A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 16
|| Não é Ódio. É Pena, Curiosidade e Determinação


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei um pouquinho, eu sei. Eu tenho uma boa explicação para ter demorado. Antes de tudo, eu NUNCA vou abandonar essa fic. Não é uma simples promessa, é um juramento firme. Pessoas abandonam histórias por a) não se importarem com os leitores e b) falta de criatividade. Nessa história, não acontece nenhum dos casos. Eu amo muito vocês, leitores dessa história.
Tô envergonhada... Três meses sem escrever aqui... Puta que pariu, me desculpem. Principalmente a minha mana, Marii Weasley, que recomendou a história. E GarotoEmChamas. E Zafiran.
A recomendação foi linda, as três foram. Meu Deus, obrigada! Eu fui tão filha da puta... Perdão de verdade.
Espero que gostem desse capítulo! ^^



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Eu queria mudar meu visual.

Não sabia exatamente o porquê do inicio daquela pequena ideia maluca que havia passado a rondar minha cabeça. Por que não?

Não teria aula naquele dia. Eu havia acordado às sete e meia da manhã, com a chuva batendo minha janela. O inverno começava a se aproximar, assim como o outono, e em breve estaríamos com neve sob nossas cabeças. Entretanto, até ali, a única coisa que chegava a cair era chuva.

Movi minha cabeça ao lado para enxergar minhas amigas. Clove dormia feito uma porca, de boca aberta e babando, com duas pequenas e frouxas tranças, uma de cada lado. Já Madge estava com os cabelos loiros alinhados e caídos ao seu ombro, enquanto dormia serenamente de nariz arrebitado.

Suas aparências eram tão diferentes, e eu era tão o intermédio delas duas que quis mudar completamente meu visual naquela manhã. Queria ficar ruiva, ou loira, ou de cabelo extremamente cacheado ou extremamente liso. Eu não sabia como queria ficar, só estava cansada da antiga Katniss.

Enquanto as duas beldades não acordavam, tratei de tirar A Culpa é das Estrelas da minha estante para dar uma lida em uma cena que havia passado pela minha cabeça alguns minutos antes. A cena do okay, onde o mocinho diz para a principal que o okay é o para sempre deles. Abri as páginas secas e sujas, mas mesmo assim encontrei as letras de uma das minhas partes favoritas daquele livro.

Foi ali que tive a mais brilhante ideia de todas. Eu tinha certeza que meus olhos brilhavam com imensa insanidade, mas eu pulei da cama e troquei de roupa. Vesti nada muito sofisticado, apenas uma blusa do time de futebol da França e um short jeans, pronta para ir ao cabeleireiro. Peguei em um pote que pousava na penteadeira um dinheiro extra que sempre guardava e parti nas ruas geladas de Londres.

Eu deveria ter pego um casaco. O vento congelante daquela manhã batia em meus braços fazendo com que os pelos castanhos do meu braço se eriçassem. Continuei caminhando algumas casas, pulando alguns locais, e entrei no pequeno estabelecimento onde Cinna, meu cabeleireiro desde os sete anos de idade, atendia.

Cinna era um homossexual de pele morena que dava chilique por qualquer tipo de motivo, mas mesmo assim mantinha um bom coração batendo no peito. Sua pele era morena, mas isso não o impedia de passar sombra dourada das pálpebras dos seus olhos castanhos, mesmo que não combinasse nem um pouco.

– Bom dia - cumprimentei radiante. Senti a minha sandália molhada chiar ao entrar em contato com o chão de madeira do salão, um ambiente pequeno e reservado, geralmente com aroma de flores.

– Bom dia, flor do dia - cumprimentou Cinna de volta.

– Eu quero cortar meu cabelo. E mudar meu visual.

– Mas seu cabelo é radiante, deusa - elogiou Cinna, tocando nas pontas dos meus fios. - Tem umas pontas duplas, é verdade.

– Eu quero cortar ele bem curto. E quero doar.

– Vai doar seu cabelo?

– Para uma instituição de crianças com câncer. Eles fazem perucas bem legais!

– Eu sei disso, mas de onde tirou essa ideia?

– Surgiu. Parece o certo a fazer.

– As pessoas estão começando a fazer isso. O mínimo para doação é dez centímetros, pelo o que eu ouvi falar. Vai ficar um pouco abaixo do ombro.

– Sem problemas - permiti. - Também quero hidratar meu cabelo e cacheá-lo.

Cinna sorriu como se soubesse de algo que nem eu mesma sabia. Contou que quinze centímetros era um palmo de mão, e que sabia disso por causa do salto de quinze centímetros, então ia cortar menos de um palmo. A primeira tesourada que ele deu no meu cabelo eu fechei os olhos, sentindo-os inundarem de lágrimas quentes carregadas da já saudade que sentiria de fazer uma trança lateral no meu cabelo.

Eu não vi o tempo passar. Fechei os olhos da primeira vez e não mais os abri até que Cinna terminasse seu trabalho. Ouvi-o conversar com sua equipe, a qual o único nome que eu me lembrava era o de Portia, que geralmente fazia as unhas da minha mãe quando ela me arrastava até aquele lugar.

– Vai querer fazer uma mudança completa, docinho? - perguntou Cinna.

– Faça o que achar melhor - respondi.

Então senti as mãos quentes e macias de, provavelmente, Portia envolver as minhas finas, e não tão macias assim, mãos. Ela começou passando um creme gelado e depois a arrancar as peles na lateral das minhas unhas.

– Vermelho está bom pra você? - ela perguntou com sua voz rouca, e tive certeza de que era ela quem estava cuidando das minhas unhas.

– Sim.

Então ela continuou enquanto Cinna cuidava do meu cabelo. Ele mandou eu continuar de olhos fechados, então senti mãos geladas e ásperas de um homem tocar na minha face. Ele também recomendou que eu continuasse de olhos fechados, e então começou a fazer minha sobrancelha.

Eles estavam me transformando completamente, algo que com dezesseis anos de vida eu nunca tinha feito. Como será que ficaria uma Katniss mais bem cuidada do que essa? Uma que se preocupava mais com a aparência?

Então eu percebi o que Cinna havia compreendido em minhas palavras que eu não. A verdade me atingiu em cheio como a bola entrando na cesta no último minuto de jogo.

Eu não iria virar uma menina fútil que só liga para a aparência, mas uma menina cuidadosa com ela.

Então Cinna me mandou abrir os olhos, logo após ter me conduzido a um local e ter me feito deitar. Depilaram todos os pelos do meu corpo ali. Ou quase todos.

A imagem que estava refletida no espelho era eu. Mas era um eu diferente e novo, assustado com a própria beleza que estava escondida em camadas de preguiça e descuido.

Minhas sobrancelhas estavam feitas e os cravos que antes permaneciam em algumas partes do meu rosto tinham sumido (lembro de quando senti todos eles sendo estourados). Minha pele parecia limpa e as poucas sardas pareciam estar mais transparentes.

A mudança maior foi no cabelo. Ele estava curto, brilhoso e macio. Não extremamente curto, ele estava batendo no ombro, mas ainda não dava para fazer uma trança. Curto. Ele estava mais cacheado do que antes, que era apenas ondulado de tanta marca de trança que o fiz passar. Estava legal!

Eu ia pegar o cabelo para levar em uma instituição de doação, mas Cinna disse que cuidaria disso. Confiei em suas palavras, paguei, e fui para casa.

Madge, com o cabelo preso em um nó, e Clove, com o mesmo penteado, me esperavam sentadas no batente do terraço. Quando me viram, ambas as bocas abriram em um formato O, parecendo chocadas.

– O que você fez? - perguntou Clove. - Você está fofa!

– Eu não diria fofa - falou Madge. - Ela está com mais cara de...

– Adulta.

– Uma adulta fofa.

– Tão fofa que assusta.

– Aquela cara de “vou te matei”.

– Psicopata.

– Mas ficou bom.

– Muito bom.

Eu ria a cada palavra que elas diziam. Era impossível não rir. As duas estavam debatendo sobre mim como se eu não estivesse ali.

– Acordei e quis doar meu cabelo para uma instituição de câncer. Ele vai crescer depois, não vai?

– Eu não teria coragem de fazer isso - falou Clove e se deitou no chão, parecendo muito cansada. - Mas é um ato bonito.

Os olhos de Madge estavam brilhantes e ela me encarava de uma maneira que eu queria poder saber o que estava passando na cabeça dela, mas não perguntei nada. Apenas me sentei de frente a elas e depois deitei.

Um dia sem aula. Um dia sem nada pra fazer...

Se Peeta Mellark não estivesse na minha vida.

Mas ele estava. Então eu me levantei, com muita preguiça, muita mesmo, e liguei para ele. A sua voz era de ressaca. Estava embolada e rouca, mas me passou um gelado na espinha. Eu sabia bem que se ele tentasse, ele seria minha tentação. Mesmo o odiando com todas as forças, eu sentia uma leve atração por ele. Não tão leve assim.

– Você estudou? - perguntei.

– Não.

– Vai estudar.

– Não.

– Agora, Mellark.

– Não, tô jogando LoL.

– Eu não estou perdendo meu tempo com você. Vai estudar agora.

– Não.

– Estou falando pra você ir estudar! - falei já irritada.

– Estou falando que são dez horas da manhã e que eu quero dormir.

– Foda-se o que você quer, não ligo para isso, mas seu pai me pediu e, pelo que eu me lembre, você também pediu. Então eu estou mandando você ir agora estudar, caso contrário não te ajudo mais com porra nenhuma. Você sabe que se não partir de você, você nunca vai conseguir, certo? É mais força de vontade do que...

– Tá, Katniss, chega - ele me interrompeu. - Eu estou indo estudar.

– De meio dia quero você aqui me falando a diferença entre Movimento Uniforme e Movimento Uniformemente Variável. É bom estar certo.

Desliguei meu celular com um pouco de raiva, mas contei até dez e me acalmei. Eu iria ajudar aquele garoto a tirar notas boas.

Peguei meu livro de física, e embora já tivesse feito todos aqueles exercícios, decidi refazê-los, para o caso de não saber algum que o Mellark precise para entender o conteúdo.

Clove e Madge estavam vendo um filme qualquer na minha TV quando eu senti uma tontura. Eu não havia comido nada desde... Nem eu sabia qual a última vez que eu havia comido. Falei para as meninas que ia almoçar logo, e entrei na cozinha. Peguei um prato, coloquei feijão, depois devolvi ele para a panela. Fiz o mesmo com o arroz e o purê de batatas, comi apenas a carne porque se eu não comesse daria para perceber isso.

Eu já me sentia mais leve do que antes. Sentia que tinha perdido dois quilos ou algo assim, então estava funcionando. Eu precisava tanto perder peso.

Olhei para o relógio tiquetaqueando enquanto eu mastigava a carne. E se alguém me pegasse fazendo aquilo? Eu estava me sentindo em uma cena daqueles filmes de terror que mexem com o psicológico da pessoa. Eu estava soando. Eu me sentia tonta e gelada. Sentia o cheiro da comida a alguns metros de mim. O relógio marcava meio dia. Onde estaria o Mellark? Ele poderia chegar e ver o que eu fazia. Precisava sair logo daquela cozinha. Eu estava com fome, queria comer mais. Eu estava me sentindo tão tonta. E soando. Terminei de comer. Suspirei aliviada, embora com um pouco de dificuldade para passar o ar pelas minhas traquéias. Pus o prato na pia.

– Oi - cumprimentou o Mellark, entrando na cozinha.

Eu dei um pulo de susto, literalmente, e senti minha tontura piorar. A figura embaçada de Peeta a minha frente me mostrava seus cabelos ainda azuis e uma blusa azul, talvez para combinar com o cabelo. Eu riria da minha própria piada sem graça, mas alguns pontos escuros estavam aparecendo na minha visão.

Apoiei-me na pia.

– Você está bem? - perguntou Peeta, vindo ao meu lado e me ajudando a sentar. A voz dele parecia distante. E eu vomitei em seu pé.

Se ele já me odiava antes, com certeza o vômito em seu pé piorou todas as coisas. Senti-me mal por ele pela primeira vez na vida, o que me ajudou a vomitar mais. Mas, pelo contrário do que eu imaginava, Peeta não gritou ou nada do tipo. Ele trancou a porta da cozinha e segurou meus cabelos, afagando minhas costas enquanto eu colocava tudo pra fora.

Inclinei-me eretamente e olhei em seus olhos, com minha vista normal novamente.

– Desculpe pelo pé.

– Tudo bem - ele disse, fazendo cara de nojo. - Eca, Everdeen.

Estava demorando pra ele voltar a ser um canalha...

– A culpa não foi minha, ok? - defendi-me.

– Você não podia ter virado a porra da boca para o outro lado?

Eu o olhei com raiva e peguei um pano para limpar o chão. Ele foi lavar o pé no tanque da área de serviço e quando voltou, bufou e disse do modo mais grosso possível:

– Senta aí.

Puxou o pano da minha mão e começou a limpar o chão enquanto eu me sentava, grata e irritada. Ele era uma boa pessoa, mas vivia insistindo para ele mesmo que deveria ser um bruto mau humorado. Por quê?

– Quando você não pensa você é uma boa pessoa - eu observei, e tudo foi ficando claro na minha cabeça, então continuei falando: - Quando você age por impulso você age correto. É como se você fosse movido pelos sentimentos, e quando pensa, você tenta cortar qualquer tipo de sentimento. Isso é típico de alguém que já sofreu bastante por causa disso, de alguém que era muito legal e se fodeu.

Ele não falou nada, só suspirou, e eu sabia que estava certa. O mau humor, a falta de educação, a pose bad boy, o desinteresse pelos estudos... Peeta não era nada disso, muito menos burro, ele só estava querendo se proteger.

Como eu sabia daquilo em menos de cinco minutos? Era impossível adivinhar. Ainda mais quando tudo que sentia por ele, até aquele momento, era ódio. Agora eu sentia pena. Não só pena, mas também curiosidade e determinação. Eu não ia mais brigar com ele. Eu ia ser amiga dele, e despertar novamente o seu lado bom. Era uma meta.

– Você não me conhece - ele riu pelo nariz. - Essa foi a teoria mais cu que eu já vi ao meu respeito. Psicologia é um hobbie?

– Não é um...

– Quantos hobbies você tem? Bulimia também é um?

Eu me calei e ele riu.

– De fato, você tá emagrecendo. Cuidado para não virar um esqueleto - seu tom era presunçoso.

Senti meu estômago afundar. Talvez ele não merecesse alguém que confiasse nele. Ou talvez, ele não quisesse aquilo. Entendi o recado e destranquei a porta da cozinha, pronta para ir tomar banho e me livrar dos resquícios do vômito.

A figura de Madge na porta me surpreendeu. Quase nossos corpos se chocavam, mas ela segurou meus ombros antes que isso acontecesse.

– Eu ouvi você vomitando - disse Madge.

Eu estava tão bem há algumas horas e subitamente tão mal. Meus olhos marejaram e em seguida fui puxada em direção ao meu quarto, e fui obrigada a sentar na cama. Madge sentou ao meu lado e me abraçou, enquanto eu chorava ainda mais.

– Eu estou gorda, Mad.

– Não, você não está. Me conta o que aconteceu.

Eu contei em meio a lágrimas como isso tinha entrado na minha cabeça e como eu descobri que era facilmente influenciável. No final, eu contei o meu plano. Isso não foi uma coisa boa.

– Você vai voltar para aquela cozinha agora e vai comer.

– Eu não quero comer.

– Então ótimo! - Madge gritou; era a primeira vez que eu a via gritar e aquilo me assustou. - Se você quer emagrecer e entrar na merda de uma calça tamanho trinta e quatro ótimo, mas enquanto você estiver fazendo isso feito uma burra ignorante eu não quero que fale comigo, ouviu? Quer emagrecer, emagreça do jeito correto, não com um distúrbio alimentar que só vai te deixar doente. Isso é um aviso, Everdeen, deixar de comer é uma burrice.

Madge saiu furiosa do meu quarto, enquanto eu continuei a chorar abraçada ao meu joelho. Eu queria Clove agora, mas sabia que ela seria mil vezes menos delicada do que Madge. Também sabia que Madge estava certa. Liguei o aquecedor do meu quarto, e me deitei na cama, enrolada no edredom em posição fetal.

A imagem do Mellark ali me surpreendeu. Ele segurava uma caneca de chocolate quente e se sentou delicadamente na beirada da minha cama, olhando com um misto de culpa e afeto em meus olhos acinzentados. Ele abriu pouco a boca e falou baixo, mas o suficiente para que eu pudesse ouvir:

– Podemos conversar?


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Notas finais do capítulo

AGORA AS COISAS VÃO ANDAR, HAHAHA.
— First, o lance da doação do cabelo da Katniss. Eu fiz isso recentemente, e muita gente, muita mesmo, tá fazendo. Então decidi trazer isso pra fic e pedir... Me ajudem com esse movimento. É, é sim uma campanha que já tá a solta na internet, a Força na Peruca. Tô pensando em falar com outras autoras, algumas bem mais conhecidas que eu - que sou quase uma who aqui -, para fazer o mesmo e colocarem isso em suas fics, e divulgarem. Então... Eu vou falar sobre isso novamente no próximo capítulo, mas por hora, basta saber que:
* O mínimo é dez centímetros e antes de cortar o cabelo você tem que dizer ao cabelereiro que quer doar, para que ele possa te instruir melhor sobre isso.
*Na minha cidade, a organização que recolhe isso é o IMIP, não sei na de vocês, mas é só procurar.
*Se você não quiser ficar de cabelo curto, vocês podem cortar da parte de trás do cabelo, na região da nuca, assim você doa e continua de cabelo longo.
— Second, a Katniss sem comer. Então, eu recebi umas MPs e até alguns comentários de leitoras que fazem isso. Escutem a Madge e, no próximo capítulo, o Peeta. Isso só vai prejudicar a saúde de vocês. Contem aos seus pais e procurem nutricionistas, é sério, gente. Não adianta nada fazer isso.
Até o próximo capítulo! Prometo não demorar tanto.