Estrela da Tarde escrita por Ametista


Capítulo 19
Despedida


Notas iniciais do capítulo

Oii, meus amoreeees! o/ (Bate aí)
Já cheguei com título polêmico que é para fazer vocês acordarem no susto.
É isso aí, despeçam-se da Anna, por ora, que agora o que começa são os pontos de vista do Seth, ENTÃO SE PREPAREM, QUE AÍ VEEM!
Pessoal, me falem, vocês estão gostando da fic?
Gentem, eu não leio pensamentos, então me ajudem!
Enjoy!



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A saia do meu vestido se abria no ar enquanto ele me girava pelo salão de fortes luzes douradas. D­e fato, aquele não era o meu modelo favorito, porém era bem típico da época; a renda branca do corpete se alongava por todo o comprimento de meu pescoço e braços, contrastando com o marrom-rosado da parte de baixo, que era da mesma cor do laço de seda dos meus cabelos. Em nada destoava das demais damas conduzidas por garbosos cavalheiros de smoking ao redor, apesar de ter o seu encanto particular.

Sorri para os olhos negros de Seth, que estava simplesmente arrasador em seu smoking.

Espere... Isso estava certo?

Bastou eu questionar que tudo mudou. Seth me largou e eu caí para trás, mas de repente estava em pé novamente, agora na praia de La Push, diante da ilha James. Meu All Star afundava na areia e eu não usava nada além de um short xadrez vermelho e camiseta do Led Zeppelin. Minha mão estava entrelaçada a de alguém, e eu me sobressaltei ao me deparar com Hans, me fitando com os olhos azuis ansiosos e vestindo um moletom escuro e bermuda jeans.

Não. Isso estava completamente errado.

Essa descoberta me trouxe o caos. O ambiente à minha volta se desfez e me revelou uma sala repleta de espelhos. Fechada no centro deles, percebi horrorizada que cada reflexo trazia uma aparência que já tive um dia, o retrato de uma era. Ainda humana, usando meus trajes de ballet. Com o vestido de noiva que nunca saiu do costureiro. Já vampira, com os grossos casacos de peles da Rússia. O glamour da rica vida que segui com os anos junto à Joseph e David. E a imagem atual distorcida, tentando encontrar sua identidade.

Quem sou eu?, exigiram todas com os braços estendidos, mendigando por uma resposta e sem demora ficando furiosas com o meu silêncio. As unhas compridas então cavaram a superfície do espelho em direção à mim, buscando na minha carne a resolução de suas dúvidas.

 

Levantei-me de supetão, meus cabelos seguindo o movimento repentino. Não havia respiração acelerada, tremedeira ou lágrimas. Esperei pelos sentimentos familiares que sucediam meus pesadelos, como o medo ou a dor, no entanto não havia nada além de confusão – tanto pelo sonho ruim quando o panorama geral defronte aos meus olhos. Jasper se situava feito uma colunata aos pés de minha cama, a expressão alarmada fazendo jus aos músculos tesos, e os demais – Alice, Rosalie, Emmett, Esme e até Carlisle – se amontoavam sob o batente da porta, espiando na defensiva.

Não demorei a compreender o que os assustou. Os livros e os CDs da minha estante estavam todos pairando pelo quarto, junto com o violão e a guitarra e até o pufe, e toda a extensão da parede de vidro estava irregular – haviam se formado pequenas protuberâncias, como se o vidro estivesse derretendo na direção da cama. A sílica estava reagindo ao meu comando.

— Perdão por invadir sua privacidade, Anna – Jasper se desculpou, afastando-se devagar da cama, arrastando com ele a sensação de paz que me aninhava feito uma manta. De súbito me senti acuada e alerta, precisamente como no sonho. – Consegui sentir seu pânico lá de baixo e não sabia o que fazer para despertá-la.

Toquei a cabeça, me encolhendo de vergonha. Eu sabia o que estava errado.

— Eu é que peço perdão. – Belisquei a beirada do cobertor, puxando-o sobre as pernas. Depois fiz um gesto com os dedos, levando cada objeto ao seu devido compartimento. – Se eu tivesse bebido, nada disso teria acontecido.

Rosalie e Emmett se entreolharam, confusos. Alice ergueu a sobrancelha para Jasper.

— Você não bebeu? – interpelou Carlisle, o tom piedoso.

— Pensei... – Desviei os olhos e engoli em seco. – Pensei que, com tudo o que tenho, já não precisaria mais recorrer ao álcool.

Alguém suspirou, mas não vi quem. A ideia geral do que eu sugestionei ficou evidente; por que eu sentiria necessidade me esconder atrás de uma garrafa se agora eu tinha o amor do meu namorado e o carinho da minha família para afugentar os pesadelos? Aparentemente, não era assim que as coisas funcionavam.

— Oh, querida, você não precisa. – Esme correu para o meu lado, me amparando nos braços ao se sentar e eu fechei os olhos por um instante. – Podemos achar formas alternativas de não acontecer mais, não podemos? – Ela voltou o olhar ligeiramente escuro para o marido. – Carlisle?

Carlisle assentiu.

— Não é necessário que se preocupem, mãe. – Afaguei seu rosto, me esforçando para sorrir. Não queria ser um estorvo maior do que já era. – Vocês já fazem demais por mim, mais do que mereço. Posso dominar esses... espasmos por conta própria.

Evitando dar oportunidades para que o assunto se delongasse, me levantei da cama e andei rumo ao closet. Vesti rapidamente jeans surrado, botas de caminhadas e um casaco por cima do suéter de gola alta. Retornei para o quarto ajeitando uma touca cinza na cabeça e reparei que eles não haviam se movido um centímetro que fosse.  

— Aonde vai? – Alice interrogou, certamente a pedido de Edward. Meu irmão não me permitia mais sair de casa sem ter a menor noção de onde me localizar.

— Caminhar... – Uma garrafa de Jose Cuervo levitou de baixo da cama até a minha mão. – Espairecer.

A parede de vidro do quarto, antes somente irregular, se abriu até restar em seu centro um buraco de quase dois metros de diâmetro – as mínimas esferas de vidro, retiradas da abertura, giravam em torno da borda apenas no aguardo de uma ordem para voltar ao normal. O vento gélido soprou meus cabelos para trás e pequenos flocos de neve pousaram languidamente no tapete negro.

Ninguém demonstrou qualquer emoção. Fiquei satisfeita por vê-los se acostumar com as minhas peculiaridades.

— Vai voltar para o café da manhã, querida? – Esme questionou, a voz mal não passando de um murmúrio.

A pergunta em si era inócua, no entanto todos podiam entreouvir a intenção real ardendo em seu interior. Era o meio de Esme descobrir que eu não estava de partida.

— Não vou deixar minhas panquecas esfriarem. – Sorri torto e me curvei para dar um beijo na testa dela. – Prometo.

Saltei pela abertura antes que ela se vedasse, voltando ao formato original de um liso e ordinário vidro, e acenei timidamente para enfim me aventurar pela tormenta que tingia a noite e a floresta de branco. Planei acima do rio Sol Duc, completamente congelado naquela área, e segui para o alto da cadeia de montanhas Olympic, onde as nuvens se condensavam mais e apresentavam coloração azulada. Devia ser a última tempestade de neve da temporada – faltavam poucas semanas para a chegada da primavera –, mas essa viera castigando a paisagem com toda a força que as anteriores pouparam. Os galhos nus batiam uns contra os outros e o vento uivava nas copas, quase apitando.

Os flocos de neve se distanciavam da minha passagem e quando alcancei o topo da montanha, a gravidade se fechou em uma cúpula comigo em seu eixo – em regra, meus campos gravitacionais não ficavam visíveis, mas desta vez era algo concreto, praticamente palpável ao impor barreira contra a neve. Abri a tequila e bebi um vagaroso gole, observando o céu furioso. Com um simples contorcer de dedos, a extensão do campo se expandiu e ficou duas vezes maior. Era algo óbvio, entretanto que era algo que eu só percebi ali – meus poderes estavam se fortalecendo mais rápido do que eu conseguia acompanhar. E restringir.

Meu descontrole com um sonho tão bobo fez sentido então – não era o pesadelo que fora demasiado intenso, e sim meus dons, que estavam imoderadamente sensíveis. Por Deus, mesmo longe da influência de Jasper, eu não sentia receio ou pavor que deveria sentir se estivesse realmente abalada. Só o que me tomava naquele momento era uma atípica confusão – não com meus sentimentos ou com minha personalidade, como o sonho parecia sugerir, mas com a existência do sonho em si.

Decidi não ficar refletindo sobre isso – parecia perda de tempo. Movi a mão livre para o alto, atirando a gravidade feito a um míssil, repentinamente curiosa para ver até onde conseguiria chegar. Arfei em choque quando uma cratera começou a se alargar entre as nuvens, ampliando-se em espiral e estava ruminando a ideia de puxar um cone para baixo, para simular um furacão, quando passos silenciosos se moveram na neve perto de onde eu me encontrava.

— E eu imaginando que não havia criatura mais idiota do que eu para se embrenhar em um temporal assim – escutei seu resmungo antes mesmo de vê-la surgir atrás de um pedregulho. – O que diabos você faz aqui, Anna?

— Leah? – Abaixei a mão e as nuvens se espalharam, a tempestade abrandando aos poucos a partir daquele ponto. – Eu é que pergunto, o que faz tão longe de La Push? E... – Desci os olhos por sua figura, desde o casaco acolchoado azul-marinho até as botas de couro. – ... em forma humana?

— Não consigo mais ficar em casa. – Ela puxou o gorro vermelho sobre a testa. – Os suspiros de Seth não me deixam dormir.

Já íntima do seu estilo cortante de fazer piadas, deduzi que ela esperava me fazer revirar os olhos ou ficar corada. Em vez disso, a menção de Seth apenas me trouxe às claras novamente aquele sonho estúpido. Virei o gargalo de tequila na boca, agora por um período maior que o anterior.

— Bebendo à essa hora? – interrogou, acomodando-se na pedra livre à minha esquerda.

— Deus abençoe o álcool. – Fiz um movimento com a garrafa que equivalia a um brinde. – Santo remédio dos ferrados.

— Vai me explicar o que aconteceu?

Bati com um pé contra o solo e um quartzo bruto do tamanho de uma melancia saltou da terra bem do lado dela. Assim como os Cullen, Leah não indicou reação, somente parecia interessada no que quer que fosse que estivesse me tirando o sono.

— Pesadelos. O velho conto de sempre. – Apertei os olhos para ela conforme me sentava, percebendo o curso que seus pensamentos estavam tomando. – Não, não vou mostrá-los a você.

— E por quê?

Bebi outro gole, focando no horizonte. Já devia estar próximo de amanhecer, o que explicava o que Leah fazia longe da reserva – ela se habituara a caminhar pela manhã. O motivo de ela vir parar em território Cullen, isso é um mistério.

— Porque você vai achar que estou com dúvidas, quando na verdade não estou.

— Se não está, porque tem medo de mostrá-los a mim? – desafiou, presunçosa.

Contraí os lábios, derrotada. Não dava para escapar de Leah – ela conhecia bem demais meus pontos fracos. Estudando seu rosto com a perícia de um detetive, transmiti meu sonho para seus pensamentos – e na proporção em que o fazia, não houve nada além de olhos vidrados e da pele arrepiada. Quando acabou, porém, ela me ergueu a sobrancelha.

— Tem certeza de que não tem dúvidas?

Bufei, cética. Entre os destroços que restaram da minha briga com David, essa era uma das minhas poucas certezas que ficaram intactas.

— Nem um pingo que seja. Estou convicta de quem sou. Amei muito Hans e amo Seth mil vezes mais. Hans era ideal para a garota que eu era em 1918. Tantos sonhos de conquista, ambições e fantasias se pintavam na minha cabeça, só que era uma época difícil para ser mulher, e certamente eu teria sido tragada pela selvageria do mundo se não tivesse Hans para me proteger. – Parei, buscando em meu interior as palavras exatas para descrever o que sentia. – Eu não preciso ser protegida agora. Vi e vivi o que havia de pior, e agora é o mundo que precisa se proteger de mim. E o que preciso é de alguém que me contenha e saiba me confortar quando as coisas ficarem ruins. A metade que traga a luz do dia para o escuro da noite. E Seth é tudo isso. O alguém perfeito para o que me tornei e para quem escolhi ser.

Leah ficou quieta, escutando na minha voz a veracidade, a confiança que o imprinting oferecia não somente para Seth, mas para mim em igual medida. No final das contas, ela deu de ombros e tomou a garrafa da minha mão, tragando um pouco da tequila em um folego só – não que Leah fosse proficiente com o álcool, como pude perceber pelas tosses que se seguiram. Ri em zombaria e precisei desviar de um de seus socos como resultado.

— Sabe, você ainda vai achar a sua metade também – murmurei quando acabamos com a brincadeira.

A expressão com que me fitou era reflexo de sua mente – ela ponderava se valia a pena responder.

— Eu sou um beco sem saída, Anna – rebateu após quase um minuto. – Como pode ter tanta fé nisso?

— Porque eu encontrei a minha. E você é muito mais forte do que eu jamais seria.

Leah não respondeu. Ela não se sentia forte. Muito pelo inverso – a cada dia em que assistia a vida de Emily e Sam prosseguir e, em contrapartida, via a sua se arrastar um dia após o outro, ela se sentia mais miserável. Ela ainda o amava. Com desespero, com devoção. E se sentia incapaz se afastar e ainda menos de se livrar desse sentimento venenoso.  

Suspirei, sentindo as raízes de sua dor muda se agarrando a mim como ervas daninhas.

— Talvez... Talvez esteja na hora de procurar alguém perfeito para o que você é agora— sugeri e ela me olhou em espanto. – Longe de La Push. Não me leve a mal, mas não sobrou muitos caminhos para você aqui. Daqui a pouco, vamos ter que casá-la com Embry.

Ela bufou uma risada, mas corou:

— Vá se ferrar, Anna.

— Eu amo você também, Leah.

Um sorriso pacífico – como a muito eu não via – adornou suas feições. Ela mirou seu olhar na floresta, primeiramente com desconfiança, mas então aos poucos se permitiu ver a beleza ao redor; os contornos das árvores nos últimos vestígios da madrugada, as pedras salpicadas de neve que mais pareciam algodão, o brilho sutil das estrelas que restavam no pedaço de céu aberto acima de nós. Quando falou, sua voz veio carregada de uma amabilidade desconhecida, mas que no fundo eu sempre soube que se ocultava dentro dela.

— Obrigada. Por ser minha amiga e por fazê-lo feliz. Essa porcaria de vida parece valer a pena quando vejo nos olhos dele aquele brilho.

Abri um sorriso largo e pateta, dispensando as palavras – sabia que provavelmente diria algo piegas. Já me bastava saber que estava fazendo uma coisa boa com minha existência catastrófica.

Até que ela completou:

— Apesar de eu achar que seu gosto decaiu nos últimos cem anos.

Franzi a testa, confusa.

— O que quer dizer?

— Que você fez um péssimo negócio em trocar esse deus louro e bonitão pelo bebezinho do Seth! – Ela jogou os braços para o alto, demonstrando inconformismo. – Com todo o respeito, mas só de olhar para as mãos desse gostoso já dá para saber que ele era bom de cama.

 Fugi com os olhos, entornando a garrafa para disfarçar o quão depressa meu sangue subiu para as bochechas.

— É, eu acho que sim – murmurei, por fim.

Por alguma razão, o queixo dela caiu no ato. Leah ficou de pé bem devagar, me encarando com tanto horror que era como se eu tivesse acabado de vomitar larvas.

— Não... – sussurrou, estudando meu rosto com uma suspeita descarada. – Não acredito! Sério? – E começou a gargalhar, o tipo de gargalhada que ecoava por toda a montanha e a fazia curvar o corpo para trás.

Encarei-a como se fosse louca. Nem precisei me manifestar; ela viu isso em minha expressão.

— Você era noiva! – Ela limpou uma lágrima no canto do olho, abraçando a barriga. – Como ainda pode estar com a embalagem de fábrica intacta?!

— Leah! – protestei, me levantando em um átimo e derrubando a garrafa que, por sorte, não quebrou. O rubor nas minhas maçãs do rosto se intensificou e alcançou a raiz do cabelo, provavelmente me deixando mais parecida com um rabanete.

— Como é que vai poder ensinar qualquer coisa ao meu irmão sendo virgem? – E riu a ponto de bater na perna.

— Shiiiu! Cale a boca, cale a boca! – implorei ao me adiantar para ela e lhe tapar os lábios com a mão, olhando para os lados com um receio tolo e involuntário de ser descoberta. Nem me dei ao trabalho de negar ou mentir, já estava claro que havia me denunciado.

— Não, de jeito nenhum! – Ela se livrou de mim facilmente, prendendo as mãos firmes em meus pulsos feito algemas. – Quero é uma boa explicação!

Fuzilei-a com o olhar duro, rosnando baixo. Ela não se intimidou. Merda.

— Se eu explicar, você promete nunca, nunca mais tirar esse assunto das cinzas e nem compartilhar qualquer detalhe desse segredo com a matilha? – propus, concisa.

Os olhos negros se estreitaram, acusatórios:

— Você sabe que não consigo controlar.

Desprendi-me de Leah e me acomodei outra vez no quartzo, passando os braços em torno das pernas. Eu detestava tocar nesse tipo de assunto; além de me deixar com a sensação de estar sendo exposta, fazia com que eu sentisse muito mais velha do que era, o que não passava de um disparate sem tamanho. Talvez fosse minha eterna natureza, petrificada pela imortalidade – uma garota de dezesseis anos com medo da vida adulta.

— Bom, como você mesma disse, eu era noiva e não casada— comecei, desconfortável. – Hoje pode não ter muita distinção entre essas duas palavras, no entanto no começo do século passado era algo nítido.

Leah cruzou os braços, incrédula.

— Um papel? – desdenhou. – Um simples papel declarando um casamento deteria você, Anna? Tente de novo.

Uma fúria repentina me consumiu – a neve retumbou das pedras e paralisou no ar.

— Tudo bem, pode não ter me detido, mas deteve a Hans – rosnei. – Ele sabia que se eu não provasse ser tão imaculada quanto a neve fresca na noite de núpcias, a família Van der Haar, sobretudo a tia ranzinza dele, me jogaria na rua.

— O quê?! – exclamou, chocada.

A bem da verdade, eu também não compreendia as tradições, até uma noite às escondidas no escuro do meu quarto em que Hans e eu nos empolgamos e ele teve que me impedir, embora muito relutantemente, de desabotoar sua camisa. Naquela noite, Hans escalara os arranjos de flores até a minha janela no intuito de me entregar uma caixinha de música que encomendara com o joalheiro, toda ornamentada em bronze e madrepérola. Quando o beijo de agradecimento se prolongou e acabamos um sobre o outro, arquejantes, ele se afastou com os olhos faiscando e me contou que a tia beata dele estava ávida por uma chance para me descartar.

— É uma coisa um tanto arcaica, eu concordo. Parece de séculos atrás, mas não é tão antigo assim. A castidade da noiva era uma questão de honra, não apenas para um homem, mas para o bom nome de toda uma família. O lençol nupcial costumava ser avaliado depois da primeira noite do casal para... bem, você sabe. Comprovar que a esposa se resguardara e que não pertencera a outro. Se não houvesse essa evidência, na maioria das vezes a moça era devolvida à família em desgraça e jogada na rua logo em seguida, ou jogada diretamente na rua. – Retorci os dedos, recordando o que vira acontecer com a filha mais velha dos Kent, meus vizinhos em Chicago. – Quase sempre acabavam como pedintes ou como prostitutas.

Leah estremeceu ao imaginar o contexto, o rosto de súbito lívido.

— Isso... É horrível.

Fiz que sim, aquiescendo. Elizabeth, por certo, apenas se preocupou em me colocar por dentro dos princípios porque se algo desse errado, eu não era a única a ir para a lama – o sobrenome Masen ia junto.

— Hans morria de medo que ocorresse o mesmo comigo. A família o deserdaria se ele tentasse me defender caso eu não provasse ser pura após o casamento. E foi por essa razão que sempre tomamos cuidado em nunca passar dos beijos.

Isso a recuperou de forma quase abrupta. Leah retorceu nos lábios um sorriso afiado e colocou as mãos na cintura.

— Sempre? – averiguou, o sarcasmo despontando acima do ceticismo.

Quase sempre. – Enrubesci violentamente em resposta a uma memória reacendida; o som da caixinha de música servindo de plano de fundo enquanto rolávamos pelos lençóis. – Mas não vou dividir isso com você. É pessoal.

Ela se sentou sobre a pedra de novo, estupefata e perturbada demais para fazer outra coisa senão olhar boquiaberta para o horizonte e agitar negativamente a cabeça.

— Uau. Você se preservou por conta de uma sociedade hipócrita e nem pode aproveitar. – Tenho que atribuir algum mérito a ela, que lutou para se manter séria. – Seria cômico, se não fosse trágico.

— Eu preferiria não ter essa conversa, se não se importa – grunhi, rolando o corpo para repousar sobre a neve, as mãos descansando atrás da cabeça. Prendi-me no céu acima, que clareava discretamente ante aos primeiros raios de Sol da manhã, esperando que meu silêncio sepultasse com aquele diálogo desagradável. Infelizmente, não foi esse o caso.

— Sabe que vai ter que contar a Seth em algum momento, não é? – Leah fez questão de ironizar, minutos mais tarde.

Fiz uma careta.

— Francamente, eu esperava não ter que pensar nisso tão cedo.

— Está brincando? Do jeito que vocês estão animadinhos? – Um riso pareceu se engasgar em sua garganta. – Não dou dois meses até que você se sinta obrigada a falar a verdade e três até que essa situação tenha sido resolvida.

Atirei uma bola de neve com precisão na sua cara.

— Você é nojenta.

— Não consigo acreditar que Embry estava certo – ruminou, vidrada em suas divagações conforme batia a neve das roupas. – Você nunca viu um homem sem roupas. É mesmo uma pena. Seu noivo deveria ter uma bunda maravilhosa...

— Leah – adverti.

— Já entendi. – E espalmou as mãos acima dos ombros, como quem se rende.

E, de certo modo, Leah acabou se rendendo de fato – eu até poderia ter entregado alguns segredos de bandeja para ela, mas não fui privada de um pagamento. Consegui a muito custo manobrar o assunto para longe da área de perigo e, apesar de eu já saber absolutamente tudo a respeito dela, foi bom escutá-la confessar que costumava ser fã de comédias românticas e amava os filmes de Hitchcock, que sua comida favorita era pipoca amanteigada e que na primeira vez que ficou bêbada, desmaiou nos braços de Sam. E que gostava do cheiro de lavanda e de flor de macieira. Sua cor preferida era lilás. Sempre quisera aprender a surfar. E que no ensino médio era tão empenhada em conhecer as civilizações antigas da América que se tornara fluente em espanhol.

Conversamos tanto que a tempestade já entregava sinais de ter amenizado quando nos despedimos e desci a montanha de volta para a mansão Cullen. Já era manhã alta, talvez umas oito horas, mas era difícil deduzir com as nuvens cinzentas que engaiolavam o céu. Voei direto para o meu quarto, e depois de um banho relaxante, desci para o café usando uma camisa preta e um short de alfaiataria, trazendo debaixo do braço minha pasta de partituras. Não houve uma sílaba proferida que fosse sobre o evento daquela madrugada enquanto eu bebericava meu suco, entretanto reparei que Edward já estava ali, me examinando com a expressão alarmada – fingi não notar e me resignei a estudar as partituras da nova composição que eu vinha trabalhando à medida que terminava de comer.

A ideia para a composição se insinuara para mim durante meu primeiro passeio com Seth na praia, no qual quase nos beijamos, mas foi somente naquela semana que eu resolvi desenvolvê-la melhor, criar uma história em torno e fechar as pontas soltas. No geral, faltava muito ainda para que ficasse satisfatória, e uma vez que a conversa com Leah e meu sonho estapafúrdio serviram para me dar bases suficientes, finalmente pude criar um enredo cativante – assim, ficou mais fácil guiar a direção em que a harmonia seguia. A melodia inspirada em Seth, exuberante e vívida, seria a parte final, o desfecho célebre. O restante... Bem, ficava por minha própria conta e risco.

Puxei a banqueta defronte ao piano enquanto arrumava as folhas da partitura no apoio. Meus dedos flutuaram sobre o marfim das teclas, desandando em algumas tentativas e se perdendo totalmente em outras – várias correções no decorrer do processo foram necessárias –, mas bastou eu me centralizar no objetivo para fazer as notas contarem a história que se tecia por detrás das pálpebras. Era uma composição encantadora e crescente – criava uma expectativa ansiosa em quem ouvia, tanto que reparei que uma plateia entusiasmada começou a me cercar. Edward parou na ponta do corrimão da escada, os olhos ocre abstraídos diante do esforço em decifrar os padrões musicais e Esme esperou que o som da última nota perdurasse no ar, solene feito uma despedida, para se afastar de Carlisle e sentar no espaço vago da banqueta. Os outros, ao que tudo indicava, tiraram o dia para ensinar futebol a Renesmee no campo Rainer.

— É adorável... e intensa. – O dedo pálido escorregou de Esme pela tampa de mogno. – É sobre o quê?

— No que consegue pensar? – Deixei os dedos fluírem na melodia desde o início, agora sem erros.

— Amor, doçura... – Os olhos se fecharam e ela sorriu. – E ao mesmo tempo melancolia. Como uma... esperança.

— Muito bom – aprovei, conduzindo o timbre para um tom mais lúdico e sonhador. – Essa é a história de uma garota que desenhou nas estrelas o amor verdadeiro. Toda noite, no inverno de sua vida, ela subia a montanha e se deitava sobre a neve no anseio de ver um pouco que fosse a imagem do amado. Com o passar do tempo, o sentimento se tornou tão forte, tão doloroso que a garota implorou aos céus que o trouxessem para ela. A Lua, eternamente enamorada do Sol, se apiedou e lhe mostrou, no reflexo de um riacho próximo, a imagem do garoto. – Baixei os olhos, percebendo que a música assumiu um caráter alegre, mas impaciente. – Ele a desenhava também. Só que, em vez de estrelas, seus dedos deslizam nas nuvens de um dia claro de verão e com a maestria de um mestre renascentista. Ele a queria com ainda mais ímpeto, com mais desejo. Ela entendeu o que a Lua quis dizer então. Apaixonados sim, mas... – A tristeza se rendera às notas e ainda assim era insuportavelmente doce ao drapejar pela sala. – Separados para sempre por mundos tão diferentes. A garota então decidiu não aceitar. De que lhe valia a vida sem o amor? Sem hesitar, atirou seu corpo contra a imagem no riacho, sentiu cada pedaço seu se dissolver e se fragmentar... – Do ressoar pesado e dramático das teclas, minha inspiração em Seth renasceu com a facilidade de um suspiro. – E quando abriu os olhos, estava nos braços do garoto. Ela havia virado chuva através das nuvens que ele moldava e levou um pouco do mundo dela ao mundo dele. E com um beijo na chuva a história se encerra.

Esme suspirou e bateu os cílios exatamente como as atrizes do cinema mudo faziam.

— Lindo.

Mordi o lábio inferior para prender um sorriso enquanto juntavas as partituras para dentro da pasta.

— Pretendo oferecer a Seth quando estiver pronta – expliquei.

— Não está?

— Não, falta muito para ficar perfeita. – Cocei a cabeça, pensativa. – Quero traçar um segundo tom em harpa e apesar da melodia central continuar em piano, pretendo usar o violino. – Revirei os olhos. – Claro que primeiro terei que lembrar de comprar outra harpa. A que eu tinha deixei em Bergen.

Edward riu e beijou meu cabelo.

— Perfeccionista, como sempre. Vai sair hoje? – Eu sabia que era uma questão de tempo até que o interrogatório desse o ar da graça; era o único motivo pelo qual ele permanecera ali.

— Boa pergunta. Pelo que dependesse de mim, não. Seth quer que eu vá com ele na festa na casa dos Uley, para comemorar a gravidez da Emily. – Contorci a expressão, sentindo um gosto azedo na boca. – Depois da reunião no Conselho, eu preferiria evitar esse embaraço.

Carlisle apertou os lábios, compreendendo meu ponto de vista. Não importava que não nos falássemos muito; sempre que a conversa surgia, corria de modo natural.  

— Por que não diz isso ao Seth? – aconselhou, gesticulando. – Tenho certeza de que ele será compreensivo.

Levantei-me, gemendo teatralmente.

— Eu sei que seria. É que esses encontros públicos são importantes para ele. Ele gosta que sejamos vistos juntos e de me apresentar como namorada para Deus e o mundo.

Carlisle riu:

— Coisa de homem, não se preocupe.

— Bem primitivo. Mas, bem, a última coisa que quero é negar a ele qualquer experiência. – Com isso Edward poderia se identificar melhor do que qualquer pessoa, tanto que o flagrei concordando com a cabeça. Foi quando meu telefone sobre o piano tocou, fazendo todo o instrumento tremer. – Falando nele... Alô? – Afastei-me deles, rumo à escada, para atender.

— Você vai vir? – Seth foi direto ao ponto, presumivelmente deduzindo que eu o engambelaria se deixasse a oportunidade surgir. Vozes ao fundo cantavam Mariah Carey da forma mais debochada o possível, então soube que ele já estava com os irmãos na casa de Emily, embora as vozes tenham ficado mais abafadas.

— Não sei se devo. Não acho que seria bem-vinda.

— Nada de drama, Anna. Ninguém aqui se atreveria a destratar minha namorada.

O orgulho dele ao dizer em alto e bom som era tão audível que chegava ser a constrangedor. Detive-me no alto do corrimão, reparando ao olhar sobre o ombro que Edward estava dobrando os lábios para não rir, levando uma repreensão silenciosa de Esme. Mostrei-lhe a língua.

— Exatamente, por respeito a você. Já os pensamentos, garanto que não serão o que chamamos de acolhedores.

— E desde quando você se deixa abalar por pensamentos hostis? Vamos, Anna, deixe de desculpas e venha, por favor. Por mim. – E eis o argumento que me faria ceder.

Praguejei baixinho, derrotada.

— Está bem, eu vou. – Parei sob o batente da minha porta e a primeira coisa que vi foi a garrafa vazia de Jose Cuervo sobre a cama, no exato lugar onde a deixei. E tão rápido, quase como se a ideia sempre tivesse existido, um plano lampejou na minha mente na mais pura iluminação divina. – Mas peça a Leah que também vá. Eu preciso falar com ela.

Seth hesitou. Claro que hesitaria.

— Não podemos começar com algo mais fácil? A paz entre as Coreias, por exemplo?

Bufei, ignorando o sarcasmo. No fundo, gritos foram seguidos da frase “Quil, tire isso da cabeça já!”

— Só diga a ela que me encontre na margem da floresta, do lado da casa da Emily. Use as palavras “embalagem de fábrica” caso ela se negue.

— O que significa?

— Nem queira saber – desconversei. – Estarei aí até às duas. – E tão logo desliguei o celular, me enfiei nos fundos do closet, onde mantinha a maleta que apelidei de Salva-Vidas. Torci os dedos para que dentro dela tivesse o bastante para o que estava arquitetando. E para a minha sorte, ou simplesmente por joguete do destino, estava tudo ali.

Quando estacionei meu Jaguar no terreno dos Uley, pontualmente como combinado, tinha tudo nos conformes do que articulei. Já havia feito as ligações necessárias e havia acabado de me esgueirar pela casa vazia dos Clearwater para reunir os detalhes finais. Dei uma sacudida na mochila onde tinha enfiado tudo, para ter certeza de que estava bem fechada, antes de descer do carro e ser cumprimentada pelo sorriso imenso de Seth, que aguardava para me recepcionar. Já eu, o saudei com as batidas aceleradas de meu coração.

Seth me seguiu com um brilho travesso nos olhos de ônix – um brilho que eu mal conhecia, mas já aprendera a amar –, ficando cada vez mais malicioso à medida que eu me aproximava dele e me calou com um beijo antes que eu tivesse a chance de reagir. Incapaz de ser indiferente, me derreti dos pés à cabeça em seus braços, vendo-me na obrigação de interromper no que senti seus lábios espertos e cálidos caçando caminho até a minha orelha. Fui obrigada a admitir que Leah tinha razão; estávamos namorando há apenas uma semana e já tínhamos dificuldades em enxergar limites.  

Apoiei a palma de minha mão sobre seu peito febril – uma técnica boa para mantê-lo à uma distância saudável:

— Ainda acho que é uma má ideia – arfei, apontando com o queixo para a casa de Emily.

Ele riu do meu tom pessimista e me beijou no alto da testa.

— Você está linda, meu anjo – elogiou, examinando meu casual vestido cor grafite e as botas acima do joelho antes de morder o lábio. Foi então que se deu conta do objeto pendendo do meu ombro. – Por que trouxe uma mochila?

— Conto mais tarde. Falou com sua irmã?

Os olhos de Seth viraram linhas estreitas:

— Ela vai assobiar quando estiver por perto – avisou, intrigado. – Ah, e me pediu para lhe responder com as palavras “dois ou três meses”. Pode me explicar que loucura é essa?

Apertei a ponte do nariz, consciente de que estava ficando escarlate.

— Leah, eu odeio você... – resmunguei entredentes, procurando minha rota de fuga para a tal festa.

O conceito que os quileutes tinham de festa era tão distante do que eu entendia por uma quanto Marte era afastado da Terra. Devido à falta de espaço no interior da choupana, foi aproveitado que não havia nada além de mínimos flocos de neve no quintal para colocarem bem no meio dele uma extensa mesa de madeira e, enfeitando todo o comprimento, uma infinidade de comidas caseiras de todos os tipos, desde doces a aperitivos. As roupas, a maioria casacos e jeans simples e em conjunto com o todo, a princípio fizeram com que eu me sentisse bem-vestida demais.

Por infelicidade minha, praticamente todo o pessoal que se fartava na mesa estivera presente na malfadada e terrível reunião do Conselho; as únicas diferenças eram que Jacob não viera porque foi com Renesmee para o jogo e que Sue havia trazido Charlie, como pude intuir pela viatura, no entanto nenhum dos dois estava à vista. Esperei que Seth tomasse a dianteira para me esconder atrás de seu ombro; a onda de pensamentos coletiva, como eu supunha, não era das mais amigáveis.  

— Oi, todo mundo. – Acenei de leve, um pouco sem jeito.

Quil ergueu a cabeça do prato e, para o meu assombro, estava usando uma calcinha de renda vermelha como a máscara de um luchador. Preferi não saber quem era a dona.   

— Ainda bem que chegou, Anna. Essa festa estava ficando um pouco parada sem você.

Ele abriu lugar para que sentássemos no seu flanco, mas Jared e Kim nos atropelaram para preencherem o espaço vago. Os músculos de Seth se contraíram.

— Desculpe. – Kim fez um bico, sem parecer lamentar nada. – Não sobrou lugar.

Seth estava a ponto de redarguir quando o calei levantando o indicador, imediatamente apertando a mão em punho rígido. A terra aos nossos pés tremeu. Os copos tilintaram. E quando todos começaram a se entreolhar, um trono de esmeralda bruta emergiu do solo, na ponta da mesa de madeira.

— Sem problemas. – Sentei-me com naturalidade. – Eu trouxe o meu.

 Embry e Quil gargalharam.

— Não falei? – uivou Quil.

Queria ter tido mais tempo para desfrutar da expressão murcha de Kim e tripudiar um pouco mais, todavia um assobio agudo e melódico me fez voltar os olhos na direção das árvores, assim como todos os lobisomens. Pedi em silêncio que Seth permanecesse com os irmãos ao passo que saltava para a floresta, armando na ponta da língua todo o leque de fundamentos que eu detinha.

Leah, de braços cruzados e usando as mesmas roupas que eu vi naquela manhã, estava escorada no tronco de uma árvore e bastou um olhar para que eu soubesse que não precisaria usar de pretexto nenhum.

Siga as instruções, pensei, entregando a mochila a ela.  

Sua reação automática foi analisar a mochila com descrença, em seguida ficando atônita ao compreender o que ela guardava. Um sorriso anavalhado cortou seu rosto, entretanto os olhos ficaram marejados de emoção, brilhantes como diamantes negros.

Está me mandando embora?, brincou. Tudo por que não quer que Seth saiba do seu segredinho?

Retribuí com um sorriso cruel. Posso pensar em meios mais criativos que isso, Leah.

Ela apertou os lábios, fazendo uma pausa silenciosa, meditativa. Devo me despedir?, indagou, finalmente.

Pesei com calma a possibilidade. Penso que não. Eles podem fazer você mudar de ideia. Mas a escolha é sua.

Inclinando-se, Leah me abraçou forte para transmitir gratidão, alívio, esperança e antes mesmo de partir, uma faceta de saudade.

— Cuide deles por mim – sussurrou na minha orelha, rápido e baixo para que somente eu escutasse.

— Vou sentir sua falta – devolvi. – Vá e não olhe para trás.

Na proporção em que eu voltava para Seth e Leah adentrava mais na floresta, minha mente foi a escoltando, lendo com ela a carta que havia na mochila, os últimos conselhos que compartilhei com a minha melhor amiga.

 

Preste atenção, Leah,

 

Primeiro, não surte. Você é a droga da minha cunhada agora, então pense que terá a eternidade inteira para me devolver. Segundo, estou cansada de vê-la sofrer e sei que encontrará seu destino longe daqui, apenas estou dando uma ajudinha.

Aqui encontrará:

Passagens de avião (tenho sempre algumas guardadas para imprevistos)

Sua documentação (sim, invadi sua casa e as peguei)

Dinheiro vivo e trocado nas moedas mais comuns (USE)

Telefone para emergências

Há um avião de pequeno porte lhe esperando em Port Angeles. Pegue um taxi até lá. Quando chegar em Seattle, pelo amor de Deus, tome um banho de loja e tire essa cara de caipira. Compre roupas, porque você está sem bagagem e não vou permitir que leve nada de La Push – não quero que se agarre a lembranças. Você terá em torno de dezoito horas para fazer isso antes do próximo voo, que a levará para sua primeira escala real: San Diego. Lá você encontrará Baco, um velho amigo meu, que lhe ajudará com a questão do passaporte e lhe dará um cartão de crédito no seu nome. NÃO SEJA TEIMOSA E ACEITE, você vai precisar. Ah, e não diga nada a ele. Baco já sabe o suficiente sobre essa vida. A partir deste ponto, você decide para onde vai (mas, como sugestão pessoal, deveria aprender a surfar aí).

Não quero saber se você tem o cacete do telefone, escreva. Escreva sempre, porque quero saber como se sente, e através das visões poderei ler suas cartas. Mas as quero todas quando você voltar, portanto trate de guardá-las bem.

Seja feliz.

 

Com saudade,

Anna.

 

PS: Cuide-se. Você está para descobrir que no mundo há coisas muito piores do que eu e você.


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Notas finais do capítulo

E então, foi ou não foi uma despedida à altura?
Mereço joinhas? Comentários? Recomendação? Sinais de fumaça? Machadadas?
(E relaxem, a Leah volta).



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