A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 19
|| Pelo Ralo


Notas iniciais do capítulo

OEEEEEEEEE PIPOU.
Não me matem. Eu disse que demoraria. Mas agora estou de férias e... Bem, vou continuar demorando porque preciso tirar duas fics do hiatus: Aventuras e Desventuras do Amor, que está muito atrasada. E À Prova de Fogo (simm, Finnick e Katniss yaaaaay).
Mas enfim... VOCÊS ASSISTIRAM A CULPA É DAS ESTRELAS? AI MEU DEUS, EU JÁ FUI TRÊS VEZES NO CINEMA E AQUELA BOSTA (Mentira, te amo, acede) CONTINUA ME FAZENDO CHORAR.
Apenas leiam o capítulo, ignorem a autora.



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Abri preguiçosamente meus olhos, obrigando minhas pupilas a se acostumarem com a luz do ambiente – que vinha da lâmpada no teto. Minha primeira visão foi Madge de toalha, com os cabelos pingando, me cutucando com a ponta do pé direito para me acordar. Resmunguei, querendo mais minutos do que eu tive para dormir, mas mesmo assim me levantei.

Minha segunda visão foi a janela coberta pela cortina rosa de Madge, exceto por uma brechinha, que me permitia ver que o tempo do lado de fora não era lá muito reconfortante. O outono estava pra chegar, e cada vez mais o clima esfriava; o Sol se escondia por detrás das nuvens pesadas e cinzas que pairavam no céu acima de nós.

Arrastei-me até o banheiro de Madge enquanto ela ia saltitando até seu closet, se trancando lá em seguida para procurar alguma roupa decente. Enquanto a água quente do seu chuveiro caía em meus ombros largos e sardentos, eu me permiti lembrar da mensagem do Mellark, e me questionar como agiríamos a partir de então.

Quando cheguei novamente ao quarto de Madge, ela finalmente havia escolhido o que vestir, mas ainda não tinha colocado as peças no corpo. Esperei pacientemente sentada na beirada de sua cama, enrolada na toalha, até o momento que ela saiu, vestindo uma minissaia acompanhada de uma blusa justa azul, que combinava perfeitamente com seu tom de pele. Na verdade, era difícil achar algo que não combinasse com a Madge.

– Escolhi roupas pra você – ela disse, sorrindo. – Mas nem se preocupe, não irei mudar você. São do seu estilo.

– Madge, seu corpo é de modelo...

– Já conversamos sobre isso, Katniss! Nós vestimos o mesmo número – ela retrucou entrando no seu closet.

Ela saiu de lá segurando um jeans e uma blusa vermelha. As roupas eram o tipo de roupa que eu usaria, mas o x da questão estava nos acessórios: um cinto e uma jaqueta jeans, no mesmo tom da calça, e uma sapatilha vermelha. Além de uns pingentes presos em uma correntinha para pôr no pescoço e um anel três dedos.

– Não mesmo, Mad – eu recusei. – Sério.

– Vamos lá, Katniss! Você vai ficar maravilhosa.

– Para que tanto acessório? Estou indo pra escola!

– E daí? É só um dia...

– Não.

– Qual é, Katniss. Qual o problema disso?

Analisei o conjunto e suspirei. Até que não era tão ruim.

– Sem o anel.

– O resto tudo ok?

– Tudo ok – concordei diante de sua insistência.

Ela empurrou a roupa na minha direção e voltei ao banheiro para colocá-las em mim, ficando realmente feliz. Eu estava vestindo uma roupa que cabia na Barbie da escola! Não era tão gorda, enfim.

– Agora preciso que você confie em mim.

Eu concordei hesitante. Ela me arrastou até o closet dela, que não era tão grande quanto eu imaginava. As roupas estavam divididas por cores, mas o lugar era uma bagunça. Acho que a única coisa de Madge que era bagunçada. Os pufes rosa no chão tinham amontoados de peças jogados em cima, e algumas caixas de joias e bijuterias. Os sapatos estavam enfileirados em prateleiras e as bolsas, em araras.

Ela me fez sentar diante de uma mesinha com um espelho na frente – a penteadeira. Procurou algumas coisas, e então penteou meu cabelo. Quando os fios estavam em seu devido lugar, ela os enrolou e prendeu. Secou com um mísero secador de cabelo, que nem secava tão bem assim, e os deixou preso enquanto escondia minhas sardas e anomalias do meu rosto com base e pó.

Abri a boca pra retrucar, mas ela me cortou:

– Você disse que confiava... Sei o que estou fazendo.

Assenti novamente e ela passou lápis marrom nos meus olhos e máscara para aumentar volume dos meus cílios. Pôs uma cor nas minhas bochechas e soltou os cachos do meu cabelo.

– Linda e natural – ela disse, finalizando o trabalho.

– Obrigada – respondi, sentindo vontade de chorar de gratidão.

Antes eu achava que ser amiga de Madge Undersee me ofuscaria; que eu nunca me sentiria tão bonita quanto ela, mas eu estava errada. Ela compartilhava do seu brilho comigo. Eu me sentia tão bonita quanto.

Tomamos café da manhã, uma dieta balanceada e saudável, e nos despedimos da mãe dela. Ela sorriu pra mim e disse que havia sido um prazer me conhecer. Corei e saímos da sua casa.

Estava realmente frio. O casaco me esquentava um pouco, mas eu daria tudo para ir em um carro quentinho para a escola, em vez de caminhar em meio ao frio de Londres.

Em pouco tempo, chegamos no grande prédio amarelo e cheio de janelas que muitos chamam de escola; e eu prefiro chamar de prisão. Ah, qual é, amava estudar e amava o conhecimento, mas isso não quer dizer que eu fosse gostar de passar metade do meu dia presa com a bunda colada em uma cadeira.

Não preciso dizer que, pela mudança do cabelo e por estar bonita, alguns olhares curiosos se fixaram em mim. Eu sempre fui muito tímida, sempre tive pânico de público, então procurei algum olhar conhecido, nesse caso o de Marvel, e foquei nele até me distanciar de toda aquela atenção.

– Observei uma coisa enquanto você andava – meu amigo disse quando cheguei. – Duas.

– Quais? – sorri.

– Você tá gata – ele elogiou e eu corei. – Isso saiu gay da minha boca.

– É, com certeza – eu ri. – A segunda seria...?

– Katz, vou falar uma coisa com as líderes de torcida, beijo – falou Madge e se afastou.

– Você é baixinha, Katniss.

– Não sou baixinha – rebati.

– É baixinha – ouvi a voz da Clove atrás de mim.

– Você – apontei para a morena. – Tem a mesma altura que eu. E você – me virei para o meu amigo. – Cale a boca. Não sou baixinha.

– Qual é, Katz, dá até pra apoiar o braço na sua cabeça!

– Você que é um mutante.

– Devo ser sim – ele brincou, apoiando o braço em minha cabeça. – Você é um bom encosto, garota. Vou te chamar assim agora.

– Não ouse.

– Tudo bem, encosto.

Revirei os olhos e tirei seu braço da minha cabeça. Ele riu e, acompanhado de Clove, me seguiu até a sala de aula.

O resto do dia foi mais ou menos como isso: Marvel me chamando de encosto, Finnick repetindo a brincadeira e Clove rindo. Meus amigos eram idiotas, disso eu tinha certeza.

Então chegou a hora de ir embora e me surpreendi ao notar não minha mãe me esperando no carro, mas outra pessoa.

O som de uma buzina chegou aos meus ouvidos e, do outro lado da rua, Peeta Mellark estava com o carro de Gloss estacionado. Ele estava encostado em frente a sua porta, com pernas cruzadas e uma posição estilosa, com óculos escuros e mascando um chiclete. Sua mão estava dentro do carro, entrando pela janela, apertando a buzina.

Várias meninas da nossa escola o olhavam e comentavam. Tive o azar de ouvi-las chamando o garoto de gato, gostoso e outras coisas mais. Tudo bem que ele era isso sim, mas também era idiota. Se bem que ele estava mudando...

– Não sei como foi ontem de tarde – sussurrou Madge. – Mas parece que as coisas estão realmente diferentes.

– E aí, Katniss, vai vim ou não? – ele disse com a voz debochada. Agora os olhares estavam em mim.

– Corta a pose de bad boy – falei quando atravessei a rua, dando uma tapinha no seu ombro.

Surpreendi-me ao notar que o banco que eu sentaria, o do passageiro, estava ocupado por uma garota mais ou menos da nossa idade. Ela parecia ser mais alta, e era meio ruiva. Tinha a pele muito branca e quando virou para mim, senti um ar de arrogância e menosprezo sair de seus olhos. Ela ergueu uma das sobrancelhas pra mim e se virou novamente para frente.

Fiquei furiosa com aquele ato, mas mesmo assim sentei no banco de trás e sorri ao encontrar um exemplar de A Culpa é das Estrelas jogado ali.

Peeta começou a dirigir e, não muito tempo depois, repousou a mão acobertando toda a coxa à mostra da garota. Vi quando ele apalpou o local e fiz uma cara de nojo. Ela sorria satisfeita com o ato dele, e eu tive que reprimir o vômito.

– Essa é Linch – ele nos apresentou. – Como eu já falei pra você, Li, essa é a filha da namorada da vez do meu pai.

Namorada da vez. Filha da namorada.

– Eu tenho nome – murmurei, mas duvido que ele tenha ouvido.

Cerrei minhas mãos em punho; eu estava furiosa. As palavras de Peeta estavam se repetindo na minha cabeça e a cada instante que passava; a cada centímetro andando pelo carro de Gloss, mais raiva eu tinha. Respirei fundo algumas vezes e decidi ter minha vingança:

– Prazer, Linch – toquei em seu ombro e forcei um sorriso. – Você é a putinha da vez do Peeta?

Consegui ver os dedos do Mellark apertarem com mais força o volante, ao ponto de eles ficarem vermelhos. Sorri de lado.

– Semana passada a garota que estava no carro do Gloss, quando ele nos deu carona, era mais bonitinha – inventei. Linch não precisava saber que era mentira. – Mas entendo o que ele viu em você. Meninos gostam de mentes vazias, rostos deformados, e corpos cheios, não?

– Everdeen – Mellark advertiu entre dentes, em um tom evidente de ameaça.

– Você se importa com o que a Linch pensa, docinho? Achei que só fosse usá-la e depois jogar fora. É o que você costuma fazer, pelo menos. Linch, preserve o que você tem entre as pernas. Além do mais, nem vale a pena. Fiquei sabendo que o... Você sabe... É bem pequeno.

– Qual o seu problema? – gritou o Mellark.

– Acho que nenhum. E o seu? – debochei, irritada.

Peeta freou o carro com tanta força que mesmo de cinto de segurança, todos nós fomos meio jogados para frente. Ouvi o cara de trás buzinar e xingar o loiro de algumas palavras feias.

– Desce do carro – o Mellark mandou.

Ele não precisou dizer duas vezes, eu desci.

E lá nossa boa convivência ia pelo ralo...

Ele deu partida e vi o carro sumir ao dobrar a esquina. Eu não precisava de carona, estava a alguns minutos de caminhada do ponto de ônibus e aquilo me faria bem. Ergui a cabeça, arrebitando o nariz, e comecei a caminhar pelas ruas.

Uma moto parou ao meu lado. De início, me sobressaltei, mas depois que o motoqueiro tirou o capacete, eu prendi a respiração. Gale. Ele estava realmente diferente – e bonito!

– Tá perdida? – ele brincou e sorri diante de sua falta de timidez.

– Na verdade, uma carona nessa sua garupa seria muito bem vinda.

– Seu dia de sorte – ele sorriu e subi na moto.

– É... – balbuciei.

– Ombros ou cintura, você escolhe.

– Ombros – respondi, arregalando os olhos e agarrando seus ombros. Ele riu.

– Pra onde está indo?

– Casa – eu respondi. – Bem, é um pouquinho longe daqui, mas...

– Eu sei onde é sua casa – o modo que ele disse aquilo me deu medo, mas não me importei.

Ele ligou a moto e virou, sorrindo pra mim. Os olhos dele eram cinza. Era o mesmo Gale de antes, mas agora parecia ridículo que alguém o chamasse de unga-unga. Analisei seu rosto, sem a monocelha, sem a oleosidade na pele, e com cabelos cortados... Demorou um minuto para que eu sorrisse de volta.

Nós colocamos os capacetes e ele deu partida, parando poucos minutos no sinal vermelho. Enquanto esperava, ele tamborilou o freio da moto.

– Você ficou legal – elogiei, por fim.

– Obrigado. Você também ficou legal – ele disse, indicando o cabelo e... Todo o resto.

Sorri e o sinal abriu. Vi quando a moto ultrapassou o carro de Peeta e reprimi uma risadinha. Gale continuou o trajeto até a minha casa fazendo barulho com sua moto e se exibindo. Revirei os olhos; ele parecia um americano.

Ele estacionou a moto na frente do jardim da minha casa, e me ajudou a descer segurando firmemente minha mão. Fiquei com vergonha de aceitar o apoio, mas mesmo assim não o recusei. Ao colocar os pés no chão, imaginei o que eu deveria falar naquele momento e logo eu estava balbuciando algumas palavras de agradecimento.

– Não foi nada – ele menosprezou o ato.

– Você parece diferente – comentei e ele olhou pra mim com uma expressão marota, erguendo a sobrancelha esquerda e sorrindo de canto como se eu tivesse contado alguma piada. Ou algo óbvio. – Não fisicamente, eu digo.

Ele prendeu as chaves da moto na calça enquanto pedia:

– Explique.

– Bem... – ponderei e chutei o ar, cruzando as mãos na frente do meu corpo. – Você está menos tímido, pelo que percebi. Se comunicando mais. Essa é nossa primeira conversa além das redes sociais. Você quer entrar?

– Na verdade, sim, mas não posso – ele respondeu e sorriu.– Aliás, então essa é sua voz?

Eu ri e dei um soquinho em seu braço.

– Quer falar alguma coisa? – insisti, incentivando-o a expor seus sentimentos.

– Bem, você é a minha melhor amiga, de qualquer maneira. Acho que deveria me sentir
à vontade para contar as coisas.

– Deveria – concordei.

Nós começamos a andar até o batente do terraço, lado a lado, e nos sentamos ali.

– Me sinto um pouco mais confiante – ele confessou. – Me sinto melhor.

Está melhor...

– Isso deveria ser um elogio? – ele brincou, sorrindo. Sorri também. – Aliás, Katniss. Estive pensando... A Clove te contou alguma coisa sobre nossa conversa no seu Facebook?

Logo a imagem da tarde em que Clove se passou por mim no meu Facebook e recebeu uma declaração do Gale veio na minha cabeça.

– Meu Facebook? – me fingi de desentendida.

– Pelo visto não. O que acha de ir ao cinema mais tarde?

Ponderei sobre o assunto, mas não precisei de muito tempo para saber a resposta.

– Quem vai?

É a melhor saída para quando não se quer ir sozinha com alguém.

– Eu estava pensando em ir eu e você, só.

Pelo menos 80% das pessoas não têm coragem de falar diretamente o que realmente querem.

Infelizmente, Gale fazia parte dos 20%.

– Ah, vou falar com minha mãe – prometi. – Mas vou logo avisando, acho difícil ela liberar o dinheiro.

– Eu pago.

– Não me sinto confortável com você pagando o ingresso do cinema pra mim – fui sincera.

– Faço questão.

– Eu não quero, Gale. Guarde seu dinheiro. Vou falar com mamãe, já disse.

Ele me avaliou por alguns minutos e senti meu rosto corar, sabendo que ele havia reconhecido a mentira; mamãe jamais saberia daquilo.

– Eu vou falar com ela – prometi. – Mas não vai dar hoje. Quem sabe no fim de semana?

– Isso é um sim? – ele insistiu.

– É um “eu vou falar com minha mãe” – evitei seu olhar e vi que o Mellark tinha chegado para a aula de química. Bufei.

– Quem é?

– Filho do namorado da minha mãe – respondi com a voz monótona. – Peeta Mellark. Te falei sobre ele.

– Então esse é o cara que você está constantemente querendo matar.

– Isso – eu ri.

– Que belo casal – caçoou o Mellark quando chegou. Senti minhas bochechas corarem. Droga, eu ficava vermelha com muita merda.

– Agora entendo quando diz que ele é desprezível – disse Gale, alto o suficiente para que o outro escutasse. – Estou indo embora. Fale com sua mãe!

– Pode deixar – eu me levantei. – Tchau, Gale.

Observei o garoto ir embora e então encontrei o olhar do Mellark em mim. Aquele brilho de deboche... Eu podia socar a cara dele se me permitissem.

Bem, mentira, porque eu tinha a força de uma formiga (argh, formigas), mas a vontade continuava ali, tão forte como nunca.

– Pare de me olhar assim – mandei, entrando em casa. – Você trouxe seus livros de química?


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Notas finais do capítulo

E acabou.
Gente, eu preciso agradecer vocês. Vocês são maravilhosos. Vocês são incríveis, jesus! Me abracem seus lindos *-* Cada comentário que eu li, eu fiquei tipo *ooooo*
Então tá. Até... Duas semanas?
Beijão!