páginas do livro aberto, desenhando padrões circulares no rodapé da página.

— Eu não tinha reparado, mas você está horrível, Kurt. – Estudei as olheiras encovadas. – O que aconteceu?

— Legal da sua parte sair da sua zona de felicidade e se importar – ironizou, porém sua musculatura murchou com um grunhido. – Ontem fui procurar a Lívia para conversar de novo. – Deu de ombros. – Tentei dar uma de Seth Clearwater, sabe como é.

— Não sei, não. – Fiquei na defensiva. – Explique-se.

Kurt revirou os olhos.

— Fiz o que pude no estilo romântico. Cantei na frente da janela dela, levei flores... – Com um rompante brusco, ele largou o lápis sobre o livro, irritado. – Ela ligou a cerca elétrica e ainda soltou aquele maldito pastor alemão para cima de mim.

Encolhi-me com uma careta.

— Sinto muito.

— Não, sou eu quem sente – rebateu em tom de brincadeira, o que me fez deduzir que a mágoa era muito maior do que ele estava exteriorizando. Kurt era bastante propenso à técnica de usar humor para encobrir seus sentimentos. – Queria poder dizer que minha dignidade foi a maior prejudicada, mas acho que o pulguento levou um pedaço da minha bunda nos dentes. – Ele fez uma pausa, esperando que eu risse da sua tentativa de aliviar o clima, mas vendo que eu não iria cooperar, cruzou as mãos acima da mesa e apoiou a testa nelas. – Estou cansado, cara. Achei que ter você fora da jogada facilitaria as coisas, sem ofensa. Merda, até a turma do Chris Jordan parou de rondar ela e começaram a secar a Anna. Não adianta... – Ele fechou os olhos. – O problema é comigo. Precisei isolar todas as alternativas para entender que ela me detesta.

Senti como se minha cadeira tivesse criado espinhos. Não deixava transtornado saber que Kurt já havia me considerado um de seus rivais; na verdade, na maior parte das vezes, isso apenas fazia com que me sentisse culpado por não ter percebido antes seu interesse pela Lívia. O preocupante era não poder discordar sobre a indiferença dela— pelo menos, não totalmente. Kurt tinha vocação para tudo, menos para tapado.  

— Se ela realmente detestasse, vocês não teriam... – deixei o resto da frase subtendido com a expressão insinuante.

O fogo no seu olhar deixou claro que esse era o pior recurso que eu poderia ter usado.

— Nem me lembre disso. A impressão que eu tenho hoje é que ela teria se atirado nos braços do primeiro que aparecesse. Para ela, foi só sexo. – Ele respirou com força e, por um segundo, seus olhos marejaram. – Talvez essa seja a coisa mais piegas que vou dizer na vida, e se contar para alguém – Kurt ergueu o dedo em riste para a minha cara –, juro que mato você, mas é uma droga amar sem se sentir amado.

Calei-me por um instante, torcendo a boca.

— Você é músico, Kurt. Garanto que não vai ser a mais piegas – murmurei depois de concluir que não havia mais nada que eu pudesse dizer. Notando que a Sra. Mortensen não parava de nos espreitar, a única dupla em que o diálogo não parecia resultar em algo produtivo, peguei o lápis dele e comecei a resolver o primeiro exercício de álgebra da lista.

Em vez de fazer o mesmo, Kurt apenas escorou o braço na mesa e ficou me assistindo fazer a atividade que teoricamente deveria ser em equipe – não que eu esperasse qualquer coisa diferente vindo dele.

— Eu devia escrever uma música com isso, sabe? Ficar famoso, ganhar alguns milhões... – Soltou o ar teatralmente e eu revirei os olhos para o drama forçado de guitarrista sensível. – Só que ninguém pagar para me ouvir dizer que me sinto igual a um pano de chão.

— Então parta para outra, droga – constatei o óbvio. – Esqueça um amor com outro e, se possível, com alguém que não tente eletrocutá-lo.

Ele estremeceu de pavor.

— Eu quero é distância de garotas, por ora. Acho que vou me contentar com uma vida de monge até a faculdade. Se bem que... – Endireitei-me automaticamente com o tom sugestivo da voz dele e fiquei em choque por vê-lo observando Teresa jogar os cabelos sobre o ombro. – A McAllister é bem bonitinha, não é?

Boquiaberto, alternei o olhar entre um e outro e a única coisa em que eu conseguia pensar era em dois carros colidindo em alta velocidade – uma imagem que, ironicamente, pareceu bem menos catastrófica que a de Kurt saindo com Teresa.

— Ignore o que eu falei – apressei-me em voltar atrás. – Fique com a vida de monge.

Sua testa se franziu para o meu evidente pânico.

— O que tem de errado com ela? Vi vocês conversando a semana toda.

— Por isso mesmo. Eu a conheço o suficiente para saber que ela é justamente uma das que vai tentar eletrocutá-lo.

Kurt ampliou os olhos ao se dar conta de que eu estava falando sério, mas não insistiu mais no assunto; deixou que ele morresse nas aulas que se seguiram e mal trocamos duas palavras até o intervalo, quando o sinal suspendeu o monólogo entediante do professor Burgh a respeito de estruturas celulares e metade da turma acordava bruscamente de um cochilo. Atirei meu material de uma só vez dentro da mochila e estávamos a meio caminho do refeitório, no corredor apinhado de alunos, quando fomos interceptados por um vulto azul iridescente.

— Oi, Seth. – Teresa se deteve na minha frente sem qualquer sutileza, parecendo mais um personagem de anime graças ao contraste desorientador do cabelo com o vestido amarelo. – Oi, Kurt. – Ela girou os calcanhares para ele, tombando a cabeça de lado.

Recuei da amabilidade suspeita de seu sorriso e segurei a alça da mochila com a mesma ansiedade que me prenderia a uma alavanca de emergência. Esqueça os vampiros; o que me amedrontava era a centelha maníaca no olhar daquela garota.

E esperava do fundo do coração que Kurt estivesse sentindo algo parecido.

— Ei, Tery – cumprimentei-a, até porque ignorá-la já não era uma alternativa válida. – Precisa falar comigo? – Fui sem rodeios ao ponto, impaciente para me livrar dela rápido.

— Não. – E seus olhos castanho-mel não estavam em mim. – Só vim aqui fazer isso. – Antes que eu pudesse sequer respirar, Teresa se adiantou para Kurt, enganchou-o pela nuca e o beijou diante de todo mundo. 

Engasguei com a minha própria saliva e escutei vagamente a ovação se erguendo entre os alunos, acompanhada pelos risos. Kurt de início não se moveu; ficou estático sob o ataque selvagem do beijo abrupto, mas quando ele fechou os olhos, eu soube que havia sido derrotado. Seus braços envolveram avidamente a cintura dela ao passo que Teresa o empurrava de encontro aos armários, dominando-o com a perícia de uma predadora experiente.

— Afaste-se dele, sua vagabunda. – Do nada, Lívia se materializou atrás deles e enterrou a mão em garra nos cabelos azuis de Teresa, arrastando-a com truculência até os armários do lado oposto.

— Ai! – Teresa perdeu ligeiramente o equilíbrio batendo contra o metal, confusa e desorientada com a interrupção. Seus olhos piscaram depressa conforme ela se recuperava e foram da imprecisão à fúria ao focalizarem os de Lívia. – Quem você pensa que é, intrometida?!

Reprimi um impropério e tomei ânimo para apartar a discussão, mas Kurt o fez sem hesitar antes que eu pudesse me interpor entre as duas, o queixo projetado na direção de Lívia.

Exatamente, Collins – concordou, cruzando os braços. – Quem você pensa que é?!

A mão dela cortou o ar para uma bofetada tão violenta que fez eco no corredor lotado. Retraí-me com o som do impacto e deixei escapar um silvo junto com a multidão de curiosos; aquilo certamente deixaria marcas.

— Seu mentiroso desgraçado! – Lívia já estava chorando antes mesmo de começar a socá-lo no peito, os golpes ficando descoordenados à medida que as lágrimas caíram pelo rosto. – Você não presta, Kurt Green! É o ser mais baixo, porco e ordinário que já conheci! Ainda ontem estava debaixo da minha janela me fazendo declarações de amor e hoje está aí, enfiando a língua na garganta de uma piranha de quinta...!

— Alto lá! Eu não vou permitir... – Teresa se empertigou, contudo emudeceu no que eu a puxei pelo braço para longe deles. Tive a sensação de que mais um minuto ali e ela também iria embora com os dedos de Lívia desenhados na bochecha.

— Qual é o seu problema, Lívia?! – Alheio a plateia ao redor, Kurt prendeu os pulsos de Lívia e a sacudiu feito uma boneca de pano. – Eu entreguei meu coração, você pisoteou em cima dele e agora me vem com um ataque de ciúmes descabido quando eu resolvo esquecer você? – Sua risada foi de escárnio, no entanto seus olhos ficaram mais úmidos à proporção que as palavras saíam cuspidas. – Detesto ter que arranhar sua vaidade, aprendiz de Barbie, mas você não tem nenhum direito sobre mim e perdeu qualquer possibilidade de ter depois que me chutou ontem! Eu queria você, eu...! Deus, eu queria tanto você... – sua voz embargada falhou enquanto os dois se fitavam profundamente, ficando em completo silêncio.

Então eles se beijaram. Simples assim. Agarraram-se um ao outro como se não fossem se separar nunca e o resto de nós não pôde fazer muito além de ficar se entreolhando.

Teresa McAllister quebrou o gelo com uma gargalhada ruidosa.

— E é assim que se dá uma de cupido. – Sua mão abriu como se largasse um microfone imaginário. – Até a próxima, perdedores. – E saiu andando rumo ao refeitório.

Alguém nas minhas costas começou a bater palmas, desencadeando uma onda coletiva de aclamação. Virei-me e não fiquei nada surpreso por me deparar com Jasmine no centro do tumulto, já que estava escoltada por Flynn e Griffin – os gêmeos mal se sustentavam um no outro de tanto rir. Penélope, inteiramente perplexa, apenas avistava por onde Teresa fazia sua retirada estratégica e foi assistindo sua silhueta sumir no fim do pavilhão que eu liguei os pontos.

Ela havia causado a briga de forma intencional. Deixou-me desconcertado isso soar tão previsível.

Decidi ir atrás dela sem me importar com Kurt – em poucos minutos a diretora Woods apareceria para checar o motivo do pandemônio e era bem provável que depois da dispersão, ele e Lívia dessem chá de sumiço até o anoitecer. Encontrei Teresa já na fileira do almoço, conduzindo a bandeja pela bancada e selecionando a comida com um assobio tranquilo; todos que estavam na dianteira ou na retaguarda dela tinham a prudência de manter dois metros de distância. Apanhei uma bandeja e fui direto para o buraco em seu flanco; a menina miudinha do oitavo ano que se demorava na área dos refrigerantes fez uma prece muda por eu cortar a fila. Sem muito interesse, peguei uma Coca e uma fatia de pizza, fingindo examinar as frutas.

— Foi legal o que fez lá – comecei, sorrateiro.

— Nem tanto. – Estalou a língua em desgosto, pagando pela comida com uma expressão apática. – Kurt precisa aprender a beijar melhor.

Contive um riso involuntário e balancei a cabeça.

— Como soube dos dois?

— Eu estava fazendo uma caminhada quando salvei ele de virar biscoito de cachorro. – A boca retorceu com uma careta de dor. – A maior parte, melhor dizendo. Deve ter sobrado um pouco na cerca elétrica ainda.

— Tery, Sam não proibiu você de continuar com as espionagens? – repreendi aos sussurros, entregando sem ver o dinheiro pelo almoço.

— Não tenho muito o que fazer em casa. Meus pais cortaram a TV a cabo.

Fiquei quieto enquanto recebia o troco e cruzávamos o refeitório – achei curioso notar que Teresa parecia verdadeiramente perturbada por eu querer permanecer em sua companhia, debaixo da mira desconfiada da escola inteira. Está certo de que não costumávamos almoçar juntos, mas não era para tanto espanto. Escolhi um lugar no extremo oeste do refeitório, afastada o bastante para não dar brechas aos enxeridos e perto na medida exata para refrear as fofocas; sentei-me depressa e sem cerimônias em contraste com os movimentos circunspectos dela, que deslizou devagar a bandeja pela superfície da mesa.

— Jamais pensei que fosse do seu feitio ser generosa – reconheci, atraindo sua atenção.

Uma emoção desconhecida cortou o rosto de Teresa antes de ela se recompor.

— E não é. Nada do que eu faço ou deixo de fazer tem a ver com generosidade – redarguiu, tão baixo que apenas a minha audição de lobisomem seria capaz de escutar. – Você não faz ideia como é ser apontada, isolada por todos por ser estranha. Meus próprios pais me encaram como se tivesse brotado um chifre na minha testa e até vocês, um punhado de adolescentes que se transformam em cães gigantes, agem como se eu fosse uma leprosa. – Percebi que ela vacilou em prosseguir, estudando-me fixamente com uma intensidade desagradável. – Por bastante tempo, eu tentei me convencer de que não ligava para o que pensavam de mim, e bom – um amplo sorriso faceiro se espichou –, acho que hoje realmente não ligo. O problema é a solidão. Estar sempre sozinha, não ter ninguém que sinta sua falta... – Ela uniu o cenho, os olhos esquivos.

Computei sua confissão gradativamente e quando os fatos estapearam a minha cara, fechei os olhos, sentindo-me um imbecil. Teresa estava sempre sozinha. Desde o dia em que retornara a La Push, eu não me recordava de uma única só vez em que a tinha visto com alguém. Havia tanta autoconfiança na sua postura, na sua voz e até no seu olhar que não havia margens para perceber o quanto o exílio a machucava.

— Está nos ajudando porque quer amigos – compreendi tarde demais, e eu não estava me referindo à atuação estapafúrdia com Kurt. Tive uma breve lembrança dela mencionando a avó na reunião do Conselho... a avó que detinha o mesmo poder milenar, que provavelmente a criara e lhe ensinara tudo. Baixei a cabeça. A velha Sra. McAllister morrera no ano anterior.

Não tive resposta, mas eu sabia que havia acertado em cheio; Teresa tinha uma personalidade que atravessava um arco-íris de facetas, porém a índole era transparente feito vidro.

— Quer saber o que fez com que eu me decidisse? – cedeu por fim, ainda que relutante. – Sua namorada. Uma estranha em meio a estranhos... Parte de mim se enxergou nela e a outra parte queria se enxergar. Anna jamais vai ser igual a vocês e mesmo assim a amam e são devotados a ela. – Os olhos de águia ficaram estreitos, intrigados. – Eu nunca tive nada parecido.

Fiz que sim à medida que sua perspectiva se tornava mais evidente. Suas frequentes visitas aos Cullen no decorrer da semana – as quais ela fizera questão de compartilhar uma a uma, não importando o quanto eu tentasse evitá-la entre as aulas – e até a perplexidade com que Teresa reagira diante de um simples almoço comigo tomara outro significado.

— Só não entendi por que você decidiu ajudar o Kurt. Faz sentido você querer amigos, mas não consigo imaginá-la se enturmando aqui. – Girei o indicador para o ambiente em torno antes de pegar minha pizza para uma dentada.

Seu corpo tremeu com uma risadinha baixa e desdenhosa.

— Ora, isso foi por diversão. Não vejo cena tão boa desde que meu pai me flagrou entre os manifestantes do Greenpeace na entrada da empresa. – Ela vergou a sobrancelha para a minha perceptível confusão. – Qual é, por que acha que ele não tentou impedir minha ida para o reformatório? – debochou, brandindo o copo de suco como se propusesse um brinde. – Precisava ver a cara dele diante dos repórteres.

— Por curiosidade, como você foi expulsa do reformatório? – indaguei casualmente ao abrir a lata de refrigerante, encarnando uma velhinha fofoqueira com a mesma facilidade que Embry.  

— Nem me matando conseguiria essa informação, Clearwater. – E mordiscou um dos nachos com guacamole.

— Não faz mal. – Recostei-me na cadeira, sem me abalar. – Posso pedir a Anna que leia seus pensamentos e me conte depois.

— Pois eu daria minha herança para ver a cara dela enquanto conta – treplicou com um sorriso maligno que exibia todos os dentes. – Duvido muito que ela vá conseguir fazê-lo sem corar pelo menos três vezes.

— Vejam, que interessante – ronronou alguém na minha retaguarda. Os passos precederam a aproximação e bati com a mão na testa, porque até no Inferno eu identificaria o dono daquela voz odiosa. Chris Jordan parou, escorando-se sobre as mãos na beirada da mesa. – Clearwater decidiu tomar o lugar que o guitarrista deixou vago.

Segurei o impulso de empurrar seu braço para que ele caísse de queixo contra o tampo. No tempo em que demorei para me decidir, os dedos retorcendo de vontade, Elliot Bolton moveu a cadeira do meu lado ao se sentar, as feições desmoronando em pura tristeza fingida. Ridley Crowe permaneceu de pé atrás dele, os braços cruzados – talvez fosse o único inteligente.

— Pobrezinha da Cullen... – Bolton fez um muxoxo. – Vai ficar arrasada.

— Sem problemas. Será um prazer oferecer meu ombro para ela chorar... – Jordan entortou um sorriso obsceno. – Bom, não somente o ombro.

Minha visão escureceu com um tom denso de vermelho. Por um instante, fui subjugado pela sensação de que perderia o controle de mim e somente despertaria quando o estrago já estivesse feito. Mas não. Assisti tudo em câmera lenta, cada movimento, cada músculo agindo quando eu peguei o garfo da minha bandeja e cravei com tudo na mão do miserável. Jordan abriu a boca para gritar, mas eu já estava de pé calando sua boca com uma das mãos ao que a outra o erguia pelo capuz do moletom.

— Escute bem, seu verme infeliz – grunhi, mortalmente frio. – Diga o que quiser de mim. Não ligo que me ofendam, mas se voltar a falar da minha namorada, vai passar o resto dos seus dias comendo de canudinho, está entendendo? – Soltei-o de supetão sem esperar que ele concordasse, os olhos apertados com hostilidade para os outros. – Isso vale para vocês também. – Puxei minha mochila para o ombro, já caçando minha rota de escape. Meu estômago ainda roncava, mas não dei importância; se ficasse ali acabaria quebrando alguns dentes e eu duvidava de que o alvoroço no corredor fosse fazer com que a diretora Woods negligenciasse de uma briga no refeitório.

De tudo, eu só não esperava que Teresa viesse no meu encalço. Ela acompanhou sem dificuldade meus passos acelerados a caminho da próxima aula, fitando-me com um ar de crítica – uma atitude que julguei como sendo absolutamente incomum, vindo dela.

— Devia ter ignorado, Seth. É o mistério que incomoda eles. – Quando claramente não interpretei seu raciocínio deturpado, Teresa bufou e revirou olhos. – Anna é linda, é esperta, tem charme e talento. O motivo de você querê-la é óbvio. E rica como é, poderia escolher qualquer cara no mundo. E, no entanto, ela escolheu você. A única conclusão a que puderam chegar é que você tem algo que nenhum deles têm. – Então me examinou como se eu fosse uma peça de carne na vitrine de um açougue tabelada a um preço exagerado. – A aposta geral é mais que vinte e cinco centímetros.

— Teresa! – ralhei, roxo feito beterraba.

— O quê? – defendeu-se. – Apenas estou repetindo o que tenho ouvido pelos corredores. E não me olhe desse jeito, não quero nada com você. Não sou estúpida o bastante para me meter com um imprinting. Aliás, não me leve a mal, ninguém de vocês faz o meu tipo. – Ela suspirou, toda sonhadora. – Eu rezo todos os dias por alguém que meus pais vão abominar, e se tiver tatuagens e for vegetariano, melhor ainda.

Foi uma benção entrar na classe, porque assim não tive que respondê-la. Flynn, Griffin, Jasmine e Penélope me chamaram logo que ultrapassei o batente, ansiosos por mais detalhes, tormento do qual eu me livrei incorporando Teresa ao grupo – não demorou para que eles enchessem ela, e não a mim, com uma avalanche de questionamentos. Na saída da escola, testemunhei Tery sendo abordada por Brenda no pátio, o que me fez rir alto; tinha certeza de que ela não estava animada por ter perdido a performance de Kurt com a Cachinhos Dourados.

Cheguei em casa aliviado. Minha única obrigação do dia estava acabada – fui suspenso do cronograma de rondas desde a noite da reunião – e mal podia esperar para rever Anna. Escolhi uma camiseta e uma bermuda qualquer depois de um banho e eu assobiava a canção que tocava no rádio durante o trajeto até Forks. Achei esquisito detectar vozes ao girar o volante para a entrada dos Cullen e tive uma verdadeira síncope quando a figura da casa despontou, porque havia um louro diante da fachada tagarelando com Anna.

Não me aplacou perceber que era só um humano; estacionei detrás de um Suburban e bati a porta com violência ao descer do carro. Os olhos de Anna se iluminaram e ela se adiantou para me receber, vestida em uma espécie de camisola negra que pouco fazia para esconder seus atributos. Diferentemente da reação calorosa dela, os olhos do sujeitinho saltaram feito rolhas.

— Ei. – Ela envolveu meu pescoço com os braços em um beijo rápido, mas derretido. – Achei que não ia chegar nunca.

Arqueei a sobrancelha para o louro aguado com rosto de bebê, que engoliu em seco.

— Estou vendo que você parece bastante entediada – observei em tom rabugento.

— Ah, sim. – Anna sorriu amarelo, me puxando pela mão até ficarmos frente a frente. – Este é Mike Newton. A família dele é proprietária da loja de artigos esportivos da cidade e veio gentilmente trazer minha encomenda. Mike, este é Seth Clearwater – ela gesticulou para mim como se apresentasse um astro de cinema –, meu namorado.

Trocamos um conciso aperto de mão. Os dedos dele estralando não foi algo proposital.

— Pensei que tinha dito que não tinha conhecidos em Forks – ele comentou, flexionando os dedos um pouco com os olhos presos nela.

Eu também, pensei em concordância.

— Não sou de Forks. – Transpassei o braço ao redor dos ombros da minha namorada, marcando minha posição ao que ela dobrava os lábios para omitir um sorriso. – Sou de La Push.

— É claro, tinha que ser – resmungou à meia-voz. – Bem, está na minha hora, Anna. Mande lembranças a Bella e avise se precisar de mais alguma coisa. – E com a velocidade de alguém que tivesse um foguete amarrado ao traseiro, ele se enfiou no Suburban e manobrou o veículo em direção à via principal.

— Que diabos foi isso? – sibilei, virando-me para Anna.

Sem desviar os olhos do carro sumindo de vista, ela rezingou baixinho uma palavra muito suja em francês.

— Compramos muita dos Newton, sabe, para manter a imagem de amantes da natureza. Às vezes, peço para entregar em casa porque sei que os pensamentos dele irritam Edward, só que desta vez o idiota confundiu o dia e chegou atrasado.

— Nem imagino porque Edward se irrita. – Fechei a cara.

— Não é tão ruim, na verdade. Agora, por exemplo, ele está pensando que quando a garota não está afim de um Cullen ou de um quileute, ela é uma Cullen que namora um quileute. – Entre as risadas, ela se voltou para mim brilho espirituoso no olhar. – Não está com ciúmes, está?

Fiquei sem jeito, embora não soubesse o motivo.

— Digamos que nenhum cara ia ficar feliz de chegar e encontrar um sujeito devorando sua namorada com os olhos – argumentei, desviando os olhos do sorriso que apenas ficava mais largo conforme ela me conduzia pela porta aberta, encurralando-me contra uma das paredes. – E seu histórico com loiros não melhora a situação.

— Não reclame, porque me vesti às pressas. – A ponta de seu nariz descreveu a linha do meu maxilar. – Presumo que não iria gostar se eu o atendesse do modo que estava.

Minha nuca ficou arrepiada.

— E como você estava? – soprei, mal conseguindo ouvir algo além da própria pulsação.

— Esperando você. – E desfez um laço nas costas. O tecido resvalou pelo corpo dela, revelando sua pele inteiramente nua.

Rendi-me sem nem tentar resistir. Inclinei-me para morder de leve a deliciosa curvatura do pescoço, minhas mãos percorrendo os contornos do corpo quente em busca de um pouso na sua cintura, entretanto a um segundo de eu agarrá-la, Anna se esgueirou para longe de mim aos risos, ágil feito um gato. Pisquei, confuso ao passo que seu vulto seguia para os fundos da casa. Guiado pelo seu perfume, encontrei-a nas margens do rio, preparando-se para um salto.

— O que está esperando, garoto-lobo? – E atirou-se na água.

Revirei os olhos na proporção em que tirava a camiseta e os tênis.

— Você não facilita mesmo as coisas para mim, não é?

Não a vi, apenas escutei sua gargalhada.

— E quando foi que eu facilitei?

O que quer que tenha começado no rio, terminou no colchão. A vantagem era que não havia muito mais o que destruir, apesar de a última coisa que faltou de nossa parte foi esforço. Mal vi o tempo voar, contudo era noite alta quando cedemos um descanso e caímos arquejantes um sobre o outro – do lado de fora das paredes de vidro, que de alguma forma Anna conseguira consertar com um de seus dons misteriosos, a escuridão tomava a paisagem completamente.

— Não me contou como foi seu dia – ela murmurou à certa hora, os dedos dançando pelo meu peito tocando uma melodia imaginária.

— Não, não contei. – Trouxe-a para mais perto, fazendo uma vagarosa carícia atrevida. Minha boca estava inchada, tinha marcas de unhas e mordidas cicatrizando por todo o corpo e eu não conseguia me lembrar de um único dia em que tinha me sentido mais satisfeito do que aquele. – Tinha outra coisa mais urgente para fazer primeiro.

Ela me deu um tapa com as bochechas em chamas e eu gargalhei, exultante por ainda ser capaz de deixá-la ruborizada, depois de tudo. 

— Engraçadinho – acusou com o queixo apoiado no meu esterno. Os olhos verde-esmeralda mergulharam fundo nos meus e em seguida ela comprimiu os lábios, aborrecida. – Não quero saber que está brigando por minha causa, Seth.

Dei de ombros.

— Foi mais por mim do que por você. Estou de saco cheio de evitar conflito. – E eu não estava falando da escola.

Como eu havia pressuposto, Anna capturou a indireta, mas preferiu ignorá-la.

— Eu sei. – Soltou um suspiro com uma melancolia atípica. – A propósito, gostei do jeito que Tery resolveu a situação. Bem objetivo.

— É um gênio – admiti. – Apesar da cara de louca.

— Ela só é mal compreendida – fungou, quase ultrajada, e eu entendi no mesmo instante que o coleguismo entre elas se tornou maior do que Teresa deixara implícito. – Seu dom faz com que ela se sinta muito mais confortável entre os animais que entre os humanos. Tem dificuldades em se encaixar em convenções sociais, e às vezes acaba chocando as pessoas por ser tão espontânea. Isso explica a cisma dela em querer se enturmar com os metade-lobo. – Fez uma pausa. – Gostei dela, é sincera feito poucos.

— Cuidado. Leah não vai gostar nada de saber que foi substituída quando voltar. – Quando as risadas esperadas não vieram, levantei seu queixo no indicador. Havia uma ruga de preocupação na testa dela que não dava indícios de querer desaparecer. – Você está tão séria. O que há de errado?

Anna mordeu o lábio inferior, como se decidisse impedir seus pensamentos de saírem. Uma sombra pesada atravessou seu olhar e instintivamente eu me endireitei na cama – o que quer que fosse que estivesse guardando, era algo que remoera por muito, muito tempo.

— Não incomoda você? – disparou, a fisionomia severa. – Saber que jamais vou poder lhe oferecer um futuro?

— Como assim? – Uni as sobrancelhas.

— Olhe para mim, Seth. – E fez um gesto de desprezo para o próprio corpo, exasperada. – Comigo não terá anos passando, não haverá filhos, nem netos. Quando reunirem todos em La Push para a macarronada de domingo, seus irmãos estarão brigando com os pirralhos correndo em volta da mesa e você e eu estaremos lá, exatamente com a mesma cara, sempre. Veremos sua mãe ficar de cabelos brancos, depois a Leah... E nós continuaremos congelados no tempo, sem jamais progredir, sem jamais multiplicar. Comigo vai ser sempre um agora.

Minha voz sumiu na garganta. Dentre todos os assuntos que precisávamos abrir o jogo, não imaginava que Anna fosse querer tocar justo nesse. É claro que eu já havia refletido sobre isso em mais de uma oportunidade; sobre a imortalidade, sobre ter que deixar La Push um dia, sobre minha família e os deveres para com a tribo. Mas não daquele modo como ela colocou, não incluindo filhos na equação. Antes de conhecê-la, quando eu ponderava sobre o futuro, pensava em estar casado e com filhos, mas não porque eu queria, e sim porque era o esperado. Era uma imagem abstrata, sem nomes ou seres com forma, e depois que Anna apareceu na minha vida eu compreendi a razão.

Aquele não era o meu futuro.

O meu futuro era ela. Era Anna quem preenchia todos os hiatos.

De fato, eu adorava crianças, mas elas não precisariam ser minhas para que eu amasse. Certamente meus irmãos – e quem sabe, talvez até a Leah – teriam uma ninhada considerável de nanicos e eu me divertiria muito mimando a todos. Mas se Anna os quisesse...

Pigarreei para bloquear meus próprios pensamentos.

— É um pouco cedo para pensarmos nisso, não acha? – disse, finalmente.

— Pelo contrário, acho que é muito tarde. – Ela se sentou na cama e se encolheu, evasiva. – À essa altura, sou incapaz de abrir mão de você.

Perdi todo o ar de meus pulmões. Nem um soco no peito teria sido tão brutal.

— Já pensou em abrir mão de mim?

— Já. – Surgiu em seu rosto um sorriso triste e condescendente enquanto ela corria os dedos pela minha expressão desnorteada. – Quando você ainda não era meu, considerei tentar juntar você e a Lívia. Ao contrário de mim, ela poderia lhe dar coisas que eu não posso, acrescentaria em vez de tirar. Só que essa opção já não está mais disponível.

Prendi sua mão junto ao meu rosto e a puxei pela cintura até cobri-la com meu corpo. Consegui ligar os pontos sobre o que acarretou naquela linha de raciocínio absurda, mas não havia a menor probabilidade de eu permitir que ela continuasse com tais ideias na cabeça.

— Essa opção nunca esteve disponível, Anna. Sempre fui seu, eu nasci para pertencer a você. Se será sempre apenas nós dois, não me importa, porque tenho tudo o que preciso aqui. – Beijei sua testa, suas pálpebras, sua bochecha sempre em cor e deixei minha boca apenas roçar na sua, envolvendo-a com meu hálito. Eu sabia que ela se distraía facilmente com isso. – Se minha mãe, minha irmã e todos os outros ficarão para trás com os anos... – Respirei fundo. – Cada um tem o seu destino. Vamos deixar que sigam os deles e vamos seguir o nosso.

Ela fechou os olhos, não querendo que eu visse as lágrimas.

— Tenho medo de que seja só o imprinting falando.

— O imprinting me faz ficar por você independentemente de quais são suas escolhas. – Entrelacei nossas mãos e as trouxe para perto do meu coração. – Mas o que eu sinto vai muito além, está gravado na alma. Eu já não seria capaz de viver sem você, não depois de descobrir o que é amar de verdade. – Busquei seus olhos, exigente. – Prometa que nunca vai me deixar.

Seu juramento para mim foi um beijo nas costas da minha mão.

— Como poderia, se minha vida está toda aqui dentro? – O dedo escorregou pelo meu peito e fui abstraído pelo desejo de beijá-la e fazer esquecer aquela conversa nos meus braços. Talvez tenha sido isso o que me afetou, o que me deixou ansioso, porque embora fosse minha intenção ser gentil, acabei a amando como se fosse a última vez.

Era tarde da madrugada quando consegui dormir e pareceu ter sido um breve cochilo no que acordei subitamente, o corpo de Anna ainda abraçado a mim a sono solto. Espreguicei-me entre os lençóis e a envolvi com mais força, pronto para retornar à inconsciência.

Então vi os olhos amarelos reluzindo como faróis no escuro, sob a entrada do quarto.

— Ah, droga – gemeu. – Vocês estão muito ferrados.


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Notas finais do capítulo

CADÊ AS APOSTAS SOBRE QUEM É O DONO DOS OLHOS DOURADOS?



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