Estrela da Tarde escrita por Ametista


Capítulo 22
Embate


Notas iniciais do capítulo

Oiee, seus lindos! Olha só quem voltou (e rápido, até!)! Espero que reconheçam o sacrifício dessa humilde escritora, por quem vos fala tirou uma pausa em uma fucking semana de prova para escrever. Tá, parei, parei!
Brincadeiras à parte, acredito que essa tensão seja o motivo desse capítulo ter sido um dos mais curtos que já escrevi, mas sinceramente não vejo o que poderia ter feito para deixá-lo mais completo.
Terumy, sua linda! Fico feliz que tenha gostado da Tery, porque ela veio para ficar!
PS: não joguem pragas em mim.



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De todas as emoções que eu imaginava que me percorreriam quando encontrasse David Dalaker outra vez, certamente eu não esperava pela indiferença. Muito provavelmente por fúria, repugnância, desprazer, até um pouco de surpresa, mas não indiferença. E, no entanto, não havia nada além desse gelo vazio em meu corpo ao vê-lo parado na campina, de costas para mim enquanto fitava as nuvens finas no céu baixo. Aproximei-me, mas não muito, travando no lugar com as mãos em punho. Tinha medo que, se chegasse perto demais, meu ódio por ele e a vontade de cravar as presas em seu pescoço viria à tona.

Meus irmãos estacaram um tanto atrás do meu flanco esquerdo, não exatamente me deixando exposto ao perigo que o vampiro louro representava, mas como se estivessem me atribuindo a liderança – o que naquele caso fazia completo sentido, mesmo Jacob sendo o alfa. Se o bastardo viera até La Push, só podia ser por minha causa. Não falei nada, porém, aguardando uma iniciativa por parte dele – tive a clara impressão de ele tinha muito mais a dizer.

— Eu me recordo com uma nitidez assustadora da primeira vez que vi Anna – sussurrou quase sem voz, imóvel feito pedra. – Talvez seja a lembrança mais forte da minha vida imortal. Não sou inclinado a essas bobagens românticas, mas eu estava especialmente contemplativo observando a neve cair naquela noite. A gravidade... – ele ergueu a mão, levitando sobre a palma um ramo de pinheiro ainda fresco – ...sempre foi parte de mim. E mais me pareceu que os flocos resolveram me pregar uma peça, porque pareciam decididos a permanecer no ar. – Um suspiro pesado se seguiu e os dedos se contraíram levemente, destruindo o ramo sem nem tocá-lo. – Então entrei naquele teatro e a vi, dançando como somente seres celestiais poderiam dançar. Nunca... Nunca, nem mesmo como humano eu senti algo parecido. O tempo desacelerou e em cada movimento ela parecia ainda mais etérea que os flocos de neve, como se estivesse decidida a me provar que as leis da física... eram irrelevantes para ela, pois não se aplicavam a si.

Uma veia pulsou em meu pescoço e me peguei contraindo o maxilar. O modo como ele falava de Anna me enervava. Além do tom possessivo, havia uma espécie de veneração doentia – igual fanáticos se referindo a um deus. Se ele sentia tanta adoração por Anna, por que raios tivera o desplante de bater nela? Por que a machucara durante tantos anos? Dei um passo na direção dele, os braços agora trêmulos de raiva, mas Jacob me conteve com um gesto da mão. Seus olhos, apesar de estreitos – feito o restante da matilha –, refletiam uma cautela apreensiva.

O vampiro continuou, tão preso em divagações que parecia falar consigo mesmo:

— Meu próprio poder deu sinais se colocar contra mim, pelo modo como me senti atraído na sua direção. – Ele ergueu a cabeça para o céu, como se aguardasse o cair da chuva. – Esperar pelo fim do espetáculo para conhecê-la foi uma tortura vagarosa, mas... Finalmente ela se apresentou, da forma polida como apenas damas bem criadas se apresentam. Sua voz... Ah... – Ele tremeu de prazer. – Foi como eu me lembrava de tomar uma caneca quente de hidromel. Fez-me sentir mais homem que vampiro. Um calor correu meu corpo e meu coração desfaleceu em uma única batida. Aquilo me chocou muito. – O braço subiu para junto do peito e eu intuí que sua mão tocava o lugar onde não havia som. – Eu havia me habituado ao silêncio. Jamais pensei que poderia existir emoção tão poderosa ou eu teria percorrido o mundo à sua procura.

Ele deu de ombros, enfim dando sinais de não estar falando apenas com sua consciência, e girou os calcanhares para nós. Ficar frente a frente não aplacou meu estado de espírito, ainda que tenha me feito vacilar. Parecia idiotice, só que algo nele me deixava de cabelo em pé – ele era muito mais baixo do que eu e de constituição magricela, mas continuava sendo horripilante. Não sabia dizer se era por conta da expressão sombria, com os olhos cravados na grama, ou da palidez da pele, que contrastava com a roupa escura, ou mesmo culpa do próprio terno cinzento, mas até meus irmãos se empertigaram – Embry, por exemplo, já não parecia achar o apelido de Alfaiate Gótico tão engraçado.

— Sei que deve ser difícil compreender – falou, agora diretamente para mim, sem se deixar abalar pelo nosso desconforto. – Minhas convicções sempre foram baseadas em fatos científicos e, apesar de ter sido educado para ser temente a Deus, minha melhor filosofia é que para toda pergunta tem uma resposta lógica. Ver-me apaixonado por Anna quebrou com essa filosofia, mas em nenhum segundo me senti desorientado, pois vi esse sentimento como uma prova do Divino, de que... – ele gesticulou, lutando fervorosamente para encontrar as palavras apropriadas – ...há coisas que existem, mas que a ciência é rudimentar demais para explicá-las. 

Franzi o cenho, me sentindo mais incomodado do que antes. Pela aparência, ele não devia ter mais do que dezessete ou dezoito anos quando foi transformado, e no entanto, pela forma como articulava ele parecia muito adulto, o tipo racional com opiniões que nenhuma pessoa mais velha se atreveria a ignorar. O tipo que ninguém rotularia como garoto, percebi. Por um instante, senti inveja dele. Embora eu tivesse amadurecido muito naquele último ano – em especial, depois de conhecer Anna –, ainda era custoso fazer com que me levassem a sério. Detestava o tom condescendente que usavam comigo na alcateia, pois a diferença com meus irmãos era óbvia – era como se eles fossem a babá e eu, a criancinha a tiracolo.

Até mesmo Anna mostrava dificuldades em me tratar como algo além de um garoto – por um segundo me lembrei do piquenique na floresta, onde ela o dissera com todas as letras. Balancei a cabeça, tentando me livrar do veneno de meus pensamentos e provavelmente praguejei alguma coisa, porque meus irmãos me encararam pelo rabo do olho.

O vampiro fez uma pausa, como se estivesse me dando tempo para digerir seu discurso:

— Se o sentimento era ilógico para mim, todo o restante não era. Fiquei decepcionado com sua rejeição inicial, é verdade, mas eu não via motivos para Anna não me pertencer, assim como um mais um são dois. Afinal, ela não estava comprometida e, na posição de quem conhece suas qualidades, eu dedicaria a eternidade a pôr o mundo aos seus pés, sendo compreensivo, amoroso, generoso... – E apertou os punhos, ansioso. – Eu a conquistaria. Isso era incontestável. Não havia como ser diferente, mesmo que Joseph passasse os dias a me advertir para não pressioná-la.

Tentei compreendê-lo. Por todos os meus ancestrais, por meu amor por Anna, por toda a consideração que eu sabia que ela ainda tinha por ele, tentei enxergar por seu ponto de vista. Mas estava evidente que em nenhum momento ele havia se colocado no lugar dela, e isso me tirou qualquer empatia que eu pudesse vir a desenvolver.

Nesse exato momento, ele finalmente me levantou o olhar e eu recuei com o choque. Os pelos da minha nuca se arrepiaram. Meu instinto de autopreservação pulsou forte nas veias, fazendo o sangue apitar alto nos ouvidos.

Os olhos dele estavam vermelhos-carmim.

— Mas então Joseph morreu e, embora inicialmente eu tivesse culpado Anna por isso, comecei a enxergar as vantagens da distância. Concluí que um afastamento a faria entender que éramos o par ideal, que cedo ou tarde ela viria para mim na propriedade de mulher, não irmã. Era apenas uma questão de tempo. – Ele entrecerrou os olhos, o que me causou um calafrio. – Foi quando você surgiu na equação. 

— Por que está aqui? – murmurei, enfim.

— Porque eu preciso entender. Foge da minha natureza não entender alguma coisa. Racionalmente, sou perfeito para ela, e no entanto ela escolheu você. – Ele se aproximou com uma elegância calculada em cada passo, os olhos desdenhosos me estudando de cima a baixo. – Um garoto, é evidente, não um homem. Não pode oferecer nada a ela. Analisei-o o suficiente nos últimos dois dias para perceber que vocês dois não têm nada em comum. – Então retorceu a boca, a expressão contrariada. – Reconheço que possui atributos físicos para atrair suas iguais, tanto humanas ou... – correu o olhar enojado por toda a matilha – o que quer que vocês sejam... Entretanto Anna nunca foi do tipo que se deixou encantar por aparências.

Amaldiçoei-o por dentro. Até onde eu sabia, ele não era um telepata, mas comprimiu com um único fôlego todas as minhas inseguranças com relação a Anna. Eu não era idiota para fingir que podia preencher as lacunas de um século de diferença, muito menos que poderia oferecer algo a alguém que tinha tudo e que nascera em berço dourado. Mas Anna me escolheu do mesmo jeito, conhecendo minhas qualidades e defeitos, e para mim isso era tudo o que importava.

— Talvez você não a conheça tão bem quanto imagina – provocou Quil, antes que eu o fizesse.

No ato, ele se voltou tão rápido para Quil que seu rosto virou um borrão. Uma pressão magnética se expandiu por toda a clareira – de repente não consegui mover um músculo que fosse e, pelo nervosismo que vislumbrei nos olhos da matilha, constatei que eles também não. Já o vampiro, por sua vez, caminhou lentamente até Quil, o corpo assustadoramente relaxado.

— Quem foi que lhe deu permissão para falar, criatura repulsiva? Vocês não passam de aberrações quadrúpedes. Bestas insignificantes que não fazem ideia de sua mediocridade. – Devagar, ele levou os dedos para junto do peito de Quil, precisamente no lugar onde o coração pulsava, e começou a enterrar os dedos na carne. Quil tentou se debater enquanto o sangue escorria e o predador sorriu, exibindo os dentes. – Tem alguma noção de o quanto vocês são fracos? Eu poderia matar todos agora, e sem derramar uma só gota de sangue no meu paletó.  

Em pânico, tentei me transformar, mas para o meu horror a pressão gravitacional estava me prendendo na forma humana e, pelo brilho de satisfação no olhar do maldito sanguessuga, ele sabia disso. Sem alternativas, procurei qualquer coisa que pudesse desviar a atenção dele de volta para mim – jamais me perdoaria se meus irmãos se ferissem por minha causa.

— É isso que fere o seu ego inflado? – ofeguei a primeira coisa que me veio à cabeça. – Que Anna tenha escolhido alguém que você julga inferior?

— Não faz sentido algum – rebateu e eu soube que havia tocado na ferida. Ele se virou, afastando-se de Quil à medida que tirava um lenço do paletó para limpar o sangue da mão. – Você fede a carpete molhado. Meu Deus, nem sei como ela consegue abraçá-lo sem vomitar.

— Pois eu lhe garanto que a última coisa que ela demonstra quando estamos juntos é ânsia de vômito – devolvi antes que pudesse segurar a língua.

Um silêncio mortal tomou conta da campina, ainda mais carregado que o campo magnético. O vampiro travou no lugar e prendeu a respiração, a boca aberta com o sobressalto. Quando falou, sua voz delatou o perigo iminente, feito os bipes finais de uma bomba próxima da explosão.

Você ousou tocá-la? – E cada sílaba distinta soou como um bipe.

Os olhares da matilha pesaram sobre mim, me alertando, me implorando para ficar de bico fechado. Eu os conhecia tão bem que quase podia escutá-los dizendo as palavras exatas. Cale a boca, Seth, cale a boca, pediam. Mas naquele instante eu estava surdo. O canalha feriu o meu orgulho e me vi na necessidade insaciável e instintiva de ferir o dele.

— Nunca fiz nada que ela não quisesse.

O som do primeiro osso se quebrando foi uma surpresa que eu não esperava. Encarei minha tíbia esquerda, vendo-a retorcida de modo incomum e somente pensei em gritar quando o som da segunda ecoou alto em meus ouvidos, junto com o retumbar da pulsação acelerada. Minhas pernas cederam e eu mal havia caído sobre a grama da campina quando houve outro estalo, dessa vez nos meus dois braços.

— Seth! – Jacob gritou, tremendo no esforço de lutar contra a gravidade.

Mordi o lábio para não gritar de dor conforme os estalos seguiram para as costelas. Minha vista embaçou em doentios tons de verde e vermelho ao que os sentidos iam sucumbindo à tortura e eu fechei os olhos, prendendo as lágrimas com a mesma teimosia com a qual me obrigava a me manter desperto – me recusava a dar àquele verme o gostinho de me ver chorar, ou desmaiar na frente dele.

Assim que deduzi que a agonia não poderia ficar pior do que já estava, abri os olhos. Focalizei seus sapatos um segundo antes que a gravidade me virasse brutalmente para cima, forçando-me a fitá-lo de baixo. Dessa vez não consegui reprimir um grito, porque o modo como ele me prensou contra o solo fez com que a dor atravessasse meu corpo em espasmos afiados. Tranquei o maxilar, os dentes rangendo quase a ponto de virarem pó, e o vampiro se inclinou sobre mim, o punho erguido trepidando. Tinha certeza de que nenhum recém-criado chegara perto de ter a cólera animalesca que nublava seus olhos carmesim. 

— Você vai se arrepender. Juro que vai se arrepender de tê-la maculado, seu... – E parou, os olhos se arregalando. Os ombros se agitaram levemente, mas ele não conseguiu se soltar.

Minha audição apurada detectou uma tremulação intensa no ar, e ao tombar a cabeça vi que ela rodeava um vulto de jeans escuro e camiseta branca. Jamais poderia descrever o alívio que senti.

Anna planava acima da cabeça de meus irmãos, de braços retesados e mãos em garras. A fúria em sua expressão era desmedida – era como trouxesse mil demônios dentro de si.

Com um brusco movimento circular da mão, ela atirou o louro do outro lado da clareira. A pressão magnética ao nosso redor se desfez no instante em que ela pousou os pés na terra – a matilha tombou de joelhos, a respiração arfante. Houve apenas um único lampejo de hesitação nos olhos cor de esmeralda – uma faísca de aflição por me ver destroçado –, antes que ela se interpusesse entre nós.

— Tirem-no daqui – rosnou entredentes. – Agora. E quanto a você— encarou o oponente –, vou ensiná-lo a ficar longe do meu namorado.

Anna fez um violento gesto de empurrar e um rastro de terra se abriu na proporção que o ataque se aproximava do vampiro. Ele se desviou um segundo antes que ela atacasse de novo, e quando preparou uma investida, ela girou o corpo para aparar o golpe – uma poderosa onda telecinética arrebentou pela campina com o impacto, derrubando as árvores mais próximas. Meus irmãos resistiram para permanecer de pé enquanto me cercavam, claramente buscando uma forma de me escoltar para fora dali sem agravar minhas fraturas.

— Venha, Seth – Jacob sussurrou, me levantando pelo flanco direito ao mesmo tempo em que Embry o fazia pelo lado esquerdo.

Ignorei a pontada de dor nas costelas com uma careta.

— Não – teimei, mesmo que não pudesse impedi-los. – Não saio daqui sem a Anna.

— Ela está dominando a situação muito bem sozinha – Jacob objetou, indicando para Embry com o queixo a direção que deviam andar. – Você não tem com o que se preocupar. – Ligeiramente, ele fitou sobre o ombro, onde Anna acabara de cortar mais uma investida dele antes de arremessá-lo contra o solo. A terra sacudiu antes de cuspir milhares de fragmentos de metais e minerais e de repente estávamos diante de um fuzilamento, do qual o vampiro mal conseguia bloquear com um escudo. – Na verdade, quem devia se preocupar é ele.

— Não vou deixá-la aqui. Não posso... – Engoli em seco, esperando que minha angústia os fizesse compreender. – Não posso ficar sem ela novamente.

Embry e Jacob se entreolharam. No último encontro, Anna sumiu durante uma semana, e eles sentiram na pele o tomento que a ausência dela me causou. Quil tocou meu ombro bom.

— Vamos atrapalhar se ficarmos. Podemos ser pegos no fogo-cruzado. – E como se essa ideia também tivesse ocorrido à Anna, ela deixou escapar um golpe certeiro porque, pelo ângulo, poderia acabar nos atingindo. – Além do mais, Anna não vai se concentrar em vencer se estiver mais focada em proteger você.

Senti um aperto no peito, pior que todos os meus ferimentos. Droga, aquilo era verdade. Vez ou outra os olhos dela crispavam para nós e não ia demorar para o canalha usar sua desatenção como benefício para feri-la. Ela fez que sim, concordando comigo, e a briga se tornou mais estreita – os ataques agora em feitos por socos e chutes que nunca tocavam o adversário, a gravidade reverberando na atmosfera entre eles.

Permiti ser levado quando constatei que ele possuía uma vantagem muito forte sobre Anna: a velocidade. De atacante, ela assumiu uma postura defensiva ao passo que ele avançava e quando ficou explícito que não conseguiria sustentar a contraguarda por muito mais tempo, ela o empurrou para trás para enfim levitar no ar. Seus braços desceram em um movimento ríspido para espremê-lo contra a terra no segundo que uma dúzia de espetos transparentes o perfuraram, torcendo-se sobre ele feito correntes ao incapacitá-lo.

Anna aterrissou com um joelho na clareira, arquejante, mas inflexível como mármore. Endireitou-se e caminhou até ele com pisadas duras do coturno, a rigidez dos punhos contraídos em concordância com a compressão das correntes translúcidas. Seus olhos, mesmo à distância, eram flamejantes de ira.

— Seu desgraçado. Como se atreve a me desafiar? – Ela girou o pulso ao puxar mais uma corrente, agora no pescoço, antes de se curvar na intenção de afrontá-lo. – Vou destruí-lo em... – Então paralisou, os braços afrouxando para em seguida penderem soltos nos lados do corpo. – Seus olhos... Estão vermelhos.

Aconteceu mais depressa do que eu podia sequer imaginar. Com um rosnado bestial, o vampiro rompeu com as correntes em uma explosão potente o bastante para abrir uma cratera imensa aos seus pés e atirar todos nós para longe. Meus irmãos se chocaram contra os troncos ao que eu rolei pela lama úmida sob os carvalhos – sem dúvida quebrando mais algum osso – e cuspi sangue, erguendo os olhos a tempo de vê-lo assomar sobre Anna, rendida debaixo dele.

— Não! – gritei, tentando me arrastar e desabando sobre o braço quebrado.

Ele se debruçou sobre ela, cambaleando por um momento para depois apertá-la pelo pescoço. O engasgo doloroso que saiu dela foi procedido por suas mãos, que se fincaram nos pulsos do monstro na tentativa obstinada de se soltar.

— Não tente usar o olhar da dor em mim, Anna! – E bateu com sua cabeça na terra, coagindo a névoa branca que os envolveu a se dissipar. – Não vai funcionar, porque nada... – sua mão cruzou o ar antes de uma forte bofetada – ... absolutamente nada do que você me fizer agora pode ferir mais do que já feriu!

— Você traiu Joseph! – Anna soluçou à medida que as lágrimas desciam as têmporas. – Você manchou a memória de nosso pai!

— Você negou todo o amor que eu lhe ofereci para ir para cama com esse híbrido imundo! – O maldito tirou uma das estacas do corpo e enterrou violentamente na barriga dela. Anna soltou um grito lancinante ao que meu estômago se revirou com o som. Por Deus, eu daria a vida para nunca mais ouvir algo assim. – Você me rebaixou, me reduziu ao pior dos homens! Olhe, olhe bem nos meus olhos! – Ele a segurou pela raiz dos cabelos, fazendo-a erguer o queixo. – Vou fazer da sua vida um verdadeiro inferno. Vou matar e obrigá-la a assistir as vidas que tirei. Por fim, quando eu tiver certeza de que você não fechará os olhos a noite sem visualizar um corpo exangue nas pálpebras, matarei também o seu protegido fedorento e apenas então permitirei que você me mate, pois assim passará a eternidade sozinha se remoendo em culpa até enlouquecer. Guarde minhas palavras, Anna Masen, e veja-o bem como está agora. Isso não é nada, nem de perto, se comparado ao que os aguarda.


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Notas finais do capítulo

Postei e caí fora, já vi que vem protesto!



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