A Morte Lhe Cai Bem escrita por MahDants


Capítulo 10
|| Eu Tenho Medo de Amendoim


Notas iniciais do capítulo

"MISERÁVEL E MÁGICO" agora é "A Morte Lhe Cai Bem"
Mais de um mês sumida.
But MahDants is back, bitches.
Tudo bem, não tem justificativa para meu sumiço, simplesmente não tem. Não posso vim com um pedido de desculpas porque, bem, é tão clichê!
Peço apenas que leiam esse capítulo com carinho, sim? Espero que gostem ^^
Ah, eu vi Em Chamas e fiz um texto gigante, mas o Nyah! tá com frescura e apagou o texto. O que acharam do filme? Digam nos comentários que eu respondo com minha opinião ;)
LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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A noite havia caído e junto a ela, a temperatura. Estava muito, muito frio. Porém, Mellark, Madge e eu estávamos sentados na calçada de frente a minha casa, observando os poucos carros que ali passavam. Eu estava tremendo, literalmente, de frio e aquele imprestável não se movia para ajudar.

Acho que estou pegando um pouco pesado demais, não era sua obrigação fazer alguma coisa por mim.

De qualquer forma, lá estávamos nós: observando os carros irem e vir e não sei a partir de que momento eu comecei a refletir sobre a vida, mas uma hora pensava em como os carros pratas são mais bonitos que os brancos e na outra, estava fazendo uma filosófica metáfora das ruas com nossa vida social.

Tudo bem, não tão filosófica assim.

A rua é como a nossa vida social. As pessoas que passam caminhando ali estão apenas de passagem; são aquelas amizades que não duram mais de dois meses. Tem as bicicletas do carinha que entrega jornal, que nos dias de Sol está sempre entregando as notícias sorridente, mas quando chove, não coloca nem o pé para fora de casa; são aquelas amizades que quando está tudo bem, vocês estão bem; quando aparece um problema, é o primeiro a virar as costas. Há os carros, que estão estacionados na grande casa amarela ao lado e, embora nem sempre fiquem parados na garagem, pelo menos uma vez por dia eles estão lá; estas são as amizades que temos por perto às vezes e outras vezes não. Aquelas que mesmo com a frequente distância e falta de comunicação, elas estão lá, quando você precisa.

Então me lembrei de um livro que eu li, cujo nome eu não conseguia recordar, mas eu sabia que havia lido. Ele tinha a capa branca e várias linhas, com a lombada vermelha. A questão é que nele, logo no finalzinho, o protagonista faz uma reflexão sobre metáforas. Era mais ou menos o que eu estava fazendo ali.

Segundo ele, há diversas metáforas que podemos usar para determinadas situações, mas o ponto principal não é o número e o que dizem, mas qual delas você escolheu apoiar e o que ela diz.

Não sei bem como de frio meus pensamentos foram parar em carros, então na rua, então na vida e então no livro de John Green de letras pretas que ficava na estante branca, segunda prateleira.

Talvez isso acontecesse o tempo todo: em um momento estamos pensando em uma coisa, que nos leva a outra coisa, e a outra coisa, e assim por diante. Só que não estamos frequentemente parados, percebendo o rumo de nossos pensamentos.

Observei a graminha acumulada na calçada de pedra e, nesse exato momento, um Ford vermelho passou, com a porta dianteira arranhada e vidros cheios de poeira. Do outro lado da rua, uma menina ruiva de tranças, um pouco mais nova que eu, andava com seu cachorro marrom.

Meus pensamentos acabaram se guiando novamente para a vida e a sua ligação com a rua. Não podia evitar comparar os carros com a Clove.

Eu não havia falado com ela aquele dia, mas sabia que se o cachorro da minha vizinha morresse e eu precisasse de um ombro amigo para chorar (não por carinho ao cachorro – que na verdade era fêmea -, mas porque a Sra. Shields havia prometido me dar um filhotinho, caso Snurffle procriasse, e eu era louca para ter um cachorro), ela estaria lá, mesmo que puta da vida comigo.

“Puta da vida”.

Isso me fez recuar, e percebi que Madge e Peeta olharam para mim com caretas no rosto, como se perguntassem o que tinha me feito estancar de repente. Até eu acabei fazendo uma careta, surpresa à minha reação.

Eu não podia falar palavrão. Fazia parte de toda aquela história de provar para o Mellark que eu era delicada sim e que 90% do meu vocabulário não eram palavrão. Ter um orgulho gigante era uma merda.

– O que foi? – perguntou Madge, colocando uma mecha loira atrás da orelha.

– Nada – eu respondi, talvez um pouco rápido de mais, enquanto me levantava da calçada e olhava para os dois lados da rua. – A rua ficou vazia de repente.

– É – concordou Mellark, levantando-se.

– Sabe do que eu tenho medo? – perguntei, mas não queria esperar pela resposta.

Era uma pergunta quase retórica, como quando estamos com um sanduiche delicioso de pasta de amendoim com geleia e oferecemos para alguém. Não queremos dar de verdade, estamos oferecendo por educação e esperamos um “não”, como resposta. Era quase a mesma coisa. Eu estava esperando um incentivo para continuar, do tipo “não, o que?”.

Então abri a boca para responder, preparando meu melhor tom de suspense, para falar que tinha medo de ser assaltada ali, mas quase do nada apareceu um velhinho, gritando “olha o amendoim” na rua, e eu pulei de susto. Madge e Peeta trocaram um olhar e explodiram em gargalhadas, enquanto eu sentia minhas bochechas esquentarem.

– Você tem medo de amendoim? – debochou Peeta e o fuzilei com o olhar.

– Eu ia falar que tenho medo de ser assaltada! E, considerando isso, é fácil de explicar que imaginei que fosse um ladrão. Que velhinho miserável!

Eu devo ter falado alto, pois no momento que disse isso, o senhor quase careca virou 180º graus e me encarou, com uma carranca.

– É, o senhor é um grande miserável! – gritei de volta. – Tá olhando o que?

Ele resmungou alguma coisa enquanto Madge me dava uma cotovelada.

– Ficou maluca?

– Eu quase tive um treco do coração aqui! – falei, enquanto o velhinho continuava a andar com os pacotes de amendoins, gritando para o mundo que estava vendendo aquilo.

– Isso não é motivo para gritar com velhinhos! – retrucou Madge.

Eu senti meu estômago afundar. Você é uma menina meiga e delicada, Katniss, Madge é sua amiga agora e está aqui para te lembrar disso. Era o que dizia uma voz em minha cabeça.

– Que mau cheiro é esse? – perguntei em uma careta. – Parece que tem um bicho morto aqui.

– Parece que tem um bicho morto na sua boca – corrigiu Peeta e senti meu rosto esquentar. – Escovou os dentes hoje?

– Não seja inconveniente – pediu Madge delicadamente. – E seu hálito está ótimo, Katniss.

– Inconveniente é ter que sentir esse cheiro!

– Então vá pra puta que pariu – mandei e entrei marchando dentro de casa.

– Ei, Katniss! – gritou Madge do lado de fora. – Minha mãe chegou!

Dei meia volta e fui dar um abraço em Madge, não antes de olhar com cara feia para o Mellark. Que idiota!

Observei minha amiga ir embora em um Audi R8 preto com vidro fumê e então desviei meu olhar para o Mellark, que me olhava com o canto do olho.

– Não consegue – ele murmurou.

– O que?

– Ser uma garota delicada.

– Só porque sou uma menina não significa que tenho que ser uma menininha, princesinha, bonitinha, fofinha, meiguinha. Inha. Não gosto de ser inha. Tenho mais o que fazer... Passar bem!

Entrei dentro de casa e percebi que estava sendo seguida, pois o Mellark podia ser completamente indelicado ao pisar no chão.

– Sua mãe mandou uma mensagem – ele me entregou o celular. – Parece que eu vou dormir aqui.

– E no seu quarto – completou vovó, que estava assistindo televisão.

– O que?

– Ele é visita, Katniss. Visitas dormem no ar-condicionado, você dorme com sua mãe no ventilador.

– O que? – repeti, virando meu olhar para o Mellark, que sorria de lado para mim.

Bonitinho. Muito bonitinho. Mas, infelizmente, ordinário.

– Acho melhor ajeitar logo sua cama para mim, estou com sono – ele falou, na cara de pau.

– Eu não vou ajeitar merda nenhuma – resmunguei, mas uma cara feia da minha avó me fez rumar até o quarto, bufando.

– Até que você fica bonitinha bufando – ele comentou, pegando um dos meus livros da prateleira. Quem é você, Alasca?

– Solta a mão do meu livro – mandei.

– Porque? – ele girou o livro nas mãos.

– Você tem alguma coisa com John Green? – perguntei, pegando um travesseiro no armário pra mim.

– Como assim?

– O autor do livro – revirei os olhos. – E de A Culpa é das Estrelas. O livro que você jogou no chão.

– Ah – ele murmurou. – É do mesmo autor?

– Foi o que eu acabei de dizer! – respondi, enquanto jogava um edredom branco e azul na cama para ele. – Regras do meu quarto: você...

– Não vou obedecer nenhuma – ele anunciou. – Mas pode falar.

– Se quiser continuar com seu amiguinho aí embaixo, você vai sim. A primeira regra: não toque nos meus livros – impus. Peeta colocou o livro escuro calmamente na estante. – Não toque na minha coleção de pinguins, nem nos adesivos de Harry Potter, nem nos meus pôsteres dos Beatles. Se você encostar neles...

– Não vou – ele prometeu.

– Não ligue meu computador, nem abra aquele armário – apontei para o armário das calcinhas e sutiãs. – O meu diário vai ficar comigo e nem procure a chave. Vou saber se mexeu nas minhas revistas e na minha coleção de tampinhas de lata de refrigerante. Não vou usar, mas se eu sonhar que você tocou no meu headphone branco, vai se ver comigo... Estamos entendidos?

– Faltou delicadeza – ele sorriu com escárnio.

– Vai pra merda – mandei, pegando o travesseiro, lençol, edredom e pijama, e indo para o quarto da minha mãe.

O quarto era menor que o meu. Tinha um armário de mogno no canto esquerdo, uma prateleira cheia de porta-retratos em uma das paredes amareladas, bem em cima da televisão e de frente para a cama.

Eu odiava dormir ali porque a) eu dormia na cama de baixo, no colchão, fazendo com que b) minhas costas acordassem doendo. Além disso, c) não tinha ar-condicionado e eu d) acordava molhada de suor. Era horrível.

Entretanto, mesmo assim, depois do banho e de estar com o pijama azul marinho e branco, forrei a cama de baixo e me deitei ali, olhando para o teto e tentando me lembrar do meu dia.

1 – Foi o primeiro dia de aula no Ensino Médio. Novos professores, novos livros, novas pessoas. Eu era uma caloura, mas quando se passa o primeiro dia de aula com Madge Undersee, você acaba se salvando das piadas, mesmo que ela não faça mais parte do grupo de torcidas. Além disso, falei com alguns meninos e até abracei Finnick Odair, que é gostoso, apenas um ps.

2 – Peguei carona com Peeta Mellark. O garoto era insuportável e dirigia feito um lixo, mas tudo bem. Ele estava fazendo um favor a minha mãe (embora ainda não tivesse carteira, por ter apenas 15 anos), mas isso não me impediu de brigar com ele o caminho todo.

3 – Madge veio para minha casa e foi aceita por minha avó. Passamos a tarde rindo e fofocando. Falando coisas do tipo... Quem Finnick Odair está pegando no momento e o quanto Gale Hawthorne é esquisito. Foi divertido, porque eu nunca tinha parado para fofocar com ninguém, nem mesmo com a Clove. Só falávamos nossas coisas e, até agora, nunca havia percebido o quanto a vida alheia era divertida.

4 – Além de passar o dia com a Mad, passei o dia com o Mellark, também. E percebi quão burro ele é. E insuportável. E sonso. Cara de pau. Mesquinho. Idiota.

É, meu dia não havia sido tão cheio assim, mas eu estava absurdamente cansada. Então, assim que minha mãe chegou e apagou a luz do quarto, me mandando dormir, eu peguei no sono e sonhei com Finnick e eu, como irmão e irmã, na época medieval. Muito legal, mas muito estranho também.

–-X—

– Eu preciso de mais cinco minutos – resmunguei.

– O problema, Katz, é que você está pedindo cinco minutos desde as seis da manhã! Você vai se atrasar pra escola! – gritou (na verdade, ela falou, mas eu estava com sono) mamãe. A voz dela parecia embargada, ou talvez fossem meus sentidos que estavam esbugalhados.

– Me deixa ficar aqui! – eu pedi, ao mesmo tempo em que minha mãe soltava um pum bem alto. – Nossa – exclamei, sentando no colchão. – Não precisava expulsar, né?

Ela apenas riu e eu, com muita preguiça acumulada, levantei. Fui até meu quarto, na ponta dos pés para não acordar o Mellark, mas minha delicadeza de nada serviu por conta do meu grito ao entrar no quarto.

Não liguei para um pôster sumido dos Beatles ou o armário de sutiãs aberto. No meio do quarto, próximo à cadeira rosa e ao computador, no chão branco e gelado, estava Danny, meu pinguim de pelúcia, o rei da minha coleção de pinguins. Esfaqueado. Com algodão fora do corpo. Seu filhote, Luke, descosturado a ele.

O meu pinguim estava destruído.

O Mellark havia destruído.

Eu estava chorando e gritando, enquanto minha mãe brigava comigo e o Mellark dava uma risada discreta.

Ah, sim, aquilo ia ter troco. Com certeza teria troco.

Ele destruiu meu pinguim? Pois bem, eu ia destruir ele.


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Notas finais do capítulo

Três assuntos pra falar com vocês!
1) Demorei a postar porque estava querendo terminar o roteiro da história antes. E terminei! A fic terá cem capítulos. Parece muito, mas passa rapidinho, verão. A questão é que sei que vocês estão impacientes por um avanço do nosso casal vinte. É com alegria que digo que os três próximos capítulos serão de guerra, mas no capítulo 14... Um PEQUENO avanço acontece.
2) O nome da fic. Eu achava "Miserável e Mágico" meio brochante e voltando pra casa depois da escola, pensei em "A Morte Lhe Cai Bem". Sabe, chega a ter um humor e combina com nosso casal, né? Já que ambos querem a morte um do outro, aparentemente.
3) A fic vai precisar de mais personagens. Mas não tem mais personagens em Jogos Vorazes (no roteiro, já usei todos, mesmo que uns só apareçam no capítulo 40). Pensei em Divergente, Percy, Harry... Bem, VOTEM nesse link aqui: http://is.gd/fP7Bqp
Beijão e até terça-feira (é, terça eu tô aqui de novo).
FANTASMAS, DEIXEM REVIEW.
Sério, comentem, por favor. Tenho cinquenta leitores e menos de quinze comentam. Isso é flopado (novo vício linguístico).
De qualquer forma, kisses.